segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Castellari Chianti Riserva 2018

 

O vinho que degustei e gostei de hoje é um clássico italiano! Falando em clássicos do vinho a Itália dispara na preferência dos mais exigentes paladares enófilos. Falo do Chainti, falo do Castellani Chianti Riserva da igualmente tradicional vinícola Castellani.

O vinho é composto pela tradicional Sangiovese, que predomina em 85% do blend, uma regulamentação do DOCG da região de Chianti, que segue com Canaiolo (10%) e Cabernet Sauvignon (5%) da safra 2015.

A Castellani foi estabelecida em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu a começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho.

Várias adegas foram adquiridas ao longo dos anos, como a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola, bem como a aquisição da vinha Poggio al Casone, além da Fazenda Campomaggio.

Falando um pouco de Chianti, a região é montanhosa e se estende por cerca de 60 km a 70 km na sua extensão, cujo ponto mais alto é Monte San Michele, a 893 metros. Existem cinco rios que cruzam e definem a área como os rios Pesa, Greve, Ombrone, Staggia e Arbia.

Chianti

O começo da história remonta ao século XIII, quando os Médici dominavam a cidade de Firenze (Florença), na Toscana, e lá criaram uma das repúblicas mais influentes de seu tempo – basta lembrar que eles foram patronos das artes que culminaram com o Renascimento. Em meados do século XIII, os fiorentinos eram uma potência e viviam guerreando com vizinhos.

Para garantir uma boa defesa de suas terras, eles as dividiram em ligas militares de cidades. Uma delas, criada em 1384, foi a Lega del Chianti, que compreendia as vilas de Radda, Gaiole e Castellina (até hoje o centro da região que se denomina Chianti Classico), e durou até 1774, atuando ativamente durante as batalhas entre Firenze e Siena.

Aliás, a principal lenda em torno do vinho de Chianti vem dessas longas disputas medievais entre fiorentinos e sieneses, nascendo a lenda Gallo Nero, que serve de emblema dos vinhos de Chianti Classico.

Diz-se que os sieneses escolheram um belo e forte galo branco para dar o sinal ao seu cavaleiro. Já os fiorentinos teriam escolhido um galo negro raquítico, que ficou confinado sem comida. Por isso, o galo de Firenze teria acordado mais cedo, ainda durante a noite, faminto, e começado a cantar, fazendo com que seu cavaleiro tivesse grande vantagem sobre o rival de Siena, cujo galo só acordaria para cantar já nos primeiros raios de sol da manhã.

Assim, dos pouco mais de 60 quilômetros que separam as duas cidades, o cavaleiro sienês conseguiu percorrer somente cerca de 12 antes de encontrar o oponente nas proximidades de Fonterutoli, pouco ao sul de Castellina.

Em 1716, Cosimo III de Médici delimitou a região para a produção dos vinhos de Chianti. Lendas à parte, a verdade é que a demarcação da área de Chianti como pertencente à Firenze ocorreu em um tratado de 1203. Na época, os fiorentinos eram leais ao Papa e Siena, ao Sacro-Império Romano. Para maiores detalhes sobre a história de magnífica região segue o link de leitura do Blog “História com Gosto”.

O vinho, é um belo representante da bela Toscana e a sua pérola Chianti, mostra, no aspecto visual, um rubi intenso, quase escuro com halos granada, evidenciando algum tempo em garrafa, cerca de cinco anos, mas também pelos longos 24 meses que estagiou em barricas de carvalho.

No nariz apresenta discreto toque amadeirado, algo de terra molhada, couro, tabaco e baunilha, bem complexo, como já era de se prever de um chianti riserva. As notas frutadas se apresentam também, algo de frutas vermelhas como framboesa, cereja e até morangos e finaliza com especiarias, defumado. A rusticidade da casta predominante, a Sangiovese, se faz presente.

Na boca é intenso, com média estrutura para mais, evidenciado por taninos marcados, presentes, mas domados, com uma acidez vivaz, também típica da Sangiovese, bem como o álcool com alguma proeminência no início, acalmando ao longo da degustação. A madeira se mostrou discreta, porém entregou um leve chocolate e tostado, as notas frutadas protagonizam. Não evoluiu muito bem ao longo da degustação, mas se mostrou íntegro até o fim.

 


 




Vinha Solo Merlot 2009

 

O vinho que degustei e gostei de hoje é um valoroso Merlot da Serra Gaúcha de um produtor novo que vem apostando em vinhos naturais, com o mínimo de intervenção humana e longevos. Falo da Vinha Solo Merlot da safra 2009, da vinícola Vinha Solo. Sim! Um valoroso Merlot da Serra Gaúcha com 14 anos e com muita vida, complexidade, plenitude e integridade.

A Vinha Solo é um projeto de dois amigos que desejavam produzir vinhos naturais, o arquiteto Milton Scola e o empresário Raimundo Demore que escolheram uma preciosa área no norte de Caxias do Sul, no distrito de Fazenda Souza.

Plantaram 20 hectares de vinhedos com mudas trazidas da Itália aproveitando as peculiaridades características do solo de transição das encostas e dos campos de cima da Serra Gaúcha

Na localidade de Fazenda Souza a altitude chega a 890 metros e os ventos são generosos. O solo de estrutura argilo arenosa mantém uma vegetação natural rasteira em equilíbrio com um regime de chuvas moderado, permitindo uma prática cultural da vinha com pouca intervenção.

