A uva Tannat é originária da comuna francesa de Mandiran, na
região de Occitanie, nos Altos Pirineus, na França. A região de Occitanie está
localizada ao sul do Bordeaux, e muito próxima da divisa com os Países Bascos
da Espanha. A Tannat é conhecida na Europa também como Mandiran.
Em sua terra natal, é tida como uma uva selvagem de taninos
agressivos, quase rústica. Mas, no Uruguai (e também na fronteira com o
Brasil), o clima diferente e a habilidade dos viticultores e enólogos transformaram
essa cepa em um emblema de alta qualidade e vinhos muito agradáveis (embora
ainda potentes).
A região onde a Tannat se originou, no sudoeste da França,
abaixo das regiões de Bordeaux e Armagnac, fica próxima da fronteira com a
Espanha e o País Basco, e essa divisa natural é feita pelas altas e frias
montanhas dos Pirineus. Nessa zona de Madiran e Cahors, a Tannat era, até bem
pouco tempo atrás, raramente vinificada sozinha. Ela era mais comumente
utilizada em cortes com a Cabernet Sauvignon e a Cabernet Franc, objetivando
uma diminuição em sua alta carga tânica. O terroir alto, frio e de terrenos
muito antigos influencia as características da uva que, apenas recentemente e
com o uso de modernas técnicas de cultivo e vinificação, vem produzindo vinhos
varietais mais domados em sua força natural.
A imigração para o Uruguai
O Uruguai era originalmente povoado pelos índios Charruas,
mas em 1680 os portugueses começaram a se assentar na região; os espanhóis
chegaram logo em seguida. Mas um pouco antes, em 1516, o navegador Juan Dias de
Sólis, considerado o descobridor oficial do Uruguai, ao tentar uma aproximação
amistosa, foi, junto com toda sua comitiva, massacrado pelos charruas.
Os primeiros vinhedos, como em Mendoza e Santiago, foram
plantados pelos jesuítas, para o vinho das cerimônias religiosas. O primeiro
registro de uma vinícola apareceu somente em 1776, dois séculos depois dos
vinhedos de Mendoza e 170 anos após os de Buenos Aires. Em 1835, na posse do 2º
Presidente, Manuel Oribe, foi servido um vinho uruguaio, no entanto, o
desenvolvimento dos vinhedos e a produção regular de vinhos só aconteceram
mesmo a partir de 1870, quando começaram a chegar os imigrantes espanhóis e
italianos. Os imigrantes trouxeram consigo a cultura do vinho, e passaram a
produzir, principalmente, para o consumo familiar. Poucos produziam para
comercializar.
Com a chegada dos investidores ingleses, interessados no gado
bovino e na comercialização da carne, cresceu o consumo da cerveja. O que
incentivou a abertura de várias cervejarias. A influência dos ingleses no
consumo de bebidas foi comprovada pela icônica água tônica Paso de Los Lobos,
que era produzida para atender, principalmente, os consumidores ingleses.
Em 1871, a criação da ARU – Associação Rural do Uruguai – deu
um impulso importante na agricultura e na produção de vinhos. Francisco
Vidiella, um dos fundadores da ARU, após uma viagem à Europa, trouxe consigo
mudas de uvas Cabernet Sauvignon, Merlot, Garnacha e começou a produzir bons
vinhos.
Em 1874, Pascual Harriague, de origem espanhola e, também,
fundador da ARU, viajou para Concordia, na Argentina, onde estavam sendo
produzidos vinhos de muito boa qualidade, no estilo de Bordeaux, utilizando uma
uva conhecida como Lorda. Na volta, trouxe consigo mudas e plantou 200 hectares
de vinhedos, na região de Salto, noroeste do Uruguai. A uva Lorda se adaptou
muito bem a este terroir, com vinhos de muito boa qualidade. Em 1888, já havia
em Salto cerca de 90 bodegas de vinho. Várias vinícolas em todo o Uruguai
começaram a plantar a uva, e com o sucesso passaram a referir-se a ela como
Harriague. Em 1919, após estudos, a uva Lorda foi reconhecida e identificada
como sendo a Tannat, da região de Occitanie, nos Altos Pirineus.
O país, como o conhecemos hoje, passou a existir com a
declaração de independência em 1828, quando se estabeleceu como República, após
vários anos de guerras sangrentas que envolveram Espanha, Portugal, Argentina e
o Brasil.
Don Pascual Harriague
Com o basco Pascual Harriague a Tannat teve seu grande
impulso no Uruguai. Esse empresário, nascido em 1819, chegou ao Uruguai em 1840
e, após várias atividades pecuárias no país, se estabeleceu na cidade de Salto.
