sábado, 27 de maio de 2023

Monte da Vigia Colheita Selecionada 2020

 

Não é uma grande novidade dizer que os vinhos da gigante e emblemática Alentejo é a minha preferida em Portugal. Não é novidade dizer também que, quando tive os primeiros contatos com os rótulos portugueses, foi com o Alentejo que a cortina da vitivinicultura lusitana se abriu.

O carinho e a predileção não são apenas com a região, com os seus vinhos e tipicidade, com o seu terroir, mas criou-se um vínculo afetivo, até por ter sido os primeiros a inundar as minhas humildes taças.

Evidente que a participação de mercado dos alentejanos no Brasil é grande e a possibilidade de um primeiro contato com esses vinhos é grande, porém, a continuidade das degustações configura-se em predileção, em carinho para com a ensolarada região alentejana.

E o que dizer do caráter de regionalidade? O apelo regional dos seus vinhos é imenso e os produtores parecem fazer questão de evidenciar isso, principalmente pelo fato de ter seus rótulos exportados para todo o mundo. São vinhos locais que ganharam o mundo e não tenha dúvida de que uma condição acarreta na outra.

E já que mencionei o caráter da regionalidade nada mais propício do que falar do vinho que degustei e gostei que se chama Monte da Vigia Colheita Selecionada com o corte de Alicante Bouschet e Touriga Franca, castas típicas do Alentejo, da safra 2020.

E como sempre costumo fazer antes de falar do vinho, é trazer histórias e já que falei também do caráter regional, nada mais propício falar da essência do nome “Monte da Vigia”.

Em 2015, o Grupo Parras Wines, que atua em diversas regiões vitivinícolas de Portugal, incluindo, claro, o Alentejo, expandiu seus vinhedos ao adquirir 230 hectares circundantes à Barragem da Vigia. Lá, em solos de xisto e com disponibilidade de água (fator determinante no Alentejo que é uma região bem seca e quente), foi implementado um vinhedo exclusivamente com castas tintas clássicas do Alentejo.

Trata-se de um projeto da vinícola Herdade da Candeeira, uma das mais tradicionais e importante da Parras Wines. Foi daí que surgiu a linha de rótulos da “Monte da Vigia”. Na região “Monte” é o nome que se dá a uma propriedade rural e suas instalações, com a proposta de elaborar vinhos de castas antigas com uma reinterpretação moderna. E na sequência das histórias vamos agora com o Alentejo.

Alentejo

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas.

As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Alentejo

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura.

Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amareleja", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

História (Passado, presente e futuro)

A história do vinho e da vinha no território que é hoje o Alentejo exige uma narrativa longa, com uma presença continuada no tempo e no espaço, uma gesta ininterrupta e profícua que poucos associam ao Alentejo. Uma história que decorreu imersa em enredos tumultuosos, dividida entre períodos de bonança e prosperidade, entrecortados por épocas de cataclismos e atribulações, numa flutuação permanente de vontades, com longos períodos de trevas seguidos por breves ciclos iluministas e vanguardistas.

É uma história faustosa e duradoura, como o comprovam os indícios arqueológicos presentes por todo o Alentejo, testemunhas silenciosas de um passado já distante, evidências materiais da presença ininterrupta da cultura do vinho e da vinha na paisagem tranquila alentejana. Infelizmente, por ora ainda não foi possível determinar com acuidade histórica quando e quem introduziu a cultura da videira no Alentejo.

Mas ainda assim pode-se afirmar que a história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente há 3.000 anos.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.

Os gregos, cuja presença é denunciada pelas centenas de ânforas catalogadas nos achados arqueológicos do sul de Portugal, sucederam aos fenícios no comércio e exploração dos vinhos do Alentejo. Por esta época, a cultura da vinha no Alentejo, apesar de incipiente, contava já com quase dois séculos de história.

A persistência de uma cultura da vinha e do vinho, desde os tempos da antiguidade clássica, permite presumir, com elevado grau de convicção, que as primeiras variedades introduzidas no território nacional terão arribado a Portugal pelo Alentejo, a partir das variedades mediterrânicas.

É mesmo provável, se atendermos os registros históricos existentes, que a produção alentejana tenha proporcionado a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma, a primeira aventura de internacionalização de vinhos portugueses!

A influência romana foi tão peremptória para o desenvolvimento da viticultura alentejana que ainda hoje, dois mil anos após a anexação do território, as marcas da civilização romana continuam a estar patentes nas tarefas do dia-a-dia, visíveis através da utilização de ferramentas do quotidiano, como o Podão, instrumento utilizado intensivamente até a poucos anos.

Mas foi no aproveitamento das talhas de barro, prática que os romanos divulgaram e vulgarizaram no Alentejo, que a influência romana deixou as suas marcas mais profundas e até hoje é difundida, dada a devida proporção, por alguns abnegados produtores, e claro, a sua população.

Com a emergência do cristianismo, credo disseminado quase instantaneamente por todo o império romano, e face à obrigatoriedade da presença do vinho na celebração eucarística da nova religião, abriram-se novos mercados e novas apetências para o vinho. A fé católica, ainda que indiretamente, afirmou-se como um fator de desenvolvimento e afirmação da vinha no Alentejo, estimulando o cultivo da videira na região.

Com tantas influências culturais o Alentejo sofreu com algumas crises e a primeira se deu exatamente entre os cristãos e muçulmanos. Embora os mulçumanos tenham se mostrando tolerante com os costumes dos povos conquistados, consentindo na manutenção da cultura da vinha e do vinho, sujeitando-a a duros impostos, mas autorizando a sua subsistência, logo nasceu uma intolerância crescente para com os cristãos e os seus hábitos, manifesta no cumprimento rigoroso e vigoroso das leis do Corão.