Isso propicia que muitas espécies locais de animais como quero-queros, pardais, andorinhas, curicacas, lagartos entre outros vivam em harmonia formando uma linda biodiversidade. Inclusive tais animais estampam os rótulos dos seus vinhos, no caso do Merlot é o quero-quero.

A propósito o primeiro nome dado a região de Fazenda Souza foi Pouso Alto, utilizado bem antes da chegada de imigrantes naquela localidade. Inclusive um dos nomes do vinho da Vinha Solo carrega o antigo nome da região que já era explorada, sob o aspecto da agricultura, antes de 1790, época do Brasil Colônia.

O vinho, no auge dos seus 14 anos de garrafa, mostrou-se pleno, íntegro, complexo e capaz ainda de evoluir bem em garrafa por mais alguns anos. Evolução! Essa é a palavra inaugural para definir esse belo vinho. Um visual granada, já com nuances bem evidentes de um lindo atijolado e lágrimas espessas, lentas e grossas.

O nariz se mostrou complexo, gozando de um destaque fabuloso, com notas de terra molhada e algo de flores, um instigante floral. Frutas secas são percebidas, há algo de frutas vermelhas também, couro e especiarias, algo de pimenta, cassis. O aroma, mesmo com a taça vazia, teimava em lá permanecer.

Na boca é elegante, macio, afinal o tempo lhe tornou gentil e amável na boca. As frutas secas e vermelhas protagonizam, como no aspecto olfativo. Apesar do veludo, ainda se revela com média estrutura, ainda entrega alguma personalidade, corroborando o seu longo tempo em garrafa. Tem taninos amáveis e domados e com uma acidez média, o que encanta pelo seu tempo de vida. Tem final longo, cheio e persistente.




segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Gran Oristan Gran Reserva 2014

 

As vezes alguns discursos engessados no universo do vinho me aborrecem! Sabe aquela coisa que falam com demasiada reverência: “Ah os vinhos da região ‘x’ são excelentes”! “Os vinhos da região ‘x’ são especiais”! Sempre são os vinhos de uma determinada região em detrimento de várias outras que fazem questão de jogar no ostracismo.

Por isso sempre faço questão de dizer UNIVERSO DO VINHO! Ele é vasto, gigante, diversificado, logo traz inúmeras regiões com suas peculiaridades, especificidades e tudo o mais. Será que realmente não merecemos desbravar todas elas? Ou pelo menos boa parte delas, até porque precisaríamos viver mil anos para degustar todos os vinhos do mundo.

E apenas para citar um exemplo: Espanha! Espanha é um dos “centros” produtivos de vinhos com o maior número de regiões, hectares e tudo o que tem direito do planeta. Por que ficar restrito a Rioja e Ribera del Duero?

Evidente que são regiões emblemáticas, importantes, tradicionais e que merecem a relevância, o pedestal que as colocam, mas, pergunto mais uma vez: Será que só existem essas regiões, as demais não podem apresentar particularidades, algo especial?

Eu respondo! Sim! E de imediato apresento uma que descobri, confesso e com certa vergonha, recentemente: Castilla La Mancha. A terra do errante Dom Quixote tem revelado para mim alguns vinhos excepcionais, diria surpreendentes. A escolha foi boa? Sorte de principiante? Não sei dizer ao certo, mas o fato é que as escolhas foram certeiras, tem sido certeira!

O discurso mais forte que segmenta essa região por parte dos “formadores de opinião” é: “Ah são vinhos de volume!” Vinhos de volume tem de ser sempre ruins? Talvez tenham alguns pontos técnicos, na vindima, na vinificação etc, mas isso não desmerece em nada a qualidade de alguns rótulos disponíveis no mercado.

Então com o meu espírito subversivo e fora da caixinha, tenho me aventurado nessas regiões “alternativas” da Espanha, como Utiel-Requena, Navarra, Castilla La Mancha entre tantas outras que vem se descortinando diante dos meus olhos. A Espanha é gigantesca e oferece um mundo de terroirs, de características de vinhos, dos mais básicos aos mais complexos.

E a minha escolha de hoje é especial, vem da DO La Mancha, uma das nove denominações de origem da região de Castilla La Mancha, no auge dos seus nove anos de garrafa. O vinho que degustei e gostei se chama Gran Oristan Gran Reserva no blend Tempranillo (65%) e Cabernet Sauvignon (35%) da safra 2014.

Então já que enaltecemos La Mancha e a velha Castilla La Mancha, vamos de história. Falemos um pouco da representatividade dessa região para a Espanha.

A Região de Castilla La Mancha: A Terra de Dom Quixote

Castilla de La Mancha ou Castela La Mancha é uma das principais regiões produtoras de vinhos da Espanha, que possui a maior quantidade, em área, de vinícola em todo o mundo. E esta terra, de onde vem o maior personagem da língua espanhola, Dom Quixote, escrito por Miguel de Cervantes, também produz vinhos de qualidade soberba.

A região de Castilla-La Mancha é a que possui, não apenas na Espanha, mas no mundo inteiro, a maior superfície plantada de vinhedos e no ano de 2021 (um ano de baixa produtividade), fez 22,8 milhões de hectolitros de vinho e mosto.

