É inacreditável o quão ilimitado e inesgotável é o universo
do vinho! Por isso não me canso de dizer que, ou melhor, usar a palavra
“universo”. É a mais apropriada para quem, principalmente, não se deixa seduzir
pela temida zona de conforto que insiste em nos travar e degustar sempre
aqueles vinhos e castas que gostamos.
Evidente que degustar o vinho que apreciamos não é nenhum
pecado de morte, mas seria no mínimo uma leviandade de nossa parte abrir mão de
uma infindável gama de regiões, de castas espalhadas pelo planeta.
E mais uma vez terei um momento único, singular! Um
privilégio digno de poucos! Degustar mais um vinho emblemático, de castas e
regiões importantes que até então não tinha desbravado em degustações: Falo da
região espanhola de Jumilla e a principal cepa por lá produzida: Monastrell ou
como preferir, a Mouvèdre, como é conhecida em terras francesas.
Pode parecer estranho e até ridículo tamanha exaltação! Como
é a primeira vez degustando um Monastrell espanhol? Como degustando pela
primeira vez um vinho de Jumilla? Talvez seja mesmo, mas nada tão estimulante
quanto a primeira vez, e começa com um vinho que custo menos de R$40 à época!
Um vinho que certamente estará em minha memória por todo
sempre! Mas não quero, pelo menos agora, falar do vinho, mas de Jumilla. A
região vem despontando, nos últimos anos, como uma região que vem produzindo
vinhos frutados, de personalidade e joviais, mas que também entrega rótulos de
complexidade e boa longevidade.
Não é à toa que sempre digo e defendo que a Espanha tem muito
mais a oferecer, além das emblemáticas Rioja e Ribera del Duero. E quando
tivermos a percepção e consciência de que regiões “undergrounds” podem oferecer grandes rótulos, poderemos, de alguma
forma, mobilizar o mercado a ofertar mais rótulos dessas regiões.
Talvez a minha animação não se justifique, mas o fato é que
sonhar não custa absolutamente nada e que no futuro vejo mais regiões
espanholas ganhem projeção como estamos vendo Utiel-Requena, Navarra etc.
Afinal nós merecemos, sobretudo aqueles que desbravam o universo ainda
inexplorável do vinho!
Então sem mais floreios vamos às apresentações do vinho! O
vinho que degustei e gostei veio da região de Jumilla e se chama Genio Español
da casta Monastrell da safra 2015. Aos oito anos o vinho ainda se mostra
relevante, elegante e complexo e arrisco em dizer que evoluiria com maestria
por mais alguns anos.
E para não perder o costume vamos também às histórias,
afinal, já que as apresentações da Monastrell e da região de Jumilla se faz em
estreia, nada mais oportuno que falar um pouco de cada um.
Jumilla
Jumilla é uma região espanhola que tem despontado nos últimos anos, produzindo alguns vinhos saborosos e frutados. Localizada no sudeste da Espanha, a área é uma das denominações mais antigas do país, tendo sido estabelecida em 1966. A região vinícola de Jumilla produz vinhos no sudeste da Espanha. Especificamente em uma área localizada entre as províncias de Albacete e Murcia, cujo epicentro é o município de Jumilla.
Os vinhos destacam-se pela enorme qualidade e reconhecimento
internacional. Na verdade, a Monastrell, a principal casta, destaca-se pelo seu
grande reconhecimento mundial. Por esta razão, os vinhos Jumilla são tão
populares e importantes.
Jumilla possui atualmente cerca de 25.000 hectares de vinhedos. Neles, a casta Monastrell, como disse, é a que mais se destaca e com a qual se elaboram os seus grandes vinhos. Além disso, mais variedades como Airén, Chardonnay ou Merlot são cultivadas, embora em proporções menores.
É uma região vitivinícola com muita história, já que foram
encontrados vestígios de 3.000 aC. Consequentemente, os principais estudos
históricos sugerem que em Jumilla o vinho é feito desde a Antiguidade ou antes.
Por isso, é sem dúvida uma região com muita tradição e cultura vinícola.
Embora, não foi até o século XIX quando o crescimento da
vinha em Jumilla foi enorme devido às necessidades globais de produção de
vinho. Isso ocorreu porque uma praga conhecida como Phylloxera devastou grande parte dos vinhedos europeus. Portanto,
em Jumilla, esta ocasião poderia ser aproveitada para aumentar sua produção e
exportação de vinho.