Inevitavelmente, a cultura do vinho foi sendo progressivamente negada e a vinha gradualmente abandonada, reprimida pelas autoridades zelosas das regiões ocupadas. Com a invasão muçulmana a vinha sofreu o primeiro revés sério no Alentejo. A longa reconquista cristã da península ibérica, riscada de Norte para Sul, geradora de incertezas e inseguranças, com escaramuças permanentes entre cristãos e muçulmanos, sem definição de fronteiras estáveis, maltratou ainda mais a cultura da vinha, uma espécie agrícola perene que, por forçar à fixação das populações, foi sendo progressivamente abandonada.

Foi só após a fundação do reino lusitano, concorrendo através do poder real e das novas ordens religiosas, que a cultura do vinho regressou com determinação ao Alentejo. Poucos séculos mais tarde, já em pleno século XVI, a vinha florescia como nunca no Alentejo, dando corpo aos ilustres e aclamados vinhos de Évora, aos vinhos de Peramanca, bem como aos brancos de Beja e aos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades.

Em meados do século XVII, eram os vinhos do Alentejo, a par da Beira e da Estremadura, que gozavam de maior fama e prestígio em Portugal. Desventuradamente foi sol de pouca dura! A crise provocada pela guerra da independência, logo secundada por nova crise despertada pela criação da Real Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída pelo Marquês de Pombal como justificação para a defesa dos vinhos do Douro em detrimento das restantes regiões, com arranques coercivos de vinhas em muitas regiões, deu matéria para a segunda grande crise do vinho alentejano, mergulhando as vinhas alentejanas no obscurantismo.

A crise foi prolongada. Foi preciso esperar até meados do século XIX para assistir à recuperação da vinha no Alentejo, com a campanha de desbravamento da charneca e a fixação à terra de novas gerações de agricultores. Nasceu então mais uma época dourada para os vinhos do Alentejo, período que infelizmente viria a revelar ser de curta duração. O entusiasmo despertou quando se soube que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, tendo sido igualmente apreciados e valorizados vinhos de Évora, Borba, Redondo e Reguengos.

Pouco anos mais tarde, decorria o ano de 1895, edificou-se a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, pelas mãos avisadas de António Isidoro de Sousa, pioneiro do movimento associativo em Portugal. Desafortunadamente, este período de glória viria a terminar abruptamente. Duas décadas passadas, já na primeira metade do século XX, sobreveio um conjunto de acontecimentos políticos, sociais e econômicos que contribuíram decidida e decisivamente para a degradação da viticultura alentejana.

António Isidoro de Sousa

Ao embate da filoxera, somou-se a primeira das duas grandes guerras mundiais, as crises econômicas sucessivas, e, sobretudo, a campanha cerealífera do estado novo que suspendeu e reprimiu a vinha no Alentejo, apadrinhando a cultura de trigo na região que viria a apelidar como "celeiro de Portugal". A vinha foi sendo sucessivamente desterrada para as bordaduras dos campos, para os terrenos marginais em redor de montes, aldeias e vilas, para as pequenas courelas em redor das povoações, reduzindo o vinho à condição de produção doméstica para autoconsumo. Em poucos anos o vinho no Alentejo, salvo raras exceções, desapareceu enquanto empreendimento empresarial.

Foi sob o patrocínio solene da Junta Nacional do Vinho, já no final da década de 1940, que a viticultura alentejana ganhou a primeira oportunidade de recobro, ainda que de forma titubeante.

O movimento associativo foi preponderante para o ressurgimento da atividade vitícola no Alentejo. Em 1970, sob os auspícios da Comissão de Planeamento da Região Sul, foi anunciado o estudo "Potencialidades das sub-regiões alentejanas", coadjuvado dois anos mais tarde pelo estudo "Caracterização dos vinhos das cooperativas do Alentejo. Contribuição para o seu estudo", do professor Francisco Colaço do Rosário, ensaios acadêmicos determinantes para o reconhecimento regional e nacional do potencial do Alentejo. Associando várias instituições ligadas ao setor e tirando proveito das sinergias criadas, o Alentejo conseguiu estabelecer um espírito de cooperação e entreajuda entre os diversos agentes.

Com a criação do PROVA (Projeto de Viticultura do Alentejo), em 1977, foram criadas as condições técnicas para a implementação de um estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi arquitetada para promover a cultura da vinha nos diferentes terroirs do Alentejo.

Em 1988 regulamentaram-se as primeiras denominações de origem alentejanas, fundamento para o estabelecimento, em 1989, da CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), garante da certificação e regulamentação dos vinhos do Alentejo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um lindo e envolvente rubi intenso, escuro, fechado, com algum brilho e halos violáceos, com alguma viscosidade. Tem lágrimas finas e lentas, com profusão.

No nariz um pouco tímido, porém, ainda assim, se percebeu, ao abri-lo as notas de frutas pretas bem maduras, com destaque para ameixa, amora, groselha e cereja, com a proeminência de toques de especiarias, algo de herbáceo, diria e um amadeirado com alguma evidência, graças aos seis meses de passagem em barricas de carvalho, entregando um discreto tostado ao fundo, carvalho e talvez baunilha.

Na boca é seco, estruturado, corpo médio, com ótimo volume de boca, o álcool evidente certamente colabora para a sua untuosidade em boca. As frutas pretas maduras também protagonizam, como no aspecto olfativo, com taninos marcados, presentes e com alguma adstringência, talvez pela sua jovialidade, com acidez viva, salivante e um final cheio, gordo, amadeirado e persistente.

A Herdade da Candeeira é uma das mais antigas propriedades da zona da Serra d’Ossa, no Concelho de Redondo, no Alentejo. São terras que têm larga tradição na produção de uvas e de vinho, como prova a parcela de vinha mais antiga da vinícola, plantada em 1938. O ano de 2020 foi de produção elevada no Alentejo. A vinha da Vigia viveu um inverno seco e um verão com calor intenso, fazendo desse Monte da Vigia Colheita Selecionada um vinho aromático, expressivo e marcante, porém muito fazer de degustar pela sua elegância e equilíbrio. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta do Gradil (Parras Wines):

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras.

Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.

Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.parras.wine/pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Vinhos do Alentejo”: https://www.vinhosdoalentejo.pt/pt/vinhos/historia-dos-vinhos/

 

 

 

 

 












sábado, 20 de maio de 2023

Fabian Reserva Carménère 2018

 

Quando falamos da casta Carménère lembramos imediatamente do Chile e seus terroirs. A cepa ajudou a impulsionar a vitivinicultura daquele país e hoje ostenta uma posição de destaque entre os países do Novo Mundo do vinho.

Apesar de a Carménère ter essa representatividade penso que ainda, sobretudo no Brasil, exista uma rejeição, onde alguns dizem que é um clone mal acabado da Merlot, ou uma casta inexpressiva e pouco gastronômica.

A história de como a cepa foi “descoberta” no Chile foi meio inusitada e tem uma relação com a Merlot realmente. Diz a história de que a Carménère estava, de forma intrusa, entre os vinhedos de Merlot e todos achavam que se tratava de Merlot. Após estudos científicos comprovou-se que havia Carménère entre os vinhedos de Merlot, isso em 1994.

Mas eu não queria falar da Carménère que ganhou sucesso no Chile, mas em rótulos desta casta que estão sendo produzidas no Brasil, acredite se quiser! Alguns produtores brasileiros estão se aventurando na concepção desta em nossos terroirs.

E eu tive o privilégio e a alegria de ter degustado um rótulo vinificado na região tradicional de São Roque, interior de São Paulo, da Adega Terra do Vinho e se chama Genuíno da safra 2018. As uvas vieram da Serra Gaúcha, outra emblemática região e foi vinificada em São Roque. Um momento único de degustação e que maravilhosamente entregou algumas das características marcantes da Carménère: frutas maduras, couro, carpete e um delicioso toque herbáceo.

E hoje a história se repetirá, com uma nova experiência com a Carménère brasileira, concebida na cidade de Nova Pádua, que fica na Serra Gaúcha, de uma vinícola, ainda pouco conhecida, mas que vem ganhando alguma projeção nos últimos anos, falo da Vinícola Fabian.

O vinho que degustei e gostei veio, portanto, da Serra Gaúcha, de Nova Pádua e se chama Fabian, um 100% Carménère, da safra 2018. Não preciso dizer da minha ansiedade, diria excitação para degustar um Carménère brasileiro! Jamais esperaria degustar um brasileiro, é no mínimo inusitado. Mas antes de falar deste rótulo que me surpreendeu por inteiro, não podemos deixar de falar das regiões, da Serra Gaúcha e Nova Pádua e da emblemática Carménère. Lá vamos nós!

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura.

Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

Nova Pádua

A colonização da região iniciou-se em 1886, com a chegada de imigrantes italianos do Vêneto, na Itália. No início de 1886, sete famílias do Vêneto chegaram ao Rio Grande do Sul para habitar a 16ª Légua do Campo dos Bugres, hoje Nova Pádua. Eram as famílias de Francisco Mantovani, comerciante; Carlos Mantovani, seu irmão e professor; João Zanini, ferreiro; Pedro Sartor, Francisco Menegat, Pascoal Pauletti e Pedro Menegat, estes agricultores. O nome do município foi dado em homenagem a cidade italiana de Pádua.

Já em 1890, todas as 307 colônias estavam tomadas por imigrantes que fugiam da miséria que assolava a pátria-mãe, a Itália. Todos provinham das várias cidades da província do Vêneto, e vinham para buscar o seu desenvolvimento, vinham para vencer. Em 2 de julho de 1888 tiveram a primeira missa, rezada pelo Padre Alexandre Pelegrini. Em 7 de junho de 1890 foi benta a imagem de Santo Antônio de Nova Pádua e, desde então, a 16ª Légua tomou o nome de Nova Pádua.

Em 27 de dezembro de 1892, Nova Pádua recebeu seu primeiro padre na pessoa do padre Giuseppe Candido Dalmazzi. Devido ao seu rápido desenvolvimento, Nova Pádua foi promovida a 4º Distrito de Caxias do Sul, no dia 13 de abril de 1904, pertencendo a esse município até 1926, quando foi incorporada ao novo município de Nova Trento, em Flores da Cunha.

Em 10 de novembro de 1991, a população de Nova Pádua decidiu se emancipar através de plebiscito. Sua criação como município foi decretada em 20 de março de 1992, pelo então governador Alceu Collares.

Localizada na Serra Gaúcha, Nova Pádua se orgulha de manter seus 2.557 habitantes (população estimada pelo IBGE em 2015) em harmonia com o trabalho e a natureza, marcas fortes do município. Com clima definido, as quatro estações do ano proporcionam farta produção agrícola, o que eleva a cidade como referência de hortifrutigranjeiros.

Nova Pádua

Sua economia é baseada na agricultura familiar, com destaque para o cultivo da uva, pêssego, maçã, cebola, alho e a criação de aves. A força do trabalho presente nas pequenas e grandes propriedades rurais gera uma atmosfera em que se visualiza crescimento e desenvolvimento.

O setor industrial ganha representatividade por meio das 27 vinícolas, que juntas produzem mais de 5,5 milhões de litros de vinho por ano. Aliada a isso tem a indústria moveleira, o comércio e as cooperativas, que empregam boa parte da mão-de-obra especializada.

Carménère

Originária de Bordeaux, na França, a Carménère foi uma das castas mais cultivadas até o começo do século XIX, principalmente nas regiões de Graves e Médoc. Contudo, na década de 1860, ela foi praticamente dizimada devido ao ataque do inseto chamado Filoxera, uma praga que devastou grande parte dos vinhedos da França e de outros países do continente europeu.

Filoxera

Durante muitos anos, acreditou-se que esta uva havia sido extinta e, só recentemente, nos anos 1990, reapareceu no Chile. Provavelmente a casta foi trazida para a América do Sul por imigrantes europeus, junto com outras variedades francesas, durante o século 19.

Em 1994, nos vales vinícolas chilenos, o enólogo francês Jean-Michel Boursiquot notou que algumas cepas de Merlot demoravam a atingir a maturidade e passou a estudá-las. Os resultados desses estudos identificaram que se tratava da “uva perdida de Bordeaux”, a Carménère, plantada no Chile como se fosse a uva Merlot.

