sábado, 13 de novembro de 2021

Pueblo del Sol Reserva Viognier 2017

 

Mais um vinho da série: “Castas novas que eu descobri”. E mais uma vez direi, mesmo que soe redundante: é um grande prazer descobri novas cepas, ter novas e inesquecíveis experiências sensoriais. E essa nova “descoberta” me trouxe algumas reflexões.

Ainda existe, o que é uma pena, alguma resistência com relação aos vinhos brancos no Brasil. Uma espécie de triste rejeição construída por uma edificação calcada no preconceito. Já ouvi e li muitos comentários acerca disso tudo, entre eles temos: Ah vinho branco não tem expressão ou ainda aquele: vinho branco é para iniciantes ou são bebidas direcionadas ao público feminino ou coisa que o valha.

Lembro-me que na minha iniciação no mundo do vinho eu também criei uma resistência, uma dificuldade em entender as propostas dos brancos, as harmonizações, uma rejeição construída com base na desinformação.

Mas ao longo do tempo o vinho branco foi adentrando, devagar, é verdade, a minha adega e as experiências sensoriais com eles foi se tornando uma constante. E descobri que, como os tintos, os brancos também tem um leque infindável de propostas, que vai dos leves, delicados, simples, aos mais elaborados, complexos e encorpados.

Infelizmente, talvez esteja equivocado, poucos são os brancos ofertados no Brasil com a proposta mais encorpada, de rótulos complexos, mas o vinho que escolhi traz um branco com a estrutura de um tinto, de uma casta que na década de 1960 esteve a beira da extinção, por conta da philloxera e hoje figura a minha taça, inundando de expectativa esse momento de degustação, de celebração do vinho. Falo da Viognier.

Ela é oriunda do norte do Côtes do Rhône, mas o rótulo de hoje veio da minha região favorita do Uruguai: Canelones. Quando o comprei, algum tempo atrás, eu perguntei a um especialista em vinhos, não sei quanto tempo, aproximadamente, talvez há um ou dois anos atrás, onde a Viognier era mais conhecida e ele me disse que era a França que hoje entendo que é por razões óbvias. E perguntei se o Uruguai tinha tradição na produção da cepa e ele me disse que não.

Bem o fato é que hoje a produção da casta no Cone Sul está crescendo e não estou baseando o meu comentário com base em números, mas apenas observando alguns rótulos da Viognier no próprio Uruguai e também na Argentina.

Sem mais delongas o vinho que degustei e gostei é deveras aromático, deveras encorpado, saboroso e cheio de frutas brancas tropicais, ele vem da região uruguaia de Canelones e se chama Pueblo del Sol um 100% Viognier da safra 2017. Um rótulo da tradicional Família Deicas, sinônimo de vitivinicultura. Mas já que estamos falando de história e tradição, falemos da Viognier e também da região de Canelones.

A hedonista Viognier

A Viognier é uma variedade de origem francesa, muito ligada ao Rhône, mas, graças às suas características aromáticas e estruturais, além de ser uma ótima “parceira” de outras castas brancas em blends, espalhou-se por diversas partes do mundo, gerando vinhos excepcionais.

As primeiras menções a ela são de 1781, ligando-a região de Condrieu e também Ampuis, no vale do Rhône, mas uma tese diz que a Viognier foi levada da costa da Dalmácia para a França pelo imperador Probus, e que a variedade veio de Smirnium na Croácia. No entanto, não há evidências históricas de que a casta seja mesmo croata.

Análises de DNA mostram uma relação pai-filho entre Viognier e a casta Mondeuse Blanche e isso a torna uma possível meio-irmão ou até mesmo avó da Syrah, já que elas fazem parte do mesmo grupo ampelográfico, mas especialistas ainda não descobriram a ordem exata dos fatores.

A origem do seu nome ainda é um mistério, mas teoricamente derivaria do francês viorne, do gênero botânico “viburnum”, que remete a flores brancas, possivelmente ligado às características aromáticas. 

Há cerca de 50 anos, a Viognier estava restrita a poucos lugares, encontrada em cerca de 10 hectares em Condrieu e no Château Grillet somente, e hoje é um fenômeno mundial. A casta é tradicionalmente cultivada em solos mais ácidos, mas também se adapta a regiões mais quentes, por isso tem sido plantada em vários locais do mundo, da Califórnia, ao Uruguai, passando por Austrália, Nova Zelândia, Chile, Alemanha etc.

A Viognier é para quem gosta de parar e sentir o cheiro das flores. Os vinhos variam de sabor, desde mais leves como frutas amarelas, em especial tangerina, manga e pêssegos até aromas mais cremosos de baunilha com especiarias de noz-moscada e cravo-da-índia. Dependendo do produtor e de como o vinho é feito, ele varia em intensidade, de leve e quente com um toque de amargor a ousado e cremoso.

No paladar, os vinhos são geralmente secos, embora alguns produtores façam um estilo levemente doce que embeleze os aromas de pêssego da Viognier. Os estilos mais secos aparecem menos frutados no palato e produzem amargura sutil, quase como se triturássemos uma pétala de rosa fresca.

No geral, os vinhos desta casta encontram seu melhor momento depois de 2 ou 3 anos, quando alcançam um estado mais opulento e exótico.

Canelones

Localizada bem ao sul, Canelones é a principal região produtora de uva e vinho no Uruguai e, por isso, concentra a maior parte dos vinhedos do país. A cidade de Canelones faz parte da região metropolitana de Montevidéu. Ela é cercada por um enorme complexo de pequenas fazendas e vinhedos, que são responsáveis por impressionantes 84% da produção de vinho do Uruguai.

