Sou um grande fã dos vinhos da região de Lisboa, da capital
de Portugal, isso é fato! Todavia um vinho, em especial, me fez trazer à tona
algumas lembranças perdidas. Eu explicarei! Quando no período da transição dos
vinhos de mesa para os vinhos de uvas vitivinícolas, aquela transição que todos
os simples enófilos nascidos no Brasil fazem, eu não tinha aquela preocupação
em ter noção ou conhecimento dos rótulos que degustava, aqueles requintes de
detalhes tais como: castas, regiões, passagem ou não por barricas de carvalho
etc.
Degustava os vinhos sem ter a preocupação com esses detalhes. Então alguns rótulos, talvez por conta dessa falta de preocupação ou ainda por inexperiência, passavam despercebidos, não adquiria a famosa memória fotográfica ou coisa similar.
Porém, quando eu assistia a um dos poucos programas de TV direcionados ao mundo vinho, que tem transmissão no Canal Globosat, da TV Globo, chamado “Um Brinde ao Vinho” que dedicou uma temporada as regiões mais emblemáticas de Portugal e, claro que Lisboa estava na rota do programa.
E quando a apresentadora do programa Cecília Aldaz esteve em
uma jovem vinícola chamada AdegaMãe mostrando alguns dos seus rótulos e, por um
relance, mostrou um rótulo que havia degustado há muito tempo atrás e que tinha
caído no esquecimento, me trouxe um lampejo de lembrança, de uma ótima
lembrança, pois tinha degustado um rótulo surpreendentemente bom! Falo da linha
“Pinta Negra”.
O rótulo em questão, o tinto, era da safra 2015. Então fui a
busca de um novo rótulo desta linha para “rememorar” os bons momentos e
encontrei a safra 2016 e como foi satisfatório degustar esse vinho novamente.
Depois de algum tempo, de forma um tanto quanto inusitada, a
caminhar pela rua, parei, por um instante e olhei para o chão e havia um
encarte de supermercado e logo reconheci um rótulo: era o Pinta Negra branco!
Sim! O Pinta Negra branco, composto por Arinto e Fernão Pires da safra 2019 estava em uma promoção excelente, na faixa dos R$
29,90! Incrível! Como estava por perto não hesitei, fui ao supermercado e comprei!
Que estupendo branco, com certa estrutura para a sua proposta e valor!
Mas eu pensei: Não irei para por aqui neste belo branco, vou
continuar a degustar mais rótulos dessa linha da AdegaMãe, afinal, essa
sequência de boas degustações não poderia ser coincidência, claro!
E fazendo aquelas compras triviais em um pequeno mercado
próximo a minha casa, qual vinho eu vejo nas gôndolas, para minha surpresa? O
Pinta Negra tinto! Ah não hesite e comprei! E decidi não demorar muito para
degusta-lo e que grata experiência sendo repetida.
O vinho que degustei e gostei veio de Lisboa, Portugal, e se
chama Pinta Negra, um rótulo com um blend tipicamente lusitano com as castas
Aragonez (60%) e Castelão (40%) da safra 2021. Antes de tecer detalhes do
vinho, vamos às histórias de Lisboa.
Lisboa
A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção
vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência
de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais
áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente
conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos
leves e aromáticos.
Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à
produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem
Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região
de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.
O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir
da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas
características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está
situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com
solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a
várzeas e terras de aluvião.
Ainda sofre influência direta da capital do país localizada
em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande
variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário,
várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos
pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.
Esta região possui boas condições para produzir vinhos de
qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era
essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca
qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas.
Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se
nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da
sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de
Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.
A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas
portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da
Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria
incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste
momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais
(a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).
Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas
Arinto, Fernão Pires (ambos naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas,
Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a
Tempranillo na região).
Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade
desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na
região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para
a celebração de missas.
Lisboa DO
A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de
Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa),
Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e
Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).
As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito
importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da
capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levaram à extinção das
vinhas nestas Denominações de Origem.
A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos
brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a
partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente
pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada,
aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.
Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul
da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em
solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a
partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10
mil garrafas.
A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres
Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à
modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas.
Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de
castas tintas como, por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a
Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a
Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre
outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto,
Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em
algumas zonas.
A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados
vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são
protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção
de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos
tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer
alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e
carácter citrino.
A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi
a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de
novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia,
Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e
internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez,
Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se:
ganharam mais cor, corpo e intensidade.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um rubi vibrante, quase fechado com
discretos entornos violáceos, com lágrimas finas, lentas e em média quantidade
que desenham o bojo.
No nariz trazem aromas frutados, um mix de frutas vermelhas e
pretas, como amora, ameixa, cerejas, morango e groselha. Tem nuances de menta,
especiarias, pimenta e ervas.
Na boca é seco, macio, redondo, afinal o clima atlântico, bem
como o corte de Aragonez e Castelão traz elegância e suavidade ao vinho, além
do protagonismo das notas frutadas, percebidas no aspecto olfativo. Traz
taninos amáveis, domados, com acidez equilibrada e um final de média
persistência.
O passado revisita o presente e ajuda a construir um futuro
na minha vida de enófilo e me faz observar e entender que, além do maravilhoso
exercício da análise sensorial, a história do vinho, como seu terroir, sua
história, sua região, pode ser sim, sem sombra de dúvida, um aditivo para a
construção de sua percepção perante o rótulo. Pinta Negra é um vinho básico,
para o dia a dia, mas que entrega muito além da sua proposta, definitivamente sempre
será uma grata surpresa. Tem 13,5% de teor alcoólico.
Sobre a AdegaMãe:
A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar
portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por
ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem
da família à sua matriarca, Manuela Alves. Em 2009, investindo na paixão pelo vinho,
a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa.
A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa
(Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com
grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos
calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com
acidez marcante.
A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com
Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega,
no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região,
tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas
o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha
mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.
A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe
potencia um terroir fortemente influenciado pelas brisas marítimas
predominantes, destacando-se pelos seus vinhos de inspiração atlântica, plenos
de carácter, frescos e minerais, premiados a nível nacional e internacional.
Referida pela arquitetura exclusiva, e pela forma como se
harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi desenhada de
raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se como uma
referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.
Mais informações acesse:
Referências:
“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/
“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/
“Belle Cave”:
https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora
“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901
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