sábado, 30 de abril de 2022

Dardines Barrica Syrah 2018

 

Mais um momento de grandes novidades pelo menos para mim, é claro. A Syrah trouxe a novidade! Agora vem a pergunta: como que uma casta tão conhecida e solidificada em vários terroirs espalhados pelo planeta pode ser novidade, sobretudo para um enófilo com alguma “litragem”?

Pois é, como costumo dizer e até de forma demasiada, o universo do vinho é vasto e felizmente ainda inexplorado. Há muito por garimpar, há muito para percorrer em prol sempre das nossas experiências sensoriais, para novas experiências sensoriais, sem temer a zona de conforto que só nos escraviza.

E sim a Syrah já faz parte de minha história enófila e já degustei alguns bons, especiais exemplares dessa excelente variedade que se adapta, vem se adaptando em várias regiões consolidadas na produção de vinho e daquelas em potenciais também.

Mas será a minha primeira experiência com um 100% Syrah espanhol. Sim, um Syrah espanhol! Sempre acompanhei e vi alguns rótulos deste país, com esta cepa, mas os valores estavam sempre, diria, “indigestos”, altos para o meu simples e pobre bolso e via as minhas intenções de degustar tal exemplar adiado, longe.

Mas eis que fui surpreendido com a seleção de um clube de vinhos que eu fazia parte em que veio um rótulo da casta Syrah e logo me animei, fiquei feliz quando este abrilhantou a minha simples adega.

E, falando em adega, há particularmente com a Syrah, alguns exemplares muito especiais nela, das quais ainda não degustei, como por exemplo um brasileiro das Minas Gerais que vem se notabilizando na produção da casta, no Vale do São Francisco, no nordeste brasileiro, um Syrah de Lisboa, cuja variedade também seu deu bem e, claro, um Syrah espanhol.

Então diante de tantas novidades e fomentando essa minha “fome” por vinhos novos, com novas concepções e percepções, pelo menos para mim, decidi escolher um para estimular as minhas experiências sensoriais e o felizardo foi o Syrah da Espanha, mais precisamente da região de Castilla La Mancha. Região esta que vem me surpreendendo a cada rótulo degustado, apesar de infelizmente ter descoberto a mesma, recentemente, mas antes tarde do que nunca, já dizia o ditado.

Então com esse transborde de novidades, sem mais delongas, apresentarei o vinho que degustei e gostei, da região de Dom Quixote, Castilla La Mancha, na Espenha, chamado Dardines Barrica, da casta Syrah, safra 2018.  E antes de falar do vinho falemos da história, da importância de La Mancha para a viticultura espanhola.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

“Em um lugar em La Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.

“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C. 

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.

Castilla La Mancha


Sub regiões de Castilla

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

A regulamentação comunitária permite a produção de vinhos com indicação geográfica (IGP Vinos de la Tierra de Castilla), desde que tenham sido obtidos a partir de determinadas castas e provenham de uma determinada zona de produção. Na Espanha, esses vinhos são chamados de Vinos de la Tierra e podem usar menções em sua rotulagem relacionadas às variedades, safras e nome da vinícola, bem como às condições naturais ou técnicas da viticultura que deram origem ao vinho.

A importância social e econômica do setor na região, bem como o esforço de modernização feito pelos produtores, transformadores, engarrafadores e comerciantes nos últimos anos, exige um instrumento que lhes permita oferecer os seus vinhos de qualidade dignamente rotulados ao mercado.

Os tipos de vinhos que podem ser elaborados no IGP Vinos de la Tierra de Castilla são: vinhos brancos, rosés e tintos; Vinhos espumantes; Vinhos espumantes; vinhos licorosos; e vinhos de uvas maduras. São eles:

Brancas: Airén, Albillo Real, Chardonnay, Gewürztraminer, Macabeo oViura, Malvar, Malvasía Aromática, Marisancho o Pardillo, Merseguera, Moscatel de grano menudo, Moscatel de Alejandría, Parellada, Pedro Ximénez, Riesling, Sauvignon blanc, Torrontés, Verdejo, Verdoncho e Viognier.

Tintas: Bobal, Cabernet-sauvignon, Cabernet-franc, Coloraillo, Forcallat tinta, Garnacha tinta, Garnacha tintorera, Graciano, Malbec, Mazuela, Mencia, Merlot, Monastrell, Moravia agria, Moravia dulce o Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir, Prieto picudo, Rojal tinta, Syrah, Tempranillo o Cencibel, Tinto de la pámpana blanca e Tinto Velasco o Frasco.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha, sejam DO ou IGP, são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

ü Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

ü  Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

ü  Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

ü  Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

ü  Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

ü  Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

ü Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, brilhante e com reflexos violáceos, com lágrimas finas e em certa profusão desenhando as paredes do copo.