Nos seus arredores, encontram-se ótimos bares que oferecem os melhores e mais procurados vinhos do país, já que naquela região concentram-se desde as mais tradicionais até as mais luxuosas, modernas e rústicas vinícolas da América Latina. Além disso, Canelones possui uma extensão de mais de 65 km de praia, repleta de entretenimentos e lugares para descansar, sem falar do Camping Marindia, que é um reduto de arte, cultura e atividades familiares, cercado por trilhas bem arborizadas e que proporciona uma linda visão de pôr do sol.

Canelones

Os primeiros moradores de Canelones se instalaram na cidade por volta de 1726; já a partir de 1774, chegaram imigrantes espanhóis e no final do século XIX, vieram os imigrantes italianos para cultivar uvas e fabricar vinhos. Dali em diante, a história da cidade com o vinho começou a se intensificar, uma vez que passo a passo ela conquistava popularidade em todo o país.

Mas foi nos anos de 1970, que videiras de clones importados chegaram à cidade e os vinhedos começaram a se concentrar na qualidade. E hoje a produção de vinho da região representa 14% no mercado internacional e é responsável por oferecer uma abundância de opções ao enoturismo uruguaio.

Essa região não poderia ter localização melhor. Por sua visão pioneira, o Uruguai foi eleito o país do ano, em 2013, pela revista inglesa The Economist. Entre as principais razões estão o fato de realizar reformas que não se limitam a melhorar apenas a própria nação, mas atitudes que podem beneficiar o mundo.

E Canelones está sendo conduzida sob essa visão. Em meio a um processo de desenvolvimento enoturístico, a região já possui até projeto de promoção do turismo e do vinho desenhado pelo Ministério do Turismo com a colaboração da Comarca de l’Alt Penedès, Espanha.

Há produtores que se juntaram para ajudar nesse incentivo e criaram a Associação “Los Caminos del Vino”, que reúne diversas vinícolas familiares abertas para visitantes, onde podem ver as vinhas de perto, acompanhar as diferentes etapas da vinificação e, finalmente, provar o vinho e a comida típica do lugar.

E agora o vinho!

Na taça entrega um lindíssimo amarelo com tendências douradas bem brilhantes com reflexos esverdeados, com uma boa profusão de lágrimas, finas, o que incrível por se tratar de um branco.

No nariz a explosão aromática, de frutas brancas e amarelas, dá o tom, onde se pode destacar a pera, pêssego, maçã-verde, abacaxi, melão, além das notas florais em evidência, que traz delicadeza e elegância ao vinho.

Na boca tem corpo médio, entrega personalidade marcante, expressividade, a começar pela sua untuosidade em boca, que estimula a salivação, sendo consequentemente muito gastronômico. Se atribui a esse volume em boca, essa untuosidade ao pequeno percentual do vinho passando 3 meses por barricas de carvalho Tem boa acidez, é frutado, tendo, entre esses fatores, muito equilibrado, com um final longo, prolongado.

Descobri que a Viognier é complexa, estruturada, é para quem gosta de analisar o vinho, de fazer um ótimo exercício de análise, que goste de se desdobrar nesse quesito. Um vinho de volume e corpo, de personalidade marcante. Uma casta que até pouco tempo era coadjuvante, para dar um toque aromático as outras castas e neste belíssimo rótulo alça um “voo solo”, e que aterrissa na minha humilde taça para o meu deleite. Pueblo del Sol, no auge dos seus 4 anos de safra, ainda mostra notas frutadas, mais uma austeridade, mostrando uma boa evolução, mostrando que ainda tem uma boa “pegada”. Sem dúvida um vinho muito especial, mostrando que os brancos podem deixar uma indelével marca na sua enófila história. E o rótulo da Família Deicas entrega exatamente isso, como eles dizem: “Nossos vinhos são uma homenagem ao sol”.

Palavras do produtor:

“À forma como nossos vinhedos se pintam de dourado. Ao seu calor, que ajuda a expressar o melhor de suas videiras. À sua luz, que guia nosso trabalho desde o amanhecer ao pôr-do-sol. Ele é o começo de tudo; a energia que nos guia para elaborar uma linha de vinhos de valor único”.

Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Família Deicas:

A Bodega foi fundada no século XIX e já teve vários donos, inclusive o próprio Estado. O primeiro deles foi Don Francisco Juanicó que fundou o estabelecimento em 1830. Apenas em 1979, quase um século e meio depois, a Familia Deicas comprou a propriedade e imprimiu nela uma grande mudança. Uma delas foi a de contratar especialistas internacionais para produzir vinhos de alta gama com variedades francesas.

De toda forma, ainda permanece no local muito do passado. Algo que pode ser apreciado em algumas construções da vinícola, que apesar de restauradas conseguem manter o conceito original de quem as idealizou.

Caso, principalmente, da cave subterrânea, construída com pedras por Don Francisco Juanicó. O local hoje abriga mais de 500 barricas de carvalho francesas e americanas, unindo tradição, tecnologia e muita beleza.

A Família Deicas é muito conhecida pelo Familia Deicas Preludio (1100 pesos), um dos ícones da vinícola, que, é sem sombra de dúvidas um vinho maravilhoso! Realmente, um dos melhores do Uruguai. Ele consiste em um corte de seis variedades (Tannat, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot e Marselan). Além do Prelúdio, a Juanicó também elabora o Don Pascual, que é a marca de vinho fino mais importante do Uruguai. Também produz a linha Atlántico Sur. Ambas as linhas mais acessíveis que o Preludio Familia Deicas (que é produzido em lotes reduzidos e de forma mais artesanal). Afinal, a Juanicó possui estrutura de vinícola de ponta para produzir em larga escala.

