Quando nos lembramos da Itália imediatamente associamos aos
clássicos! Aqueles rótulos com sisudez, austeridade, aqueles vinhos carnudos,
opulentos, encorpados, de longevidade, de potência mesmo.
Rótulos aristocráticos, com brasões, mostrando tradição, história
e até mesmo luxo e poder. Mas não se enganem que a Itália tem produzido alguns
rótulos mais descontraídos, com uma abordagem estética descontraída, bem como
também na concepção do seu vinho.
Se para alguns e diria muitos sejam vinhos simplórios e ordinários,
uma versão “bonitinha” e solar para vinhos ruins, enganam-se retumbantemente.
São vinhos simples, mas sem depreciar, porque essa é a proposta: de vinhos
jovens, frutados, frescos e descomplicados.
É também uma proposta os vinhos austeros, encorpados,
complexos. O que não se pode pensar e disseminar uma cultura intolerante contra
as propostas dos vinhos, fazendo incutir na mente das pessoas a sua torta
percepção.
E hoje a Itália que se descortina em minhas retinas será
descontraída, solar, com frescor, vivacidade e muito leve, na sua versão
estética e do vinho propriamente dito. É com alegria e satisfação que anuncio o
vinho que degustei e gostei que veio do Piemonte e se chama Trifula, um 100%
Dolcetto da safra 2021.
Mas o que
significa “Trifula”?
Trifula é um cão sagaz que vive neste terroir inspirador.
Trifula raramente experimenta algo especial, até que um belo dia descobre uma
legítima trufa branca enterrada na sua árvore favorita, em Alba.
A trufa é vendida por um milhão de dólares na famosa Feira
Internacional de Trufas da região, tornando Trifula mundialmente conhecido e
digno de receber uma homenagem em rótulos que inspiram sua história e trazem a
leveza e descontração encontrada nos vinhos.
E na sequência de histórias vamos agora com a tradição do
Piemonte e a sua casta mais leve, fresca e frutada: Dolcetto.
Piemonte: a filha pródiga dos vinhos italianos
A região do Piemonte disputa com Toscana a primazia de
produzir os melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da
Itália, fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início
à produção de vinhos.
Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um
grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas
mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do
norte da Europa.
A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das
uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática
da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por
séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou
ao clarete, que era a moda na Europa de então.
Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um
grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande
caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente
cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha.
plantada de vinhedos.
Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da
montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A
maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram
cerca de 26% de terras planas.
Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade
também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se
encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara,
dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras
de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos
aluviais.
O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos
rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As
uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo,
vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália),
Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas
francesas, como a Cabernet Sauvignon.
As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato
Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG
(Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos
vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D'
Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di
Origine Controllata) e vários Vini da Tavola de boa qualidade.
As sub-regiões do Piemonte
As sub-regiões do Piemonte diferem bastante entre si e
possuem muitas DOC. São elas:
Monferrato
É uma vasta região de colinas, que pode ser dividida em duas
partes bem diferentes:
Basso Monferrato - (Raciocinar ao inverso) é a parte mais
setentrional e de maiores altitudes, com a base pelos 350m e os picos em 700m,
um território muito apropriado para os vinhedos. Aqui predominam a Barbera e a
Grignolino, em vinhos macios e fáceis de beber se comparados aos demais tintos
piemonteses. Em Chieri se produz um Freisa DOC.
DOC: Albugnano, Cisterna d´Asti, Colline Torinesi, Dolcetto
d`Asti , Freisa di Chieri, Gabiano, Grignolino d`Asti, Grignolino del
Monferrato, Malvasia di Casorzo d`Asti, Malvasia di Castelnuovo Don Bosco,
Monferrato, Rubino di Cantavenna , Ruché di Castagnole Monferrato
DOCG: Barbera d`Asti, Barbera del Monferrato,
Alto Monferrato - Ainda raciocinando invertido, aqui estão
altitudes menores, e curiosamente o terreno é mais acidentado, com encostas
mais íngremes e vales mais profundos. Esta conformação estranha tem seu efeito
na viticultura, inicialmente pelo plantio de Barbera e Moscato, seguido das
uvas autóctones como a Cortese, que aqui tem sua melhor expressão, na DOCG
Gavi. Em seguida vem a Dolcetto, com ótimos resultados no entorno de Acqui e
Ovada ambas DOCs. A terceira menção é a Brachetto, muito difundida no passado,
mas hoje restrita a 50 hectares em Strevi. O Alto Monferrato costuma ser
dividido em Monferrato Casalese e Monferrato Astigiano, por suas diferenças de
território.
