domingo, 9 de outubro de 2022

AS3 Premium Cabernet Sauvignon 2015

Quando falamos em vinhos estruturados, encorpados do Chile, qual casta vem a mente? Não tem erro: Cabernet Sauvignon! Se quiser degustar um vinho com complexidade, com certa estrutura e potência, aposte firmemente no Cabernet Sauvignon do Chile, isso se optar pelos vinhos do Novo Mundo!

Já tive alguns das melhores experiências quando se fala dos Cabernets Sauvignon do Chile! Há quem diga que os mesmos são demasiadamente carregados no famoso “pimentão” quando estagiam em barricas de carvalho, que não traz um bom paladar.

De fato o excesso não pode trazer prazer na degustação, mas que mal há quando se tem aquele pimentão no Cabernet Sauvignon dos chilenos? Enfim há gosto e percepção para tudo, é tudo muito particular e deve ser respeitada a opinião alheia.

Mas os vinhos chilenos desta cepa que degustei até hoje, sobretudo os amadeirados, me trouxe grandes momentos na degustação! Foram ótimos! Alguns entregaram potência, estrutura e complexidade, principalmente quando tiveram poucos anos de garrafa, já outros rótulos que degustei e gostei da rainha das uvas tintas com algum bom tempo de guarda entregaram vinhos elegantes, aveludados, mas de marcante personalidade, característica essencial da uva, bem como a proposta dos vinhos naquele país produzido.

A compra do rótulo de hoje, com toda essa entrada de vinhos potentes e amadeirados, teve a compra estimulada pelo vinho mais básico da sua linha. Sim! Um rótulo de proposta distinta estimulou a compra da sua linha mais complexa. Algum tempo atrás comprei um vinho de nome “AS3 Reserva Cabernet Sauvignon da safra 2014” e que me surpreendeu grandemente pela personalidade e estrutura, aliada a maciez e elegância.

AS3 Reserva Cabernet Sauvignon 2014

Isso me excitou a degustar outros vinhos da sua linha. Neste mesmo supermercado havia um chamado “AS3 Premium” que, à época estava, a meu ver, muito caro. Sabemos que vinhos com tais propostas não são baratos quando entram no mercado brasileiro, mas sentia que, pelo simples fato do valor alto, eu poderia, um dia, ter a oportunidade de compra-lo a um preço mais acessível ao bolso.

E esse dia não demorou muito a chegar! O vinho entrou na promoção custando na faixa dos R$55,00 e não hesitei em comprar dessa vez.

Então já “denunciei” o rótulo de hoje: o vinho que degustei e gostei veio da Região do Vale do Curicó, no Vale Central, Chile e se chama AS3 Premium da safra 2015. Mas as histórias que giram em torno do rótulo não param por aqui.

Por que o nome “AS3” e de onde esse vinho veio?

Em 2012 a gigante OLISUR, empresa chilena do ramo de alimentos, entrou no mercado brasileiro disposta a não brincar em serviço. Seus azeites invadiram as gôndolas dos nossos supermercados em uma política comercial bem agressiva. A garrafa de 500ml do famoso “O-Live” vendeu muito e a preços muito atraentes, na faixa dos R$13,00 em média, desbancando a concorrência.

Em 2013 decidiram, entretanto, investir no ramo dos vinhos. No caso da nossa poesia líquida é fácil fazer guerra de preços, basta trazer rótulos de baixa qualidade e inundar o nosso mercado, mas não foi o que a Olisur quis fazer.

A Olisur fez uma pesquisa de mercado para aprender o gosto dos enófilos brasileiros e contrato a vinícola chilena Terramater para vinificar os vinhos. Buscou ainda o prestigiado enólogp Stefano Gandolini para prestar consultoria no ambicioso projeto que era o enólogo-chefe da Von Siebentahl, onde assina alguns dos mais premiados e conceituados vinhos do Chile.

E assim nasceu o projeto “AS3”, que consiste em uma linha de três rótulos de vinhos com propostas mais básica, intermediária e a chamada Premium, ou seja, vinhos de entrada, sem passagens por barricas de carvalho, um reserva com um tempo razoável em madeira e o “Premium” ou a “versão” Gran Reserva com uma passagem maior por barricas. Tais rótulos foram concebidos para atingir apenas o mercado brasileiro.

O termo “AS3” refere-se, primordialmente nas três sub-regiões distintas de onde vêm esses vinhos, oriundas do Vale Central, são elas: Vale do Curicó, do Maipo e Maule. O rótulo que degustarei em questão é produzido na região do Vale do Curicó e do Vale centras, regiões estas que valem contar as suas histórias.

Vale Central

Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume. Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule.

Vale Central, Chile

Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região, elaborados a partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de diversas variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah. A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é importante na região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro lado dos Andes.

As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer.

O Central Valley é dividido em quatro sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e diferenças marcantes. O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres deu início a vinicultura moderna.

A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca disponibilidade hídrica) aliada à alta taxa de amplitude térmica (diferença entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor. Essa parte do vale, portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro.

Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da montanha. Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por tamanha perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não sendo surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70 países ao redor do mundo.

