Quando se descobre uma região produtora de vinhos e por ela
se enamora, passa a gostar, em uma espécie de doce obsessão buscamos
informações e novos rótulos avidamente.
Depois que passei a valorizar tais quesitos, como a região, o
terroir, as castas, os produtores e tudo o mais, as degustações se tornaram
melhores e mais agradáveis, reforçando também a identificação por alguns vinhos
e propostas.
E assim tem sido com algumas regiões da Espanha, por exemplo.
Saindo um pouco das emblemáticas regiões como Rioja e Ribera del Duero,
constata-se que este país é um dos grandes produtores de vinho do planeta. São
infindáveis as regiões produtoras.
E uma vem ganhando o meu coração a cada experiência
enosensorial: falo de Navarra. As poucas degustações foram preponderantes e
decisivas para nascer uma predileção.
Não consigo esquecer rótulos como Gran Villa Gran Reserva 2011 ou ainda San Antolin Reserva 2012 e só tem fomentado o interesse por
buscar novos rótulos de Navarra.
E falando nessas novas buscas eu encontrei uma que parecia
improvável quando se fala de custo X benefício. Bem pelo menos que a proposta
que o vinho entrega e o valor que me parecia desproporcional e isso me chamou
muito a atenção.
E quando constatei que era de Navarra, me tomou de assalto,
me deixando, ainda mais, curioso. Sim, pasme, o vinho custou R$ 34,90 e isso
não deixa de ser um atrativo, embora não seja o único quesito. E pelo baixo
preço não hesitei muito e o comprei, mas com o intuito de degustar o quanto
antes, até porque estava curioso, confesso.
E tomado por uma empolgação iniciei os trabalhos fazendo uma
viagem enológica por Navarra, na Espanha. E não é que o vinho surpreendeu??
Incrível o quanto um vinho de custo tão baixo possa oferecer tamanha
tipicidade!
Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O
vinho que degustei e gostei veio, como disse, da região espanhola de Navarra e
se chama Panamera, com um inusitado corte de Tempranillo e Merlot da safra
2020. Embora seja um corte pouco “usual”, parece ser normal na região, fundir
em blends, castas autóctones e francesas mais famosas, como Cabernet Sauvignon
e Merlot, por exemplo.
Então antes de tecer comentários sobre o vinho, falemos um
pouco da história da região espanhola de Navarra.
DO (Denominação de Origem) Navarra
A região de Navarra (DO Navarra) fica ao norte da região de
Rioja, entre a parte baixa dos Pirenéus, até o rio Ebro, apresentando cerca de
11.500 hectares ocupados por vinhedos, graças ao seu solo extremamente fértil e
propício para o cultivo de inúmeras castas.
A viticultura começou já no século II a. C quando os romanos
criaram as primeiras adegas. Por muitos anos, o vinho foi produzido pelos
monges dos inúmeros monastérios desta antiga área vitivinícola.
Na idade Média, Navarra era um reino poderoso, aliado à
França, o que ajudou o desenvolvimento da viticultura. O fato que fica no
Caminho de Santiago aumentou a demanda, os vinhos de Navarra sendo recomendados
aos romeiros.
As videiras foram devastadas pela praga filoxera em 1892,
eliminando quase 98% das vinhas na época. No início do século XX, foram
replantadas vinhas com raízes do Novo Mundo. Produtores formaram cooperativas e
produziram vinho em grande quantidade, exportado a granel.
Somente nos anos 1980, vinícolas privadas começaram a fazer
vinhos de qualidade. A Denominación de Origen, originalmente aprovada em 1933,
foi modificada para refletir a transição de vinhos de massa para vinhos de
qualidade.
A região produz cerca de 89 milhões de litros de vinho por
ano, dos quais 30% são exportados. Apesar dos vinhos brancos da região fazerem
bastante sucesso e agradarem aos exigentes paladares da crítica especializada,
é a produção de vinhos tintos que se destaca em Navarra. Em decorrência disso,
70% da produção da área espanhola é constituída de vinhos tintos, sendo os
outros 25%, destinados a produção de vinhos brancos e rosés.
Diversas variedades de uva são cultivadas na região, como as
da casta Moscatel, Chardonnay, Mazuelo, Graciano, Merlot, Cabernet Sauvignon e
Viura. Entretanto, as uvas de maior sucesso da região de Navarra são a Garnacha
e a Tempranillo.
Por muitos anos, a Garnacha foi de longe a variedade de uva
mais plantada nas vinhas, intercaladas com as fazendas de frutas e vegetais
pelas quais Navarra é tão famosa. Até pouco tempo atrás, as vinhas velhas de Garnacha,
dominavam o território.