Mais informações acesse:

http://www.pueblodelsol.com.uy/_po/?pg=inicio

https://familiadeicas.com/

Referências:

“Winepedia: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/roteiros-do-vinho-canelones/

“Dicas do Uruguai”: https://dicasdouruguai.com.br/dicas/canelones-no-uruguai/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/262-uva-viognier-a-uva-hedonista

“Blog do Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/enoturismo-viagens/juanico-familia-deicas-tecnologia-e-tradicao-na-arte-de-fazer-vinhos/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/branca-do-rhone-curiosidades-sobre-casta-viognier_13425.html

 

 

 

 





quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Cinco Tierras Sorbus Malbec 2019

 

Mais um Malbec da série: “Vinhos que descobri em eventos de degustação”. E mais um Malbec que desmistifica o conceito de que essa casta, para ser excelente, tem de ser amadeirado, passar por longos meses em barricas. Sim, já me antecipei e, desde já, reverencio esse belo rótulo da emblemática Mendoza onde repousa os grandes Malbecs em todas as suas propostas.

Mas o faço, pois o conheço, ou melhor, conheci há pouco mais de um ano atrás quando estive em um evento de degustação bem longe de minha casa, na Barra da Tijuca. Pois é, precisei ir longe para descobrir esse vinho que logo apresentarei.

O evento acontecia e já estava finalizando para mim, olhei, meio sem direção definida, e vi alguns vinhos argentinos e uma pequena aglomeração quando avistei um uns vinhos dos Hermanos com um rótulo muito simples, mas elegante e delicado. Havia cerca, pelo que eu me lembre, de dois rótulos desse produtor: Um era um Malbec e o outro um Torrontés.

Claro comecei pelo Malbec e me surpreendi pela  tipicidade aliada a personalidade: como ele expressava o caráter do Malbec, todas as características estavam ali, desfilando, para meu deleite, em meus sentidos. Então decidi degustar o Torrontés, o Cinco Tierras “Sorbus” Torrontés da safra 2016. O evento acontecera em 2020 e o rótulo, com seus 4 anos de safra, para um branco, poderia não entregar as características marcantes da Torrontés, tais como o frescor, a acidez etc. Mas ainda assim decidi degustar e...Que vinho! Ainda fresco, pleno.

Mas olhando um pouco melhor o rótulo li que o vinho fora produzido em uma região chamada Salta, em Cafayate. Até então não conhecia essa região na Argentina, a não ser Mendoza, Patagônia etc. Então, por conta disso, decidi levar esse Torrontés. Mas o Malbec merecia ser levado, pensei que não fosse mais encontra-lo.

Quando um supermercado foi inaugurado aqui em minha cidade, Niterói, um ano depois desse evento de degustação na Barra da Tijuca, decidi conhece-lo e ver se eles possuíam uma adega legal. E qual vinho achei? Sim, o vinho que degustei e gostei em 2020, o Cinco Tierras “Sorbus” Malbec, da safra 2019 da região de Mendoza. Me animei e não foi só em encontrar o vinho, mas pelo preço incrivelmente baixo: R$ 26,90! Não hesitei muito e comprei, mas com a intenção de degusta-lo logo e não me arrependi em nenhum momento.

Mas antes de falar do vinho, cabe falar um pouco de como os rótulos do casal Rubén Banfi e Marie Geneviéve chegaram ao Brasil. Em 2009 Marcos Simonsen criou a importadora MS Import, com a seguinte missão: trazer vinhos mais prontos e de bom apelo comercial, ou seja, vinhos de preços acessíveis, para serem degustados no dia a dia de países como Portugal, Argentina e Portugal, por exemplo.

A Bodega Cinco Tierras foi uma das primeiras a serem trazidas por Simonsen, juntamente com a Sur de Los Andes, do economista Guillermo Banfi, filho de Rubem. Pois é filho de peixe...

Mas por conta dessa proposta de vinhos mais básicos, de valores acessíveis, acabou ganhando outros lugares para serem vendidos, como nesse mercado que eu tive o prazer de encontrar o Malbec. A prova de que podemos degustar bons vinhos argentinos da casta Malbec a preços acessíveis, baixos e qualidade superior, alta.

Outro detalhe que me chamou a atenção foi a seguinte informação: “IP Mendoza”. Eu nunca tive visto, até então, a Indicação de Procedência antes do Mendoza. Então falemos um pouco sobre a história da IP na Argentina.

Se em diversos países da Europa, como França, Itália, Alemanha e Espanha, o conceito de indicações geográficas ou denominações de origem para regiões produtoras de vinhos é antigo, na Argentina este é um conceito relativamente novo. Apesar de alguns esforços regionais anteriores, foi somente a partir de 1999 que os primeiros passos para a adoção de sistema nacional de classificação foram trilhados.

Mas como funciona este sistema? Qual é o órgão responsável pela sua regulamentação? Como são definidas as denominações de origens ou indicações geográficas atuais na Argentina? Para responder estas e outras questões vale a pena entender um pouco mais sobre estes conceitos e como foram introduzidos na Argentina.

Do ponto de vista internacional, três marcos foram importantes para a aceitação e regulamentação destes conceitos. Os dois primeiros são mais que centenários, a Convenção de Paris de 1883 e sua revisão em 1911, em Washington. Foi a partir destes acordos que se estabeleceu a proteção da propriedade industrial e a aceitação dos conceitos de Indicação de procedência (IP) ou Denominação de origem (DO). Já o conceito de Indicação geográfica (IG) é mais recente, dentro dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio (ADPIC), subscrito em Marrakesh, em 1994.

No caso da Argentina, porém, o conceito é mais recente. Um marco fundamental foi a Lei nº 25.163, de 1999, que instituiu o regime de indicações de origem geográfica para vinhos e outras bebidas alcóolicas elaboradas com uvas, como uma categoria sui generis. Foi inspirado no modelo europeu, mas com notas peculiares e algumas omissões em seu regulamento. Sua regulamentação, porém, só ocorreu em 2004, com o Decreto nº 57/2004.

Antes disso, existiram algumas iniciativas para regulamentar estas categorias, boa parte delas sob o aspecto regional. As primeiras Denominações de Origem Controladas (DOCs) na Argentina foram aprovadas a nível provincial.  A DOC Luján de Cuyo foi reconhecida em 1990 e DOC San Rafael em 1993, quando ainda não existia um marco jurídico nacional.