Castilla-La Mancha

Para o Conselheiro de Agricultura, Água e Desenvolvimento Rural da Espanha, Francisco Martínez Arroyo, Castilla La Mancha não é apenas uma potência, mas uma potência ainda em crescimento forte nos últimos anos. Ele relatou em uma coletiva de imprensa onde anunciou também a aprovação do anteprojeto da “Lei da Uva e do Vinho” da região de Castilla La Mancha.

A região já tinha leis que protegiam a auxiliavam o setor vitivinícola, mas em 2013 elas foram derrubadas pelo governo federal e não foram substituídas, até agora. A expectativa é de que a aprovação do anteprojeto da “Lei da Uva e do Vinho” aconteça o mais breve possível e que permitirá facilitar e flexibilizar processos e autorizações como por exemplo a aprovação de cultivo de novas variedades de uvas, permitindo que o setor se adapte ao que demandam os consumidores do mundo.

História e Características

Os primeiros escritos da cultura de uvas para vinho na região de Castilla de La Mancha datam do século XII e é bastante evidente que as vinhas foram introduzidas pelos romanos, assim como diversas outras regiões em toda a península Ibérica, que compreende Espanha e Portugal.

Lá houve diversas guerras entre muçulmanos e cristãos, e esta terra presenciou o casamento entre Isabella (de Castela) e Ferdinando (ou Fernando, de Aragão) conhecidos como reis católicos.

Esta união deu origem ao atual estado espanhol, com vastas planícies e vinhedos, que compõe o visual clássico deste belo país.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno.

Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C. Aliás, existe um ditado local que descreve o clima em Castilla de La Mancha como “9 meses de frio inverno e 3 do mais puro inferno”.

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas.

O solo, repleto de argila e calcário, facilita o crescimento de vinhedos, que se estendem por cerca de 200.000 hectares, abrangendo 182 municípios diferentes. Inclusive, cultivo e produção de vinho são fundamentais para a economia de grande parte dessas cidades.

A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñas.

Curiosidades e Uvas Cultivadas em Castilla La Mancha

Como chove pouco, as vinhas são plantadas distantes umas das outras, chegando até a 8 metros, para que elas garantam a umidade do solo para si.

Outra curiosidade é que, antigamente, era hábito deixar o vinho descansando em ânforas feitas de barros. Elas eram enterradas no chão, apenas com a boca para fora, para que ficassem refrigeradas.

As uvas que são cultivadas em Castilla de La Mancha são: Airén, Viura, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Tempranillo, que na região é conhecida como Cencibel, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

La Mancha

Geograficamente La Mancha corresponde a uma região localizada no Sul de Espanha, na chamada Submeseta Meridional. Possui uma extensão de 180 km de norte para sul e de 300 km de leste para oeste, repartindo-se por quatro províncias diferentes (Cuenca, Toledo, Cidade Real e Albacete).

É uma região essencialmente plana, apenas interrompida pelos montes de Toledo e percorrida pelos rios Guadiana e Júcar. Aqui predominam rochas calcárias, quartezíticas e argilosas e ainda se adivinham na paisagem vestígios de crateras vulcânicas. Os moinhos constituem elementos recorrentes da paisagem.

Economicamente trata-se de uma região fundamentalmente agrícola e pecuária, onde se destaca a criação de gado bovino e caprino. A viticultura é também muito importante, já que é a região mais produtiva de todo o país, os vinhos de Valdepeñas e Manzanares são muito famosos. A produção de cereais, girassol, alhos, açafrão e de queijo também é significativa.

A força na tradição de suas áreas vitivinícolas reflete suas condições naturais que favorecem o cultivo de uva e a qualidade de vinhos bem definidos. La Mancha é ideal para a plantação de uvas, embora o rendimento não seja muito alto, a qualidade da fruta e dos vinhedos é extraordinária.

Muito tempo atrás, La Mancha tinha uma imagem de um lugar imenso e árido que produzia grandes quantidades de vinho embora sem muita qualidade. Hoje em dia, seus vinhos conquistaram grande prestígio no mundo inteiro.

La Mancha é também a maior área produtora de vinhos do mundo, um lugar notável que permite a produção de uma larga proporção de todos os vinhos produzidos na Espanha.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta uma coloração rubi bem intensa, com halos discretamente acastanhados, denotando seus nove anos de vida, mas ainda apresentando vivacidade e até algum brilho, com lágrimas finas e lentas.

No nariz revela notas de frutas vermelhas maduras, com a predominância da cereja, com um amadeirado instigante, que traz complexidade e elegância ao vinho, entregando ainda baunilha, defumado, fumaça, tabaco, couro, terra molhada.

Na boca é macio, elegante, mas traz uma personalidade marcante, com alguma estrutura. As notas frutadas se revelam em um belo protagonismo, como no aspecto olfativo, com notas de cereja e amora. A madeira, graças aos vinte e quatro meses de barrica e três na garrafa, corrobora a sua complexidade entregando taninos maduros, acidez média, além de notas terrosas, chocolate, leve tosta, baunilha e um final de média persistência.

Nove anos de vida! E ainda um longo caminho pela frente! Um vinho pleno, complexo em um misto de frutas negras e aromas terciários revelando a sua versatilidade, a sua complexidade. Alguma estrutura, densidade, mas que o tempo conferiu elegância e equilíbrio. Por isso que esses especiais espanhóis vêm me ganhando a cada experiência sensorial. Que venham mais e mais momentos como esse! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Lozano:

Em 1853 começa a história da vinícola, quando a família Lozano planta as primeiras vinhas em Villarrobledo (município da Espanha na província de Albacete, comunidade autônoma de Castilla-La-Mancha) formada principalmente pela variedade Airén, nativa da região. Desde então, foram quatro gerações na gestão da adega, sempre apostando no bom trabalho e no uso de técnicas tradicionais na elaboração.

