Pode parecer demasiadamente desagradável falarmos sempre da
questão do valor, do valor monetário do vinho e suas implicações na qualidade
do rótulo. Mas sempre que compramos um vinho, principalmente os mais baratos, o
assunto vem à tona.
E o conceito de “vinho barato” também é muito relativo,
diga-se de passagem. O que é caro para mim, pode ser a entrada para outros. E
por ser o assunto complexo, muitos tentam evita-lo, porém, embora seja difícil
falar sobre ele, podemos sim mensurar, tornar tangível o conceito de qualidade
no universo do vinho.
Um produtor idôneo, que produz grandes vinhos, em todas as
suas escalas de propostas, uma região proeminente, os prêmios que determinados
vinhos ganham (embora não seja determinante), pode caracterizar a qualidade de
um rótulo, em especial.
É claro que quando você compra um vinho na faixa dos R$ 25,00
você não pode esperar complexidade, grande estrutura, longevidade ou coisa que
o valha, é preciso entender a sua escala de proposta e isso também é
preponderante para a qualidade de um vinho. Afinal em todas as suas escalas de
propostas o vinho pode ser especial, não precisa ser aquele mais caro ou de
grande complexidade para entregar satisfação ao enófilo.
E o exemplo dessas questões levantadas é o vinho que degustei
e gostei que veio de uma região portuguesa chamada Beira Atlântico, próximo a
clássica Bairrada. É um vinho que encontrei na faixa dos R$ 25,00, é um vinho
de uma região que gosto, que venho gostando a cada rótulo degustado, de um
produtor que admiro, que respeito. É um “combo” de satisfações que faz com que
se arrisque em comprar o vinho e que, ao abri-lo, você confirma as suas
expectativas. O nome do vinho é o Cantanhede Seleção da safra 2016 composto
pelas castas Baga (50%), Aragonez (30%) e Touriga Nacional (20%).
E não podemos falar dos vinhos dessa região sem falar da sua
autóctone casta Baga e quão longeva é, mesmo que em vinhos não tão complexos.
Falar de Baga é falar da Bairrada, do Beira Atlântico, é uma questão de
terroir, de história. E por falar em história, vamos textualiza-los aqui, pois
são dignos de merecimento.
Beira Atlântico
A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos,
fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares
antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D.
Joao I e de D. Joao III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção
para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e
econômica.
A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso
Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de
ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a
Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e
multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque
e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC
"Bairrada".
Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os
terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com
frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de
natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os
Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior
frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.
A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra,
delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras
do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia
maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de
altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima
temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e
temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os
terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem
diversos consoantes à predominância de cada elemento.
Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima
densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de
pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam
um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de
grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores
engarrafadores que muito dignificam a região.
As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em
1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais
a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima
fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração,
oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável
para a elaboração dos vinhos espumantes.
Baga
A uva Baga, conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta
Fina ou Tinta Poeirinha, é uma das principais uvas nativas de Portugal e capaz
de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita
classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e
possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na
garrafa durante anos após sua fabricação.
Presente em alguns dos melhores vinhos tintos portugueses, a
uva Baga é conhecida pela sua complexidade e peculiaridade, dando origem a
vinhos interessantes, únicos e intensos. Encontrada, sobretudo na região da
Bairrada, a uva Baga produz excelentes vinhos em uma das mais prestigiadas
regiões produtoras de Portugal.
Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com
esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a
Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos,
excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada
do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior
expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.
Luís Pato foi o responsável por fazer com que a fruta desse
origem a alguns dos melhores vinhos tintos da região da Bairrada. Produzindo
grandes exemplares de tintos, finos, estruturados e complexos, a variedade é,
sem dúvida, uma ótima referência de Portugal.
O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o
amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos
argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de
cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz
preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo
complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos
concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.
A casta Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas
portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada
no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita
personalidade, altamente interessantes e únicos.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi de média intensidade e
brilhante, graças aos reflexos violáceos, com razoável proliferação de lágrimas
finas e de média persistência.
No nariz prevalecem os aromas de frutas vermelhas maduras,
tais como cereja, framboesa, ameixa, morango, frutas secas, bem como um
discreto toque de especiarias.
Na boca tem média estrutura, sendo equilibrado, frutado e
elegante, com um volume de boca pronunciado, taninos comportados, acidez na
medida e um final agradável e muito sedoso.
O exemplo cabal de que vinho bom é aquele com que você se
identifica, com que você gosta, fundamentado no produtor que você aprecia, na
região que você gosta. E convenhamos, quando compramos um vinho de 3 ou 4
dígitos de valor, por exemplo, é neste que esperamos que sempre será ótimo e
não os mais baratos, lembrando, mais uma vez, que valores são relativos. Como
sempre a Adega de Cantanhede sempre entregando o melhor da Bairrada e do Beira
Atlântico e graças a esse produtor, podemos degustar grandes e especiais vinhos
com valores um pouco mais justos, acessíveis ao máximo possível de pessoas em
um país como o nosso onde o salário mínimo infelizmente perde, a olhos vistos,
o seu poder de compra. E apesar da discussão do vinho caro e vinho barato
pareça ser interminável, algo não pode fugir de nossas percepções: não podemos
nos esconder em uma bolha social e achar que sempre os vinhos caros são os
melhores, é um desserviço a difusão da cultura do vinho. Tem 13% de teor
alcoólico.
Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega
de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção
anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal
produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção
global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder
destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.
Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado
nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado
da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega
Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.),
mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia,
particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria
Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um
Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois
acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este
património confere aos seus vinhos.
O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto,
branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a
que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método
Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que,
graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes
segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que
resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.
A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos
e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos
prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750
distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e
internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de
Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde –
França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. Sendo por
diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses
concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em
2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ –
Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas.
Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3
vezes pela imprensa especializada.
Mais informações acesse:
Referências:
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga
“Soul Wines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga
“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/
Degustado em: 2019
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