quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Magna Cabernet Sauvignon (50%), Malbec (40%) e Syrah (10%) 2016

 

Eu nunca entendi o motivo pelo qual eu degustava apenas varietais argentinos! Talvez seja uma informação totalmente irrelevante e até sem sentido, mas observei isso há pouco tempo.

Não era algo intencional, isso eu defendo ardorosamente, talvez uma mera e simples coincidência. Porém passei a degustar alguns, poucos é bem verdade, blends e que me chamaram muito a atenção!

E o mais importante: O Valle de Uco! Ah como essa região, que fica em Mendoza, vem me ganhando a cada dia que passa, a cada experiência, a cada rótulo degustado. E vem ganhando notoriedade, respeito e ela foi “descoberta” apenas nos anos 1990! Pasmem!

E mais um rótulo, mais uma experiência será colocada em taça! A história é viva e latente e a taça cheia traz sempre à tona o Valle de Uco. E o vinho de hoje traz uma vinícola que não degustava há algum tempo e tem a sua história em Mendoza, construindo a sua vitivinicultura: Falo da Família Zuccardi, a vinícola Santa Júlia.

E este rótulo traz um blend sensacional com as castas mais representativas da Argentina, aquelas que fazem sucesso nos terroirs dos Hermanos: Carbernet Sauvignon, a icônica Malbec e a Syrah.

O vinho que degustei e gostei veio do Valle de Uco, em Mendoza, e se chama Magna composta pelas já informadas castas Cabernet Sauvignon (50%), Malbec (40%) e Syrah (10%) da safra 2016. O vinho, no auge dos seus 6 anos de vida teria muitos e muitos anos pela frente, mas está tão elegante, tão macio, tão complexo...

Mas antes de entrar nos detalhes do vinho, vamos, para variar, com as histórias que permeiam o vinho, vamos de Valle de Uco e a sua importância para a Argentina.

Valle de Uco

Foi possível confirmar a presença de aborígenes que povoaram o vale de Uco muitos anos antes de Cristo. Nos petróglifos encontraram seu modo de vida: eram pessoas que se dedicavam à agricultura e à caça de animais, graças aos benefícios que o lugar lhes oferecia.

No século XVI, a chegada dos conquistadores espanhóis das terras chilenas e peruanas marca as primeiras explorações em terras habitadas por dóceis e laboriosas famílias indígenas: os huarpes. Daquela época vem a palavra "Uco", que se refere ao nome do cacique Cuco. Além disso, é traduzido como uma nascente de água, elemento fundamental da região.

Um século depois, os padres jesuítas se estabeleceram no vale. Eles constituíram a primeira cidade organizada e fundaram o Curato de Uco, dando início à evangelização. O general José de San Martín governou Cuyo com sede em Mendoza entre 1814 e 1816, enquanto organizava os preparativos para empreender a travessia dos Andes e libertar o Chile e o Peru.

Em várias ocasiões, ele se encontrou com nativos na área antes da expedição de libertação. Também com o militar argentino Manuel de Olazábal quando retornou à sua terra natal pelo desfiladeiro El Portillo, no que hoje é conhecido como Manzano Histórico.

Jose de San Martin

Por sua vez, a história da viticultura na região tem suas referências. Na década de 1880, Juan Giol, Bautista Gargantini e Pascual Toso chegaram de suas terras europeias e se associaram e se dedicaram à produção de vinhos. Três apelidos famosos que deram origem à San Polo Winery and Vineyards no início dos anos 1930, que tem a honra de ter, até hoje, cinco gerações de enólogos.

Bautista Gargantini

Juan Giol

Pascual Toso

O Vale do Uco foi “descoberto” pela indústria vitivinícola nos anos 1990. Localizado no sudoeste da cidade de Mendoza, bem aos pés dos Andes, seus vinhedos estão plantados em uma zona de clima temperado, com invernos rigorosos e verões quentes com noites frescas. Pode-se dizer que Uco é uma área realmente fria da região de Mendoza – e também de grande amplitude térmica (pode chegar a até 16o C), em parcelas que variam entre 850 e 1.700 metros de altitude.

Os solos são predominantemente pedregosos, com seixos rolados misturados à areia grossa, de boa permeabilidade, boa drenagem e pouco férteis. Em algumas zonas, observa-se argila ou calcário e até áreas com depósitos de cálcio, estas últimas mais raras e valorizadas, e também de onde vêm saindo alguns dos melhores vinhos lá produzidos atualmente. O índice pluviométrico é baixo e a irrigação dos vinhedos é normalmente feita por gotejamento com água de degelo das montanhas.

