Parece que foi ontem que eu conhecia,
pela primeira vez, a região da Bairrada, em um programa, dos raros, na
televisão chamado “Um brinde ao vinho” que era apresentado pela Cecília Aldaz,
no Canal Globosat.
Isso foi em 2018, creio e quando
descobri assistindo ao programa me perguntei imediatamente: como não conhecia a
Barrada antes? Pois é sempre vem à tona aquela marca de que não conhecemos
quase nada no vasto universo do vinho, ainda tem muito a explorar.
E essa pergunta ecoou em minha mente,
quando, não satisfeito apenas com o conteúdo apresentado no programa de
televisão, comecei a pesquisar na “grande rede” um pouco mais sobre a história
da região e que com isso foi aguçando o meu interesse pela região.
Pensei, na realidade fui taxativo:
Precisava garimpar rótulos da Bairrada, da tão falada Baga, casta tinta
emblemática da região. E o fiz. Os que eu achei de início estava um tanto
quanto inacessível, distante de mim sob o aspecto financeiro. Os valores
estavam demasiados altos.
Mas não esmoreci. Precisava continuar
tentando, quem sabe eu conseguiria um vinho de atrativo custo X benefício. E
quando estava em um supermercado na minha cidade, fazendo as compras
convencionais, decidi, sem maiores pretensões, passar na adega do mercado.
Já conhecia basicamente os vinhos de lá, pela assídua
frequência, então esperava não encontrar nada de novo. Enganei-me
redondamente! Avistei um rótulo, um
tanto quanto interessante, esteticamente falando e o valor estava atraente e
quando olhei com mais atenção vi o nome “Bairrada” estampado!
Era o vinho que eu precisava para inaugurar as degustações de
rótulos dessa região. O produtor era o Adega de Cantanhede. Não conhecia também
à época e como o valor estava muito bom, decidi leva-lo e logo degusta-lo. O
nome do vinho era Marquês de Marialva Colheita Selecionada tinto da safra 2015.
Não era um varietal da Baga, mas trazia a sua predominância no blend igualmente
típico da região. Adorei o vinho!
E no mesmo local, no mesmo supermercado, passei a encontrar
outros rótulos desse produtor que passei a gostar, não somente pelos belos
rótulos, mas também pelos valores justos e possíveis, acessível ao meu humilde
orçamento. E foi expandindo, descobrindo seu vasto portfólio em outros
supermercados, sites etc.
Até que cheguei ao Moinho de Sula Reserva da safra 2014, um
100% Baga! Finalmente em sua versão varietal! E a experiência foi magnífica e a
constatação da tão famosa longevidade da variedade se constatou com 8 anos de
garrafa quando o degustei. Depois foi o Conde de Cantanhede Reserva 2015 que foi
degustado também com 8 anos de vida. Plenitude e personalidade resumem a sua
condição.
É claro que o carinho pela Baga se edificava a cada
experiência, a cada rótulo. Então continuei a buscar novos vinhos com a casta.
E me surgiu o vinho que degustei e gostei de hoje. E que belíssima experiência!
Mais uma! Falo do Colinas de Ançã Reserva, um 100% Baga, da safra 2015. Para
ilustrar a minha relação afetuosa com a Bairrada, vamos de história.
Bairrada
Localizada na região central de Portugal e se estendendo até
o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a
região vinícola da Bairrada – cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a
compõe – tem clima temperado bastante favorável às vinhas.
A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande
personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é
recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e
brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada
possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.
António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de
vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde,
fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os
vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.
O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho
espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo.
Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se
referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras
de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam
espaço.
Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga,
casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento
internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o "Mr. Baga",
Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho
autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais
uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos
que compõe.
Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta
de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de
envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua
fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta
variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção.
No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na
produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca
concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o
“revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva
Baga foi “domesticada”.
O Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e
recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as
diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para
a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas
são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto
ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga
representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro,
Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.
Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes
(também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha,
no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as
autorizadas são Cercialinho e Chardonnay.
O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados
através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e
Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo,
Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jean, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira
e Trincadeira.
Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a
lista de castas permitidas para elaboração dos vinhos DOC Bairrada. Foi incluída recentemente uma autorização
para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot,
Petit Verdot e Pinot Noir e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete,
Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com
castas que não estejam relacionadas no Decreto-Lei, não podem receber o selo de
DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.
A localização da DOC Bairrada e suas características de clima
e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito
em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e
outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local
onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades.
Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano
Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por
planalto de baixa altitude.