A Tempranillo ultrapassou Garnacha como a variedade mais
plantada, com Cabernet Sauvignon chegando em terceiro lugar. Os resultados são
muito respeitáveis, se muito raramente são excepcionais. As bodegas de Navarra
foram capazes de investir em carvalho francês para suas uvas francesas.
Consideravelmente auxiliados por um programa de pesquisa do
governo local, eles fizeram uma avaliação cuidadosa de variedades de uvas:
Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e, especialmente, Tempranillo - que
agora produz alguns vinhos finos e concentrados, tipicamente envelhecidos em
carvalho americano.
Navarra tem clima continental, com verão seco e quente, e
invernos bem frios. Tem uma influência marítima vendo do mar Atlântico,
moderando as temperaturas durante a maduração das uvas, e a noite, as
temperaturas caiem no fim de agosto.
A grande diversidade dos vinhos de Navarra reflita a
influência da confluência dos climas das 2 principais zonas de produção da região,
situação excepcional na península ibérica: atlântico na Tierra Estella e na
Baja Montaña; mediterrâneo na Ribera Alta e na Ribeja Baja.
Na década de 1980 a região começou a passar por grandes
mudanças, com a renovação de mentalidade trazida por produtores jovens e
inquietos, que culminou com a redescoberta e valorização das castas mais
tradicionais e de seus vinhedos de vinhas velhas. Como os preços médios ainda
permanecem mais baixos que os da Rioja, os vinhos de Navarra tornaram-se opções
muito interessantes.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho intenso, quase escuro, com
entornos granada, além de lágrimas finas, de alguma profusão e lentas que
desenham as bordas do copo.
No nariz mostrou-se tímido nos aromas no início, mas em taça se
abriu e entregou notas de frutas vermelhas, com destaque para groselha, cereja
e até framboesa, com um toque delicado de baunilha e madeira, graças aos quatro
meses de passagem por barricas de carvalho.
Na boca apresenta corpo leve para médio, é seco, com muita
elegância, uma textura aveludada garantida pelas notas frutadas e também pela
Merlot, com a Tempranillo trazendo um pouco da personalidade do vinho. As
especiarias, a madeira, ganham a sua presença, como no aspecto olfativo, com
destaque para o chocolate, para a baunilha, para um defumado. Os taninos,
apesar de presentes, estão domados e a acidez é saliente. Tem um final
persistente.
Uma miscelânea de bons sentimentos me tomou de assalto quando
degustei o Panamera: o corte inusitado e que se “harmonizou” maravilhosamente, ter
degustado novamente um rótulo da região da Navarra que, a cada dia, me ganha
por completo. O Panamera vem de vinhas velhas e revela o quão complexo e
elegante o vinho se apresenta, se revela. Um vinho de incrível custo X
benefício como pouco tem se visto ultimamente. Que Navarra venha em profusão
transbordando em minha humilde e reles taça. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Bodegas Manzanos:
A história da Bodegas Manzanos é a história de uma família,
do seu esforço, da sua perseverança e do seu know-how. A família Fernández de
Manzanos cultiva vinhas e produz vinhos há mais de um século.
Foi exatamente em 1890 que a primeira geração desta família
fundou em Azagra uma pequena adega com uma capacidade de produção de 50.000
litros de vinho.
Na década de 1940, inauguraram uma nova instalação que
ampliou a sua capacidade para 350.000 litros, evidenciando a tradição
vitivinícola desta zona. Entre os anos 50 e 60 consolidaram seu projeto
vinícola, com a criação da vinícola Viña Marichalar, a primeira anexa à
Denominação de Origem Qualificada Rioja com capacidade para mais de 1,5 milhão
de litros.
Na década de 1990, Víctor Fernández de Manzanos Pastor, a
quarta geração, ingressou na empresa familiar, depois de estudar Engenharia
Química e obter o Mestrado em Viticultura e Enologia pela Escola Superior
Técnica de Engenheiros Agrônomos da Universidade Politécnica de Madri. É o
primeiro membro da família com formação em viticultura e enologia.
Víctor então construiu a vinícola Marqués de Butrago e
decidiu realizar seu projeto de vida, a construção da Bodegas Manzanos.
Hoje, os rostos visíveis da Bodegas Manzanos são os dos
irmãos Víctor e David Fernández de Manzanos, junto com Laura Mateo, esposa do
primeiro. Em 2010, esses jovens empreendedores assumiram as rédeas da vinícola
e transformaram Bodegas Manzanos em um negócio próspero e moderno, equipado com
as últimas tecnologias do setor, que conseguiu preservar o antigo sabor da
tradição; do legado recebido.
Mais informações acesse:
Referências:
“Premium Wines”: https://www.premiumwines.com.br/_regiao_olha.php?reg=72
“Vindame”: https://www.vindame.com.br/navarra
“Bella Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-navarra-na-espanha
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/navarra
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