sábado, 15 de julho de 2023

Colinas de Ançã Reserva Baga 2015

 

Parece que foi ontem que eu conhecia, pela primeira vez, a região da Bairrada, em um programa, dos raros, na televisão chamado “Um brinde ao vinho” que era apresentado pela Cecília Aldaz, no Canal Globosat.

Isso foi em 2018, creio e quando descobri assistindo ao programa me perguntei imediatamente: como não conhecia a Barrada antes? Pois é sempre vem à tona aquela marca de que não conhecemos quase nada no vasto universo do vinho, ainda tem muito a explorar.

E essa pergunta ecoou em minha mente, quando, não satisfeito apenas com o conteúdo apresentado no programa de televisão, comecei a pesquisar na “grande rede” um pouco mais sobre a história da região e que com isso foi aguçando o meu interesse pela região.

Pensei, na realidade fui taxativo: Precisava garimpar rótulos da Bairrada, da tão falada Baga, casta tinta emblemática da região. E o fiz. Os que eu achei de início estava um tanto quanto inacessível, distante de mim sob o aspecto financeiro. Os valores estavam demasiados altos.

Mas não esmoreci. Precisava continuar tentando, quem sabe eu conseguiria um vinho de atrativo custo X benefício. E quando estava em um supermercado na minha cidade, fazendo as compras convencionais, decidi, sem maiores pretensões, passar na adega do mercado.

Já conhecia basicamente os vinhos de lá, pela assídua frequência, então esperava não encontrar nada de novo. Enganei-me redondamente!  Avistei um rótulo, um tanto quanto interessante, esteticamente falando e o valor estava atraente e quando olhei com mais atenção vi o nome “Bairrada” estampado!

Era o vinho que eu precisava para inaugurar as degustações de rótulos dessa região. O produtor era o Adega de Cantanhede. Não conhecia também à época e como o valor estava muito bom, decidi leva-lo e logo degusta-lo. O nome do vinho era Marquês de Marialva Colheita Selecionada tinto da safra 2015. Não era um varietal da Baga, mas trazia a sua predominância no blend igualmente típico da região. Adorei o vinho!

E no mesmo local, no mesmo supermercado, passei a encontrar outros rótulos desse produtor que passei a gostar, não somente pelos belos rótulos, mas também pelos valores justos e possíveis, acessível ao meu humilde orçamento. E foi expandindo, descobrindo seu vasto portfólio em outros supermercados, sites etc.

Até que cheguei ao Moinho de Sula Reserva da safra 2014, um 100% Baga! Finalmente em sua versão varietal! E a experiência foi magnífica e a constatação da tão famosa longevidade da variedade se constatou com 8 anos de garrafa quando o degustei. Depois foi o Conde de Cantanhede Reserva 2015 que foi degustado também com 8 anos de vida. Plenitude e personalidade resumem a sua condição.

É claro que o carinho pela Baga se edificava a cada experiência, a cada rótulo. Então continuei a buscar novos vinhos com a casta. E me surgiu o vinho que degustei e gostei de hoje. E que belíssima experiência! Mais uma! Falo do Colinas de Ançã Reserva, um 100% Baga, da safra 2015. Para ilustrar a minha relação afetuosa com a Bairrada, vamos de história.

Bairrada

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada – cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe – tem clima temperado bastante favorável às vinhas.

A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.



Bairrada

António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.

O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço.

Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o "Mr. Baga", Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe.

Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção.

No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.

Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay.

O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jean, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.

Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas no Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude.

O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e à noite.

Baga

A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação.

A uva Baga é uma variedade amplamente utilizada na costa central de Portugal, na elaboração de ótimos vinhos tintos. Particularmente na região da Bairrada, a Baga é, sem dúvida, uma das uvas tintas mais cultivadas, além de ser plantada também no Dão e em Ribatejo. Há quem diga que a casta nasceu nas terras do Dão, inclusive alguns produtores locais mais tradicionais defendem essa tese, mas foi nas terras da Bairrada que ganhou reputação, onde ocupa mais de 90% dos vinhedos.

A Baga é conhecida tradicionalmente pela espessura de sua pele, em proporção com o tamanho das pequenas bagas que o cacho apresenta. Além disso, essa variedade é extremamente tânica, podendo ser notado o caráter adstringente em alguns vinhos.

Baga

A Baga é uma uva pequena, com casca grossa, capaz de oferecer classe e estrutura aos rótulos que compõem que vão desde os tintos até os rosés e espumantes. É exatamente o fato de o fruto ser pequeno que faz com que os vinhos da uva Baga tenham taninos em alta concentração e acidez acentuada.

No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

Luís Pato

O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de cultivo.

Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.

Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Poeirinha ou Tinta Fina, a uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita personalidade, altamente interessantes e únicos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça goza de um intenso rubi, fechado, escuro, com halos granada, denotando os seus oito anos de vida, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz predominante em frutas negras maduras, com destaque para amoras, ameixas pretas, quase em compota, em geleia, se revelando extremamente aromático e complexo, pois traz a madeira marcante, graças aos nove meses em barricas de carvalho, com toques de especiarias, algo de tabaco, couro, defumado, terra, tosta, caramelo e leve baunilha.

Na boca tem médio corpo, tem complexidade, bom volume de boca, mas o tempo encarregou de entregar também um vinho de textura sedosa, redondo e macio, mostrando-se equilibrado. As notas frutadas e amadeiradas ganham protagonismo no paladar, como no aspecto olfativo, bem como as notas amadeiradas. Tem taninos presentes, porém amáveis e domados e uma incrível acidez que corrobora os seus oito anos de garrafa, com bela persistência.

A experiência, mais uma vez, foi incrível! A Baga de fato traz personalidade! Essa é a palavra! E o vinho está no auge, no ápice com os seus sete anos de vida. A plenitude de uma casta retratada com as suas mais fiéis características e mesmo com a sua domesticação, se mostrou rústica, corpo médio, estrutura marcante, mas macio, elegante como bom vinho de oito anos de vida. Que a Baga se revele para todos dignos dela! Que a Baga se revele para mim sempre que eu merecer! O seu apelo regional merece o mundo! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Curiosidades sobre o nome do rótulo: “Colinas de Ançã

Ançã é uma Vila Histórica da Bairrada, região Demarcada de Viticultura no centro de Portugal, perto do Oceano Atlântico. A sua história tem uma forte relação a alguns dos mais antigos e icónicos monumentos em Portugal, uma vez que a maioria foi construída com um tipo especial de calcário proveniente das terras de Ançã. Este calcário faz parte do solo que, misturado com barros, é um dos elementos mais distintivos do terroir da Bairrada, terra de vinhos de vincado caráter.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas

Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados.

É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Divinho”: https://www.divinho.com.br/uva/baga/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/baga

“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada

“Reserva85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/

“Adega de Cantanhede”: https://www.cantanhede.com/pt/produtos/colinas-de-anca/

  









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