Em outras palavras, o Vale Central se constitui como uma mina de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária. O Valle Central é uma área plana, localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada por seus interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao produtor uma extraordinária variedade de terroirs.

Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco. A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.

Vale do Curicó

O nome “Curicó” significa “águas negras”, no idioma indígena mapuche. O motivo é a bacia do Mataquito, com suas águas escuras que serpenteiam pelo vale. Por conta dessa irrigação, o Curicó tem sido um centro agrícola importante do Chile.

O Vale de Curicó, a 85 quilômetros do oceano e 45 da Cordilheira dos Andes, é uma importante Denominação de Origem chilena que tem vastas extensões de terras plantadas com videiras de alto rendimento.

Localizado no Maule, região da parte central do Chile, 45 quilômetros a oeste da imponente Cordilheira dos Andes e 85 a leste do Oceano Pacífico, o Vale de Curicó é um dos principais e mais antigos centros vinícolas do país. Por conta disso, sua famosa rota do vinho é também um importante roteiro turístico do Novo Mundo. 

Vale do Curicó, Chile

Mais de 30 variedades de uvas são cultivadas no vale, desde a metade do século 19. A característica climática é a neblina que cobre tudo pela manhã. A variação de temperatura gera vinhos de boa acidez, sendo perfeitos para as castas brancas. Os vinhos de Sauvignon Blanc, Vert e Gris do Vale do Curicó são de qualidade notável, com todo o frescor que eles prometem.

Já as partes mais quentes do vale, como Lontué, trazem ótimos vinhos de Cabernet Sauvignon, principalmente dos vinhedos mais antigos. Foi no Vale do Curicó que o produtor espanhol Miguel Torres começou um investimento, nos anos 70, iniciando a onda de valorização de vinhos do Novo Mundo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça manifesta um intenso vermelho rubi, mas com entornos granada, acastanhado, devido talvez à passagem por barricas de carvalho e/ou tempo de garrafa, sete anos, com a presença de algumas borras e lágrimas grossas, lentas e em vultosa quantidade.

No nariz a presença das notas amadeiradas ganha protagonismo, entregando tabaco, couro, terra molhada, menta, café e tostado médio, mas logo se percebe, se sente as frutas pretas maduras, como ameixa, amora e cereja negra, que se fundem e revelam um inigualável equilíbrio além de especiarias com destaque para pimenta preta e aquele pimentão, mas discreto.

Na boca é seco, estruturado, médio corpo, mas elegante graças às facetas do tempo em garrafa, que lhe confere, graças também aos 12 meses em madeira, muita complexidade, promovendo também um equilíbrio fantástico entre as frutas maduras e a madeira, com taninos maduros, mas macios e domados, com acidez correta, com toques de chocolate, baunilha, álcool evidente e integrado e um agradável e persistente final com retrogosto frutado.

Quer degustar um Cabernet Sauvignon poderoso, de personalidade marcante, com complexidade? Vai de Chile! Não há como errar! São vinhos de caráter, de voluptuosidade, são rótulos dessa região que expressão os melhores e mais prestigiados terroirs da América Latina e não é à toa e com muitos preços compatíveis, acessíveis a todas as camadas sociais, o que é o mais importante! O AS3 Premium é versátil, o afinamento em barricas o possibilitou ser mais elegante, saboroso, complexo, mas com a estrutura típica da cepa. E se junta a essas combinações, 50 anos de vinhas às quais esse vinho foi concebido. Fantástico! Tem 14% de teor alcoólico.



Sobre a Vinícola Terramater:

Em 1996, numa idade em que muitas pessoas pensam em se aposentar, 3 irmãs Canepa, - Gilda, Edda e Antonieta -, respondendo à paixão pela produção de vinhos finos que está em sua família desde os anos trinta, decidem juntar-se vinhas de longa tradição para uma nova adega de última geração, fundando assim a TerraMater.

O nome TerraMater diz-nos muito sobre esta empresa, que nasce de terras excecionais com vinhas nobres até aos 70 anos e maravilhosos olivais, com troncos grossos e bonita folhagem verde com mais de 50 anos, que atualmente produzem o melhor azeite e azeitona do mundo. Também é possível encontrar árvores de fruto, principalmente macieiras, que nos meses de verão enfeitam com os seus frutos abundantes e fazem destas quintas um verdadeiro espetáculo.

TerraMater representa a combinação perfeita entre a tradicional viticultura chilena de vinhos de alta qualidade, a busca constante pela inovação entregando novos aromas e sabores, e a preocupação em conseguir os melhores vinhos que a terra pode nos dar, criando assim vinhos que possam verdadeiramente honrar a generosidade da Mãe Terra.

Mais informações acesse:

https://www.terramater.cl/

Referências:

Portal Vinci, em: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central

Portal Winepedia, em: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/

Portal Enologuia, em: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/vale-do-curico-para-alem-dos-vinhedos/

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/vales-do-chile/

“Enoeventos”: http://www.enoeventos.com.br/201401/as3/as3.htm

“Escrivinhos”: https://escrivinhos.com.br/2015/04/tres-cabernets-do-chile-com-uma-otima.html/

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




 




 

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