Dessa época em diante, a casta passou a reinar em terras chilenas, sendo considerada como um verdadeiro presente da França para o país sul-americano. Apesar de não ser a uva tinta mais cultivada no país, ela é muito valorizada por ser quase uma “exclusividade” para o Chile.

Esta casta sobreviveu graças ao isolamento geográfico chileno. O país é cercado pela Cordilheira dos Andes a leste, do Pacífico a oeste, das areias do deserto de Atacama ao norte e das terras ermas da Antártica ao sul. As vinhas crescem com segurança, livres de pragas e de poluição. O Chile, por exemplo, nunca foi atacado pela praga Filoxera, responsável por dizimar a uva na França.

A origem do nome “Carménère” está relacionada à cor de sua pele, que exibe tonalidade forte de carmim, palavra francesa que, em português, significa um vermelho intenso. Essa coloração característica da uva é facilmente transferida para os vinhos elaborados com ela.

Os vinhos de Carménère apresentam uma combinação de aromas de frutas pretas e vermelhas maduras, terra molhada e pimenta preta. Em boca são suaves, com pouco tanino, baixa acidez e muito álcool. Veja outros aspectos do vinho em nossa seção de Análise Sensorial.

A Carménère precisa de certa atenção. Se não colhida na época exata, origina vinhos ásperos, com pouca expressão frutada e um herbáceo excessivo. A pirazina, substância existente na casca da uva, não completa seu processo químico e deixa aroma de pimentão no vinho. Isso também acontece muito com a Cabernet Sauvignon. 

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso, escuro e fechado, com alguma viscosidade que mancha o bojo, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz não apresenta uma exuberância aromática, mas se mostra complexo, com uma bela combinação de frutas vermelhas e pretas bem maduras, em compota, com notas amadeiradas bem delicadas, graças aos 12 meses em barricas de carvalho, com toques de baunilha, leve tostado e chocolate. Traz especiarias, herbáceo, pimentão discreto, além de couro, tabaco, carpete e algo de terra molhada.

Na boca é elegante, macio, saboroso, o protagonismo das frutas, percebidos no olfato, entregam no paladar, com a madeira também evidente, mas muito discreta. Traz chocolate, tostado, baunilha, taninos amáveis, domados, com acidez baixa, típico da cepa, mostrando uma incrível qualidade no que tange a sua tipicidade. Tem um final de média persistência, de retrogosto frutado.

Com cinco anos de garrafa, está no ápice de sua condição: um vinho frutado, frutas maduras em compota, acidez saborosa, salivante e vivaz, com taninos presentes, mas macios e domados. Assim é o vinho: equilibrado, pois revela elegância, mas com austeridade e personalidade. O Brasil ainda está longe da produção da Carménère, mas não tenho dúvidas que a Serra Gaúcha se revelará forte na produção da casta em seu terroir. Espero que possa degustar um novo Carménère da Serra Gaúcha, do Brasil. Tem 13,1% de teor alcoólico.

Sobre a Vinhos Fabian:

A família imigrou da Itália para o Brasil no final do século dezenove. A tradição vitivinícola herdada dos ancestrais foi favorecida pelo clima encontrado na região dos Vinhos dos Altos Montes, no município de Nova Pádua, na Serra Gaúcha.

A localização entre colinas de 780m de altitude proporciona amplitude térmica, fator relacionado a uma boa formação de componentes que determinam a qualidade do vinho. A paixão pela produção de uvas e vinhos, fez com que a família elaborasse no ano de 1985, a primeira safra da vinícola.

A vinícola investe em tanques de aço inox, barricas de carvalho e equipamentos italianos. Aplica uma enologia moderna com o objetivo de extrair ao máximo as virtudes de cada variedade de uva a vinificar. A ascendência francesa traz consigo o símbolo da flor-de-lis que caracteriza a marca Fabian.

Mais informações acesse:

https://vinhosfabian.com.br/index.html

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Prefeitura de Nova Pádua”: https://www.novapadua.rs.gov.br/secao.php?pagina=1

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/castas-uva-vitis-vinifera/carmenere/

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/uva-carmenere-conheca-sobre-os-vinhos/







sexta-feira, 19 de maio de 2023

Poggio Al Casone Chianti Superiore 2019

 

Definitivamente a Itália é o país dos vinhos clássicos! Não há nenhum outro centro vitivinícola que produz, em larga escala e com tanta qualidade, vinhos do naipe de um Barolo, Brunello di Montalcino, Amarone, Ripasso e tantos outros. 

Vinhos longevos, vinhos de marcante personalidade, vinhos potentes, poderosos e de plenitude jamais vista, jamais sentida em taça. Incluiria entre esses nomes, porém fora da Itália, Bordeaux.

Vinhos que não precisam de demasiadas apresentações, tanto que muitos deles carregam o nome de sua região, típico do Velho Mundo. Não há a apresentação das suas clássicas castas, não há detalhes, não há quase nada, apenas as regiões ostentando em letras garrafais o seu nome, a sua tradição.

Porém atualmente, atendendo aos anseios do mercado consumidor, alguns produtores dessas regiões divulguem nos seus rótulos ou em seus sites e redes sociais as castas que compões seus clássicos, entre outras informações que nunca foram, em seus rótulos, divulgados.

Mas diante desse exército de clássicos que a Itália tem em seu front há outro, igualmente importante, que até hoje não goza de tanta reputação quanto os Brunellos e Barolos da vida. Falo do Chianti.

Percebo como difícil definir o motivo pelo qual exista essa rejeição, mas acredito que seja pelo fato, entre outras definições, da diversidade de valores de várias “versões” que temos do Chianti, que vai no simples rótulo de entrada aos “Riservas”, “Superiore” e o “Gran Selezione”.

Isso gera certo questionamento quanto a qualidade dos rótulos que ostentam “Chianti”. Mas temos que entender que as propostas, as características existem, afinal é muito bom, muito relevante ter Chiantis para todos os bolsos. Não temos que nos equivocar e esquecer que esses questionamentos vêm desde os primórdios da bebida.