Em 1985, as instalações existentes foram adquiridas. Desde então, houve muitas melhorias que foram desenvolvidas, proporcionando um aumento considerável na capacidade de vinificação.

Em 2005, a Lozano diversificou o negócio e começou a concentrar-se em sucos e concentrados de uva, formando a empresa CONUVA, usando o mesmo roteiro: para alcançar a mais alta qualidade em todos os seus produtos e para agregar valor diferenciado a todos os clientes, a confiança.

A adega passou por diferentes estágios que forjaram o que é hoje: uma empresa familiar e profissional que é referência no setor vitivinícola que aposta adaptação aos novos tempos através de novos produtos e formatos.

Mais informações acesse:

https://bodegas-lozano.com/es/

Referência:

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

“Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/castilla-la-mancha-maior-do-produtora-do-mundo-tem-novas-regras-para-seus-vinhos.html

“Vinho Virtual”: http://www.vinhovirtual.com.br/regioes-89-La-Mancha

“Infopedia”: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$la-mancha





Alfacinha Reserva 2020

 

Definitivamente o vinho está ligado a história de seu povo, a história e cultura da região a qual foi concebido. É inacreditável, pelo menos é o que me parece, dissociar isso e também o enófilo dissociar isso de sua realidade e limitar-se a degustação, embora seja o ápice.

Evidente que a degustação é o primordial e o ápice de quem aprecia a poesia líquida, mas nada melhor que trazer o “tempero” da história às degustações. E não se pode enganar que até as castas, os blends, tudo está ligado ao terroir, está ligado com a sua região.

O vinho de hoje, a degustação de hoje “harmoniza” perfeitamente com essa convergência entre o vinho e a sua degustação com a cultura e a história de seu povo e de sua forma de conceber os rótulos.

Degustei do Tejo, degustei de Setúbal e tantas outras localidades e definitivamente me arrebataram e agora vem de Lisboa o próximo rótulo. E esse é um tanto quanto famoso em nossas terras, talvez um dos mais vendidos lisboetas no Brasil e não preciso dizer que Lisboa entrou em minha enófila vida e com aquela intensidade.

Mas nesse rótulo não é só Lisboa, mas a história que cerca o povo dessa cidade, por isso que comecei esse texto com a questão da “harmonização” da história, cultura e vinho, bem como as suas manifestações comportamentais.

E sem mais delongas vamos às apresentações do vinho: O vinho que degustei e gostei veio, claro, de Lisboa e se chama Alfacinha, um reserva, da safra 2020, que leva em seu blend Touriga Nacional (50%), Syrah (30%) e Tinta Roriz (20%).

Embora traga a famosa casta francesa Syrah, esta é amplamente cultivada em terras lusitanas, principalmente em Lisboa, se tornando praticamente uma casta ativa e vívida em inúmeros rótulos lisboetas.

E por que o vinho se chama “Alfacinha”? Em Portugal, quem nasce na capital Lisboa é conhecido por “alfacinha”. Segundo alguns dos habitantes dessa cidade, o apelido se deve ao fato de eles serem pacíficos e pequenos. Outros falam que suas sacadas estão cheias da hortaliça.

Para ajudar na solução deste mistério, o Gabinete de Estudos Olisiponenses (olisiponense = de Lisboa) enviou um grupo de documentos de sua vasta biblioteca. Deles, podem-se tirar algumas boas explicações.

Os lisboetas comiam muita alface

Em 1943, Fernanda Reis publicou um artigo no Boletim do “Grupo Amigos de Lisboa” um artigo com o título “Alfacinhas”, em que saiu pela capital portuguesa perguntando sobre a razão do nome. “Explicaram-me que tal soubriquet (apelido) viera aos da capital por serem muito amigos de alfaces e pôr as comerem exageradamente”, escreveu ela.

As mulheres de Lisboa não se moviam muito, assim como a hortaliça

Diz Fernanda Reis, no mesmo texto: “Talvez se possa avaliar qualquer coisa de suas antepassadas que viviam como aves de estimação fechadas em casas-gaiola e só usavam de uma liberdade muito reduzida para ir à Igreja, para cumprir o dever de uma visita ou ainda para figurar na romaria devota de uma procissão”.

Os lisboetas gostavam de visitar o campo

Segundo a revista LX Metrópole, de maio de 2002, os portugueses gostavam de “ir às hortas (…) em busca de frescura, da sombra das árvores e do folguedo”.

A alface era abundante

Em um jornal de 1984, na coluna O Poço da Cidade, aparecem ainda outras explicações. “Há quem explique que nas colinas de Lisboa primitiva verdejavam já as plantas hortenses utilizadas na culinária, na perfumaria e na medicina, que dão pelo nome de alfaces. ‘Alface’ vem do árabe, o que poderá indicar que o cultivo da planta começou quando da ocupação da península pelos fiéis de Alá”.

Os lisboetas já tiveram de viver só da hortaliça

Continua a coluna O Poço da Cidade: “Há também quem sustente que, num dos cercos que a cidade foi alvo, os habitantes da capital portuguesa tinham como alimento quase exclusivo as alfaces de suas hortas”.