O funcionamento no sistema argentino, dentro do quadro legal atual, os vinhos podem ter ou não uma indicação de origem geográfica. Para aqueles que optarem por ter uma indicação de origem geográfica, existe três níveis distintos: Indicação de procedência (IP), Indicação geográfica (IG) ou Denominação de origem (DO).

A IP é o mais genérico deles, que identifica a origem geográfica, e podem coincidir as fronteiras políticas das províncias e municípios. Assim que o marco legal foi regulamentado, o Instituto Nacional de Vitivinicultura (INV – órgão que controla e aprova este processo) reconheceu como IP o nome geográfico de todas as províncias vinícolas do país na época: Mendoza, San Juan, La Rioja, Catamarca, Salta, Jujuy, Tucumán, Córdoba e Neuquén. Os produtores de cada região podem usar sua IP correspondente sem necessidade de solicitar autorização administrativa.

Assim, um produtor baseado na província de Mendoza (que concentra cerca de 75% da área de vinhedos da Argentina), pode incluir em seu rótulo, se quiser, a expressão IP Mendoza. Deste modo, esta indicação é a menos específica entre elas. Ela serve exclusivamente para indicar que o vinho foi elaborado com uvas plantadas em uma unidade administrativa (no caso província) específica. Leia mais em: Vinhos na Argentina: com funcionam as denominações de origem e as indicações geográficas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um intenso vermelho, quase escuro, com discretos, mas bonitos reflexos violáceos, com lágrimas finas e em média intensidade, um pouco viscosas.

No nariz uma exuberância de frutas vermelhas maduras, frutas pretas também, uma compota de frutas, com o destaque para ameixa, cereja, framboesa e groselha. Notas terrosas, de especiarias e de flores, flores vermelhas.

Na boca é suculento, marcante, saboroso, no início o álcool sobressaiu, mas com algum tempo respirando logo se mostrou equilibrado, mas ainda bem alcoólico, as frutas, como no aspecto olfativo, em destaque, com taninos marcantes e gulosos, com uma incrível acidez, revelando um vinho extremamente gastronômico. Tem um final médio, com um discreto tostado. Segundo referências na internet o mesmo passou por 6 meses em barricas de carvalho e no contra rótulo do vinho há um sutil passagem.

Um Malbecão no conceito mais genuíno da casta, de tipicidade, de caráter, um vinho básico da família Banfi, sim, mas que entrega tanto de Mendoza, de seu terroir e que comprova a frase do grande Didu Russo, especialista de vinhos brasileiro que diz: “Que a melhor maneira de mensurar a qualidade, a idoneidade de um produtor, é pelos seus vinhos de entrada”. São aqueles sem o mínimo de intervenção humana. Frutado, floral, fácil de degustar, mas com alguma estrutura, intensidade e personalidade. Um vinho especial que reencontrei e degustei e gostei. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Ah e para curiosidade o nome da vinícola “Cinco Tierras” faz menção as cinco principais regiões, as cinco melhores regiões vitivinícolas da Argentina em que a Bodega produz seus vinhos e que passa por toda a Cordilheira dos Andes.

Sobre a Bodega e Viñedos Cinco Tierras:

A Bodega Cinco Tierras nasceu como um projeto pessoal de Rúben Banfi, sua esposa e seus filhos Marie Geneviève, Carlos, Guillermo e Diego, em Vistalba, na província de Luján de Cuyo.

Integrante da família Banfi, proprietária do Castello Banfi, na Toscana, famosa e respeitada pela elaboração de vinhos de excepcional qualidade e que teve um papel fundamental na projeção internacional do Brunello di Montalcino. Por coincidir com Banfi Vintners, Rúben não pode utilizar seu nome no mercado norte-americano, justificando a escolha por outro nome para sua vinícola em terras mendocinas.

Em 2000, Cinco Tierras elaborou os primeiros Reserva Malbec, Cabernet, Reserva Familia e Malbec Cinco Tierras. Cinco anos depois, concretizou a compra de 25 hectares de vinhedos em Agrelo. No mesmo ano, os rótulos Cinco Tierras e Sorbus são selecionados em um concurso para a carta de vinhos das Aerolíneas Argentinas.

Durante essa etapa contou com a consultoria técnica do prestigiado enólogo Héctor Durigutti, que também auxilia a prestigiada vinícola Altos Las Hormigas. Sinônimo de tradição elabora artesanalmente vinhos orgânicos, com colheita manual e sem nenhum tipo de agrotóxico ou agente químico.

A vinícola conta com os últimos avanços tecnológicos e uma capacidade de produção de 250.000 litros divididos em piscinas de cimento revestidas com epóxi (7.000 a 25.000 litros) e tanques de aço inoxidável (5.000, 7.500, 15.000 e 25.000 litros). Ele também tem 300 barris de carvalho francês no subsolo. Possui 3 linhas de vinhos: Cinco Tierras Reserva; Cinco Terras Clássicas e Sorbus. Em todos eles destacam-se a fruta e o equilíbrio, bem como uma excelente expressão varietal com um toque de carvalho.

Os itens são limitados, a Reserva varia entre 4.000 e 10.000 garrafas e a linha Classic cerca de 40.000. A produção anual é de 160.000 garrafas. Desde a primeira vindima, os vinhos Cinco Tierras tiveram uma aceitação muito boa tanto local como internacionalmente e foram premiados em importantes concursos. Atualmente exportam 70% da produção para França, Brasil, EUA e China.

