Quando falamos em Mendoza, na Argentina, em vinhos argentinos
encorpados, estruturados, com complexidade, lembramos, associamos imediatamente
na grande Malbec, mas não podemos esquecer a rainha das uvas tintas: Cabernet
Sauvignon. Como no Chile e em grande parte do Cone Sul, a Cabernet Sauvignon é
famosa e uma das mais consumidas.
E encontrou no solo andino as condições perfeitas para
crescer, um novo e já tradicional terroir argentino, de Mendoza para uma cepa
francesa. E já que falamos em tradição e do solo argentino, a produção e
consumo de vinhos na terra dos hermanos tornou-se tradicional há
aproximadamente duzentos anos. Mas a história do cultivo da uva e da produção
vinícola no país do extremo sul da América começou já com os colonizadores
espanhóis no século XVI.
Devido às ótimas condições de clima e solo da região andina,
não demorou para que os vinhedos se desenvolvessem, mesmo que de forma
rudimentar, logo no período colonial. Foi a partir dos sacerdotes da igreja
católica que a vitivinicultura se iniciou na Argentina: os jesuítas produziam
em seus monastérios o vinho necessário para a celebração de suas missas.
No século XIX, com a chegada maciça dos imigrantes europeus
na região, algumas novas técnicas de cultivo foram implantadas, e, no mesmo
passo, a variedade de uvas também aumentou, diversificando os tipos de vinhos e
elevando a produção de vinho na região a um novo patamar. Castas de uvas como
Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot e Chenin Blanc vieram junto com esses
imigrantes e deram maior qualidade aos vinhos argentinos.
A região mais tradicional de produção vinícola na Argentina é
a província de Mendoza, no oeste do país, responsável por mais da metade da
produção nacional. Foi nessa região que em 1534 que as primeiras videiras no
país foram plantadas, e partir de lá que o cultivo da uva espalhou-se para as
outras regiões da Argentina. O Padre Cidrón e o fundador da província de
Mendoza, Juan Jufré, foram os responsáveis pela primeira plantação de videiras
na Argentina, no séc. XVI. Fonte: Clube dos Vinhos em: Argentina e seu perfeito solo andino.
E com esse breve desfile histórico da vitivinicultura argentina,
mas muito significativa falarei do meu rótulo que escolhi para a degustação de
hoje e desde já sou um réu confesso da minha afeição pelo Cabernet Sauvignon
que vem da Argentina. São marcantes, expressivos e entregam todas as
características que a casta pode nos oferecer em todas as suas propostas. Esse
vinho me chamou a atenção pelo atrativo valor, antes de qualquer coisa e depois
pela sua descrição. Então o comprei e resolvi “aceitar” os riscos, afinal,
comprar vinho é, em sua boa parte, aceitar correr riscos.
O momento importante chegou! Um sábado agradável, tranquilo e
que conspirava para uma boa degustação, uma degustação à altura do momento,
então o ritual foi posto, mais uma vez, em prática. A rolha se desprendeu da
garrafa, o vinho derramou na taça, a explosão de aromas incita as papilas
gustativas e voilá! O vinho que degustei e gostei veio da abençoada região de
Mendoza, da Argentina e s e chama Partridge Cabernet Sauvignon Reserva da safra
2018.
Mas antes do vinho falemos um pouco mais de Mendoza que,
embora seja uma região que já massifica o imaginário de inúmeros enófilos,
sempre convém detalhar certas histórias que passam despercebidas e que apesar
de simples, são significativos para a construção dos rótulos que chegam à nossa
mesa.
Mendoza, que fica próxima a cordilheira dos Andes, a altitude
varia substancialmente e, por isso, muitos microclimas podem ser encontrados.
Disso resulta uma variedade grande de vinhos, alguns dos mais especiais e
apreciados da cultura vinícola argentina são dessa região.
Além da província de Mendoza, cujos principais distritos,
Lugan de Cuyo, Maipu, San Rafael e Vale do Uco são responsáveis por quase 70%
de todo o vinho produzido na Argentina.
Todas essas regiões produtoras são conhecidas mundialmente
como Rota dos Vinhos. E, além da importância para a indústria vinícola, servem
como atração turística para aqueles que visitam anualmente o país andino – com
centros de artesanatos, museus e adegas famosas, a rota é um ótimo lugar para
comprar vinhos aprendendo um pouco de sua história e fabricação.
Possui mais de 1.200 vinícolas, com pelo menos 200 abertas à
visitação. A Argentina ocupa a posição de 5a maior produtora de vinhos do
mundo, e mais de 80% de toda produção está concentrada nesta região. Mendoza
tem clima considerado desértico. Praticamente não chove durante todo o ano. O
índice pluviométrico (de chuvas) médio anual é de míseros 213mm. (Para se ter
uma ideia de comparação, em Petrolina, sertão de Pernambuco, esse índice é de
435mm ano).
