Nada melhor do que garimpar, buscar novas experiências
sensoriais. Novas castas, novas regiões vitícolas. Tem sido maravilhoso viajar
nessas novas percepções organolépticas e tenho feito de forma ávida, intensa,
mas não podemos negligenciar os clássicos. Nunca!
Até porque os clássicos atingiram tal condição por serem exatamente especiais! A tradição e a credibilidade põem a mesa, na expressão literal da palavra. Os clássicos certamente construíram a minha predileção pela poesia líquida.
Quem não começou a degustar um Merlot, Cabernet Sauvignon, Malbec e nunca se encantou? Quem não degustou um vinho de uma região emblemática e não gostou? Isso dada as devidas proporções, afinal nem tudo é sempre unânime.
E quando falamos de Portugal, não há como esquecer do quão
tradicionais são as suas regiões! O que dizer de Alentejo, Porto, Madeira,
Lisboa...? Não há como dissociar essas regiões de nosso imaginário e adega. E
outra região lusitana, que eu não degustava um rótulo a exatamente um ano,
volta a figurar em minha humilde taça: o Tejo.
Preciso degustar mais rótulos dessa clássica e importante
região para a vitivinicultura portuguesa como o Tejo. Tenho a impressão de que
a oferta de vinhos do Tejo não é tão grande, expansiva quanto regiões como
Alentejo, Vinhos Verdes aqui em nossas terras, por exemplo. Mas há algumas boas
dicas de rótulos e a preços competitivos, atraentes.
E esse produtor, a quem degustarei o primeiro vinho, tem um
pouco do Brasil em sua história. Parte dos seus donos atuais são brasileiros e
é gratificante ver apaixonados por vinhos investirem em terras lusitanas. Falo
da Pinhal da Torre.
Todos os vinhos, de todas as propriedades do Pinhal da Torre
são mantidos e trabalhados na Quinta de São João, uma adega histórica
construída entre 1946 e 1947, sendo a única adega na região do Tejo pela sua
construção moderna e estilo arquitetônico.
E o vinho que degustei e gostei carrega o nome da antiga e
tradicional adega: Quinta de São João Reserva, em um blend com as castas
Touriga Nacional (40%), Touriga Franca (30%), Tinta Roriz (20%) e Syrah (10%)
da safra 2019. E para não perder o costume vamos de história, vamos de Tejo.
Tejo
Partilhada com vilas e olivais, a região do Tejo está
localizada bem no coração de Portugal. Essencialmente ligada à produção de vinhos
de elevada categoria, esta região é feita de apaixonados produtores, conhecidos
por todos os cantos do país pela sua energia e determinação.
Homenageada pelo rio que marca a sua paisagem, a região foi,
até 2009, conhecida como Ribatejo. Atualmente, a viticultura estabeleceu as
suas raízes de vez e um conjunto de terroirs determinam a economia da região.
A história da Região do Tejo se confunde com a das suas
Terras. Sob o comando do rio Tejo, influenciando economia, paisagem e clima,
trata-se de uma das mais antigas regiões produtoras de vinhos de Portugal, cujo
patrimônio remonta à presença Romana na antiga Lusitana.
A Região Vitivinícola do Tejo está localizada no centro de
Portugal, a pouca distância de Lisboa. O rio não é o que separa, mas o que liga
um território vitivinícola com 12.500 hectares de vinhas distribuídos por 21
municípios. Largo e imponente, o Tejo é o maior rio de Portugal. Como elemento
primordial da paisagem, moldou a história dos que lá vivem, criam e trabalham,
influenciando o clima e o terroir.
História
A arte de produzir vinho, nesta região, remonta a 2000 a.C.,
quando os Tartessos iniciaram a plantação da vinha junto às margens do rio que
lhe dá o nome. Reza a História que já Afonso Henriques fez referência aos
vinhos da região no Foral de Santarém, datado de 1170, e que o Cartaxo teria
exportado 500 navios com tonéis de vinho que, em apenas um ano, atingira o
valor de 12.000 reis.
As histórias continuam pela cronologia fora, com o ano de
1765 a destacar-se pelo desaparecimento da vinha nos campos do Tejo, como
consequência de uma ordem imposta por Marquês de Pombal.
O primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, tem uma
ligação especial com os Vinhos do Tejo. Reza a história que o mesmo referiu
estas produções na Foral de Santarém, que data de 1170. Mais tarde, no século
XIII, dá-se o culminar do comércio das produções, com 30.000 pipas a serem
enviadas apenas para a Inglaterra.
Muitos anos depois, em 1989, as produções passam a ser
regulamentadas com as Indicações de Proveniência Regulamentada para vinhos da
região e, em 1997, a Comissão Vitivinícola Regional do Ribatejo é fundada. Esta
comissão é substituída, em 2008, pela Comissão Vitivinícola Regional do Tejo e
seguiu-se da criação da Rota dos Vinhos do Tejo.
Muitas das quintas produtoras pertencem às famílias
nobiliárquicas. Cada uma com a sua história, em comum têm o objetivo de
produzir vinhos de qualidade, que expressem as caraterísticas da região. Como
resultado, os vinhos incorporam tradições (o pisa pé, método de esmagar as uvas
com os pés), o entusiasmo e empenho das suas gentes, a natureza que predomina
nas terras ribatejanas e as mais modernas tecnologias.
A região do Tejo, nos dias de hoje, constitui cerca de 17 mil
hectares de terreno, representando uma produção anual de 650 mil hectolitros,
10% da produção no país. Destes valores, 110 mil hectolitros são alvo de
certificação, 90% dos mesmos estando distinguidos com a Indicação Geográfica
Protegida (IGP), enquanto que 10% têm Denominação de Origem Controlada (DOC).
O Tejo tem alguns dos mais vibrantes e acessíveis vinhos de
Portugal, oferecendo uma gama diversificada e diferenciada de estilos, para
todos os gostos, orçamentos e ocasiões. A produção anual, que cresce safra após
safra, atingiu, no último ano, 2021, cerca de 23,3 milhões de litros.
Características do terroir
Pelo clima moderado e a versatilidade dos solos, os terroirs
do Tejo possuem um alto grau de adaptabilidade. Se por um lado os solos
xistosos e as areias na margem esquerda do rio sofrem de fraca produtividade,
os solos de aluvião e os argilo-calcários vieram salvar este panorama.
Devido às planícies que, periodicamente, são inundadas pelo
rio, os solos de aluvião são extremamente férteis. Por outro lado, é nos solos
argilo-calcários que se reúne a maior parte das vinhas e olivais da região
devido à irregularidade dos campos, fruto da alternância entre montanhas e
planícies.
Vamos tornar o assunto ainda mais interessante ao lhe
confidenciar que a região se divide em três zonas dedicadas a diferentes tipos
de produção: a Charneca, o Bairro e o Campo.
Charneca
Apesar desta zona não ser a mais produtiva, devido às
características secas do seu solo e às temperaturas elevadas, estes terrenos
ainda têm potencial na produção de vinhos brancos e tintos.
Localizados na margem esquerda do Tejo, com direção a sul
estendendo-se até ao Alentejo, os solos são essencialmente arenosos, o que se
reflete na complexidade das uvas e, consequentemente, dos vinhos.
Bairro
Este terroir distingue-se no cultivo de castas tintas e
localiza-se a norte do rio Tejo. Pela sua divisão em solos argilo-calcários e
xistosos, as videiras são capazes de estabelecer as suas raízes no terreno a um
nível mais profundo.
Para além disso, as terras são consideradas altas, compostas
tanto por colinas como por vastas planícies, o que confere uma riqueza
inigualável aos solos que as constituem.
Campo
Exatamente nas margens do rio Tejo, estes terroirs são alvo
de um clima mais marítimo que influencia na frescura e na acidez dos vinhos aqui
produzidos. Porém, o que mais caracteriza estes solos são as inundações
periódicas que lhes conferem um alto índice de fertilidade. Ideal para a
produção de vinhos brancos, estes terrenos em planície exigem uma viticultura
extremamente precisa.
As principais castas
Na Região do Tejo, a legislação permite a utilização de
diversas castas, tanto nacionais como internacionais. As brancas mais comuns
são Chardonnay e Sauvignon Blanc. Entre as tintas destacam-se as Cabernet
Sauvignon e Merlot.