Mais informações acesse:

www.bodegacincotierras.com.ar

Referências:

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/vinhos-na-argentina-com-funcionam-as-denominacoes-de-origem-e-as-indicacoes-geograficas/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=AR

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2011/07/06/cinco-tierras-na-figueira-rubayat/

 

 

 

 




terça-feira, 9 de novembro de 2021

Pizzato Cabernet Sauvignon 2014

 

Eu costumo participar de eventos de degustação e festival de vinhos. E digo-lhes o quanto é proveitoso esses momentos. Uma oportunidade única de, não apenas degustar vinhos, o que já é excelente, diga-se de passagem, mas também de aprender mais sobre vinhos, conversar com os produtores e conhecer seus rótulos.

E foi dessa forma, nesse escambo de informações que só agrega em conhecimento e estimula o prazer, ainda mais, pela nossa poesia líquida, que conheci uma vinícola brasileira que, a cada ano vem crescendo em representatividade mercadológica, vem ganhando credibilidade: falo da Pizzato.

Mas não recordo de uma coisa: Se à época que estive no festival de degustação de vinhos eu levei algum rótulo. Pois é, as vezes somos traídos pela memória, o mais importante é que conhecemos o produtor e que a partir daí nos dá a possibilidade de buscar, de garimpar novos rótulos desse grande produtor e não foi difícil, diga-se de passagem, que localizei.

E o vinho que degustei e gostei veio da Serra Gaúcha, a gloriosa região vitivinícola brasileira, e se chama Fausto, um 100% Cabernet Sauvignon, da safra 2016. E o nome que esse rótulo ostenta traz muita história, história essa que hoje a indústria vitivinícola está colhendo, que é o incentivo à produção de uvas vitis viníferas. Esse é o Plínio Pizzato.

Plínio Pizzato, patriarca da Família, por influência de seu pai, Giovanni Pizzato, sempre foi entusiasta das uvas vitis vinifera (uvas finas, no Brasil), mesmo numa região vitícola dominada quantitativamente e economicamente por híbridas e vitis labrusca.

Ainda nos anos 60, quando se estabeleceu em Santa Lúcia – parte do que é hoje o Vale dos Vinhedos como Indicação Geográfica – passou a cultivar apenas vitis vinifera, com foco nas uvas italianas (barberas, trebbiano, malvasias etc).

Nos anos 70, com a chegada de várias multinacionais à Serra Gaúcha, e pelo fato de já ser um produtor de excelência para uvas finas, foi provocado por técnicos vitícolas de tais empresas para se tornar produtor de uvas francesas. Começa assim plantios de uvas francesas, com domínio para a Merlot, Cabernet Franc e Semillon, sem deixar de cultivar algumas italianas.

Ao final dos anos 1970, implanta vinhedos com algumas uvas ‘experimentais’ para a região à época, dentre elas o Sauvignon Blanc. A partir de nossa lembrança clara de que para determinadas situações o Sauvignon Blanc apresentava uvas com belos resultados de sabor e sanidade, e considerando que em plantio em espaldeiras (em contraste ao uso de latadas/pérgola da fase dos anos 70) os resultados poderiam ter ainda mais consistência, no início dos 2010 foi implantado vinhedo de Sauvignon Blanc que vem produzindo consistentemente desde 2015.

E continuando com a história, falemos um pouco da Serra Gaúcha, região que tem uma forte ligação, uma simbiose com a Família Pizatto.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geo-climáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um belíssimo vermelho rubi, com reflexos violáceos que dá um reluzente brilho com uma boa concentração de lábrimas, finas e lentas.

No nariz a predominância é das frutas vermelhas, ameixa, cerejas, framboesas que traz a agradável sensação de frescor, além de especiarias doces, um leve pimentão, com toques delicados de baunilha e tosta.

Na boca é frutado, intenso, complexo, estruturado, mas de uma textura macia, tornando-o fácil de degustar. Tem taninos gulosos e marcantes, porém domados, boa acidez, trazendo o aporte de 9 meses em barricas de carvalho, com o toque amadeirado, o toque de chocolate meio amargo, aparecendo também as especiarias. Tem um final prolongado e potente.

Um vinho de bom potencial de guarda, com robustez, mas versátil, fácil de degustar, extremamente gastronômico, que harmoniza com comidas gordurosas, churrasco, com carnes gordas a refeições mais simples e do dia a dia. Um vinho que traz a tipicidade da região a qual foi concebido e que faz frente a muitos Cabernets chilenos e de Bordeaux da vida, sem ufanismos. Um vinho que personifica a história desbravadora de um homem que acreditou em nossas terras, na sua vocação para produzir grandes e especiais vinhos. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Pizzato Vinhas e Vinhos:

Em 1999, a Família Plínio Pizzato constitui a Pizzato Vinhas e Vinhos para agregar a elaboração de vinhos ao já existente cultivo de videiras, ao qual se dedica desde a imigração de Antônio Pizzato para o Brasil, vindo do Vêneto na Itália ao final dos anos 1800. Ainda na itália, a família cultivava vinhas e elaborava vinho em pequenas quantidades. Da chegada ao Brasil em 1980, após o estabelecimento e a subsistência, o amor e dedicação em trabalhar com uvas e vinhos falaram mais alto.

Assim o cultivo de parreiras em maior extensão foi levado adiante. As atividades do imigrante Antônio Pizzato passaram para um de seus filhos, Giovanni Pizzato, que além da ocupação principal relacionada aos vinhedos continuou produzindo vinho, mas apenas para consumo da Família Pizzato.

A maior parte da produção de uvas passou a ser comercializada para vinícolas da região da serra gaúcha. A personalidade é fruto da interação entre o objeto/ser e as transformações decorrentes de vivência, educação e experiência; é dessa forma que sua estrutura se torna íntegra ao longo dos vários estágios da existência, do nascimento à lembrança.

Os integrantes da Família são os responsáveis por todo o processo que faz do vinho uma bebida de identidade única, da produção de uvas à elaboração e comercialização dos vinhos, gerando um diferencial de entusiasmo, dedicação, personalidade e exclusividade traduzidos em vinho.