Por sorte, as explicações acima não são conflitantes e pode-se concluir facilmente que os nascidos em Lisboa são chegados nessa folhinha verde.

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local.

Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião.

Ainda sofre influência direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas.

Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambos naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

DO Lisboa

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levaram à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas.

Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como, por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um rubi intenso, escuro, límpido e brilhante, com uma boa profusão de lágrimas finas e lentas que desenham a borda do copo.

No nariz traz aromas marcados e vívidos de frutas vermelhas e pretas bem maduras, com destaque para cerejas, amoras, ameixas, trazendo ainda um floral garantido pela Touriga Nacional, além de discreto toque de baunilha, chocolate e especiarias doces.

Na boca é frutado, as notas de frutas maduras, como no aspecto olfativo, têm corpo médio, demonstrando personalidade e bom volume de boca, ampliado pelo álcool. As notas terrosas, de couro, baunilha e chocolate também se percebem discretamente, graças aos três meses em barricas de carvalho, com taninos macios e boa acidez. Tem um final longo, persistente.

Cultura, história, sociedade, comportamento, tudo harmoniza maravilhosamente com o vinho e o faz ainda melhor! As características não são apenas do terroir, das suas cepas, mas também do seu povo, da sua história, da sua gente e Portugal faz dessa convergência a realidade de seus vinhos, o apelo regional é pleno, vívido e transborda, de forma latente, em nossas taças. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta do Gradil (Parras Wines):

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual.

É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras.

Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”.

A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.

Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi.

Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.parras.wine/pt/

Referências:

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Belle Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

“Veja”: https://veja.abril.com.br/coluna/duvidas-universais/por-que-os-habitantes-de-lisboa-sao-chamados-de-alfacinhas/#:~:text=Em%20Portugal%2C%20quem%20nasce%20na,sacadas%20est%C3%A3o%20cheias%20da%20hortali%C3%A7a







 


quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Enterizo Bobal Rosé 2021

 

Como estou a “navegar” pelos mares da novidade no vasto e ainda inexplorado mundo dos vinhos, resolvi fazê-lo com mais afinco na Espanha. E quantas regiões temos a desbravar naquele país que conta com uma das mais proeminentes produções de vinhos do planeta.

E devido a tal condição, não se pode limitar-se a Rioja e Ribera del Duero, apenas, por mais que essas regiões sejam emblemáticas e fizeram, claro, por merecer, mas que não nos tira o direito e, diria, a obrigação de conhecer outras regiões da Espanha.

E uma, em especial, vem descortinando diante dos meus olhos e enchendo a minha taça, belos e surpreendentes rótulos: falo de Utiel-Requena. Uma região que, até pouco tempo, não tinha o status de grandiosa, sob o aspecto mercadológica, pois os vinhos produzidos eram comercializados apenas na região, atualmente vem ganhando o mercado consumidor brasileiro.

E consigo vem a sua casta “vitrine” que, ao que consta, só é produzida nesta região: a Bobal. Outra gratíssima “descoberta”, trata-se de rótulos frutados, que, dependendo de sua vinificação, traz complexidade e longevidade aos vinhos.

A Bobal é muito cultivada na Espanha, sobretudo em Utiel-Requena e vem ganhando cada vez mais em apreciação internacional e isso está fazendo com que mais rótulos com a casta ganhe destaque e visibilidade, afinal, é mais e mais ofertas de Bobal para aqueles que estão se enamorando, como eu, pela variedade.

E o exemplar de hoje vem em outro “caráter”, vem no formato rosé. Claro, nunca havia degustado um Bobal Rosé e, para variar, não consigo esconder o meu interesse, a minha ansiedade em degustar o rótulo que escolhi.

E esse rótulo, em especial, veio com um excepcional custo, na faixa dos R$ 35 e, diante de uma novidade para mim a esse valor está mais do que válido o risco em compra-lo. Ficou, logo após a minha aquisição, um tempo razoavelmente curto e logo decidi desarrolhá-lo para um deleite à Bobal.

E quando esse momento chegou a expectativa valeu e muito! Então, sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio, como disse, de Utiel-Requena e se chama Enterizo, um 100% Bobal rosé da safra 2021. E para não perder o costume vamos de história!

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos.

El Molon

Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo.

Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha. Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol.

Fortaleza Moura

Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora.

Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel.

Utiel-Requena

A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica.

Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente à Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Tradicionalmente, Utiel-Requena é a terra da Bobal, cepa tinta autóctone (originária da região) bastante adaptada aos rigores do clima da região. Ocupa 75% da superfície total dos vinhedos, também sendo bem adaptada ao calcário típico do seu solo.

São produzidos rosés e tintos, em sua maioria varietais, desta cepa; os primeiros costumam ser muito aromáticos, remetendo geralmente a frutas negras e muito fresco no paladar. Os tintos, por sua vez, geralmente são muito bem estruturados e potentes, com aromas de frutas maduras, especiarias e notas de couro.

Possuem bom potencial de envelhecimento. Uma curiosidade: quando da expansão da filoxera pelo continente europeu, as vinhas de Bobal demonstraram grande resistência à praga, ao contrário da maior parte do vinhedo do continente, o que permitiu à região manter por algum tempo as plantações sem a enxertia com a videira americana, e também propiciou um grande aumento das vendas e exportações de seus vinhos, avidamente procurados por consumidores “puristas”, em busca de vinhos oriundos de videiras sem a enxertia.