DOC: Dolcetto d`Acqui, Cortese Dell`Alto Monferrato, Dolcetto
d`Alba, Loazzolo,
DOCG: Asti, Bracchetto d`Acqui (Acqui), Moscato d’Asti, Gavi
(Cortese di Gavi).
Langhe
Tem seu principal centro vitícola em Alba, mas a fama mundial
desta província veio de dois centros menores, Barolo e Barbaresco. É neste
local que a Nebbiolo, já qualificada em outras sub-regiões, se exprime ao nível
mais alto, nestes ícones italianos. Aqui também se produzem os qualificados
Moscato d’Asti, os ótimos Nebbiolo, o Barbera d’Alba e quatro Dolcettos, sendo
o melhor o Dogliani. Para acolher os vinhos menos portentosos, mas muito bons,
existe a DOC Langhe.
DOC: Barbera d`Alba, Dolcetto delle Langhe Monregalesi,
Dolcetto di Dogliani, Dolcetto di Ovada, Dolcetto delle Langhe Monregalesi,
Langhe, Nebbiolo d`Alba, Verduno Pelaverga (Verduno),
DOCG: Barbaresco, Barolo, Dolcetto delle Langhe Superiore,
Dolcetto di Diano d`Alba (Diano d’Alba), Dolcetto di Ovada Superiore (Ovada)
Roero
É um distrito situado na margem oposta a Alba, tendo como
centros Bra e Canale. Aqui também se planta Nebbiolo, mas as brancas Arneis e
Favorita, que no passado eram usadas em cortes, hoje produzem ótimos varietais.
DOC: Roero e Roero Arneis
Colline Astigniame
Compreendem uma área de vinicultura de grande interesse,
situadas entre Canelli e Nizza, onde se produzem Moscato d`Asti e Barbera
d`Asti. Aqui se diz ter sido inventado o espumante, há mais de um século e que
tem aqui seu maior centro produtivo.
Colli Tortonesi
Estão entre o Alto Monferrato e o Pavese e possuem
características ambientais e culturais típicas do Piemonte. As variedades
principais são a Barbera eCortese, mas têm-se trabalhado outras uvas.
Recentemente foi descoberta a variedade branca Timorasso.
DOC: Colli Tortonese
Colli Saluzzesi
Engloba 9 comunidades em Cuneo nas colinas suaves vale do rio
Po. Aqui se cultivam Barbera e Nebbiolo, e também as variedades Pelaverga e
Quagliano, das quais se produzem varietais.
DOC: Colline Saluzzesi, Pinerolese
Cavanese
Está na região a nordeste de Torino, com duas regiões
vinícolas de importância:
A primeira está centrada no município de Caluso, se
estendendo até as colinas de Ivrea. Aqui predomina a variedade autóctone branca
Erbaluce, que produz um vinho passito tradicional e um branco delicado.
A segunda é a zona de Carema, com vinhedos em terraços com
muros de pedra e pérgolas, cultivando a Nebbiolo.
DOC: Erbaluce di Caluso, Caluso Passito, Cavanese, Carema
Colli Novaresi e Colli Vercellosi
Estão situadas a noroeste, perto do lago Maggiore, nas
províncias de Biella, Novara e Vercelli, abrigando diversas DOCs, algumas de
alto nível. A mais prestigiada é o Gattinara, tinto famoso desde a corte de
Carlos V, que hoje foi elevada a DOCG, e também a DOC Ghemme.
DOC: Boca, Bramaterra, Colline Novaresi, Coste della Sesia,
Fara, Lessona, Sizzano,
DOCG: Gattinara, Ghemme
Dolcetto
Nem só das uvas Nebbiolo e Barbera são feitos os italianos
clássicos do Piemonte, região noroeste da Itália. Muitas vezes subestimados, os
Dolcettos (em italiano, 'ligeiramente doces' ou 'docinhos'), produzidos com a
'eterna' terceira uva do Piemonte são belos vinhos, mais frutados e macios e
dificilmente apresentam caráter doce que seus poderosos conterrâneos, os
Barolos e Barbarescos, feitos a partir da Nebbiolo, e os Barberas. Os Dolcettos
são bastante tânicos, frescos e secos.
No Piemonte, as três uvas fazem parte de uma equação que
determina a paisagem. Nebiollos só amadurecem em locais bem ensolarados,
Barberas, embora menos exigentes, também têm lá suas suscetibilidades, a
Dolcetto, ao contrário, é uva fácil de cultivar e que amadurece rapidamente, por
isso ocupa os locais menos ensolarados dos vinhedos, muitas vezes os mais
altos. Tradicionalmente, a Dolcetto produzia vinhos que podiam ser consumidos
muito jovens, e muito antes das outras duas, o que ajudava a equilibrar o cash flow das vinícolas.
