Mais um vinho da série: castas novas para mim! Olha é
evidente que há centenas de castas que ainda não degustamos e claro que não
teremos vida o suficiente para degustar todas as cepas catalogadas, mas há
aquelas que são conhecidas que nunca tivemos acesso, que nunca degustamos, mas
há aquelas pouquíssimas conhecidas em nossas terras e que também não são tão
populares em suas terras de origem.
E quando vi a casta de hoje sendo ofertado em um famoso
aplicativo, em um e-commerce de vendas de vinhos, primeiramente achei o nome
inusitado, no mínimo engraçado, porém, depois da reação, veio a curiosidade,
decidi buscar a informação sobre a casta.
E com um pouco de dificuldade, pois tinham poucas referências
sobre ela na grande rede, encontrei algumas linhas sobre ela que diziam que se
assemelhava a minha queridinha Pinot Grigio.
Ah isso já me animou e muito, de cara fiquei animado com a
possibilidade de tê-la em minha adega. E o valor neste site de vendas de vinho
estava bem atrativo e aproveitei o momento de frete grátis e me pus a
adquiri-lo e o fiz!
E a animação não cabia dentro do peito! Decdi que assim que o
vinho chegar logo o degustarei. Qual o nome da casta? Falo da casta Grillo!
Grillo? Isso mesmo, a casta Grillo! Estou curioso em tê-la em minha taça e de
cara, ao desarrolhar a garrafa, já explodia a fruta branca, alguma nota floral
e aquela cor límpida e brilhante, um amarelo palha com reflexos esverdeados.
O vinho que degustei e gostei veio da região da Sicília, na
Itália, que eu muito gosto, e se chama Canceddi, da casta Grillo e a safra é
2019. Mas não entrarei, ainda, no detalhe do rótulo, mas vou começar como de
costume, a gerar linhas históricas da casta Grillo e falar de uma região que eu
gosto muito, a Sicília.
Sicília
A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.
Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a
elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas
de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de
Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a
Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia
no século VIII-VII a.C..
Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área
mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região
macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O
historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de
Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais
antigo da Itália.
Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem
do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na
Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.
Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino
(outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito
apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e
África.
A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda
do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade
de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o
nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de
viticultura e também o processo de passificação das uvas.
No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um
grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com
uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no
resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John
Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de
uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo
levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por
lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo
vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola
de grande êxito.
Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também
atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos
vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos
vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.
A região possui um clima e um solo que favorecem muito a
viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades
econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas,
montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda
parte, que vão das colinas até a parte costeira.
Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam
inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois
proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também
na parte costeira da ilha.
O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais
costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar
temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África.
Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do
mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os
vinhedos sicilianos necessitam, portanto, serem regados.
O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão
das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de
composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é
um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades
da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias
DOC.
As principais castas tintas produzidas na Sicília são:
Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello
Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas
destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria,
Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.
Grillo
Nome engraçado para uma uva. Traduzindo do italiano, pode
significar grilo mesmo, o inseto, mas pode significar, também, em sentido
figurativo, capricho. Será essa uva um capricho da natureza?
Estudos de DNA mostraram que a Grillo é um cruzamento natural
entre as castas Catarrato Bianco e Muscat de Alexandria.
E qual a história da Grillo? Algumas evidências sugerem que
essa uva é muito antiga, já utilizada na época da Roma Antiga para elaborar um
vinho siciliano chamado Mamertino, que era o preferido, inclusive, do poderoso
Júlio César.
Outra versão dos fatos conta que a Grillo seria nativa de
Puglia, e teria chegado na Sicília apenas no século 19. O fato é que a Grillo é
uma cepa perfeitamente adequada ao clima siciliano, quente e seco.
A cepa Grillo desempenha um importante papel em muitos vinhos
da Sicília, principalmente no mais famoso deles, o fortificado Marsala, cuja
popularidade não está tão forte atualmente.
Se, por um lado, a Grillo perdeu espaço nos vinhedos
sicilianos durante o século 20, quando os altos rendimentos da Catarratto,
seduziram os produtores, agora o movimento em busca de maior qualidade tem
sinalizado um resgate do interesse pelo cultivo da Grillo.
