A produção de vinho é desde sempre entrelaçada com a
necessidade de conservar o ‘‘sagrado néctar’’ num recipiente adequado que seja
capaz de mantê-lo em boas condições e também de permitir e facilitar seu
transporte. Depois de várias tentativas, a história acabou escolhendo a garrafa
de vidro como padrão internacional. Ela teria tido origem nos meados do século
XVII, mas foi somente um século depois que a garrafa começou a tomar a
aparência atual; e mesmo tendo seus detratores (os adeptos do bag-em-box, os
das latas, e até aqueles que querem substituir o vidro com plásticos ou em
fibras tecnológicas), hoje em dia a garrafa de vidro continua sendo considerado
o recipiente ideal para armazenamento e afinamento do vinho.
As partes das garrafas
O formato das garrafas é modelado para que suas
características físicas sejam apropriadas para armazenagem e serviço do vinho.
Cada garrafa é formada pelas seguintes partes: gargalo, pescoço, ombro, bojo e
base.
A base é obviamente o apoio da garrafa. Ela possui frequentemente
uma concavidade inferior (de diferentes volumes, dependendo do caso) que tem
uma função útil, sobretudo para a decantação de vinhos maduros sujeitos a
formação de sedimentos (borra). Com a garrafa em posição vertical os sedimentos
irão se depositar ao longo do círculo criado pela concavidade e dificilmente
poderão voltar em suspensão.
O clima é importante para a produção de boas uvas. Enquanto o
calor é dos mais agastantes, o inverno é frio e chuvoso. O clima, com toda essa
variação, traz as condições perfeitas para o plantio dos vinhedos e a produção
de vinhos excepcionais.
O bojo é o corpo principal da garrafa, praticamente o local
onde propriamente pegamos a garrafa para começar o serviço.
Os ombros também são importantes para o serviço e decantação
do vinho. Eles servem como barreira contra os sedimentos acima citados durante
o serviço. Quanto mais acentuados os ombros, mais a borra irá se esbarrar
contra o vidro e mais dificilmente os depósitos sairão da garrafa.
O pescoço é logicamente a parte da garrafa que a partir dos
ombros vai se estreitando, aquela que favorece o escorrimento do liquido de
maneira mais fluida e rápida.
O gargalo é a parte final da garrafa, ficando bem acima do
pescoço (seria a cabeça) e tem uma dupla utilidade. A primeira é que seu
formato cilíndrico protuberante funciona como bloqueio de segurança, evitando
que a garrafa escorregue da mão. A segunda é de dar maior força e estrutura no
local onde é colocada a rolha. Ademais, no caso dos espumantes, ajuda a manter
firme a gaiola metálica que segura a rolha.
A partir destas ‘’regras’’ existem garrafas de vinho de
diferentes formas e podemos perceber que elas variam, muitas vezes, em função
da região produtora, tipologia de vinho e variedade de uva utilizada.
Formatos das garrafas clássicas
Garrafas tipo Bordeaux (01), possuem corpo reto, com ombros
definidos. Podem ser verdes ou transparentes no caso de vinhos brancos. Um dos
tipos de garrafas de vinho mais tradicionais possui bojo cilíndrico, ombros
bastante acentuados e pescoço não muito comprido. Serve tanto os vinhos tintos
quanto os brancos, mas principalmente Cabernet Sauvignon e Merlot, originários
da região de Bordeaux. A coloração pode ser verde ou transparente.
Vinhos do Loire (França) são envazados em garrafas tipo
Borgonha (02). Possuem ombros mais suaves e atenuados, com bojo mais largo. Usado
mundialmente para sinalizar uvas típicas de Borgonha, como a Pinot Noir e
Chardonnay. A cor predominantemente é o verde.
Garrafas Alsácia (03) é típica da região Alsácia na França.
Não possui ombros e são bem compridas. Os vinhos alemães seguem este formato
também, podendo ser apresentados nas cores verde, preto, caramelo e azul.
