sábado, 13 de maio de 2023

Carlos Montes Tannat 2014

 

Não há como negar da representatividade e importância da Tannat uruguaia para o mundo! A casta francesa saiu de sua terra natal e encontrei no terroir do Uruguai o solo ideal para brilhar!

Aos que apreciam um bom Tannat robusto, encorpado, intenso e complexo, busque em regiões emblemáticas como Canelones, por exemplo, o seu rótulo e seja feliz! Não há como negligenciar essa região uruguaia para a produção de vinhos dessa cepa.

É fato também que as características da Tannat entregam essa condição de personalidade e complexidade, afinal o seu nome é em referência a “taninos” e quando um vinho carrega muitos taninos o máximo que encontrarás é estrutura e marcante intensidade.

Até aí tudo bem, nenhuma grande novidade! Essa pequena introdução traz algumas expectativas que fomentei acerca de um rótulo que está em minha humilde e reles adega já não se sabe por quanto tempo! Já é um sintoma do quanto tempo um Tannat uruguaio que comprei está dormindo, descansando, espero eu evoluindo na adega.

Foi intencional! Tudo premeditado com requintes de detalhes. Desejei guarda-lo, deixa-lo no mais profundo esquecimento, ostracismo e pacientemente esperei, esperei tanto tempo que, por alguns momentos, pensei que não existisse!

E hoje, aos nove anos de idade, quase uma década, decidi desarrolhá-lo! A intenção inicial era degusta-lo aos dez anos, mas não aguentei mais esperar, afinal o esquecimento deu lugar a uma inusitada ansiedade! Talvez seja o momento, porque quando se tem uma miscelânea de sentimentos, pode dar lugar a medos e receios de como poderia estar o vinho! E não vou negar também que tais preocupações existem.

Eis que o momento chegou! O “esquecido” ganhará brilho, sairá de um longo sono, de uma longa hibernação evolutiva! Não consigo conter a minha ansiedade para ver como estará esse Tannat.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da tradicional e emblemática região uruguaia de Canelones e se chama Carlos Montes da Bodega Toscanini da safra 2014.

A Toscanini é uma vinícola tradicional do Uruguai, mas não goza de popularidade em terras brasileiras. Lembro-me bem que, quando comprei este rótulo, era pouquíssimo conhecido este produtor, salvo em sites exclusivos. Hoje o panorama é melhor, encontra-se com relativa facilidade, mas ainda precisa de um pouco de marketing e área de venda para disseminar o nome desse importante produtor.

Antes de falar do vinho, de tecer os comentários mais do que elogiosos acerca de suas mais fiéis características vamos de história, para não perder o costume, vamos de Canelones, que merece um capítulo à parte.

Canelones

Localizada bem ao sul, Canelones é a principal região produtora de uva e vinho no Uruguai e, por isso, concentra a maior parte dos vinhedos do país. A cidade de Canelones faz parte da região metropolitana de Montevidéu.

Ela é cercada por um enorme complexo de pequenas fazendas e vinhedos, que são responsáveis por impressionantes 84% da produção de vinho do Uruguai. Nos seus arredores, encontram-se ótimos bares que oferecem os melhores e mais procurados vinhos do país, já que naquela região concentram-se desde as mais tradicionais até as mais luxuosas, modernas e rústicas vinícolas da América Latina.

Além disso, Canelones possui uma extensão de mais de 65 km de praia, repleta de entretenimentos e lugares para descansar, sem falar do Camping Marindia, que é um reduto de arte, cultura e atividades familiares, cercado por trilhas bem arborizadas e que proporciona uma linda visão de pôr do sol.

Canelones

Os primeiros moradores de Canelones se instalaram na cidade por volta de 1726; já a partir de 1774, chegaram imigrantes espanhóis e no final do século XIX, vieram os imigrantes italianos para cultivar uvas e fabricar vinhos. Dali em diante, a história da cidade com o vinho começou a se intensificar, uma vez que passo a passo ela conquistava popularidade em todo o país.

Mas foi nos anos de 1970, que videiras de clones importados chegaram à cidade e os vinhedos começaram a se concentrar na qualidade. E hoje a produção de vinho da região representa 14% no mercado internacional e é responsável por oferecer uma abundância de opções ao enoturismo uruguaio.

Essa região não poderia ter localização melhor. Por sua visão pioneira, o Uruguai foi eleito o país do ano, em 2013, pela revista inglesa The Economist. Entre as principais razões estão o fato de realizar reformas que não se limitam a melhorar apenas a própria nação, mas atitudes que podem beneficiar o mundo.