Eu me recordo, contudo, que, como o Barolo e Brunello di Montalcino, por exemplo, jamais teria acesso a um rótulo de Chianti por ser também um clássico italiano, sequer entendia dessa escala de propostas desse tipo de vinho, nos mais variados preços, pois criei uma espécie de barreira, colocando um empecilho para tê-los em minha adega.

Até quando tive o prazer de comprar o meu primeiro Chianti, o Castellani Chianti Riserva 2015. E o comprei a um valor incrivelmente baixo para um “Riserva”, cerca dos R$ 45,00! Não podia hesitar, o comprei. E ficou por alguns anos na adega, precisava degusta-lo em um momento importante, especial. E que vinho espetacular! A Sangiovese em seu estado mais genuíno, não é à toa que é a mais emblemática cepa da Itália.

Mas eu não queria ficar apenas nesse rótulo e busquei outras alternativas que pudesse aliar preço e qualidade e descobri outro também da Castellani, mas que ostenta outro termo, o “Superiore”. Embora essas nomenclaturas tragam certa confusão, principalmente entre os iniciantes no universo do vinho, as diferenças entre “Riserva”, “Superiore” e “Gran Selezione”, a diferença se dá basicamente no tempo em que os vinhos passam por barricas de carvalho. No caso do “Superiore”, indica que o vinho passou doze meses por madeira e apresenta graduação alcoólica maior que o típico do Chianti, sendo vinhos mais encorpados, com acidez mais macia.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região italiana da Toscana e se chama Poggio al Casone, um Chianti Superiore, composto pelas castas Sangiovese (90%) e Cannaiolo (10%) da safra 2019. Para não perder o costume, vamos de história, vamos de Chianti.

Chianti, Toscana

Desde a queda de Roma até o Risorgimento, por volta de 1850, o esfacelamento dos estados italianos em pequenas repúblicas e reinos ditou a vida de sua população e também o tom de seus vinhos. Foi nesse longo período conturbado que nasceu um dos vinhos mais famosos da Itália, o Chianti.

Geograficamente falando, Chianti é uma terra montanhosa que se estende por cerca de 60 km a 70 km na sua extensão, cujo ponto mais alto é Monte San Michele, a 893 metros. Existem 5 rios que cruzam e definem a área com: os rios Pesa, Greve, Ombrone, Staggia e Arbia.

Chianti

O começo da história remonta ao século XIII, quando os Médici dominavam a cidade de Firenze (Florença), na Toscana, e lá criaram uma das repúblicas mais influentes de seu tempo – basta lembrar que eles foram patronos das artes que culminaram com o Renascimento. Em meados do século XIII, os fiorentinos eram uma potência e viviam guerreando com vizinhos.

Para garantir uma boa defesa de suas terras, eles as dividiram em ligas militares de cidades. Uma delas, criada em 1384, foi a Lega del Chianti, que compreendia as vilas de Radda, Gaiole e Castellina (até hoje o centro da região que se denomina Chianti Classico), e durou até 1774, atuando ativamente durante as batalhas entre Firenze e Siena.

Aliás, a principal lenda em torno do vinho de Chianti vem dessas longas disputas medievais entre fiorentinos e sieneses. Acredita-se que, um dia, cansados de guerrear, os governantes das duas cidades decidiram por um outro tipo de disputa para estipular sob qual bandeira ficaria a região. Assim, concordaram que dois cavaleiros sairiam ao cantar do primeiro galo da madrugada, um partindo de Firenze em direção à Siena e o outro no sentido contrário. Onde eles se encontrassem, seria demarcado o limite dos domínios.

Assim nasceu a lenda do Gallo Nero, o galo negro que até hoje serve de emblema dos vinhos de Chianti Classico. Diz-se que os sieneses escolheram um belo e forte galo branco para dar o sinal ao seu cavaleiro. Já os fiorentinos teriam escolhido um galo negro raquítico, que ficou confinado sem comida. Por isso, o galo de Firenze teria acordado mais cedo, ainda durante a noite, faminto, e começado a cantar, fazendo com que seu cavaleiro tivesse grande vantagem sobre o rival de Siena, cujo galo só acordaria para cantar já nos primeiros raios de sol da manhã.

Assim, dos pouco mais de 60 quilômetros que separam as duas cidades, o cavaleiro sienês conseguiu percorrer somente cerca de 12 antes de encontrar o oponente nas proximidades de Fonterutoli, pouco ao sul de Castellina.

Em 1716, Cosimo III de Médici delimitou a região para a produção dos vinhos de Chianti. Lendas à parte, a verdade é que a demarcação da área de Chianti como pertencente à Firenze ocorreu em um tratado de 1203. Na época, os fiorentinos eram leais ao Papa e Siena, ao Sacro-Império Romano.

Primeira Denominação de Origem

As primeiras documentações que tratam do vinho de Chianti remontam a 1398 e o descrevem como um vinho branco vendido pelo comerciante Francesco di Marco Datini. No entanto, o nome do vinho ficaria definitivamente gravado na história a partir de 1716, quando Cosimo III de Médici, o penúltimo de sua família a ser Grão-Duque da Toscana, apontou que as três cidades da Lega del Chianti, mais uma parte da vila de Greve, estavam aptas a produzir o vinho de nome Chianti.

Francesco di Marco Datini

Esta teria sido a primeira demarcação territorial, ou seja, a primeira Denominação de Origem, conhecida no mundo (os portugueses, porém, alegam que a primeira DO teria sido instituída pelo Marquês de Pombal em 1756, quando estabeleceu os marcos pombalinos na região que produzia o Vinho do Porto).

Apesar de o reinado de Cosimo III ter sido desastroso para a região, que se viu diante de uma enorme crise econômica e social, a demarcação durou até 1932, quando a área foi gradualmente expandida (a última expansão seria em 1967).