Garrafas do tipo Champagne (04) são típicas de Epernay e
Reims na França, mas são utilizadas para acondicionar praticamente todos os
tipos de espumantes produzidos ao redor do mundo. Muito semelhante à
Borgonhesa, mas com ombros mais baixos e longo pescoço. Possui vidro mais
espesso para conter a pressão interna.
Garrafas Francônia (05) são típicas de Franken na Alemanha.
Daí a origem do nome Francônia. Além de vinhos alemães, essas garrafas são
utilizadas também em diversos vinhos portugueses, incluindo vinhos verdes
produzidos na região do Minho.
Vinhos Madeira ou Jerez da Espanha, tipicamente possuem
formatos de garrafas conforme a garrafa 06 (ver figura). Muitas regiões na
Espanha, utilizam garrafas parecidas com as Bordeaux, porém mais longas e com
leve inclinação no bojo (07). Os vinhos do Porto, produzidos em Portugal,
possuem formatos parecidos com as garrafas de vinhos Jerez e Madeira, sendo que
são um pouco menores e seus formatos variam um pouco de produtor para produtor
(08 e 09).
Garrafas Contemporâneas:
Muitos formatos são inventados por produtores para promover
seus produtos. A garrafa, no entanto, definitivamente não indica a qualidade de
um vinho. Há garrafas típicas de vinhos populares na França (13) ou garrafas com
desenhos, como o vinho Italiano chamado PesceVino, que possui a garrafa com
formato de peixe.
Garrafas para vinhos de sobremesa:
Muitos vinhos de sobremesa são envazados em garrafas com 375
ml (15) e 500 ml (16). Geralmente são vinhos de colheita tardia, ou feitos a
partir de uvas botritizadas. Alguns vinhos do Porto, Jerez, Tokaji e Marsala
também podem vir em garrafas como estas. Muitas vezes os vinhos de sobremesa
são apresentados em garrafas menores, porque são geralmente vinhos mais alcoólicos,
que devem ser ingeridos em menor quantidade. Como estes vinhos são elaborados
com uvas especiais e apenas em algumas safras, outro fator que contribui para a
redução do conteúdo, é o preço.
Tamanhos especiais:
Hoje em dia, é comum encontrarmos garrafas com menor
capacidade, para serem consumidas por uma ou no máximo duas pessoas. A vantagem
é que não há desperdício de vinho, que oxida rapidamente após sua abertura.
Garrafas com capacidade de 375 ml são chamadas de meia garrafa (17 e 18). Garrafas
com 187,5 ml são chamadas de quarto de garrafa (19).
Qual a diferença entre garrafas brancas e verdes?
Embora a maioria das garrafas de vinhos tintos seja verde e
as de vinho branco e rosé seja transparente, a cor pode variar de acordo com as
tradições de cada região (as do Reno, região da Alemanha, por exemplo, são
marrons). Mas isso é exceção. Verde porque impede o contato direto da luz com o
vinho (manter a distância da iluminação, natural ou artificial, é um dos
princípios do bom acondicionamento da bebida se quiser preservar a qualidade
dela por anos). Os vinhos acondicionados em garrafas transparentes – brancos e em
rosés, em sua maioria – são feitos para consumo rápido, por isso a questão do
contato com a luz não é tão relevante. É comum encontrar alguns brancos em
garrafas verdes, e isso pode ser um indicativo sobre o potencial de guarda do
vinho.
Por que o tamanho padrão de garrafas de vinho é 750 ml, e não
um litro?
A gigantesca maioria das garrafas de vinho é fabricada no
tamanho padrão de 750 ml – não nos outros 13 tamanhos existentes. Mas acredite,
elas podem variar de 187 ml até 30 litros. Existem muitas lendas sobre o porquê
do padrão ser 750 ml, mas o mais aceito é que o tamanho foi definido numa época
em que os vinhos de Bordeaux eram comercializados pelos ingleses na própria
barrica (ainda não eram vendidos na garrafa!). Além de eles não utilizarem o
mesmo sistema métrico da França (um galão correspondia a 4,5 L), as barricas
bordalesas tinham desde aquela época 225 litros, o que resulta em um total de
300 garrafas de 750 ml.
