quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Obikwa Chenin Blanc 2011

 

Sabe aquela sensação de que determinados vinhos, de determinados países, castas e regiões estão distantes de suas pretensões de degustação? Aqueles vinhos que, quando você vê em supermercados e lojas especializadas, pensa: Será que ainda o degustarei? Será que o terei em minha adega? Há alguns anos atrás, talvez uns dez anos atrás, lembro-me que os vinhos sul africanos, além de escassos no mercado brasileiro, eram caros, difícil para os enófilos assalariados. Pois é, caros leitores, apesar da distância dos vinhos da terra de Mandela e da pouca oferta, mantinha a chama da expectativa de tê-los em minha taça para meu deleite, para o ritual da degustação. Mas, pelo menos eu tinha o ávido interesse pela história vitícola desse país, a África do Sul. Lia sobre as suas principais castas e regiões, parecia ser uma espécie de ensaio para adentrar o universo dos vinhos do sul da África. Até que em uma das minhas incursões aos supermercados, olhando, com muito cuidado cada canto das gôndolas, avistei, como que por instinto, um vinho com um rótulo colorido, chamativo, mas muito descontraído e moderno vinho branco que decidi olhar com mais esmero, com mais cuidado. O Examinei como se fora o meu primeiro vinho e observei que se tratava da África do Sul! Seria a minha oportunidade de degustar um vinho desse país e logo um branco? Sim! O valor estava atraente, em torno de R$ 39,90! Não hesitei e comprei!

Mas a ansiedade não parou por aí. De posse do meu novo rótulo decidi degusta-lo o quanto antes, sem delongas e foi o escolhido para uma noite agradável e fresca. Acho que a noite harmonizaria plenamente com o vinho sul africano que escolhi. E a escolha não poderia ter sido melhor! Maravilhoso vinho! O vinho que degustei e gostei veio de uma região chamada Stellenbosch e se chama Obikwa e a casta era a inédita Chenin Blanc da safra 2011. E, como eu não me atenho a degustação, o que é fantástico, preciso falar um pouco sobre essa emblemática região da África do Sul e uma casta que se deu bem nas terras deste país. Então falemos um pouco de cada um deles.

Stellenbosch

Stellenbosch é a segunda colónia europeia mais antiga na África do Sul, após a Cidade do Cabo, e fica na Província do Cabo Ocidental. Está situada a cerca de 50 km da Cidade do Cabo, e no ano 2000 contava com cerca de 90 mil residentes com habitação formal, portanto sem contar estudantes e outras pessoas com habitação informal. Seu nome e existência se devem ao antigo governador do Cabo, Simon van der Stel, que estabeleceu um povoado à beira do rio Eerste em 1679, fazendo dela a segunda cidade mais antiga da África do Sul. Hoje, é uma linda cidade caracterizada por ruas ladeadas de carvalhos e casas brancas, muitas das quais de origem Cape Dutch (cabo-holandesa), e fica entre a suntuosa montanha Simonsberg e a mais modesta Papegaaiberg (“Montanha do Papagaio”). Logo que chegaram os primeiros colonos, particularmente os Huguenotes franceses, teve início a cultura da vinha nos vales férteis em torno de Stellenbosch, que rapidamente se tornou o centro da indústria vinícola sul-africana. Até há pouco tempo, a concentração de riqueza trazida por esta indústria fez com que a área tivesse um elevado coeficiente de Gini, embora esta situação esteja a mudar.

Stellenbosch

Stellenbosch possui uma rica história vinícola e é lar de alguns dos vinhos mais famosos do país. Além disso, a uva Cabernet Sauvignon é a variedade mais cultivada na região, utilizada muitas vezes ao lado da casta Merlot. Situada a apenas 40 quilômetros ao leste da Cidade do Cabo, Stellenbosch é separada pelas montanhas de Simonsberg e Paarl. Seus vinhedos cobrem as colinas da região sul-africana que vão desde Helderber, no sul, até as inclinações mais baixas de Simonsberg, no norte. Este terreno proporciona uma grande variação nos estilos de vinho produzidos, bem como microclimas ideais para o cultivo de inúmeras variedades encontradas entre as colinas e os vales de Stellenbosch. Os solos da região são compostos predominantemente de arenito e granito, onde é possível encontrar também um alto teor de argila, responsável por garantir uma melhor retenção da água. O clima de Stellenbosch é quente e seco, embora receba uma influência marítima do sul, proveniente de False Bay. A refrescante brisa que as vinhas recebem à tarde e a incidência solar pela manhã possibilita que as uvas concentrem melhor seus aromas e sabores, dando origem a vinhos com características únicas e peculiares. Em decorrência dessa variação de terroir, Stellenbosch é dividida em inúmeras áreas produtoras de vinho diferentes, entre elas, Bonghoek, Papegaaiberg, Devon Valley e Polkadraai Hills. Além disso, a região sul-africana é o segundo assentamento mais antigo do país, ficando atrás apenas de Cape Town. As principais variedades cultivadas em Stellenbosch são as uvas Cabernet Sauvignon, Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Shiraz. Além disso, a fama da região se deve também por ser o berço da casta Pinotage, resultado de um cruzamento das uvas Cinsaut e Pinot Noir em 1924.