Também se faz presente a cepa Tempranillo, plantada cerca de 10% das vinhas da região. Outras cepas tintas permitidas pela legislação: Garnacha (Grenache) Tinta, Garnacha Tintorera, Cabernet Sauvignon, Mertlot, Syrah, Pinot Noir, Petit verdot e Cabernet Franc.

Diante da predominância tinta, naturalmente a participação das vinhas brancas na composição da denominação é baixa: cerca de 6%. A cepa mais cultivada é a também autóctone Tardana, de amadurecimento tardio. Produz vinhos de cor amarela, pálidos com reflexos dourados.

Os aromas geralmente remetem a frutas como abacaxi e maçã. Frescos e equilibrados no paladar, costumam ser bem estruturados e de boa persistência na boca. Outras variedades brancas plantadas são: Macabeo, Merseguera, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Parellada, Verdejo e Moscatel de grano menudo.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos e de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um rosado brilhante, com alguma intensidade, com um cor salmão, com discretas lágrimas finas e rápidas.

No nariz um inusitado aroma de goma de mascar, algo como balas de morango. Muito frutado, trazia algo de morango, framboesa, frutas frescas mesmo. Macio, leve, traz uma incrível sensação de frescor.

Na boca é leve, de paladar fresco e agradável, muito equilibrado, com as notas frutadas protagonizando, como no aspecto olfativo, com uma acidez equilibrada, correta e um final com alguma persistência com um retrogosto frutado.

Uma casta autóctone, ainda emergente no mercado, uma região que também cresce em visibilidade e um rosé que traz todo o caráter que um vinho desta proposta pode proporcionar: frutado, fresco, leve, que tem tudo a ver com o clima de nosso país e o melhor: com um excelente valor! Um verdadeiro achado que vale e muito a pena degustar e sair do óbvio, da temível zona de conforto. A Bobal definitivamente se apossou de minha adega. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Coviñas:

A Bodegas Coviñas, fundada em 1965, é uma união dos proprietários de terras mais proeminentes da região. Ela foi fundada em esforços para criar uma destilaria para utilizar a abundância de mosto de suas vinícolas individuais.

Durante os tempos sombrios do ditador Francisco Franco, a maior parte da produção de vinhedos veio de cooperativas sindicalizadas que empregavam milhares de proprietários de terras. Cada viticultor é considerado um “funcionário” e recebe os benefícios que acompanham a estabilidade.

A Bodegas Coviñas sempre se esforçou para cuidar das pessoas de UR, pagando caro pela fruta da mais alta qualidade, tornando-se a base sobre a qual a região sobrevive e um destino desejado de frutas de qualidade pelos habitantes locais.

Mais informações acesse:

https://covinas.com/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html

“Center Gourmet”: https://centergourmet.com.br/enterizo-bobal-rosado-utiel-requena-dop-2021/













sábado, 26 de agosto de 2023

Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon 2012

 

Não existe aquele ditado popular que diz: “Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Olha que, segundo especialistas, um raio não só pode cair em um mesmo lugar duas vezes como muitas e muitas vezes e eu acho, melhor, tenho certeza que essa questão, com metáforas à parte, pode se aplicar ao universo do vinho! O que quero dizer com isso?

Simples! Um vinho pode sim ser degustado várias outras vezes! Aquele vinho de mesmo rótulo, porém de safras diferentes ou de mesmo rótulo e também de safras iguais. Aprendi, com um conhecido especialista e jornalista do vinho, chamado Didu Russo, que podemos comprar o mesmo vinho, da mesma safra, degustar um de forma imediata e deixar o outro guardado por alguns anos e fazer as devidas comparações entre eles.

Mas confesso que essa máxima cairá hoje por terra e a ansiedade é a resposta para isso. E o rótulo em questão é o da linha “Núbio” da Vinícola Sanjo, de São Joaquim, em Santa Catarina. Mais precisamente do Cabernet Sauvignon da safra 2012.

Tive o prazer e a alegria de ter degustado o Núbio Cabernet Sauvignon 2012 no último réveillon de 2022 para 2023 em companhia mais do que recomendada de um churrasco com aquela carne sangrando. Nada melhor que harmonizar um belo Cabernet Sauvignon com um churrasco.

A intenção era guardar uma nova garrafa que adquiri, em uma bagatela de R$ 55 (pasme) para um vinho de guarda e decidi degustar a que já possuía em adega e deixar a outra guardada por mais cinco anos para fazer as comparações, mas não consegui! 

Que seja! O degustarei certamente no auge, em seu melhor momento como foi a primeira. Onze anos, onze longos anos, guardado, evoluindo enquanto tantas e tantas mudanças em nossa sociedade acontece!

E ainda temos pessoas aqui no Brasil que rejeitam os rótulos tupiniquins que são concebidos com a cepa, a rainha das castas tintas, a Cabernet Sauvignon. Ela vem ganhando tipicidade, a cara dos nossos terroirs, com mais frescor, mais frutas e não tão calcado na estrutura como os produzidos no Chile, por exemplo.

Então sem mais delongas, vamos a já sabida apresentação do vinho que, mais uma vez degustei e gostei que veio da região fria de São Joaquim, de Santa Catarina, que se se chama Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon da safra 2012. Para não perder o costume também, vamos de história, vamos de história de São Joaquim.