Sendo uma das uvas mais alegres da região de Piemonte, a
casta Dolcetto é levemente fermentada no processo de vinificação, tal processo
é realizado por produtores de renome que conhecem extremamente bem as
características e propriedades da uva Dolcetto. A leve fermentação da uva faz
com que seja extraído da casta a quantidade ideal de taninos para a elaboração
de vinhos tintos secos maravilhosos.
Utilizada em deliciosos e espetaculares vinhos tintos, a
casta Dolcetto da região de Alba produz um dos melhores vinhos provenientes da
casta. A Dolcetto D´Alba, cultivada em uma comuna do Piemonte, é considerada
DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), sendo 80% dos exemplares
de vinhos elaborados com a casta consumidos no próprio país de origem. Os
rótulos produzidos a partir da cepa Dolcetto D´Alba possuem caráter rústico com
taninos bastante leves e coloração rubi.
Além de Alba, um pequeno lugarejo, localizado na mesmo
província de Cuneo, escapa à essa lógica de produção tradicional: Dogliani, uma
comuna minúscula situada perto de Turim. Lá, a Dolcetto reina absoluta e ocupa
todos os melhores espaços dos vinhedos. Por conta disso, Dogliani tem sua
própria DOCG desde 2005, garantia de qualità superiore.
Muitos dizem que os Dolcettos são vinhos italianos com jeito
de vinhos do Novo Mundo. E, de certa forma, isso se explica. Ainda que o nome
remeta a um sabor adocicado, a uva Dolcetto produz vinhos muito tânicos e de
baixa acidez, com alto teor alcoólico, mas que ainda assim são perfeitos para
serem consumidos no dia a dia.
Ao contrário da realeza italiana da região piemontesa, que
pede obras de arte gastronômicas para uma harmonização digna, caem como luvas
ao acompanhar os pratos clássicos de massa da Itália, como spaghettis com molho
bolonhesa ou polpettas.
Conhecida também como Ormeasco na região da Liguria, a uva
Dolcetto vem conquistando muitos admiradores no mundo do vinho, ganhando
bastante espaço em países do Novo Mundo com exemplares bastante potentes, secos
e com graduação alcóolica elevada.
E agora finalmente o vinho!
Na taça um claro e brilhante rubi com entornos violáceos que
lembra um Pinot Noir, com poucas e finas lágrimas que, afastadas, logo
desaparecem do bojo do copo.
No nariz extremamente aromático, remetendo a frutas vermelhas
bem frescas, com destaque para ameixas, framboesas e morangos, com notas herbáceas,
algo de hortelã, além de especiarias.
Na boca é leve, fresco, saboroso, com as notas frutadas
protagonizando como no aspecto olfativo, com algo mineral, terroso, de terra
molhada mesmo, além de taninos macios, elegantes e delicados, com acidez média
e um final persistente e frutado.
Um Dolcetto super gastronômico, com notas de frutas vermelhas
frescas, nuances florais, além da acidez vivaz que dá vida a vinhos frescos e
saborosos. O estágio em tanques de aço inox contribui para preservar as
características primárias de aromas e sabores, que encantam no primeiro gole! E
viva a leveza! Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Mondo del Vino:
A Mondo del Vino possui vinícolas de última geração mostrando
seu compromisso dinâmico com a inovação e a sustentabilidade. Seu objetivo é
oferecer aos enófilos um ótimo produto, mas também seguro e justo. Uma forma de
fazer isso é medir o impacto ambiental de seus processos e produtos, bem como a
conscientização sobre o impacto de sua produção.
Desde 2016, a MDV começou a pesar e medir seu impacto
ambiental com a Avaliação do Ciclo de Vida (ISO 14040-44:2006) adotando o que a
Comissão da UE promove: a Pegada Ambiental da Organização (OEF) e a Pegada
Ambiental do Produto (PEF). Ao fazer isso, estão na vanguarda da análise de
desempenho ambiental, com base em uma ferramenta científica, sendo a primeira
vinícola da Europa a adotar a política ecológica da UE.
Combina solidez produtiva, paixão pelas pessoas e
responsabilidade pelos ecossistemas, buscando ser, no mundo, um ponto de
referência da cultura e excelência do vinho italiano, dando sua contribuição
tangível à sua história milenar, para que a Itália se torne o primeiro produtor
no mundo por volumes e, sobretudo por valores.
Mais informações acesse:
https://www.mondodelvino.com/en/
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=PIEMONTE
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/piemonte-grandiosa-regiao-italiana_8360.html
“RBG Vinhos”: https://www.rbgvinhos.com.br/blog/dolcetto-uma-uva-nada-doce-e-cheia-de-potencial
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/dolcetto
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