O clima continental da região é suavizado pela proximidade
com o mar Mediterrâneo, mas permanece marcado pelo caráter árido e pela baixa
pluviosidade, com chuvas extremamente irregulares e longos períodos de seca. As
precipitações ocorrem, principalmente, na primavera e outono, com um índice de
apenas 300 mm por ano.
A região espanhola de Jumilla é formada por amplos vales e planícies, com altitudes variantes entre 400 e 800 m acima do nível do mar. Atualmente, a área vinícola abrange cerca de 32.000 hectares, dos quais 45% localizam-se na província de Murcia, e o restante em Albacete.
Os solos de Jumilla contêm calcário pardo e calcário com
crosta de cal, ou seja, possuem uma grande capacidade hídrica e mediana de
permeabilidade, possibilitando o cultivo das vinhas até mesmo em épocas de seca
prolongada.
A Denominação de Origem (DO) de Jumilla foi criada em 1996.
Seu regulamento atual foi aprovado em novembro de 1995, substituindo o de maio
de 1975, futuramente recebeu uma emenda em abril de 2001.
Os vinhos com a denominação Jumilla podem ser produzidos a
partir das uvas permitidas pelo órgão regulador, como Tempranillo, Cabernet
Sauvignon, Merlot, Syrah, Pedro Ximénez e Malvasia e, claro, Monastrell.
Os exemplares tintos, principalmente os jovens, são marcados
pela forte expressão aromática, taninos vivos e coloração escura e intensa,
variando desde o vermelho púrpura até tons de roxo. Jumilla produz ainda vinhos
licorosos, rosés, brancos e doces, no entanto, os que recebem maior destaque na
região são os tradicionais doces e os vinhos de licor.
Em conjunto, os vinhos de denominação de origem Jumilla são
exemplares que alcançaram um alto nível dentro do cenário vinícola da Espanha,
sendo vinhos bastante premiados em concursos, tanto nacionais quanto
internacionais.
Os vinhos da região de Jumilla têm revelado um grande
potencial desde o início dos anos 90. O último ataque da phylloxera em 1989
conduziu a um novo começo: os vinhedos foram replantados para produzir vinhos
tintos leves e frutados e vinhos brancos e rosés feitos de uvas nativas como a
Monastrell, assim como as importadas Syrah e Merlot.
Ao mesmo tempo, cuidadosas colheitas e investimento em novos
equipamentos melhoraram a qualidade dos vinhos. O resultado é uma nova geração
de vinhos elegantes, alguns orgânicos, e a maioria sendo jovens, na qual a uva
Monastrell está mostrando resultados notáveis nas mãos de habilidosos
produtores. Os vinhos de Jumilla começaram, então, a causar grande impacto no
mercado internacional.
Monastrell
Essa uva espanhola com sotaque francês e que produz excelente
vinhos, sozinha ou em comunhão com outras castas, teve sua primeira menção ao
seu nome original – Monastrell – no longínquo século 14! Sendo, juntamente com
a Bobal, uma das variedades mais importantes da região de Valência na época.
O nome deriva do latim monasteriellu, um diminutivo de
monasteriu, que significa “mosteiro”, sugerindo que a variedade foi cultivada e
propagada por monges na região de Valência, Espanha.
Apesar de ali ser apresentada para o mundo, estudos apontarem
que sua origem é bem mais antiga, a casta teria sido introduzida na região pelos
fenícios por volta de 500 a.C., quando estes fizeram as primeiras viagens do
que hoje conhecemos como oriente médio até a Península Ibérica.
Seu outro nome famoso, o francês Mourvèdre, traz uma pista de onde a uva se desenvolveu já na Espanha e de onde teria saído para conquistar o mundo. Afinal, Camp de Morvedre (Murviedro em espanhol) foi até 1868 o nome catalão para a cidade de Sagunto, um importante porto vinícola ao norte de Valência.
Assim como Mataró, ou Mataro, é um nome também derivado de
uma cidade na costa do Mediterrâneo, entre Barcelona e Valência, um dos grandes
terroirs por excelência da casta.
A Monastrell se adapta melhor em regiões com climas secos e
quentes. A variedade apresenta bagas pequenas e de espessura média – combinação
ideal para dar origem a vinhos com cor intensa e altos níveis de taninos. Seus
aromas são complexos e muito distintivos, assim como os seus taninos.