O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas
poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico
moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano
Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados
pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se
beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A
variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e à noite.
Baga
A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é
capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando
muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e
possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na
garrafa durante anos após sua fabricação.
A uva Baga é uma variedade amplamente utilizada na costa
central de Portugal, na elaboração de ótimos vinhos tintos. Particularmente na
região da Bairrada, a Baga é, sem dúvida, uma das uvas tintas mais cultivadas,
além de ser plantada também no Dão e em Ribatejo. Há quem diga que a casta
nasceu nas terras do Dão, inclusive alguns produtores locais mais tradicionais
defendem essa tese, mas foi nas terras da Bairrada que ganhou reputação, onde
ocupa mais de 90% dos vinhedos.
A Baga é conhecida tradicionalmente pela espessura de sua
pele, em proporção com o tamanho das pequenas bagas que o cacho apresenta. Além
disso, essa variedade é extremamente tânica, podendo ser notado o caráter adstringente
em alguns vinhos.
A Baga é uma uva pequena, com casca grossa, capaz de oferecer
classe e estrutura aos rótulos que compõem que vão desde os tintos até os rosés
e espumantes. É exatamente o fato de o fruto ser pequeno que faz com que os
vinhos da uva Baga tenham taninos em alta concentração e acidez acentuada.
No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na
produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca
concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o
“revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva
Baga foi “domesticada”.
O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o
amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos
argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de
cultivo.
Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga
produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos,
garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os
vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.
Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Poeirinha ou
Tinta Fina, a uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas
portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada
no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita
personalidade, altamente interessantes e únicos.
E agora finalmente o vinho!
Na taça goza de um intenso rubi, fechado, escuro, com halos
granada, denotando os seus oito anos de vida, com lágrimas finas, lentas e em
profusão.
No nariz predominante em frutas negras maduras, com destaque
para amoras, ameixas pretas, quase em compota, em geleia, se revelando
extremamente aromático e complexo, pois traz a madeira marcante, graças aos
nove meses em barricas de carvalho, com toques de especiarias, algo de tabaco,
couro, defumado, terra, tosta, caramelo e leve baunilha.
Na boca tem médio corpo, tem complexidade, bom volume de
boca, mas o tempo encarregou de entregar também um vinho de textura sedosa,
redondo e macio, mostrando-se equilibrado. As notas frutadas e amadeiradas ganham
protagonismo no paladar, como no aspecto olfativo, bem como as notas
amadeiradas. Tem taninos presentes, porém amáveis e domados e uma incrível
acidez que corrobora os seus oito anos de garrafa, com bela persistência.
A experiência, mais uma vez, foi incrível! A Baga de fato
traz personalidade! Essa é a palavra! E o vinho está no auge, no ápice com os
seus sete anos de vida. A plenitude de uma casta retratada com as suas mais
fiéis características e mesmo com a sua domesticação, se mostrou rústica, corpo
médio, estrutura marcante, mas macio, elegante como bom vinho de oito anos de
vida. Que a Baga se revele para todos dignos dela! Que a Baga se revele para
mim sempre que eu merecer! O seu apelo regional merece o mundo! Tem 13,5% de
teor alcoólico.
Curiosidades sobre o nome do rótulo: “Colinas de Ançã”
Ançã é uma Vila Histórica da Bairrada, região Demarcada de Viticultura no centro de Portugal, perto do Oceano Atlântico. A sua história tem uma forte relação a alguns dos mais antigos e icónicos monumentos em Portugal, uma vez que a maioria foi construída com um tipo especial de calcário proveniente das terras de Ançã. Este calcário faz parte do solo que, misturado com barros, é um dos elementos mais distintivos do terroir da Bairrada, terra de vinhos de vincado caráter.
Sobre a Adega de Cantanhede:
Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega
de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção
anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal
produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da
produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo
líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.
Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado
nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado
da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega
Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.),
mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua
estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga,
Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas
Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição,
como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no
inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património
confere aos seus vinhos.
O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados.
É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade,
é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de
exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20
mercados.
A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos
e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos
prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750
distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e
internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de
Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents Monde – França,
Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas
ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e,
por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o
TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos
Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi
eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa
especializada.
Mais informações acesse:
Referências:
“Divinho”: https://www.divinho.com.br/uva/baga/
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga
“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/baga
“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga
“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada
“Adega de Cantanhede”: https://www.cantanhede.com/pt/produtos/colinas-de-anca/
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