São Joaquim, Serra Catarinense, Brasil

A vitivinicultura no Brasil ficaria restrita a pequenas áreas em distintos pontos do território nacional até 1875, quando se inicia, no Rio Grande do Sul a instalação de imigrantes italianos. Concebe-se então, como marco da indústria vitivinícola brasileira a chegada destes imigrantes italianos (século XIX) e sua instalação na Serra Gaúcha.

Em Santa Catarina, as primeiras mudas de uva plantadas pelos imigrantes italianos que chegaram, em 1878, na região onde seria fundada a cidade de Urussanga, são as responsáveis pelo início da vitivinicultura catarinense que conhecida atualmente.

Os italianos trouxeram mudas e sementes de vitis viníferas, mas elas não se adaptaram à úmida região”. A cultura da uva e o hábito do consumo do vinho faziam parte do patrimônio cultural acumulado dos imigrantes italianos oriundos na sua maioria da região do Trento, acostumados a dispor do vinho em seu ritual à mesa.

Diante das condições naturais adversas, foram buscar videiras que se adaptassem às características climáticas da região de Urussanga, mesmo que o vinho resultante se apresentasse diferente da bebida já consumida na Itália. Recorreram então às variedades americanas e híbridas, como a Isabel, mais resistentes a pragas e ao clima tropical.

Atualmente, a região Meio-Oeste é a maior produtora de vinhos do estado de Santa Catarina. Foi nela que, na primeira metade do século XX, italianos que haviam migrado do Rio Grande do Sul deram início à construção da mais expressiva cadeia vitivinícola de Santa Catarina. A produção da uva e do vinho no Meio-Oeste catarinense é constituída principalmente de uvas de origem americana e híbrida.

Apenas na década de 1970, com a criação em Santa Catarina do PROFIT (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado) é que houve um grande incentivo para o plantio de castas europeias.

Desde o final da década de 1990, entretanto, vem ocorrendo uma reversão das expectativas no plantio das variedades de castas europeias, representada por novos plantios, inclusive em áreas não tradicionais para o cultivo da videira, como é o caso das regiões de elevada altitude (acima de 950 metros). Assim como ocorreu com o setor macieiro, as condições geográficas da região do planalto catarinense favorecem a produção de uvas, especialmente as da variedade vitis viníferas.

A partir de estudos visando o desenvolvimento da vitivinicultura no planalto serrano, iniciados na década de 1990 pela EPAGRI e de investimentos de empresas de outras regiões identificados no mesmo período, a produção de vinhos finos vem crescendo. Além das características geoclimáticas adequadas para a produção das castas europeias, há que se considerar também o emprego de sofisticadas técnicas enológicas, bem como as modernas instalações produtivas.

Pode-se também atribuir o início do cultivo de parreiras e da fabricação de vinhos na serra catarinense à fixação de descendentes de italianos oriundos da região sul do estado de Santa Catarina que migraram para o planalto.

O início dos experimentos da EPAGRI e o plantio de 50 plantas experimentais de uvas Cabernet Sauvignon realizado pela vinícola Monte Lemos que detém a marca Dal Pizzol foram o incentivo que faltava para que Acari Amorim, Francisco Brito, Nelson Essenburg e Robson Abdala adquirissem uma propriedade em São Joaquim, no ano de 1999, dando início a Quinta da Neve.

Em 2000, o empresário Dilor de Freitas adquiriu uma propriedade no município de Bom Retiro, onde em 2001 iniciou o cultivo de uvas finas. No ano de 2002, adquiriu sua propriedade de São Joaquim e lançou a construção de sua vinícola onde localiza-se a sede da Villa Francioni e o centro de visitações.

O empresário Nazário Santos, a partir de uma sociedade com um grupo de profissionais liberais paulistas, idealizou a Quinta Santa Maria, sendo um dos pioneiros produtores de vinhos de uvas vitis viníferas em São Joaquim.

Os novos terroirs de Santa Catarina, localizados em altitudes que podem chegar a 1.400 metros no Estado que registra as temperaturas mais baixas do País, têm vantagens para quem planta uvas viníferas.

Em regiões mais frias e altas, o ciclo da videira se desloca para mais tarde, e esse ciclo longo ajuda a concentrar açúcares e taninos, além de melhorar a sanidade dos grãos. Atualmente, na região vitivinícola de São Joaquim, já é possível destacar os municípios de São Joaquim, Urubici, Urupema e Bom Retiro.

Ao investigar a vitivinicultura de altitude de São Joaquim, observa-se a tendência e a existência de significativos acertos no processo de desenvolvimento do setor. A identificação de recursos naturais raros e diferenciados se apresenta como um fator capaz de gerar vantagens competitivas, estruturando a atividade produtiva com o foco na segmentação de mercado.

Através do suporte de instituições de pesquisa como mecanismo de desenvolvimento de todo o setor produtivo da uva e do vinho, da articulação entre os recursos disponíveis, dos maiores investimentos em publicidade e propaganda realizados pelas empresas do setor e dos projetos que visam o diferencial do produto afirmado pelas indicações geográficas identifica-se a importância das tipicidades que procedem dos vinhos finos de altitude, confirmando então, a criação de um produto diferenciado no país.

Indicação Geográfica (IG) da Serra Catarinense

Em 29 de junho de 2021, o INPI concedeu a Indicação Geográfica Santa Catarina para Vinhos de Altitude (serra catarinense) da espécie Indicação de Procedência (IP), para vinho fino, vinho nobre, vinho licoroso, espumante natural, vinho moscatel espumante e brandy. O pedido da IG foi solicitado pela “Vinhos de Altitude – Produtores e Associados”, em 2 de junho de 2020.