No entanto, mesmo demarcado, sabe-se que o vinho de Chianti obedecia a poucas regras. Historiadores apontam que, na época, uma das principais uvas usadas na produção do vinho era a Canaiolo, a mais cultivada na região, juntamente com a Sangiovese, Mammolo e Marzemino. Seria somente durante o Risorgimento italiano no século XIX, que o vinho tomaria uma forma, muito próxima do que tem hoje.

O grande nome por trás do estabelecimento de Chianti e também um dos principais responsáveis pela unificação italiana em 1961 foi o barão Bettino Ricasoli, cuja origem familiar remonta aos tempos de Carlos Magno. O “Barão de Ferro” (alcunha ganha por sua intransigência moral e econômica) foi um dos grandes pilares da unificação de seu país com sua atuação política no Ducado da Toscana. Não à toa, ele chegou a ser primeiro ministro italiano quando o rei Vitório Emanuele assumiu o poder.

Bettino Ricasoli

Além de ser a criadora do Chianti, a família Ricasoli produz vinhos desde o ano 1141, quando adquiriu o legendário Castello de Brolio. Essa longa história faz da Barone Ricasoli a vinícola mais antiga da Itália e a segunda mais antiga do mundo. O Castello de Brolio estava em ruínas na época.

Determinado a dar novos rumos à produção local, o Barão de Ricasoli viajou para a França e a Alemanha, onde aprendeu novas maneiras de cultivo, além de importar variedades e experimentar maquinários. Assim, em 1872, ele teria criado a “fórmula” do Chianti e assim escreveu:

“Os resultados obtidos já nas primeiras experiências confirmam que o vinho recebe do Sangioveto a principal dose de seu perfume (o que eu particularmente procuro) e um certo vigor de sensação; do Canajuolo, a amabilidade que tempera a dureza do primeiro, sem tolher em nada seu perfume; a Malvagia, a qual se pode colocar menos nos vinhos destinados a envelhecer, tende a diluir o produto das duas primeiras uvas, não acrescenta sabor, e o torna mais leve e mais prontamente usável na mesa cotidiana”.

A “fórmula do Chianti” escrita na famosa carta endereçada ao professor Cesare Studiati da Universidade de Pisa, na qual exaltava os aromas e a estrutura da Sangiovese, a maciez da Canaiolo e a tendência da Malvasia a diluir o vinho, fez com que o Barão sugerisse que esta uva não fizesse parte do corte dos vinhos de guarda da sua região. A receita do Barão era 70% Sangiovese, 15% Canaiolo e 15% Malvasia Bianca. Em 1967, sua “fórmula” foi ratificada pela regulamentação da DOC (com acréscimo da Trebbiano).

Renascimento

O Chianti então surgiu como uma versão do “clarete” francês – sem variedades internacionais, contudo. Foi durante o Risorgimento que ele alcançou a glória, quando Firenze se tornou capital da Itália e Ricasoli primeiro ministro. No entanto, apesar dos esforços do barão, com o tempo, a fama do vinho tornou-se ruim, muito devido às condições econômicas precárias da região, especialmente depois das pragas que chegaram à viticultura em meados do século XIX e também muito devido ao contrato de uso das terras entre agricultores e os donos das propriedades.

A mezzadria (sistema feudal em que os camponeses dividiam a sua colheita com os senhores de terras) e a agricultura promiscua (diversas culturas em um mesmo terreno) perdurou na Toscana até praticamente os anos 1970 e atrasou o desenvolvimento do vinho na região – já que a colheita ia ser dividida, era melhor, para o agricultor, plantar mais quantidade do que pensar em qualidade.

Clante

A origem do nome Chianti é incerta. Para alguns, ela vem de clangor, que nada mais é do que o som dos instrumentos metálicos, mais especificamente das trombetas. No entanto, também pode designar o atrito entre objetos de metal, como espadas. Daí, acredita-se que o nome possa ter surgido devido a esse barulho das trombetas de caça ou então das batalhas. Outra possibilidade, muito mais aceita, é o termo ter vindo da palavra etrusca clante, que significaria água (abundante na região) ou então seria apenas um nome de família muito comum na área.

O movimento dos vinhos “Super Toscanos” fez com que Chianti aprimorasse suas normas. Nos anos 1960, alguns produtores estavam desapontados com os rumos que Chianti havia tomado. Apesar de a DOC ter finalmente estabelecido uma regra para seus vinhos em 1967 (e talvez por isso também), muitos passaram a experimentar com novas variedades, especialmente as francesas, no intuito de produzir um vinho melhor e mais caro (desde o fim da II Guerra Mundial, Chianti era considerado um vinho simples e barato).

Assim, entre o final dos anos 1960 e começo dos 1970, duas poderosas famílias decidiram fazer vinhos mesclando Sangiovese com variedades francesas. Tanto o Marquês Mario Incisa della Rochetta quanto seu sobrinho, Piero Antinori, lançaram respectivamente Sassicaia e Tignanello, os primeiros Super Toscanos de que se tem notícia, vinhos que mudariam para sempre o cenário na região.

O fenômeno houve novas mudanças nas regras, com a introdução de variedades francesas no blend de Chianti. Dez anos depois, as variedades brancas foram proibidas em Chianti Classico, que já passava a aceitar Sangiovese “in pureza”, ou seja, 100%. Hoje, além do Classico, Chianti possui outras sete sub-regiões, cada uma com regras específicas. As mudanças de regras foram constantes nos últimos 40 anos. As últimas modificações em Chianti Classico, por exemplo, ocorreram em 2013, quando, entre outras coisas, criou-se uma nova classificação, com um nível qualitativo acima dos Riserva: os Gran Selezione.

Os diferentes Chianti

O simples termo “Chianti” diz muito pouco sobre o vinho. Muito resumidamente, indica que se trata de um tinto italiano, produzido na região da Toscana, em uma área que se estende entre as cidades de Florença e Siena, a partir de, principalmente, Sangiovese. Ainda que Chianti seja uma Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG) e, portanto, existam regulamentações tratando de sua produção, a variedade é grande.

