Há quem diga que degustar um Cabernet Sauvignon de entrada,
da linha básicas dos produtores é um demasiado risco, um vinho sem
personalidade que não retrata a potência da cepa, para os mais radicais são
vinhos sem expressividade, sem vida. Digo que degustar vinhos mais simples, os
mais básicos das vinícolas pode sim ser um risco, da mesma forma que o dito
icônico dos produtores pode ser um risco também! Pois é, caros enófilos
leitores, é um risco também! Escolher vinhos é sempre um risco que corremos
afinal a grife pode te entregar o status, mas não o prazer que o vinho pode te
proporcionar na degustação. Não podemos negligenciar a possibilidade de vinhos
simples, básicos serem bons, bons pelo que se propõe a entregar ao enófilo.
Simplicidade não significa que seja ruim. Então não se enganem, um Cabernet
Sauvignon básico de um produtor pode sim ser bom, entregar o que há de melhor da
cepa. Eu costumo repetir, como um mantra, que quando um vinho simples, básico de
um produtor é bom, é porque o produtor e seus rótulos são idôneos, com vinhos
de tipicidade.
Então decidi arriscar, o risco faz parte para aqueles que
decidem sair da famosa zona de conforto, e abrir um jovem vinho que repousava
na minha adega da casta Cabernet Sauvignon de um dos maiores produtores da cepa
no mundo, o Chile. Na realidade a Cabernet Sauvignon é a uva mais emblemática
do mundo, a mais cultivada do planeta também. Talvez tudo que eu redigir, do
que eu contextualizar sobre a rainha das uvas tintas soe como redundante, haja
vista que a literatura do vinho tenha dito em verso e prosa sobre essa
inspiradora casta, mas, especificando e falando, brevemente, sobre a Cabernet
Sauvignon no Chile é de que a mesma, apesar de ser a mais cultivada naquele
país, ela não tem, sobretudo nessas últimas décadas, a reverência, o respeito e
o interesse que merece. Mas é inegável que o casamento, a “harmonização” entre
quantidade e qualidade acontece, embora não tenha o devido crédito, como a
Carmènére, por exemplo. Então, sem delongas faço questão de proferir, de
gritar, de redigir aos quatro cantos do mundo que tive o prazer de degustar e
gostar de um vinho surpreendentemente bom, da emblemática região do Vale
Centra, no Chile, da jovem safra de 2019, da vinícola, de fundadores espanhóis,
Miguel Torres, chamado Alto Las Nieves da emblemática e necessária Cabernet
Sauvignon. E já que falei da região do Vale Central, de onde veio o vinho que
degusto, é conhecida por cultivar um dos melhores Cabernets do Chile, então
falemos um pouco sobre ela.
Vale Central
Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma
região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas
produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume. Além disso,
o Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão,
indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule. Uma ampla variedade de
vinhos é produzida na região, elaborados a partir de uvas cultivadas em
diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos finos e elegantes, como os
produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos e estabelecidos em Maule. A
região do Valle Central é também lar de diversas variedades de uvas, porém, as
plantações são ocupadas pelas castas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc,
Merlot, Chardonnay e Syrah. A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é
importante na região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro
lado dos Andes. As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais
destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling,
Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em
quatro sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e
diferenças marcantes. O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as
vinhas são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas
existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões
Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas
mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico
Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres
deu início a vinicultura moderna.
A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no
Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale
de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca
disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença
entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau
de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor. Essa parte do vale,
portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro. Já a Cabernet
Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de onde provém mais da metade da
produção dessa cepa) conta com a influência direta do Rio Maipo. Onde as águas
do rio servem para regular a temperatura e fornecer a irrigação dos vinhedos. E
para não deixar de destacar a área a sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale
do Curicó possui um clima quente e úmido, já que todo o ar frio é impedido de
passar pela barreira natural da montanha. Quem se beneficia com isso é a
produção de Carménère, que por tamanha perfeição em seu desabrochamento são
conhecidos por todo o mundo, não sendo surpresa o fato de que somente desse
Vale derivem vinhos para mais de 70 países ao redor do mundo. Em outras
palavras, o Vale Central se constitui como uma mina de ouro de cepas premiadas
e irrigadas com tradição centenária. O Valle Central é uma área plana,
localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada por seus
interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao produtor
uma extraordinária variedade de terroirs. Excepcionalmente adequada para a
viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem
nuvens, em um ambiente seco. A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à
influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e
penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra
importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.
Então vamos falar do vinho!
Na taça apresenta um lindo vermelho rubi brilhante com
reflexos violáceos com lágrimas grossas e esparsas que demora um pouco a se
dissipar das paredes do copo.
No nariz se destaca uma explosão de aromas frutados, sem ser
enjoativo, de frutas vermelhas maduras como framboesa, cereja e morango, talvez
notas discretas de baunilha.
Na boca é seco, jovem e fresco, reproduz as impressões
olfativas frutadas, com um leve toque amadeirado, afinal o 50% do vinho passou
por barricas de carvalho (não há informações, por parte do produtor do tempo em
que esse percentual do vinho passou por madeira), além de ter taninos sedosos e
domados, uma acidez média e um final intenso, persistente com retrogosto
frutado. Um vinho expressivo, mas fácil de degustar.
