Quando a gente fala de “terroir”, essa palavrinha bonita que
assume um caráter modista entre os enófilos, ela meio que se perde por conta do
caminho que segue e da forma como é inserida no conteúdo verbal e textual dos
apreciadores da poesia líquida. Está além da questão da moda e assume um
contexto de suma importância para a compreensão do vinho que degustamos.
E o rótulo que escolhi para a degustação dessa tarde de
domingo aprazível e ensolarada veio de uma região chilena muito importante para
o cenário vitivinícola do todo o Cone Sul: Vale de Casablanca. E uma casta
nascida nas terras francesas da Borgonha e que ganhou notoriedade no Chile,
sobretudo na região do Vale de Casablanca: falo da rainha das uvas brancas, o
Chardonnay.
E o rótulo de hoje traz uma personalidade marcante, potência
e untuosidade, sobretudo quando vem de uma região que é banhada pelo Oceano
Pacífico conferindo aos vinhos dessa cepa, que se beneficiam de regiões de
clima frescos. Brisas, a maresia, o clima temperado, traz boa acidez, frescor,
leveza, aliada a personalidade, aos toques de frutas de polpa branca e
tropicais.
Combinações maravilhosas quando se espera versatilidade de um
vinho branco, frescor e leveza, mas também corpo e cremosidade. Delicadeza, mas
presença de boca, um bom volume que entrega aquela “pegada”.
E a essa porta de entrada adiciona-se a madeira que traz um
aporte de aromas de tosta, de untuosidade. A Chardonnay proporciona essa
possibilidade, é uma das poucas castas brancas que suporta com êxito a madeira.
Há tempos não degusto um Chardonnay tão gostoso e versátil como esse rótulo.
O vinho que degustei e gostei desembarcou do Vale de
Casablanca, no Chile, e se chama Cruz Andina Reserva da casta Chardonnay da
safra 2017. E para fundamentar, pelo menos um pouco, o conceito de “terroir”,
vamos de história do Vale de Casablanca para explicar o vinho que degustamos de
uma forma didática, mas aplicada, sobretudo quando derramamos o vinho em nossa
taça.
Valle de Casablanca, Aconcágua
Os primeiros espanhóis no Vale de Casablanca foram os
expedicionários liderados, em 1536, pelo avançado Dom Diego de Almagro. O
Conquistador, em suas incursões ao longo da costa, entrou na rota Inca, que de
Quillota cruzou Limache e Villa Alemana, penetrando o vale de Margamarga em
direção aos campos de Orozco. De lá avistou o vale (que os nativos chamavam de
Acuyo) cruzando-o para continuar até Melipilla pelo Cordón Ibacache, visitou as
colônias de 'Mitimaes' de Talagante, avançou mais para o Leste e depois voltou
para Quillota. Em 1540, D. Pedro de Valdivia passou com os seus anfitriões, imitando
a estrada para Almagro.
O vale, localizado entre Santiago e o maior porto do Chile,
Valparaíso (recentemente declarado Patrimônio da Humanidade) combina todas as
condições para tornar-se essencial para todos que visitam o país. Casablanca se
caracteriza por ser um vale pre-litoral, localizado na planície costeira da
região, a apenas 18 km do mar e rodeado pela serra costeira.
A origem do nome Casablanca (Casa Branca) está no século XVI,
quando foi construída uma casa de adobe caiada a oeste da cidade. Em 1755, os
trabalhos preparatórios para a nova cidade prosseguiram e o seu traçado
original foi delineado - de acordo com a tradicional grelha espanhola - por Dom
Joseph Bañado y Gracia, juiz agrimensor do Bispado.
Quando as primeiras casas foram construídas, algumas medidas
foram ditadas a fim de garantir o progresso da população. Foi nomeado um
Tenente General do Partido Casablanca, dependente do prefeito de Quillota, que
também recebeu ordens do Governador de Valparaíso em caso de defesa do referido
porto.
Embora, no início, a população tenha crescido, a rivalidade
entre José Montt e Dom Francisco de Ovalle pôs em risco o seu desenvolvimento,
quando este último reivindicou os direitos sobre o terreno onde fora construída
a vila, visto que os habitantes iam abandonando o terreno por entender que eles
iriam perdê-los se Ovalle ganhasse o processo.
O contencioso durou toda a segunda metade do século XVIII e a
situação normalizou-se quando os herdeiros dos litigantes encerraram a ação,
reconhecendo o fundamento e os direitos dos seus habitantes.
Casablanca tem uma clara influência marítima, clima bem mais frio, com neblinas matinais e uma amplitude térmica de até 19 graus entre o dia e a noite, o que favorece a lenta maturação das uvas.
A temperatura media do verão é de 14,4 graus, as chuvas se
concentram entre os meses de maio e outubro, com um amédia anual de 450 mm. A
influência marítima que o vale recebe faz com que a temperatura média seja
moderada, alcançando não mais do que 20º C durante o período vegetativo. Isso
cria excelentes condições para as variedades brancas, como Sauvignon Blanc e
Chardonnay, refletindo-se na frescura e no intenso aroma cítrico de seus
vinhos.