Toda a água que abastece a cidade vem do degelo das montanhas
em um sistema desenvolvido pelo povo Inca (primeiros habitantes da região). A
água escorre por gravidade do degelo das montanhas, e aproveitando o caminho
natural das águas são feitas pequenas acequias, canais escavados na terra. Essa
água pura e de excelente qualidade é utilizada para irrigar a plantação.
E agora finalmente o vinho!
Na taça entrega um vermelho rubi intenso, profundo e escuro,
com lágrimas finas e em grande intensidade que marca o bojo.
No nariz uma explosão aromática de frutas vermelhas maduras,
tais como groselha e cereja, com as notas amadeiradas vivas, que revela
baunilha, um defumado, couro, tabaco.
Na boca é estruturado, com alguma complexidade, alcoólico,
mas sem ser agressivo, a fruta aparece também em perfeita sinergia com a
madeira, graças aos 12 meses de passagem por barrica de carvalho, garantindo a
sua versatilidade, seu equilíbrio, sua harmonia, com as notas amadeiradas
aparecendo juntamente com a tosta e o chocolate, com taninos presentes, gordos,
mas domados, com acidez agradável e um final prolongado.
Falamos de terroir demasiadamente, de tipicidade, um assunto,
um tema tão complexo, tão interminável, com tantos “microclimas” dentro de uma
região, parece que, mesmo diante de nossa incapacidade enciclopédica do
assunto, parece que quando degustamos um Cabernet Sauvignon argentino, em
especial, percebemos as nuances de um vinho produzido em Mendoza desta casta. O
Partridge Reserva entrega com fidelidade, com, olha a palavra de novo,
TIPICIDADE. Essas impressões, as experiências sensoriais se tornam tão aguçadas
que quando, às vezes, falta a questão técnica sobre o entendimento do terroir,
nos sobra os sentidos. Percebi que uma das filosofias da Viña Las Perdices,
produtor responsável pela linha “Partridge”, é de que os vinhos têm de maturar
em barricas de carvalho, tendo o aporte da madeira, sendo incorporados ao
vinho, conferindo-lhe estrutura e complexidade o que esse rótulo garante, mas
nunca mascarando as características essenciais da Cabernet Sauvignon, sendo um
vinho frutado, saboroso, potente, robusto, mas equilibrado e harmonioso: a
sinergia perfeita. Tem 14% de teor alcoólico.
Sobre a Viña Las Perdices:
Em 1952, Juan Muñoz López decidiu deixar sua cidade natal,
Andalucia, no sul da Espanha, e ele e sua família emigraram para Mendoza, na
Argentina, a fim de buscar novos horizontes.
Em seguida, já em solo argentino, não pôde deixar de notar as
perdizes que vagavam pela terra. Com efeito, um vizinho disse a ele que essas
aves geralmente são vistas em grupos de três.
Assim sendo, com o passar dos dias, as perdizes se tornaram
as companheiras constantes de Don Juan em seus longos dias de trabalho. Assim,
ele decidiu nomear sua vinícola Partridge Vineyard: “Viña las Perdices”.
A adega hoje é uma operação familiar criada por Juan Muñoz
López, sua esposa Rosario, seus filhos Nicolas e Carlos e sua filha Estela.
A vinícola, assim, se localiza no sopé da Cordilheira dos
Andes a 1.030 metros acima do nível do mar, em Agrelo, Luján de Cuyo – a
primeira zona DOC (denominação de origem controlada) argentina. Do mesmo modo,
as uvas são provenientes de duas de suas vinhas em Agrelo em Lujan de Cuyo e
Barancas em Maipu.
Por fim, hoje Las Perdices continua a ser uma vinícola de
pequena produção e com um espírito entusiasmado em apresentar os vinhos finos
de Mendoza.
Sobre a Partridge Vineyard:
A linha Partridge foi criada em 2009 para complementar o
portfólio da Viña Las Perdices nos mercados internacionais. São vinhos de
perfil clássico e de qualidade, que ganhou a preferência dos consumidores.
A linha tem quatro divisões, que variam de acordo com o
perfil dos rótulos:
Partridge
Flying,
Partridge
Reserva,
Partridge
Gran Reserva,
Partridge Selección de Barricas.
A sub-linha Partridge Flying oferece vinhos fáceis de beber
que são excelentes para o dia a dia. Em Reserva, os rótulos amadurecem em
barricas de carvalho, agregando mais corpo e complexidade aos vinhos. Já na
Gran Reserva, os vinhos são sofisticados e passam no mínimo 12 meses em
carvalho, garantindo grande intensidade. E, por último, a Selección de
Barricas, conta com exemplares de alta gama.
Mais informações acesse:
https://www.lasperdices.com/index.php
Referências:
“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/vinhos-las-perdices-o-melhor-do-terroir-argentino/
“Clube de Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/argentina-e-seu-perfeito-solo-andino/
“Vinho Vida Viagem”: https://vinhovidaviagem.com.br/enoturismo-em-mendoza-argentina/
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