Atualmente a Família Pizzato vê seus vinhos entre os mais destacados em degustações e painéis de vinhos Brasileiros e Internacionais, além de estarem presentes em restaurantes e lojas especializadas no Brasil e no exterior.

Mais informações acesse:

http://pizzato.net/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA


Degustado em: 2016

 

 

 

 

 




sábado, 6 de novembro de 2021

Trisole Nero d'Avola e Syrah 2019

 

É possível aliar em um vinho estrutura e maciez? Pode parecer difícil um ser aveludado e estruturado ao mesmo tempo, mas não com os vinhos oriundos da região italiana da Sicília. Não sou um profundo conhecedor do terroir siciliano, contudo lendo um pouco da história da região, que é demasiadamente ensolarada, percebe-se que as uvas amadurecem bem, entregando vinhos voluptuosos e frutados em uma simbiose invejável.

E parece que um blend produzido por lá entrega essa proposta tão arrojada e especial: Nero d’Avola, casta autóctone daquele país e a francesa Syrah que, de tão importante, se adapta, dada, claro, as devidas particularidades de cada terroir, se adapta com facilidade em qualquer lugar no mundo.

A Syrah traz à intensidade, o corpo, as especiarias tão típicas da cepa, mas sem ofuscar as características marcantes do aroma da Nero d’Avola, além, é claro das notas frutadas desta casta, tão popular e tradicional da Itália, mas que não é tão conhecida globalmente.

Mas mesmo com essa sinergia, desse típico blend da região da Sicília, você ainda consegue identificar aquele contraste em aromas e sabores fazendo com que os rótulos com esse corte ganhem em complexidade e versatilidade, pois são frutados e macios, fáceis de degustar mesmo.

Falo desse blend, pois já o degustei em alguns eventos de degustação e pude testemunhar ou melhor sentir em seu aroma e paladar o que textualizei aqui e agora. E, mais uma vez, poderei ser impactado por essa experiência novamente, agora com um novo produtor, muito importante na região da Sicília e de toda a Itália: Cantine Birgi. Um grande produtor, um belo rótulo, um belo blend, casamentos perfeitos, harmonizações perfeitas para um dia de feriado e descanso.

E convenhamos essa simbiose, essa proximidade do brasileiro com os vinhos sicilianos tem muito ver devido ao clima dessa região. Banhada pelo mar, uma ilha mediterrânea, ensolarada, repleta de praias, um povo hospitaleiro e altivo, enfim, a relação não é apenas com o vinho, mas a cultura e a natureza também trazem relações com o povo brasileiro e essa natureza influencia nos rótulos que chegam à mesa de todos nós, brasileiros.

Bem sem mais delongas vamos ao vinho que degustei e gostei que veio evidentemente da Sicília, na Itália e se chama Trisole com o típico corte Nero d’Avola e Syrah da safra 2019. E já que falamos algo sobre as castas que protagonizam esse vinho, vamos tecer mais comentários detalhados da Nero d’Avola ainda um pouco distante de nossas terras e mesas, bem como da ensolarada Sicília que merece aqui algumas linhas.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África.

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

Sub-regiões da Sicília

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Nero d’Avola: “A uva negra de Avola”

A uva tinta Nero d’Avola é a “uva negra da cidade de Avola”, região italiana localizada na costa sudeste da Sicília, mais precisamente na Província de Siracusa. Os vinhos aos qual essa variedade de uva dá origem são encorpados e possuem coloração escura. A Nero D’Avola é utilizada com grande frequência em blend com as uvas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Frappata e Merlot, garantindo maior complexidade de aromas e paladar aos vinhos.

Avola

Porém há quem diga que exista uma incerteza quanto a origem desta casta, apenas a existe a certeza de que essa tinta é uma uva indígena, ou seja, autóctone da Itália. Por também ser chamada de Calabrese, alguns estudiosos acreditam que ela tenha nascido na Calábria, bem na ponta da bota.

Outros defendem que a Nero d’Avola é realmente siciliana. Além de sua terra natal, essa casta tem sido cultivada com sucesso em outros países produtores, como os Estados Unidos, a Austrália, a Turquia e a África do Sul, mas a região de maior expressão dessa casta é, sem dúvidas, na região da Sicília, província responsável pela produção de premiados e elogiados vinhos com estilo intenso e frutado, que resguardam o caráter de vinhos tipicamente italianos.

Na produção siciliana, a uva Nero d’Avola costuma aparecer em dois estilos vitivinícolas diferentes. No primeiro, os vinhos apresentam caráter rico e sabores que referenciam café e chocolate, provenientes do envelhecimento prolongado em barris de carvalho. Já o segundo estilo, mais elegante, sugere sabores como frutas vermelhas e ervas, uma vez que têm curto período de envelhecimento.

Conhecida também como uva Calabrese, a fruta apresenta elevados níveis de taninos e acentuada acidez, acompanhados de aromas intensos que fazem da casta uma variedade interessante e intrigante. Os vinhos Nero d’Avola têm teor alcoólico que varia entre 13,5 e 14,5%.

Esse tipo de uva dá origem a vinhos que acompanham muito bem pratos com o uso de especiarias, como cascas de laranja, folhas de louro e sálvia. Os exemplares que possuem a Nero d’Avola em sua composição podem apresentar algumas características semelhantes aos vinhos produzidos com a uva Syrah, tanto pela tonalidade escura quanto pelo excelente equilíbrio.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo vermelho rubi com reflexos violáceos que protagoniza um reluzente brilho, com lágrimas finas, abundantes e rápidas.

No nariz um ataque de aromas frutados, aromas de frutas vermelhas em compota, onde se destacam a framboesa, a cereja e a groselha, com um agradável toque de especiarias.

Na boca é razoavelmente seco, frutado graças a Nero d’Avola, com uma instigante picância, toque da pimenta típica da Syrah, sendo ainda redondo, fresco, jovial, saboroso e harmonioso. Os taninos são presentes, mas aveludados, domados, acidez equilibrada, álcool sobressai, mas não demostra desequilíbrio e um final curto.