Os meses com riscos de geadas são setembro e outubro, ficando bem mais seco entre novembro e abril, época do crescimento e maturação das uvas. A colheita, diferente de outros vales, acontece mais tarde, a partir de 15 de março até final de abril. Essas características climáticas trazem vinhos de qualidade superior, com muita concentração de fruta, acidez muito boa e um final brilhante.
A região é dominada pelas castas brancas, que correspondem a
75% da área plantada. Lá reina a Chardonnay, que ocupa mais de 1.800 hectares.
Outras variedades importantes são a Sauvignon Blanc (mil hectares), a Merlot
(430 ha) e a Pinot Noir (426 ha). Esta última, apesar de ser apenas a quarta
mais plantada, forma, junto com a Chardonnay, a dupla de uvas emblemáticas da
região.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um lindo amarelo claro com tendências douradas
e reflexos esverdeados muito brilhantes com lágrimas finas e abundantes.
No nariz explode em aromas de frutas brancas e cítricas, tais
como maçã-verde, pera, abacaxi e limão, com notas sutis e elegantes de madeira,
de tosta.
Na boca é fresco, saboroso, mas de bom volume de boca, com alguma untuosidade, cremoso, sendo de corpo leve para médio e muito, muito versátil e equilibrado. Goza de boa acidez, uma acidez equilibrada, com notas discretas de madeira, pois 15% do vinho passou 8 meses por barricas de carvalho, com um final longo, prolongado.
Um autêntico Chardonnay do Vale de Casablanca! A história, o terroir (olha a palavrinha bonita) denuncia isso de forma veemente. A assinatura de uma região personificada em seus rótulos, a fidelidade da terra, o DNA de seus traços geológicos delimitam as belíssimas características desse Cruz Andina Chardonnay. Entrega ainda uma filosofia calcada nas práticas sustentáveis, entregando vinhos singulares, com o respeito ao ambiente natural, levando à mesa de nós, felizes enófilos, não somente um belo produto, mais um produto que entrega prazer e sinônimo de saúde. Um vinho expressivo, saboroso, que entrega o Chardonnay chileno de que estamos todos habituados. Vida longa a rainha das uvas brancas! Tem 13,5% de teor alcoólico em perfeito equilíbrio com acidez, madeira e fruta.
Sobre a Vinícola Veramonte:
A vinha em Veramonte é a maior vinha contígua do Chile, já
que se estende por mais de 350 hectares na área de cultivo principal do Vale do
Casablanca, no Chile. Em 1990, Agustin Huneeus escolheu este local para a
Vinícola Veramonte, reconhecendo então que os microclimas e solos deste belo
vale são semelhantes às prestigiadas regiões vinícolas da Califórnia, Napa
Valley e Carneros.
O Veramonte Vineyard Manager utiliza os mais recentes avanços na tecnologia vitícola a fim de produzir frutos da mais alta qualidade possível. Ele gerencia cuidadosamente os rendimentos, eliminando a colheita, controlando a irrigação e experimentando diferentes técnicas de poda com a finalidade de maximizar a maturidade e a maturação das uvas.
Portanto, ele limita a produção de 5 a 7 toneladas por hectare
para colher uvas de alta qualidade com sabor, definição e concentração
intensos.
Veramonte foi introduzido pela primeira vez em 1996 e, desde
então, recebeu elogios da crítica internacional por Chardonnay, Merlot,
Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc e Primus, um rico e picante proprietário
vermelho, misturado com Carménère (uma bela variedade de Bordeaux, agora
praticamente exclusiva do Chile), e Cabernet Sauvignon.
A vinícola de Veramonte é uma instalação de fato moderna de
vinificação, projetada por um dos principais arquitetos líderes do Chile, Jorge
Swinburn. Inaugurada em 1998, a vinícola de 7.896 metros quadrados inclui dessa
forma a mais recente tecnologia em linhas de engarrafamento, fermentadores
alimentados por gravidade e tanques ultramodernos de aço inoxidável.
Assim como é projetado para vinificação em pequenos lotes,
permitindo fermentação e envelhecimento separados de blocos individuais de
vinha e parcelas experimentais de vinha. Quando os hóspedes entram na vinícola,
são recebidos no “Casona”, uma sala, inegavelmente, de tirar o fôlego, com uma
rotunda alta, tetos de 16 metros e paredes de vidro que revelam as cavernas do
barril abaixo.
No momento em que a família Huneeus era pioneira no Vale do Casablanca, no Chile, em 1990, havia menos de 40 hectares plantados em videiras. Posteriormente, nos dias atuais, a propriedade Veramonte Alto de Casablanca ganhou reconhecimento mundial pela qualidade de seus vinhos.
Todas as propriedades aderem a práticas orgânicas que
garantem assim as melhores condições para o desenvolvimento das vinhas e a
obtenção de vinhedos sustentáveis ao longo do tempo. Solos vigorosos e
equilibrados cultivam uvas de qualidade que sem dúvida alguma expressam o
potencial máximo de seu terroir.
Mais informações acesse:
https://www.veramonte.cl/disclaimer
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CASABLANCA
“Portal Casablanca”: http://valle.casablanca.cl/zona/zona1.shtm
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