No nariz protagoniza os aromas de frutas vermelhas em compota, tais como ameixa, framboesa e morango, com notas amadeiradas, graças aos 3 meses de passagem por barricas de carvalho e especiarias. Tem também um toque floral que traz uma sensação de frescor e até leveza.

Na boca tem de leve a média estrutura, reproduz as frutas vermelhas como no aspecto olfativo, álcool proeminente que revela um bom volume no palato, a madeira é perceptível, mas bem integrada ao conjunto do vinho, tornando-o equilibrado e redondo, especiarias, a pimenta típica da Syrah que entrega aquele picante, além de taninos gordos, mas domado e acidez correta. Final persistente com algo de café, torrefação e muita fruta.

“A safra 2018 começou com um outono seco e um inverno com algumas geadas significativas, mas a primavera chegou com chuvas abundantes.”

Esse é um fragmento da descrição do vinho da empresa especializada em vendas de vinhos que concebeu esse rótulo em seu clube de vinhos a qual fazia parte. Fiz questão de coloca-la no final deste texto, dessa resenha, para corroborar o que eu disse no início. De que embora a Syrah seja uma casta global, diria massificada por se adaptar a vários terroirs espalhados pelo mundo, sempre há novidades e gratas novidades, diria. Além da trazer algo novo para mim, de degustar o meu primeiro 100% Syrah espanhol, trouxe também um vinho intenso, com alguma complexidade, de média estrutura, notas frutadas e taninos cheios, com notas especiadas, tudo o que um Syrah pode proporcionar pelas suas características, mas também as características de Castilla La Mancha, de vinhos mais robustos e de marcante personalidade. Novidades movimentam o mundo e com o vinho não é diferente. E além de tudo isso apresentado, a vinícola traz a novidade da produção partilhada, conhecida como “Winemakers e Winelovers” que consiste na participação dos enófilos que escolhem as diferentes opções de parcelas que estão sendo vinificadas, sendo engarrafados os vinhos escolhidos pelos “Winelovers”. É a máxima concepção de identidade cultural e da terra. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Reserva de la Tierra:

A Reserva de la Tierra faz parte deste maravilhoso mundo do vinho há mais de 60 anos. Os primeiros passos foram dados em San Rafael, província de Mendoza, na República Argentina. Foi naquelas terras tão distantes, e ao mesmo tempo tão caras aos emigrantes espanhóis, que os primeiros vinhos foram feitos com muito entusiasmo, tenacidade e muito esforço.

Anos depois, já com uma grande experiência acumulada, o Grupo fixou-se em Espanha, atrás de um novo sonho. Daquele momento até hoje, o Reserva de la Tierra não parou um momento de trabalhar, da tradição à inovação em cada uma das iniciativas do Grupo.

Hoje a empresa é admirada e respeitada em todo o mundo por sua constante adaptação às mudanças, sua visão inovadora e seu respeito por trabalhar em harmonia com o meio ambiente. Menção especial deve ser feita aos valores em relação às pessoas que fazem parte desta grande família. A honestidade é especialmente valorizada e acima de tudo a atitude empreendedora.

Com paixão, esforço e dedicação constante, Reserva de la Tierra vem cumprindo todas as expectativas. As vinhas, as adegas, os vinhos, nada mais são do que sonhos realizados.

“Winemakers e Winelovers” – conceito e filosofia

Na Reserva de la Tierra há uma visão diferente do mundo do vinho, partilhada, mais social e mais próxima de todos.

Para Reserva de la Tierra cada vinho é concebido com paixão como a união entre dois mundos: Enólogos e Enólogos. Cria-se vinhos com pessoas, abraçando uma filosofia de trabalho ao mesmo nível que se distingue dos restantes.

Os enólogos selecionam as melhores cepas e terroirs para fazer os vinhos mais especiais. Mas o mais importante é que grupos muito variados de apreciadores de vinho participem desse processo, degustando diferentes opções de variedades. Após este processo, engarrafa-se apenas o vinho selecionado pelos Winelovers, conseguindo assim vinhos com uma identidade única.

Mais informações acessem:

https://www.reservadelatierra.com/

Referências:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Pagina JCCM”: http://pagina.jccm.es/agricul/paginas/comercial-industrial/consejos_new/vinostierra.htm

 

 

 






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