O Vale estende-se por três departamentos (segundo nível de divisão administrativa nas províncias argentinas): Tupungato, Tunuyán e San Carlos. A altitude e a grande amplitude térmica constante que os três departamentos compartilham exercem influência na qualidade das uvas produzidas, uma vez que torna a fase de amadurecimento da fruta mais longa, permitindo que o caráter varietal de cada cepa cultivada desenvolva-se por completo, ao mesmo tempo em que um teor agradável de acidez seja preservado.

O sucesso do vale é tamanho que, no início da década de 2010, a área de vinhedos plantados chegava a quase 26.000 hectares, praticamente o dobro do que havia no local no início dos anos 2000. O desenvolvimento da região é inconteste, assim como a sua crescente reputação dentro da vitivinicultura argentina, haja vista que um grande número de vinícolas estabelecidas em outras áreas de Mendoza busca adquirir vinhedos no vale e também construir novas plantas na região.

Aproximadamente 75% dos vinhedos são de uvas tintas, especialmente Malbec, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir, com destaque para a vedete nacional nos últimos anos, a Cabernet Franc. Dentre as brancas, brilham a Chardonnay, a Sémillon e a Sauvignon Blanc, mas também há vinhos com Viognier e Torrontés.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com halos granada e com muito brilho, reluzente, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz traz a marcante presença de frutas pretas bem maduras, com destaque para cerejas, amoras e ameixas e da madeira, porém em incrível sinergia, bem integrados, com ambos protagonizando, entregando notas de baunilha, café, torrefação e chocolate, graças aos 10 meses em barricas de carvalho.

Na boca é estruturado, intenso, com alguma robustez, mostrando-se cheio, volumoso, mas ao mesmo tempo se mostra sedoso, elegante e equilibrado. A marcante presença das frutas pretas é evidente, como no aspecto olfativo, com aquele toque amadeirado que proporciona um chocolate, torrefação. Tem taninos presentes, mas domados, acidez média e um final longo e persistente, com retrogosto frutado.

Celebração, experiências, história, rótulos, tudo se mescla e se resumem no prazer pela degustação de um grande rótulo do Valle de Uco, um belo e necessário mendocino. Personalidade, a tipicidade de suas castas que, mesmo em corte, são evidentes, as percepções, as experiências sensoriais ganham relevância, ganham força, ganham vida. Degustar Valle de Uco tem sido uma ode à celebração que, a cada momento, desafia a nossa humildade e simplicidade perante a décadas de história a serviço do nosso deleite líquido, da nossa poesia líquida, o bom e velho vinho. Magna traz tudo isso e reflete na altivez do seu nome a personificação de seu terroir! Grande! Tem 14,3% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Santa Júlia:

Julia é filha única de José Zuccardi. Criada em sua homenagem, a Santa Julia representa o compromisso da Família Zuccardi em atingir os mais altos níveis de qualidade, por meio de práticas sustentáveis​​que contribuam para o cuidado com o meio ambiente e sejam úteis à comunidade em que se instalaram.

Em 1950 Alberto Zuccardi começa a fazer experiências com novos sistemas de irrigação em Mendoza. Em 1963 Ele instala um vinhedo na região de Maipú para mostrar aos produtores da região a funcionalidade de um sistema de irrigação criado por ele. Em 1982 decidiu-se ter como objetivo a produção de castas de alta qualidade. Júlia nasce. Em 1990 as primeiras exportações da marca Santa Julia acontecem. Ruben Ruffo se junta como enólogo da Santa Julia e se torna responsável pelo desenvolvimento e crescimento dos vinhos. No vinhedo Santa Rosas se plantam vinhedos com variedades não tradicionais na Argentina: Caladoc, Ancellotta, Graciano, Bourbulenc, Aglianico, Albariño, Falangina, etc.

Em 2001, a Bodega Santa Julia foi a primeira vinícola a abrir um centro de visitantes com restaurante próprio. Hoje o projeto é dirigido por Julia Zuccardi. Foi uma década de início de novos projetos. Aos quais as novas gerações da Família gradualmente se juntaram. O projeto dos espumantes começa a ser desenvolvido. Um novo desafio que, hoje, acompanha a linha de vinhos. Em 2004, com o objetivo de produzir vinhos da forma mais natural possível, consegue-se a primeira certificação de vinha orgânica. Em 2013 Duas das principais vinhas da família Zuccardi são certificadas pela Fair For Life. Isso permite um desenvolvimento mais justo das atividades socioeconômicas de nossos trabalhadores.

Mais informações acesse:

https://santajulia.com.ar/

Referências:

“Welcome Argentina”: https://www.welcomeargentina.com/valle-de-uco/historia.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-o-vale-do-uco-local-que-reune-grandes-vinhos-argentinos_11401.html

 








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