Mesmo que o vinho ganhe contornos globais ele sempre deve levar consigo a tipicidade de sua terra, o apelo regionalista, o tão propagado e cultuado terroir. E esse exemplar da Sicília entregue, com fidelidade, de forma genuína, as características dessa ilha ao sul da Itália. Um vinho versátil, que traz as notas frutadas, frescas, mas que entrega também a estrutura, a personalidade. A casta autóctone combinando, em um casamento explosivo, com uma casta francesa expressando o máximo da Itália. Um vinho solar, literalmente falando, vivaz, marcante e saboroso. Tem 13% de teor alcoólico muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a Cantine Birgi:

A Cantina Sociale Birgi está localizada no coração de um cenário natural de beleza opressora. Este terreno possui uma tradição vitivinícola milenar que foi retomada, valorizada, renovada e reapresentada pela Cooperativa Vitivinícola Birgi, nascida em 1960 pela vontade de produtores apaixonados pela sua terra e orgulhosos das suas origens.

O ano de 1970 foi importante para Cantine Birgi: vendeu os primeiros vinhos a granel para consumo direto, sendo que em 1975 a produção da primeira garrafa, os primeiros vinhos brancos estagiando, pela primeira vez, nas barricas de carvalho.

Em 1990 novos processos e novas produções fizeram com que começassem as primeiras fermentações de mostos limpos. Nos primeiros anos do novo milênio, em 2004, as garantias que as vinícolas Birgi devem oferecer aos seus clientes aumentaram, os processos de controle de qualidade para todas as vinhas foram iniciados.

Em 2013, novos horizontes para a fase de produção surgiram, com o início da viticultura de precisão e novos processos de controlo da qualidade das vinhas e das uvas. A tecnologia a serviço da vinificação adentravam na realidade da Cantina Birgi.

Hoje em dia a adega produz diferentes tipos de vinho para ir ao encontro das necessidades do consumidor: desde vinhos espumantes, a vinhos tranquilos, aos vinhos de sobremesa e meditação, à produção biológica.

Mais informações acesse:

https://www.cantinebirgi.it/en/marsala-wine/

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Revista Sociedade da Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2021/01/conheca-a-uva-italiana-nero-davola/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nero-d-avola

 

 

 

 

 

 

 


 











segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Marquês de Marialva Colheita Seleccionada branco 2018

 

Diz o ditado popular que “o raio não cai mais de uma vez em outro lugar”. Pois bem, no universo do vinho essa frase, a meu ver, não tem muita validade ou pelo menos não deveria ter, diria pelo menos em doses “homeopáticas” e seguras.

Eu explico esse conjunto de charadas: por que não podemos repetir a degustação de um rótulo, de um rótulo que gostamos que marcasse a nossa vida? Podemos fazer melhor: Acompanhar a evolução de um vinho degustando safra por safra e exercitar a nossa capacidade de análise sensorial e reforçar, ou não, a nossa predileção, o nosso carinho por aquela linha de rótulos ou aquele produtor, nos estimulando a buscar novos vinhos, outras propostas dessa vinícola.

Ah e quando falei das doses “homeopáticas” e seguras é não fazer dessa predileção uma temível zona de conforto, isto é, nos render aos mesmos vinhos, da mesma região, do mesmo produtor, das mesmas castas etc.

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei é da Bairrada, Portugal, e se chama Marquês de Marialva Colheita Seleccionada da safra 2018 e tem o blend de castas tipicamente regionais, são elas: Bical (40%), Maria-Gomes (40%) e a mais famosa de Portugal, Arinto (20%). O que eu degustei da mesma linha de rótulos foi o Marquês de Marialva Colheita Seleccionada, mas da safra 2016.

Então, antes de falar do vinho, contemos um pouco da história da Bairrada e das regionais castas, as menos conhecidas, Bical e Maria-Gomes.

Bairrada

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada – cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe – tem clima temperado bastante favorável às vinhas. A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.

Bairrada

António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.

O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço.

Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o Mr. Baga, Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe.

Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude.

O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.

O Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.

Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jean, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.

Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas no Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

Maria-Gomes

Maria Gomes é uma variedade de pele clara conhecida popularmente como uva Fernão Pires. Trata-se de uma variedade aromática e cultivada, principalmente, em Portugal. A versátil uva Maria Gomes é utilizada na elaboração de vinhos brancos secos e serve de base também para vinhos de sobremesa e bons espumantes.

Lima, laranja e raspas de limão são os três aromas mais comuns encontrados nos vinhos Maria Gomes. Em alguns casos, os vinhos apresentam também sabores de mel e bem minerais, com o decorrer do tempo em que vão envelhecendo.

As vinhas da Maria Gomes se adaptam melhor quando são cultivadas em regiões com temperaturas elevadas, principalmente, nas áreas centrais e no sul de Portugal – Bairrada, Lisboa e Ribatejo. Os altos rendimentos dessa variedade necessitam ser controlados pelo produtor, a fim de que seus frutos apresentem complexos aromas e sabores. Além disso, as videiras da Maria Gomes são sensíveis a geadas, sendo inadequada para o cultivo em regiões frias.

A maior parte dos vinhos produzidos a partir da Maria Gomes apresenta excelente complexidade aromática, embora ocorram algumas complicações por parte dos produtores, precisando que alguns cuidados sejam tomados durante a vinificação para que seja produzido um bom vinho.

Os níveis de acidez da uva Maria Gomes podem diminuir consideravelmente no final do crescimento, dando origem a vinhos pouco complexos e “flácidos”, com tendência a serem simples. Apenas os melhores exemplares podem envelhecer por alguns anos na garrafa.

