Sempre tenho a alegria e o prazer de falar que a vinícola
Miolo tem um lugar de destaque em meu coração. Há uma forte ligação afetiva,
além, claro, da questão da qualidade que me une desde sempre.
Os vinhos da Miolo foram os grandes responsáveis por me
iniciar nas degustações dos vinhos de variedades vitis vinífera, sobretudo os
de entrada, que tinha um acesso monetário melhor, por ser barato, bem como as
facilidades de compra, pois os encontrava e ainda encontra em vários
supermercados e atualmente em sites específicos de compra de vinhos.
Ao longo dos anos novas possibilidades de opções de compra me
apresentaram outros rótulos, de camadas de propostas distintas, descortinando
um vastíssimo e qualificado portfólio de rótulos que também foram surgindo,
graças ao crescimento mercadológico da vinícola que hoje atua fortemente em
mercados exteriores, como a Inglaterra, por exemplo, com rótulos especiais para
este país.
A Miolo hoje entrega uma linha de rótulos conhecidos como
“Single Vineyard” que, a grosso modo, significa “vinhedos únicos”, de regiões
emblemáticas com destaque para a Campanha Gaúcha, Vale de São Francisco e
outros. Regiões que conquistaram suas indicações de procedências, o que valida a
sua tipicidade, o seu terroir.
O meu primeiro rótulo degustado dessa linha foi o Miolo Single Vineyard Touriga Nacional da safra 2019 que dispensa comentários, e o
segundo que degustei e também gostei é o Miolo Single Vineyard Syrah, do Vale
de São Francisco, no nordeste brasileiro da “safra das safras”, 2020. Esse
definitivamente foi mais um vinho que degustei e gostei dessa linha da Miolo
Single Vineyard.
Miolo Single Vineyard: Vinhedos únicos da Miolo
A linha Miolo Single
Vineyard surgiu há cerca de três anos, com a proposta de aguçar o que há de
mais especial no portfólio Miolo: o vinhedo único e inigualável.
Com o custo de aproximadamente 60 reais por garrafa, eles
carregam dentro de si a força do terroir, fato resultante de todo um trabalho
de mapeamento de solos. O que se pode esperar disso tudo é a alta qualidade,
típica de uma produção selecionada e especial. A linha é composta pelos rótulos
Alvarinho e Riesling Johannisberg, Pinot Noir, Syrah e Touriga Nacional.
A linha Miolo Single Vineyard pretende unir com precisão o
custo-benefício de cada produto, duas vertentes perfeitamente possíveis de
coexistirem, a partir de um trabalho que buscou mapear as características de
solos, analisando fatores como densidade do plantio e seu nível de exposição
solar.
A casta Syrah
O Syrah possui origem Bahiana, do Vale do São Francisco,
constituindo um vinho tinto, com características do solo Toca do Mandacaru.
Trata-se de uma região semiárida, com temperaturas tão específicas, que fazem
com que o vinhedo conte com a irrigação do rio, o que lhe confere o título de
vinho tropical de identidade própria.
Vale do São Francisco: os vinhos do Velho Chico
A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma
excepcionalidade no mundo, uma vez que está localizada entre os paralelos 8º e
9o S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o ano todo totalizando duas
safras e meia em condições ambientais adversas como alta luminosidade,
temperatura média anual de 26oC, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de
altitude, em solo pedregoso.
Seus vinhos possuem público crescente, porque são jovens “vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabores, considerados como fáceis de beber e apresentando boa relação comercial qualidade/preço. Aliado a essas particularidades, diretamente associadas à produção de vinhos finos, o Vale é ainda cenário de diversas belezas naturais, históricas e culturais.
Estudos já
publicados permitem identificar que a região conta com diversas características
que comprovam o seu potencial turístico para o desenvolvimento da atividade,
como é o caso da sua história, riquezas ambientais e diversificada cultura
regional.
Esses fatores estão relacionados à diversidade observada na
região. Isso é notado, principalmente, em decorrência da sua extensão. A Bacia
do São Francisco é a terceira maior bacia hidrográfica do país e a única que
está totalmente inserida no território nacional. Nela estão localizados 506
municípios contando com, aproximadamente, 13 milhões de habitantes, que
representa 9,6% da população brasileira.