Além da “denominação genérica” Chianti DOCG, há outras denominações específicas que levam em consideração a proveniência geográfica das uvas: Chianti Classico (a mais antiga, famosa e tradicional), Chianti Colli Aretini, Chianti Colli Fiorentini, Chianti Colline Pisane, Chianti Colli Senesi, Chianti Montalbano, Chianti Montespertoli e Chianti Rufina. Também, os termos Chianti Superiore (não permitido para Chianti Classico) e Chianti Riserva servem para nomear vinhos que tenham atendido períodos de envelhecimento determinados, dentre outros fatores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo rubi intenso, brilhante, reluzente, com reflexos violáceos tendendo para o grená, com lágrimas finas, lentas e em média intensidade.

No nariz traz a exuberância das frutas vermelhas maduras, bem frescas com destaque para a groselha, cereja, framboesa e morango, com as notas amadeiradas que desponta de forma bem discreta, mas que entrega baunilha e um agradável defumado e mentolado, com toques de tabaco, couro e especiarias, algo de pimenta preta, diria. A rusticidade da Sangiovese se mostra.

Na boca tem corpo médio, tem vivacidade, personalidade, mas traz elegância, maciez e muito equilíbrio, pois traz o protagonismo das notas frutadas, como no aspecto olfativo, em total convergência com a madeira, graças aos doze meses em barricas de carvalho. Tem taninos doces e domados, com acidez vibrante, abundante que faz salivar a boca a cada degustação. Tem um final guloso, com média persistência.

Tradição, história, mesmo que ao custo de guerras, sangue, mortes, disputas pelo poder político e econômico. As redenções pavimentadas por todos esses eventos e intenções. O vinho foi e é um veículo de tais manifestações da sociedade, independente do contexto e cronologia. O que nos resta, no entanto, é permitir contemplar e entender esses momentos históricos com o olhar crítico, mas separando-os do prazer, do deleite em degustar um bom e velho vinho, porque é um elixir ao corpo e a alma, sobretudo daqueles que o ama. Toscana e a sua região mais importante em todos os aspectos, é sinônimo de renome no mundo todo por causa de Chianti e de suas grandes e espetaculares histórias que, de uma forma ou de outra, corroboraram na sua importância e qualidade que até hoje busca a excelência. O Poggio al Casone Chianti Superiore foi produzido nas vinhas que circundam a casa de Pierlugi Castellani e é um vinho encorpado, mas elegante, dada a sua complexidade atribuída ao “Sangue de Júpiter”, chancelando Chianti como um dos mais emblemáticos vinhos da história. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho.

A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos. Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli.

Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti.

A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. Durante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana.

Mais informações acesse:

https://www.castelwine.com/

Referências:

“Blog História com Gosto”: https://historiacomgosto.blogspot.com/2019/11/a-regiao-do-chianti-classico-toscana.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/todos-os-chianti_10196.html

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/chianti/#:~:text=Chianti%20%C3%A9%20um%20tipo%20de,Chianti%20Cl%C3%A1ssico%20a%20mais%20famosa












sábado, 13 de maio de 2023

Carlos Montes Tannat 2014

 

Não há como negar da representatividade e importância da Tannat uruguaia para o mundo! A casta francesa saiu de sua terra natal e encontrei no terroir do Uruguai o solo ideal para brilhar!

Aos que apreciam um bom Tannat robusto, encorpado, intenso e complexo, busque em regiões emblemáticas como Canelones, por exemplo, o seu rótulo e seja feliz! Não há como negligenciar essa região uruguaia para a produção de vinhos dessa cepa.

É fato também que as características da Tannat entregam essa condição de personalidade e complexidade, afinal o seu nome é em referência a “taninos” e quando um vinho carrega muitos taninos o máximo que encontrarás é estrutura e marcante intensidade.

Até aí tudo bem, nenhuma grande novidade! Essa pequena introdução traz algumas expectativas que fomentei acerca de um rótulo que está em minha humilde e reles adega já não se sabe por quanto tempo! Já é um sintoma do quanto tempo um Tannat uruguaio que comprei está dormindo, descansando, espero eu evoluindo na adega.

Foi intencional! Tudo premeditado com requintes de detalhes. Desejei guarda-lo, deixa-lo no mais profundo esquecimento, ostracismo e pacientemente esperei, esperei tanto tempo que, por alguns momentos, pensei que não existisse!

E hoje, aos nove anos de idade, quase uma década, decidi desarrolhá-lo! A intenção inicial era degusta-lo aos dez anos, mas não aguentei mais esperar, afinal o esquecimento deu lugar a uma inusitada ansiedade! Talvez seja o momento, porque quando se tem uma miscelânea de sentimentos, pode dar lugar a medos e receios de como poderia estar o vinho! E não vou negar também que tais preocupações existem.

Eis que o momento chegou! O “esquecido” ganhará brilho, sairá de um longo sono, de uma longa hibernação evolutiva! Não consigo conter a minha ansiedade para ver como estará esse Tannat.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da tradicional e emblemática região uruguaia de Canelones e se chama Carlos Montes da Bodega Toscanini da safra 2014.

A Toscanini é uma vinícola tradicional do Uruguai, mas não goza de popularidade em terras brasileiras. Lembro-me bem que, quando comprei este rótulo, era pouquíssimo conhecido este produtor, salvo em sites exclusivos. Hoje o panorama é melhor, encontra-se com relativa facilidade, mas ainda precisa de um pouco de marketing e área de venda para disseminar o nome desse importante produtor.

Antes de falar do vinho, de tecer os comentários mais do que elogiosos acerca de suas mais fiéis características vamos de história, para não perder o costume, vamos de Canelones, que merece um capítulo à parte.

Canelones

Localizada bem ao sul, Canelones é a principal região produtora de uva e vinho no Uruguai e, por isso, concentra a maior parte dos vinhedos do país. A cidade de Canelones faz parte da região metropolitana de Montevidéu.

Ela é cercada por um enorme complexo de pequenas fazendas e vinhedos, que são responsáveis por impressionantes 84% da produção de vinho do Uruguai. Nos seus arredores, encontram-se ótimos bares que oferecem os melhores e mais procurados vinhos do país, já que naquela região concentram-se desde as mais tradicionais até as mais luxuosas, modernas e rústicas vinícolas da América Latina.