Na maior parte das vezes, os vinhos de Portugal são combinações de duas ou mais uvas, e os vinhos produzidos com a uva Maria Gomes não são exceção. A casta aparece nos rótulos dos exemplares, normalmente, ao lado de outras cepas nativas de Portugal, como a Arinto.

Bical

A Bical é uma uva branca de origem portuguesa utilizada na elaboração de vinhos brancos e espumantes. Cultivada principalmente na região de Beiras, especialmente na Bairrada e no Dão, no centro de Portugal, produz vinhos de elevada acidez, podendo ser aproveitada em blends ou em vinhos varietais.

É caracterizada por sabor frutado e pode apresentar, em anos mais maduros, notas de frutas tropicais. Trata-se de uma casta precoce com elevado teor alcoólico, que apresenta alta resistência à podridão, mas tem como peculiaridade a alta sensibilidade ao oídio.

Também conhecida como Arinto de Alcobaça, Bical de Bairrada, Pintado dos Pardais ou Pintado das Moscas, Barrado das Moscas e Borrado das Moscas, devido à sua aparência nos vinhedos, a uva Bical é, junto com a uva Maria Gomes, é uma das castas mais importantes desta região portuguesa da Bairrada.

Os vinhos elaborados com a casta Bical são bastante macios e muito aromáticos, frescos e de boa estrutura. Respondem muito bem ao envelhecimento em carvalho e ao contato estendido com as borras, resultando em ótimos vinhos. Os melhores exemplares podem maturar por mais de dez anos, adquirindo características próximas a vinhos elaborados com a Riesling. Esta uva também é bastante utilizada em espumantes, muitas vezes misturada com as castas Arinto e Cercial.

Uva bastante precoce, a Bical possui amadurecimento rápido nos vinhedos e pode desenvolver alto teor alcoólico, principalmente se for deixada na videira por um longo período. Quando apresenta acidez acima da média, é utilizada na elaboração de espumantes ou em vinhos de corte com a Arinto.

Na região do Dão ela é conhecida como Borrado das Moscas, pois as uvas maduras nos vinhedos apresentam pequenas manchas castanhas, que lembram muito o desenho de moscas, mas que são apenas sardas na parte externa da fruta. Esta característica faz com que se tenha a impressão de as uvas estarem levemente irregulares.

O consumo dos vinhos elaborados com a uva Bical é indicado em refeições que incluam pratos com peixes e frutos do mar, tais como mariscos com arroz, mexilhões cozidos, peixe branco grelhado com risoto, ou mesmo frango Apricot, entre muitas outras opções.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha, com tendência para o dourado muito brilhante com a manifestação de lágrimas finas e curtas.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas brancas, como maçã verde, pera e frutas cítricas como limão, lima e abacaxi, com um delicado floral, flores brancas.

Na boca é fresco, leve, redondo, mas entrega um bom volume de boca, sendo, em alguns momentos, um vinho untuoso, com uma acidez equilibrada e um final prolongado e marcante.

Um raio cai sim e deve, no mundo dos vinhos, duas vezes ou mais nas nossas taças e fazendo um reboliço nas nossas experiências sensoriais, iluminando os nossos dias com ótimas degustações, transformando-os em verdadeiras celebrações, uma verdadeira ode aos vinhos dessa região emblemática de Portugal que não faz tanto sucesso em terras brasileiras: a Bairrada! Espero acompanhar, seguir junto com a linha Marquês de Marialva Colheita Seleccionada, com seus rótulos brancos, safra após safra, desvendando nuances sensoriais que personificam na mais genuína qualidade que catapulta para o mundo a Bairrada e suas castas de forte apelo regionalista! Que venham mais e mais rótulos! Que os anos não passem em termos de qualidade e que retrate a tipicidade dessa região. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Ah aqui cabe uma curiosidade sobre o nome do rótulo:

D. António Luís de Meneses, natural de Cantanhede, foi o 1º Marquês de Marialva, título que recebeu de D. Afonso VI, em reconhecimento da sua valentia ao comando das tropas portuguesas nas batalhas de "Linhas de Elvas" e "Montes Claros" - as mais importantes durante a Guerra da Restauração (1640-1668), quando Portugal recuperou definitivamente a sua independência, após 60 anos de domínio espanhol. Pode-se dizer que a ele se deve o fato de Portugal existir hoje como uma nação independente.

Sobre a Adega Cooperativa de Cantanhede:

A constituição da Adega Cooperativa de Cantanhede acontece no ano de 1954, fruto da vontade de um grupo de viticultores empenhado em criar condições para valorizar e rentabilizar o elevado potencial que já então reconheciam aos vinhos produzidos no terroir de Cantanhede.

Neste concelho, onde a viticultura remonta ao tempo dos romanos, encontramos a principal mancha vitícola da Região Demarcada da Bairrada. Atualmente com cerca de 1400 viticultores associados, representando uma área total de vinha de 2000 Ha, esta adega é o maior produtor da região, representado 25 a 30% da produção.

A sua dimensão e consequente responsabilidade que assume no contexto da região demarcada onde se insere, desde cedo exigiu que o caminho a seguir fosse o de valorizar as castas características da região, apostando na produção de vinhos com maior qualidade.

Inicialmente comercializados exclusivamente a granel, após apenas 9 anos depois da sua fundação e contra todas as correntes do sector cooperativo de então, esta adega inicia, pioneiramente, a venda dos seus vinhos engarrafados procurando uma alternativa para a diferenciação dos vinhos de Cantanhede.

A estratégia adoptada não demorou a dar frutos. Hoje esta adega certifica mais de metade da sua produção com a Denominação de Origem Bairrada, assumindo uma destacada liderança neste segmento e, mais recentemente também nos Vinhos Regional Beiras. Hoje a sua política produtiva assenta num pressuposto basilar que passa por uma forte aposta nas castas portuguesas, particularmente da Bairrada, sua defesa, promoção e divulgação.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

Mistral: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada

Reserva85: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/maria-gomes

https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/bical