Para que serve o buraco no fundo das garrafas de vinho?
O buraco no fundo da garrafa, definitivamente, não deveria
ser utilizado para ajudar na hora de servir o vinho em taça. Apesar de muitos o
utilizarem com essa finalidade, foi criado para ajudar a empilhar as garrafas
em um contêiner e facilitar o transporte da bebida por longas distâncias.
Existem garrafas de 30 litros de vinho? Quais são todos os tamanhos
de garrafas de vinho?
Sim, existem garrafas de vinho com 30 litros de capacidade. E
elas são raríssimas. A maioria das garrafas é feita em tamanho de 750 ml. Em outros
tamanhos, é mais comum encontrar 375 ml ou 1,5 L. Os tamanhos menores surgiram
para evitar a oxidação de um vinho para consumidores que não vão acabar com uma
garrafa. Já as de tamanhos grandes são mais comuns em festas e celebrações (não
à toa, é mais comum encontrar Champanhes em tamanhos maiores do que vinhos de
outras regiões).
Confira abaixo uma lista com os diferentes tamanhos de
garrafas de vinho (e quantas taças de vinho cada garrafa serve!):
Um quarto: 187 mL (serve 1,25 taça)
Meia garrafa: 375 mL (serve 2,5 taças)
Sobremesa: 500 mL (serve 3,3 taças)
Garrafa: 750 mL (serve 5 taças)
Magnum: 1,5 L (serve 10 taças)
Jeroboam (Jeroboão): 3 L (serve cerca 20 taças)
Réhobam (Roboão): 4,5 L (serve 30 taças)
Imperial ou Matusalém: 6 L (serve 40 taças)
Salmanazar ou Mordecai: 9 L (serve 60 taças)
Baltazar: 12 L (serve 80 taças)
Nebuchodonosur: 16 L (serve 100 taças)
Melchior: 18 L (serve 120 taças)
Salomão: 20 L (serve 133 taças)
Melquisedeque: 30 L (serve 200 taças)
Certamente, os formatos das garrafas contribuem para a beleza
e apresentação do vinho, em conjunto com seus rótulos, rolhas, etiquetas e
cápsulas, mas devemos tomar muito cuidado para que não sejamos induzidos a
beber um vinho de baixa qualidade só porque foi envazado em uma garrafa bonita.
Lembre-se: Não beba rótulo. Beba vinho!
Basicamente, as formas das garrafas de vinhos variam em
função da região produtora, tipologia de vinho e variedade de uva utilizada.
Reconhecê-las permite dizer muito sobre os conteúdos, sem sequer a leitura do
rótulo. Um bom exercício para quem está começando a se inteirar dos mistérios
do mundo dos vinhos, não acha?
Fonte:
Clube dos Vinhos, em: https://www.clubedosvinhos.com.br/conheca-os-diferentes-tipos-de-garrafas-de-vinho/
Blog Art de Caves, em: https://blog.artdescaves.com.br/tipos-de-garrafas-de-vinho
Segredos do Vinho, em: http://www.segredosdovinho.com/artigos/garrafas/garrafas.html
Blog Grand
Cru, em: https://blog.grandcru.com.br/os-diferentes-tamanhos-de-garrafa/
Realmente Paulo, meu amigo, uma leitura muito construtiva e consistente para o entendimento da estética da garrafa para a qualidade do vinho. Não é a estética pela estética apenas, mas a importância de se preservar a qualidade do vinho, adicionando a isso as características da região, que edifica a tipicidade dos vinhos. Mas, como você bem enalteceu, não é garantia de qualidade, mas, acredito que isso vai de cada um, até porque, testemunhamos vários depoimentos distintos do mesmo rótulo. Obrigado por ler meu amigo!
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