Um Cabernet Sauvignon frutado, leve, mas, ao mesmo tempo
expressivo, mostrando o quão importante e rica é a região de onde esse rótulo
veio. Um vinho versátil, equilibrado e gastronômico que, diante da sua proposta, entregou
muito além do esperado. É possível sim degustar um Cabernet Sauvignon básico,
mas honesto, bem feito, mostrando que o Chile produz, cultiva ótimos vinhos
dessa cepa em todas as suas esferas de propostas. A construção da casta com as
suas características foram percebidas em cada taça enchida, em cada celebração
a boa degustação. Um viva a Cabernet Sauvignon como eu já não degustava havia
tempo, sobretudo com essa proposta. Tem 13,5% de teor alcoólico muito bem
integrados ao conjunto do vinho.
Sobre a vinícola Miguel Torres:
Miguel Torres foi a primeira empresa vinícola estrangeira
estabelecida no Chile, em 1979. A família Torres escolheu este país como o
destino apropriado para a prática da vinicultura, devido às suas excelentes
condições para o desenvolvimento desta indústria. A decisão de escolher Chile
pelas suas excelentes condições climáticas, não foi suficiente. Miguel Torres
Chile foi o primeiro a introduzir novas tecnologias na produção de vinho, como
a fermentação em tanques de aço inoxidável e o envelhecimento em barricas de
roble francês. Além de contribuir para o crescimento dos vinhos chilenos nos
últimos 30 anos. A Primeira marca de vinho Miguel Torres, após a compra dos
primeiros 100 hectares adquiridos pela família Torres no setor Maquehua em
Curicó, em 1981. Santa Digna é a linha de vinhos mais conhecida pelos
consumidores em todo o mundo. Hoje certificada como Comércio Justo (Trade Fair)
permitiu a vinha estabelecer-se como uma empresa sustentável. Foi em 1985 que
as videiras de Cabernet Sauvignon de mais de 115 anos do Fundo Manso de Velasco
deu fruto ao vinho ícone de Miguel Torres Chile. Reconhecido mundialmente pela
sua qualidade e por representar fielmente ao Cabernet Sauvignon do Chile. Manso
de Velasco, homenagem ao ilustre fundador da cidade de Curicó, é uma fazenda
chilena de 15 hectares, plantados em 1902, situado ao pé da Cordilheira dos
Andes e dedicados exclusivamente ao Cabernet Sauvignon. Com o passar dos anos,
a empresa adquiriu novas terras e expandiu suas instalações e gama de produtos.
Atualmente a vinha têm aproximadamente 350 hectares de vinhedos plantados em
oito propriedades com características climáticas muito diferenciadas entre sim
e 1030 no total. Isso permite o cultivo de diferentes variedades e a elaboração
de vinhos com caráter varietal intensa. Em 1996 a Cordillera Carignan nasceu de
um projeto onde Miguel Torres em conjunto com outros vinhedos da região de
Maule e pequenos produtores se unem para formar VIGNO - Clube de Vignadores de
Carignan, para trabalhar pelo resgate de variedades antigas. É assim como
Miguel Torres assume fortemente a esta nova iniciativa com “Cordillera Carignan”,
o que representa uma das últimas inovações mais importantes na indústria do
vinho. No ano 2000 o Fundo Empedrado se juntou as propriedades da empresa.
Localizado perto de Constitución, 180 km. Em direção ao sul de Curicó e com 364
hectares, é o resultado de anos de pesquisa de solos de ardósia. A
particularidade deste tipo de pedra é que ela permite um alto nível de drenagem
e coleta a radiação solar, mantendo um mesoclima quente, (pela cor preta da “pedra
laja”). Em 2000 tem a primeira colheita do “Superunda”. Para a produção deste
vinho temos experimentado por muitos anos, com velhas cepas chilenas e
espanholas de diferentes origens e de diferentes variedades. Cabernet
Sauvignon, Carmenere, Tempranillo, Monastrell são a base deste vinho tem
recebido cumprida criança em barricas de roble novo de Nevers, ao longo de 24
meses. Em 2007, sob o nome de “Santa Digna Estelado”, Miguel Torres Chile
lançou no mercado nacional a safra 2010 do primeiro espumante elaborado com
variedade Pais, produto desenvolvido no âmbito de um projeto co-financiado pelo
Ministério da Agricultura, através da Fundação para a inovação agrícola. A
iniciativa, que começou no final de 2007, visa melhorar as condições para os
agricultores das regiões secas na interior das regiões de Maule e Biobio. Em
2010, Miguel Torres Chile apresenta sua nova linha de vinho orgânico “Las Mulas”.
Uma proposta inovadora e com um conceito atraente que responde a um dos valores
mais importantes da adega familiar: sustentabilidade e preocupação meio
ambiental. No final de 2010, Miguel Torres Chile obteve a certificação Fair
Trade para sua linha de vinhos Santa Digna, a mais reconhecida no nível
nacional e internacional. O objetivo da certificação é dar ao consumidor um
produto de alta qualidade produzido sob a transparência e o equilíbrio entre a
empresa, seus trabalhadores e o meio ambiente. Em 2012 100% das fazendas são
certificadas orgânicas para as normativas de Chile, Europa, EUA e Japão, sendo
a nossa linha LAS MULAS a representante desta categoria. Os produtos associados
a esta linha são: Las Mulas Cabernet Sauvignon, Las Mulas Sauvignon Blanc, Las
Mulas Cabernet Sauvignon Rosé, Las Mulas Carmenere e Las Mulas Viognier.
Mais informações acesse:
https://www.migueltorres.cl/pt/
Referências de pesquisa:
Portal Vinci, em: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central
Portal Winepedia, em: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/
Portal Enologuia, em: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente
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