Além disso, Canelones possui uma extensão de mais de 65 km de praia, repleta de entretenimentos e lugares para descansar, sem falar do Camping Marindia, que é um reduto de arte, cultura e atividades familiares, cercado por trilhas bem arborizadas e que proporciona uma linda visão de pôr do sol.

Canelones

Os primeiros moradores de Canelones se instalaram na cidade por volta de 1726; já a partir de 1774, chegaram imigrantes espanhóis e no final do século XIX, vieram os imigrantes italianos para cultivar uvas e fabricar vinhos. Dali em diante, a história da cidade com o vinho começou a se intensificar, uma vez que passo a passo ela conquistava popularidade em todo o país.

Mas foi nos anos de 1970, que videiras de clones importados chegaram à cidade e os vinhedos começaram a se concentrar na qualidade. E hoje a produção de vinho da região representa 14% no mercado internacional e é responsável por oferecer uma abundância de opções ao enoturismo uruguaio.

Essa região não poderia ter localização melhor. Por sua visão pioneira, o Uruguai foi eleito o país do ano, em 2013, pela revista inglesa The Economist. Entre as principais razões estão o fato de realizar reformas que não se limitam a melhorar apenas a própria nação, mas atitudes que podem beneficiar o mundo.

E Canelones está sendo conduzida sob essa visão. Em meio a um processo de desenvolvimento enoturístico, a região já possui até projeto de promoção do turismo e do vinho desenhado pelo Ministério do Turismo com a colaboração da Comarca de l’Alt Penedès, Espanha.

Há produtores que se juntaram para ajudar nesse incentivo e criaram a Associação “Los Caminos del Vino”, que reúne diversas vinícolas familiares abertas para visitantes, onde podem ver as vinhas de perto, acompanhar as diferentes etapas da vinificação e, finalmente, provar o vinho e a comida típica do lugar.

Na taça revela um rubi intenso, quase escuro, com halos granada, denunciados pelos seus nove anos de garrafa e/ou passagem por barricas, com lágrimas finas, lentes e em profusão, com alguma viscosidade.

No nariz traz um ataque aromático da madeira, graças aos doze meses de passagem em barricas de carvalho, entregando notas de couro, tabaco, chocolate meio amargo, café, torrefação, toffee, caramelo, defumado, com as frutas pretas bem maduras em total equilíbrio, diria ainda com algo de frutas secas também. As especiarias doces são sentidas, com pimenta preta sobressaindo.

Na boca a personalidade marcante, untuoso e austero, típico da Tannat, protagoniza, mas, ao mesmo tempo se mostra elegante e macio, afinal o tempo lhe foi gentil, nove longos anos de garrafa só fez o vinho ser tornar complexo e atraente e extremamente saboroso. As notas amadeiradas e frutadas, como no aspecto olfativo, se mostram evidentes, frutas compotadas, quase em geleia, com toques de chocolate, torrefação, café, chocolate são percebidos. Tem taninos maduros e macios, um pouco marcado, com baixa acidez e um final persistente e volumoso.

Que experiência incrível! Nove anos de vida bem desenvolvidos, bem evoluídos e que ainda tinha alguns anos pela frente! Fez jus a sua condição, as suas características, a sua proposta! Mais uma vez a Tannat uruguaia veio a que disse e, mesmo diante de seu ápice, gozava de uma elegância, de uma maciez inacreditável! Mesmo com a habitual robustez, a elegância de um senhor maduro com quase 10 anos de garrafa, entrega equilíbrio e prazer ao pobre mortal que agora, sucumbindo à sua superioridade, diz, feliz, alegre e regozijado! Um belo vinho! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Toscanini:

Tudo começa em 1894 quando Don Juan Toscanini e sua esposa, dona Maria Bianchi, deixam a sua cidade natal, Gênova, e se estabelecem na região do Rio da Prata, mais precisamente na zona de Canelón Chico, localizada a 30Km ao norte de Montevidéu, Uruguai.

Nesse lugar desempenharam atividades como trabalhadores rurais, arrendando uma pequena parcela de campo que posteriormente conseguiram adquirir. Visionário e empreendedor, e, após vários anos trabalhando como peão, Don Juan Toscanini funda sua própria vinícola no ano de 1908, elaborando 4.200 litros de vinho que se comercializaram sob a marca “La Fuente”.

Don Juan Toscanini

A partir desse momento, a fértil semente da vitivinicultura lança raízes muito firmes na família com a arte do cultivo da uva e a produção de vinhos sendo seguida, até hoje, por seus filhos, netos e bisnetos.

Em 1982, ocorre a reestruturação dos vinhedos substituindo-se as variedades comuns por Tannat, Cabernet Sauvignon e Merlot. Com tal mudança, começaram a elaborar, consequentemente, vinhos finos. Em 1995, obtiveram o primeiro reconhecimento internacional e, dois anos mais tarde, a primeira exportação ao Reino Unido.

No ano de 2000, nasce o vinho premium “Adagio”, uma fusão de Tannat, Cabernet Sauvignon e Merlot. É um vinho elaborado apenas com vindimas excepcionais, maximizando o melhor das uvas.

Em 2001, graças a essa projeção internacional, surge uma joint venture com Chateau Los Boldos, do grupo Massenez. Nasce “Casa Vialona”, um vinho 100% Tannat com maturação de um ano e meio em barril.

Em 2008 a Montes Toscanini completou 100 anos de história. E, para honrar nossa trajetória, criamos o vinho “Antologia”. Trata-se de uma edição limitada de 1908 garrafas que contêm a maior experiência na vinificação da uva Tannat. É um vinho elaborado com arte e as melhores uvas da vindima desse ano.

Mais informações acesse:

https://www.toscaniniwines.com/pt/

Referências:

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/roteiros-do-vinho-canelones/

“Dicas do Uruguai”: https://dicasdouruguai.com.br/dicas/canelones-no-uruguai/