Bem antes do Vale do São Francisco se consolidar como polo de
vitivinicultura, quem já exercia esse papel no Brasil era a região Sul. No
século 19, o Rio Grande do Sul, mesmo com as condições climáticas
desfavoráveis, passou a ser considerado um polo crescente nesse meio – e até
hoje segue inserido no ramo. Mas, a chegada de imigrantes estrangeiros no país
trouxe o conhecimento técnico e a noção de mercado, o que fez com que outras
regiões brasileiras também mostrassem a sua capacidade produtiva.
É na década de 1960 que o Nordeste entra em cena e o Vale do
São Francisco inicia a sua trajetória na produção de uvas e vinhos, com a
implantação das primeiras videiras. Nos anos de 1963 e 1964, foram instaladas
duas estações experimentais, nos municípios de Petrolina, no Sertão de
Pernambuco e Juazeiro, na Bahia, onde seriam implantados, respectivamente, o
Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro Irrigado de Mandacaru.
Apesar da escassez de chuva, o clima quente e seco do semiárido mostrou-se terreno fértil para a vitivinicultura e, na mesma década, outras cidades do Sertão de Pernambuco passam a fazer parte da cadeia produtiva.
O pioneirismo da vitivinicultura no Nordeste é representado pelo
Sertão Pernambucano, que iniciou a sua trajetória na vitivinicultura na década
de 1960, produzindo vinhos base para vermutes, na cidade de Floresta, uvas de
mesa em Belém do São Francisco e em Santa Maria da Boa vista, localidade que na
época se chamava Coripós.
Entre os anos 1980 e 1990, a região banhada pelo Rio São Francisco passa a ser conhecida também pela produção de vinhos finos, e em 1984 é produzido o primeiro vinho no Vale do Submédio São Francisco, com a marca Boticelli.
O fortalecimento da vitivinicultura no Vale do Submédio São
Francisco se deu com a instalação de vinícolas na Fazenda Milano, em Santa
Maria da Boa Vista – PE e Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, que passaram
a produzir vinhos finos.
Ao longo da década de 1990, ganha destaque a vitivinicultura
tecnificada e a produção de uvas sem sementes. É também nessa época, que cresce
o investimento de grupos empresariais na região. A instalação de uma
infraestrutura física, como construção de packing houses, melhoria no sistema
rodoviário e portuário, e, sobretudo, a organização dos produtores em
associações e cooperativas, desempenharam um importante papel na consolidação
das exportações de uvas de mesa do Vale do Submédio São Francisco.
A partir dos anos 2000, a produção se fortalece ainda mais
com a implantação de outras vinícolas e vitivinícolas e também com as
iniciativas públicas. Ações governamentais e de ensino, pesquisa e inovação, a
partir do ano 2000, trouxeram novas tecnologias de produção e processamento de
uvas e o reconhecimento de atores internacionais. É nessa época que surge a
Escola do Vinho do Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, do
Instituto Federal do Sertão Pernambucano.
Indicação Geográfica (IG) do Vale do São Francisco
O Vale do São Francisco é a nova Indicação Geográfica (IG) do
Brasil para vinhos finos, nobres, espumantes naturais e moscatel espumante. A
região recebeu o selo na modalidade Indicação de Procedência (IP) e o registro
foi publicado na Revista da Propriedade Industrial do Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI).
A nova indicação geográfica valerá para as cidades de Lagoa
Grande (PE), Petrolina (PE), Santa Maria da Boa Vista (PE), Casa Nova (BA) e
Curaçá (BA) e a expectativa é que traga mais olhares e investidores para a
região vitivinícola.
A busca pela Indicação Geográfica na região é antiga e nasceu
em 2002 com o reconhecimento do Vale dos Vinhedos, já a vitivinicultura nasceu
em 1960 com a organização da produção agrícola irrigada no Vale do Rio São
Francisco. A irrigação permitiu que as terras com caatinga, até então
consideradas improdutivas, se tornassem áreas verdes ao longo das margens do
rio.