Trata-se de uma uva com altos níveis de açúcar, com
capacidade de naturalmente produzir vinhos de alto teor alcoólico.
Pode produzir perfeitamente vinhos leves e fáceis de beber,
com resultados semelhantes, por exemplo, à Pinot Grigio. É capaz de demonstrar
toda a sua graça em versões fortificadas como a Marsala. Ou pode simplesmente
encantar em vinhos de colheita tardia, que apresentam uma cor dourada que
evolui para âmbar, com o passar do tempo.
Os vinhos elaborados da casta Grillo apresentam aromas de
frutas cítricas, maçãs, peras e amêndoas.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um amarelo palha tendendo para o dourado,
devido ao seu reluzente brilho, com algumas lágrimas finas e lentas,
denunciando o seu alto teor alcoólico para um vinho branco, 13%.
No nariz exalta a sua exuberância aromática com o
protagonismo das notas frutadas, frutas de polpa branca, frutas cítricas, onde
se destacam a laranja, pera, maçã-verde, cascas de limão, abacaxi, além de
toques florais e minerais dando a sensação de muito frescor e leveza.
Na boca é fresco e leve, mas que entrega, ao mesmo tempo,
alguma untuosidade, um discreto amanteigado que mostra certa personalidade ao
vinho, um pouco alcoólico sem agredir, com as notas frutadas em evidência, como
no aspecto olfativo, ótima acidez, que saliva, arrisco até taninos, discretos,
claro e um final longo e persistente.
É um prazer que não se cessa quando se degusta, pela primeira
vez, vinhos cujas castas ou regiões não conhecia. E degustar uma casta
pouquíssima conhecida em nossas terras e que sequer é popular em sua região,
considero esse momento especial. Um vinho simples, com uma proposta direta, mas
singular no seu momento em que envolve tantas gratas novidades. Tem 13% de teor
alcoólico.
Sobre a Vinícola Mandrarossa:
Criada em 1999 graças a um estudo que durou mais de 20 anos,
que levou à seleção das melhores combinações variedade/terroir: os habitats
ideais que permitem a cada casta expressar plenamente o seu potencial.
Depois de fundar a Marca, fruto de anos de estudos de
mapeamento de solos, a pesquisa continuou a ser o fio condutor dos vinhos
sicilianos inovadores. No território de Menfi, onde é criada a Mandrarossa, o
comportamento de outras variedades foi monitorado em 5 campos experimentais.
Intensas atividades de microvinificação foram realizadas levando à introdução
de novos vinhos na linha de produtos ao longo do tempo, alguns dos quais únicos
para o panorama siciliano.
A ambição de Mandrarossa é grande e, a partir de 2014, uma
equipa internacional de enólogos, agrônomos e especialistas em terroir, lançou
um importante estudo científico sobre os solos calcários, levando à produção de
dois vinhos Contrada.
Sobre a Vinícola Settesoli:
Cantine Settesoli é uma grande cooperativa vinícola siciliana
que exporta um grande volume de vinhos de valor sob as classificações Sicilia
DOC bem como Terre Siciliane IGT.
A empresa foi fundada em Menfi em 1958 por um grupo de
agricultores no momento em que eclodia uma crise econômica na região. Settesoli
agora tem mais de 2.000 viticultores membros, com vinhedos totalizando então
cerca de 6.500 hectares.
A empresa inicialmente vendia apenas a granel, mas começou a
engarrafar seus próprios vinhos em 1974. Settisoli começou a se concentrar em
variedades locais como Grecanico, Inzolia e Nero d’Avola, e em seguida, em
meados da década de 1980, começaram a plantar variedades importadas como
Cabernet Sauvignon, Syrah, Sauvignon Blanc e Chardonnay.
Settesoli é a linha principal de vinhos varietais, enquanto o
rótulo Mandrarossa é a camada superior. Inycon é, de fato, a marca exclusiva
para exportação da empresa, lançada em 1999.
Mais informações acesse:
https://www.cantinesettesoli.it/
Referências:
“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/
“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho
“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/
“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/854-grillo
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