Por volta de 1870, depois de alguns anos fazendo testes com
diversas variedades de uva, ele encontrou as condições para produzir um ótimo
vinho tinto com uvas Tannat. Ele apresentou esses vinhos em 1887, que receberam
elogios e prêmios internacionais nas exposições mundiais de Barcelona e Paris
em 1888 e 1889 Hoje já são quatro gerações de viticultores uruguaios que
continuam o legado de Pascual.
Dom Pascal Harriague introduziu ao Uruguai várias castas de
uva em busca de uma que se adaptasse bem ao solo e clima da região. A Tannat
foi a que se saiu melhor na experiência e desde então, por causa do seu sucesso
imediato e duradouro no país, ela dá vida ao autêntico vinho uruguaio.
Produção
Na década de 1970, houve uma renovação na vitivinicultura do
Uruguai; novas técnicas de plantio e cultivo, bem como a introdução de novas
variedade de uvas, possibilitaram um desenvolvimento substancial à sua
indústria de vinhos. Aliado a tudo isso, a evolução dos vinhos uruguaios
aconteceu por causa da paixão dos produtores e apreciadores de lá pela bebida.
A maneira artesanal e a relação respeitosa que eles têm com as uvas que
cultivam tornaram seus vinhos premiados e bastante reconhecidos no mercado
internacional.
Hoje em dia, além da qualidade de seus terroirs com clima
mediterrâneo e solo fértil, há uma gama de variedades plantadas que elevaram o
padrão do vinho produzido no país. O pequeno território do Uruguai abriga
vinhedos em toda a sua extensão – 16 dos 19 estados uruguaios possuem
plantações de uvas viníferas, a maior parte de uvas tintas, que representam
mais de 80% das castas cultivadas.
A Tannat representa 44% das plantações no Uruguai, mas outras
castas como a cabernet sauvignon, pinot noir e sauvignon blanc (entre outras)
podem ser destacadas na produção do país.
A região sul do país é a que mais concentra vinícolas. As
regiões de Montevidéu e Canelones tem a maior parte da produção de vinhos do
país, San José e Colônia del Sacramento são outros centros vinicultores
importantes.
O Uruguai possui uma rota de vinho especial e aconchegante,
coordenada pela Associação de Turismo Enológico do Uruguai, que reúne muitas
bodegas familiares, com estrutura e história que fascinam seus visitantes. A
rota, batizada de “Os caminhos do vinho” passa por regiões de Montevidéu,
Canelones, Maldonado, Colônia e Rivera, cujas paisagens belas e exuberantes são
atrativas que complementam sua ótima gastronomia e seus vinhos finos.
Características da Tannat
Os cachos da uva Tannat têm tamanho médio a grande, são
compactos e cilíndricos. Os frutos (bagas) têm tamanho pequeno a médio, sendo
ligeiramente alongados. O grande destaque é a concentração de cor em sua casca
e também na polpa da fruta, justificando a intensa coloração violácea que
caracteriza os vinhos elaborados com ela.
Em relação ao tempo necessário para sua maturação, possui um
ciclo médio, podendo adaptar-se a diversas regiões e ser colhida no ponto ideal
de maturação. Essa é uma das variedades
mais ricas em polifenóis — uma categoria de compostos bioativos encontrados em
alguns vegetais. Eles apresentam importantes propriedades antioxidantes e
anti-inflamatórias. O resveratrol é mais importante polifenol encontrado nas
cascas e nas sementes das uvas, principalmente das tintas. A substância reduz a
ação dos radicais livres no organismo e impede a atividade de enzimas que podem
prejudicar células saudáveis. Por isso, o vinho é uma bebida que faz muito bem
para a saúde.
Em geral, o vinho elaborado em território uruguaio é mais
frutado e menos rústico do que o francês, devido ao clima e solo locais.
Entretanto, ele ainda mantém as características de taninos firmes, o que lhe
confere o nome (Tannat = Taninos) cor escura, teor alcoólico médio e afinidade
com o carvalho.
No Brasil, a região da Campanha Gaúcha localiza-se a sudoeste
do estado do Rio Grande do Sul e faz fronteira com o Uruguai. A combinação dos
verões quentes com dias ensolarados, do solo sedimentar e do relevo em forma de
coxilhas resulta em vinhos de grande complexidade e notável equilíbrio.
Referências:
“Blog do Milton”: http://www.blogdomilton.com.br/post/br/201903-uruguai
“Blog Art des
Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/conheca-tannat-uva-francesa-famosa-uruguai
“Blog da Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/conheca-as-principais-caracteristicas-da-uva-tannat/
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/historia-da-tannat-no-uruguai_12654.html
https://revistaadega.uol.com.br/artigo/tannat-uva-imigrante_11878.html
“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/uruguai-um-pequeno-pais-de-grandes-vinhos/
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