A área geográfica da IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina abrange 29 municípios que correspondem a 20% da área do estado catarinense: Água Doce, Anitápolis, Arroio Trinta, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Brunópolis, Caçador, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Curitibanos, Fraiburgo, Frei Rogério, Iomerê, Lages, Macieira, Painel, Pinheiro Preto, Rancho Queimado, Rio das Antas, Salto Veloso, São Joaquim, São José do Cerrito, Tangará, Treze Tílias, Urubici, Urupema, Vargem Bonita e Videira.

Atualmente são aproximadamente 300 hectares de área cultivada, concentradas entre 900 e 1400 metros de altitude, na região vitivinícola de maior altitude e mais fria do Brasil. Do ponto de vista sensorial, os vinhos da IP irão enriquecer ainda mais a paleta de cores e sabores dos vinhos brasileiros.

A paisagem, o solo, o relevo e o clima particular dessas regiões de altitude favorecem a biossíntese dos pigmentos e dos aromas, preservando a acidez e atribuindo estrutura e corpo aos vinhos, permitindo a expressão plena da genética de cada variedade de uva.

Os vinhos da região têm sua qualidade atribuída, também, ao elevado nível tecnológico empregado nos vinhedos e nas vinícolas.  São vinhos com uma excelente expressão de sabor e elevada tipicidade, são vinhos com um sentido de lugar.

Foram aprovadas para produção dos vinhos da IP as variedades finas (Vitis vinifera L.) Aglianico, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Garganega, Gewurztraminer, Grechetto, Malbec, Marselan, Merlot, Montepulciano, Moscato Bianco, Moscato Giallo, Nero d’Avola, Petit Verdot, Pignolo, Pinot Noir, Rebo, Refosco dal Peduncolo Rosso, Ribolla Gialla, Rondinella, Sangiovese, Sauvignon Blanc, Sémillon, Syrah, Touriga Nacional e Vermentino.

Diversos requisitos de produção fazem parte do Caderno de Especificações Técnicas da IP. Dentre eles, destaca-se que 100% das uvas devem ser produzidas na área delimitada, em áreas de altitude. Os sistemas de condução autorizados para os vinhedos são a espaldeira e o Ýpsilon, sendo que a produtividade máxima permitida é de 7000 litros de vinho por hectare/ano.

Para a vinificação, as uvas devem atingir níveis de maturação definidos por tipo de vinho, os quais, por sua vez, devem ser elaborados na área delimitada pelos municípios integrantes da IP.

Os vinhos atendem padrões analíticos de qualidade, próprios da IP, e devem ter a qualidade sensorial aprovada em degustação realizada às cegas; normas de rotulagem dos vinhos, facilitando a identificação das garrafas pelo consumidor, incluindo um selo de controle numerado exclusivo da IP; controles sob a gestão do Conselho Regulador que aplica um Plano de Controle para atestar a conformidade dos produtos em relação aos requisitos de produção.

Para a vinificação, as uvas devem atingir níveis de maturação definidos por tipo de vinho, os quais, por sua vez, devem ser elaborados na área delimitada pelos municípios integrantes da IP.

Os vinhos atendem padrões analíticos de qualidade, próprios da IP, e devem ter a qualidade sensorial aprovada em degustação realizada às cegas; normas de rotulagem dos vinhos, facilitando a identificação das garrafas pelo consumidor, incluindo um selo de controle numerado exclusivo da IP; controles sob a gestão do Conselho Regulador que aplica um Plano de Controle para atestar a conformidade dos produtos em relação aos requisitos de produção.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um atraente rubi intenso, escuro, com tons granada, denotando seus onze anos de vida, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz traz aromas delicados, elegantes, mas complexos, intensos de frutas vermelhas e pretas compotadas, quase que em calda, uma geleia, com notas amadeiradas, entregando um balsâmico instigante, um cedro, algo como madeira de móvel antigo, caramelo, defumado, terra molhada e tosta, além de um herbáceo e discreto pimentão.

Na boca é estruturado e complexo, com uma incrível pureza da fruta, algo de vinoso, diria. É volumoso, cheio, quente, alcoólico, mas sedoso, elegante e macio, fácil de degustar, graças aos seus onze anos de garrafa, o tempo lhe foi gentil, evoluindo muito bem. É amadeirado, um carvalho bem integrado, graças aos 50% do lote que passou 12 meses em barricas. Entrega, além da madeira, caramelo, chocolate, terra molhada, baunilha, café, com taninos ainda vivos, mas domados pelo tempo, com uma acidez média, corroborando sua boa evolução. Tem um final persistente.

Especial, singular, incrível! Adjetivos não faltam ao Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon que, mesmo aos onze anos de vida, teria muitos anos pela frente e a evoluir fantasticamente. E não é especial apenas por isso, mas por ser oriundo de regiões frias e a Cabernet Sauvignon precisa ser cultivada em climas quentes, então são poucas as safras, são poucos os anos cujos rótulos são concebidos. Para se ter uma noção da dimensão disso e do quão especial é degustar esse vinho, é de que a safra de 2012 é a mais atual dessa linha de rótulos. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:

Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.

No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.

A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude, contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra Catarinense.

São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de produção de uvas para a elaboração de vinhos.

Mais informações acesse:

http://www.sanjo.com.br//