Chenin Blanc

A Chenin Blanc é uma das muitas variedades de origem francesa, e como tal, honra o título de prata da casa: na parte central do Vale do Loire, essa uva dá origem a diversos tipos de vinho, dos secos e ácidos até os doces, alguns entre os melhores do mundo. A África do Sul, por sua semelhança com o Velho Mundo, também produz rótulos de características suaves, mas ao mesmo tempo bem elaborados. Lá, a variedade é chamada de Steen, e a técnica nacional de fermentação fria dá ao vinho toques de pêra, que aumentam à medida que o açúcar do vinho diminui e a bebida se torna mais seca. A acidez dessa uva favorece o processo de envelhecimento, principalmente nos rótulos mais secos, mas seus vinhos de sobremesa, feitos de frutos com a “podridão nobre”, também têm grande potencial para serem guardados. Os principais aromas da Chenin Blanc são maçã, pêra (principalmente oriundos da fermentação fria), marmelo, nozes, mel e cevada. Os vinhos brancos elaborados com a casta Chenin Blanc possuem corpo leve. Com crescente popularidade na África do Sul, a casta possui variedade de sabores, sendo parte da razão disso o estilo de vinificação por qual passa e o terroir presente na região de cultivo. Os aromas encontrados nos vinhos elaborados com a casta Chenin Blanc possuem bastante presença de frutas, como damasco, limão, tangerina e até mesmo maracujá. Em caso de vinhos amadurecidos em carvalho, os sabores de noz moscada e amêndoa são bastante evidenciados.

E agora o vinho!

Na taça tem um amarelo palha com lindos reflexos esverdeados, muito brilhantes, reluzentes.

No nariz traz uma explosão de notas frutadas, frutas brancas e cítricas que me remete a maçã, pera, abacaxi, limão, com muito frescor e jovialidade, apesar do tempo de safra, com quatro anos. Não podemos negligenciar outro destaque do vinho no aspecto olfativo, o toque floral intenso, lembrando flores brancas.

Na boca é fresco, jovial, informal e descompromissado, mas, ao mesmo tempo se revela um vinho expressivo, com bom volume de boca, sobretudo por conta da fruta, percebido no quesito olfativo e na intensa acidez. Tem um final longo, persistente e refrescante.

Essa foi a minha primeira e satisfatória experiência com meu primeiro vinho branco sul africano com a casta Chenin Blanc. Um vinho equilibrando, redondo e, mesmo que seja leve e fresco, tem personalidade marcante, mostrando toda a sua versatilidade e vocação gastronômica, onde harmoniza com pratos de entrada como frios, a refeições mais simples e carnes brancas, frituras, é o famoso vinho para se degustar à beira da piscina e por que não leva-lo à praia? Gostei tanto da Chenin Blanc sul africana que, quando surgiu a oportunidade, degustei outro vinho da casta da tradicional vinícola daquele país, a Nederburg, o 56 Hundred Chenin Blanc 2017. Tem 13% de teor alcoólico muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a Obikwa Winery:

A história dos vinhos Obikwa começou em 2002, em Stellenbosch, mas todos os vinhos produzidos eram exportados. Com o aumento da popularidade, os produtos passaram a ser vendidos também na África do Sul a partir de 2009. Obikwa é o nome de uma das mais antigas tribos do país, para a qual o avestruz simboliza força vital e fidelidade. Como forma de homenagear essa tribo e toda sua história, a vinícola leva a sério seu compromisso com a sustentabilidade ambiental e a qualidade do seu trabalho. Com a proposta de fazer ‘vinhos de real valor a ótimo preço’, esse produtor honra suas origens com rótulos surpreendentes. Obikwa é o primeiro vinho sul-africano a mudar para novas garrafas verdes ultraleves de 350g, ecologicamente corretas, que são 25% mais leves . Toda a gama OBiKWA apresenta um Selo de Sustentabilidade , emitido pelo South African Wine & Spirit Board.

Mais informações acesse:

https://www.distell.co.za/home/

Referências de pesquisa:

Sobre Stellenbosch:

Portal Vinci, em: https://www.vinci.com.br/c/regiao/stellenbosch#:~:text=Situada%20na%20%C3%A1rea%20costeira%20do,ao%20lado%20da%20casta%20Merlot.

Portal South Africa, em: https://www.southafrica.net/br/pt/travel/article/stellenbosch-uma-das-joias-da-regi%C3%A3o-vin%C3%ADcola

Wikipedia, em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Stellenbosch

Sobre a Chenin Blanc:

Blog Sonoma, em: https://blog.sonoma.com.br/uvas/chenin-blanc-a-prata-da-casa-francesa-de-vinhos/

Portal Mistral, em: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/chenin-blanc

Degustado em: 2015




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