As castas tintas nativas do Tejo incluem a Touriga Nacional,
a casta portuguesa por excelência, bem como a Trincadeira, Castelão e Aragonês.
O aromático Fernão Pires e o Arinto produzem alguns dos vinhos brancos mais
refrescantes da região.
Estas castas autóctones prosperaram em climas quentes e solos
complexos da Região do Tejo, mantendo a elevada acidez natural, para produzir
vinhos equilibrados com características de frutas ricas.
A Região dos Vinhos do Tejo é composta por um total de 17 mil
hectares de terreno vinícola, que produzem anualmente cerca de 650 mil
hectolitros, o que representa cerca de 10% do total de vinho produzido em
Portugal. Destes cerca de 110 mil hectolitros são certificados, dos quais 90%
são vinhos com Indicação Geográfica Protegida (IGP) e 10% são vinhos com
Denominação de Origem Controlada (DOC).
E agora finalmente o vinho!
Na taça traz um rubi vivo, intenso, praticamente escuro, mas
com um incomum brilho, além de uma viscosidade que mancha a taça, bem como
lágrimas finas, lenta e em profusão, denotando personalidade e estrutura.
No nariz inicialmente se mostrou tímido, mas com o tempo foi
evoluindo para frutas vermelhas e pretas maduras, com destaque para ameixas,
amoras, framboesas, cerejas, com fortes notas de especiarias como noz-moscada,
cravo, pimenta, além de um floral, cortesia da Touriga Nacional, bem como a
madeira presente, mas bem integrada, graças a passagem de doze meses em
barricas de carvalho.
Na boca se revelou complexo, como no olfato, entregando
personalidade e alguma estrutura, bem como frutado, a fruta protagoniza também
no paladar, fazendo do vinho saboroso e volumoso, cheio, com as notas
amadeiradas mais presentes, trazendo algo de chocolate, caramelo, baunilha. As
especiarias aparecem também e os taninos ainda presentes, vivos, consistentes,
assim segue a acidez que goza de plenitude. Tem final persistente, longo.
Novidades, garimpos, propostas arrojadas, moderno e clássico.
Todos os quesitos são consistentes quando falamos em vinho! Tudo é válido para
quem ama a poesia líquida! Um vinho de traços modernos, mas que respeita o
terroir do Tejo, trazendo o inquestionável quesito da tradição que construiu e
ainda constrói a história dessa emblemática região. Tem 13,5% de teor
alcoólico.
Sobre a Pinhal da Torre:
A exaltação da vinha e do vinho define as origens da Pinhal
da Torre, uma empresa familiar detida pela família Saturnino Cunha, que há
várias gerações se dedica exclusivamente à criação de vinhos exigentes e
sofisticados.
A Pinhal da Torre é uma produtora de vinhos premium, de alta
qualidade, caráter distintivo e artesanal. A paixão pelo vinho e a experiência
adquirida ao longo de várias gerações, conduziu-nos à compreensão da
singularidade de cada casta e do nosso terroir.
A Pinhal da Torre, tem, por isso, conquistado o
reconhecimento internacional das suas marcas e alavancado a sua expansão global
em cumprimento com os seus valores fundamentais:
1-
Compromisso
da mais alta qualidade;
2-
Cumprimento
de rigorosas práticas vitícolas e procedimentos de vinificação sustentáveis;
3-
Seleção
exigente de fornecedores e distribuidores;
4-
Design
e inovação no packaging, com utilização da linguagem Braille nos seus rótulos;
5-
Promoção
de uma cultura de responsabilidade social corporativa.
Mais informações acesse:
Referências:
“Viva o Vinho”: https://www.vivaovinho.com.br/mundo-do-vinho/regioes-vinicolas/regiao-do-tejo-terra-de-vinhos-e-tradicao/
“Comissão Vitivinícola Regional do Tejo”: https://www.cvrtejo.pt/historia-do-vinho-e-da-regiao
“Conceito Português”: https://www.conceitoportugues.com.br/artigo/regiao-do-tejo
“Wines of
Portugal”: https://winesofportugal.com/pt/descobrir/regioes-vitivinicolas/tejo/
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