E Canelones está sendo conduzida sob essa visão. Em meio a um processo de desenvolvimento enoturístico, a região já possui até projeto de promoção do turismo e do vinho desenhado pelo Ministério do Turismo com a colaboração da Comarca de l’Alt Penedès, Espanha.

Há produtores que se juntaram para ajudar nesse incentivo e criaram a Associação “Los Caminos del Vino”, que reúne diversas vinícolas familiares abertas para visitantes, onde podem ver as vinhas de perto, acompanhar as diferentes etapas da vinificação e, finalmente, provar o vinho e a comida típica do lugar.

Na taça revela um rubi intenso, quase escuro, com halos granada, denunciados pelos seus nove anos de garrafa e/ou passagem por barricas, com lágrimas finas, lentes e em profusão, com alguma viscosidade.

No nariz traz um ataque aromático da madeira, graças aos doze meses de passagem em barricas de carvalho, entregando notas de couro, tabaco, chocolate meio amargo, café, torrefação, toffee, caramelo, defumado, com as frutas pretas bem maduras em total equilíbrio, diria ainda com algo de frutas secas também. As especiarias doces são sentidas, com pimenta preta sobressaindo.

Na boca a personalidade marcante, untuoso e austero, típico da Tannat, protagoniza, mas, ao mesmo tempo se mostra elegante e macio, afinal o tempo lhe foi gentil, nove longos anos de garrafa só fez o vinho ser tornar complexo e atraente e extremamente saboroso. As notas amadeiradas e frutadas, como no aspecto olfativo, se mostram evidentes, frutas compotadas, quase em geleia, com toques de chocolate, torrefação, café, chocolate são percebidos. Tem taninos maduros e macios, um pouco marcado, com baixa acidez e um final persistente e volumoso.

Que experiência incrível! Nove anos de vida bem desenvolvidos, bem evoluídos e que ainda tinha alguns anos pela frente! Fez jus a sua condição, as suas características, a sua proposta! Mais uma vez a Tannat uruguaia veio a que disse e, mesmo diante de seu ápice, gozava de uma elegância, de uma maciez inacreditável! Mesmo com a habitual robustez, a elegância de um senhor maduro com quase 10 anos de garrafa, entrega equilíbrio e prazer ao pobre mortal que agora, sucumbindo à sua superioridade, diz, feliz, alegre e regozijado! Um belo vinho! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Toscanini:

Tudo começa em 1894 quando Don Juan Toscanini e sua esposa, dona Maria Bianchi, deixam a sua cidade natal, Gênova, e se estabelecem na região do Rio da Prata, mais precisamente na zona de Canelón Chico, localizada a 30Km ao norte de Montevidéu, Uruguai.

Nesse lugar desempenharam atividades como trabalhadores rurais, arrendando uma pequena parcela de campo que posteriormente conseguiram adquirir. Visionário e empreendedor, e, após vários anos trabalhando como peão, Don Juan Toscanini funda sua própria vinícola no ano de 1908, elaborando 4.200 litros de vinho que se comercializaram sob a marca “La Fuente”.

Don Juan Toscanini

A partir desse momento, a fértil semente da vitivinicultura lança raízes muito firmes na família com a arte do cultivo da uva e a produção de vinhos sendo seguida, até hoje, por seus filhos, netos e bisnetos.

Em 1982, ocorre a reestruturação dos vinhedos substituindo-se as variedades comuns por Tannat, Cabernet Sauvignon e Merlot. Com tal mudança, começaram a elaborar, consequentemente, vinhos finos. Em 1995, obtiveram o primeiro reconhecimento internacional e, dois anos mais tarde, a primeira exportação ao Reino Unido.

No ano de 2000, nasce o vinho premium “Adagio”, uma fusão de Tannat, Cabernet Sauvignon e Merlot. É um vinho elaborado apenas com vindimas excepcionais, maximizando o melhor das uvas.

Em 2001, graças a essa projeção internacional, surge uma joint venture com Chateau Los Boldos, do grupo Massenez. Nasce “Casa Vialona”, um vinho 100% Tannat com maturação de um ano e meio em barril.

Em 2008 a Montes Toscanini completou 100 anos de história. E, para honrar nossa trajetória, criamos o vinho “Antologia”. Trata-se de uma edição limitada de 1908 garrafas que contêm a maior experiência na vinificação da uva Tannat. É um vinho elaborado com arte e as melhores uvas da vindima desse ano.

Mais informações acesse:

https://www.toscaniniwines.com/pt/

Referências:

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/roteiros-do-vinho-canelones/

“Dicas do Uruguai”: https://dicasdouruguai.com.br/dicas/canelones-no-uruguai/









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