Estas características tornam a variedade um potente
ingrediente de mistura, principalmente, ao lado da picante uva Syrah e da rica
Grenache. As uvas Carignan e Cinsaut também aparecem frequentemente nos rótulos
com a Monastrell, principalmente por conta da tradição destes vinhos, do que
pelo aroma ou sabor. Na França, a Monastrell é uma variedade chave nas regiões
de Provence e no sul do Vale do Rhône, onde é um dos principais componentes dos
tradicionais vinhos Chateauneuf-du-Pape e Côtes du Rhone.
A variedade sofreu muito na década de 1880, quando a praga
filoxera assolou os vinhedos da Europa, destruindo inúmeras plantações. Seus
redutos notáveis durante este tempo se formaram em torno de Bandol, que possui
solos arenosos onde a filoxera não consegue sobreviver. Nos dias de hoje, as vinhas
da Monastrell ainda se encontram nas encostas litorâneas de Bandol e a
variedade constitui, pelo menos, metade dos vinhos tintos tânicos e os rosés
delicadamente picantes da região.
Na Espanha, as modernas técnicas vinícolas mudaram o foco
para as uvas Tempranillo e Cabernet Sauvignon, mas a Monastrell hoje se tornou
uma das uvas mais plantadas com cerca de 40 mil hectares, mas o grande expoente
nos últimos anos é sem dúvida a França. Em 50 anos o país passou de 500
hectares plantados para 10 mil, principalmente nas regiões do Rhône e do
Languedoc-Roussillon.
Já na Austrália e na Califórnia, a Monastrell é conhecida
como Mataro, embora o prestígio do seu nome francês tenha conquistado os
produtores, que abandonaram o termo Mataro. Os vinhos australianos e
californianos elaborados com a variedade são tipicamente mais ricos e mais
frutados do que aqueles produzidos no Mediterrâneo.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com
halos evoluídos, acastanhados, denotando seus oito anos de garrafa, com
profusão de lágrimas grossas e lentas que desenham o bojo.
No nariz traz aromas complexos de frutas pretas maduras com
destaque para a cereja negra, ameixa e notas amadeiradas, com evidência para o
tostado, a torrefação, a baunilha, o tabaco, couro, mas em total sinergia com a
fruta. Percebe-se também especiarias, algo de herbáceo e terra molhada.
Na boca tem médio corpo, com grande amplitude de boca, um
vinho volumoso, cheio, mas com alguma elegância, fácil de degustar, saboroso.
Os 12 meses em barricas de carvalho definitivamente traz o aporte do tostado,
do chocolate, da baunilha, cacau, coco queimado bem como a fruta bem integrada,
em convergência com a madeira, o mesmo percebido no aspecto olfativo. Traz
taninos macios, sedosos, mas presentes, com acidez baixa para média e um final
persistente e um discreto adocicado.
Profundo e elegante, frutado e complexo! Um vinho
multifacetado e que certamente agradaria a todos os paladares, dos iniciantes
aos mais exigentes e experientes. Assim é Genio Expañol Monastrell. Os seus
oito anos de vida lhe garantiu esse equilíbrio e mesmo a Monastrell ser, na sua
gênese, uma casta robusta, taninosa e potente, neste rótulo se mostrou fácil de
degustar e complexo, ao mesmo tempo. Grata novidade, surpreendente vinho e
sedutor terroir! Espero que muito em breve possa ser arrebatado, mais uma vez
por rótulos de Jumilla. Tem 14% de teor alcoólico.
Sobre a Família Bastida:
A Família Bastida, com adegas pertencentes a diferentes
Denominações de Origem desde 1870 e várias gerações dedicadas exclusivamente ao
mundo dos vinhos, trabalha com profundo entusiasmo neste projeto com o objetivo
de agrupar diferentes Denominações de Origem de Espanha, procurando as
especificações de cada um em tramas únicas em pequenas produções.
Isto oferece ao consumidor uma vasta gama de vinhos da
Península Ibérica que apresentam a melhor relação preço-desempenho, algo
comprovado por um grande número de prémios nacionais e internacionais que
recebeu e vem recebendo ao longo dos anos.
Mais informações acesse:
Referências:
“Compra-vino”: https://www.compra-vino.com/pt/jumilla#
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/jumilla
“Vinho Virtual”: http://www.vinhovirtual.com.br/regioes-87-Jumilla
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/monastrell
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/mourvedre-voce-precisa-provar-uva-que-anda-mais-falada-do-que-nunca_13168.html
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