A região do Vale do Rio São Francisco possui características
únicas para a viticultura e produção de vinho. Seu clima permite duas podas e
duas safras anuais e o resultado é um vinho geralmente frutado, de baixo teor
alcóolico e acidez moderada. No Vale do São Francisco os espumantes predominam
com três milhões de litros produzidos anualmente contra 1,5 milhão de litros
dos vinhos tranquilos.
A Indicação Geográfica Vale do São Francisco autoriza a
produção de vinhos tranquilos brancos, rosés ou tintos e espumantes brancos ou
rosés que podem ser bruts, demi-secs ou moscatéis. A uva para a produção do
vinho tem que ser 100% proveniente da região delimitada e são autorizadas 23
castas diferentes.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela uma linda e brilhante coloração rubi intensa,
escura, de tons violáceos, com lágrimas finas e lentas em profusão que desenham
as bordas do copo.
No nariz explode em aromas de frutas vermelhas e pretas bem
maduras, com destaque para ameixa, amora, cereja, com nuances defumadas e de especiarias,
entregando algo como pimenta preta e ervas e um amadeirado presente, mas bem
integrado ao vinho, dando o aporte de baunilha, café tostado e tabaco.
Na boca é quente, cheio, com alguma estrutura e complexidade
e personalidade, mas é macio, redondo e equilibrado. As notas frutadas ganham
protagonismo, como no aspecto olfativo, a madeira é mais discreta, mas dá o seu
ar da graça, graças aos doze meses de passagem por barricas de carvalho,
trazendo o chocolate, a baunilha. Tem taninos presentes e rústicos, mas
afinados pela madeira, com uma acidez vibrante, salivante e um final
persistente.
Além da tipicidade, da especificidade de um vinhedo único que
lhe garante uma característica forte do terroir é também o privilégio de se
degustar um vinho do nordeste brasileiro, de terras improváveis para o cultivo
e que, graças ao “Velho Chico”, há vindimas em todos os períodos do ano o que
torna essa região incrível. E nessa terra a Syrah ganhou representatividade, é
bem cultivada. Que o Velho Chico nos traga novas experiências enosensoriais
como essa. Tem 14% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Miolo:
A paixão pelo mundo fascinante do vinho é facilmente
explicada pela história da família Miolo que, além de trabalhar na
vitivinicultura desde a chegada de Giuseppe no Brasil em 1897, inova ano após
ano.
Uma das fundadoras do projeto Wines of Brasil, a Miolo Wine Group é a maior exportadora de vinhos
do Brasil e a mais reconhecida no mercado internacional. A produção dentre as 4
vinícolas do grupo soma, em média, 10 milhões de litros por ano numa área
cultivada de vinhedos próprios com aproximadamente 1.000 hectares.
A Miolo exporta para mais de 30 países de todos os
continentes. É o maior exportador de vinhos finos do Brasil. De 30 hectares em
1989, a Miolo cultiva hoje, 30 safras mais tarde, cerca de 950 hectares de
vinhedos em quatro terroirs brasileiros: Vale dos Vinhedos (Serra Gaúcha),
Seival/Candiota (Campanha Meridional), Almadén/Santana do Livramento (Campanha
Central) e Terranova/Casa Nova (Vale do São Francisco), sendo a única empresa
do setor genuinamente brasileira com atuação em quatro diferentes regiões
produtoras.
Com uma produção anual de cerca de 10 milhões de litros, é a marca
que detém o maior portfólio de rótulos verde amarelos, exibindo centenas de
prêmios conquistados no mundo inteiro. O pioneirismo na elaboração dos vinhos
se estendeu para o enoturismo, onde a marca gera experiência, aproximando e
formando novos apreciadores da bebida.
Assim é no Vale dos Vinhedos com o Wine Garden Miolo, assim é no Vale do São Francisco com o Vapor do Vinho pelo Velho Chico, onde a Miolo transformou o sertão em vinhedo. Este mesmo espírito empreendedor que fez da pequena vinícola familiar a maior produtora de vinhos finos do Brasil em apenas 30 safras, é que move gerações e aproxima quem sonha de quem quer fazer.
Mais informações acesse:
Referências:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vale-do-sao-francisco-recebe-selo-de-indicacao-geografica.html
“Werle”: https://www.werlecomercial.com.br/linha-miolo-single-vineyard-review-completo
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