quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Cantanhede Selecção 2016

 

Pode parecer demasiadamente desagradável falarmos sempre da questão do valor, do valor monetário do vinho e suas implicações na qualidade do rótulo. Mas sempre que compramos um vinho, principalmente os mais baratos, o assunto vem à tona.

E o conceito de “vinho barato” também é muito relativo, diga-se de passagem. O que é caro para mim, pode ser a entrada para outros. E por ser o assunto complexo, muitos tentam evita-lo, porém, embora seja difícil falar sobre ele, podemos sim mensurar, tornar tangível o conceito de qualidade no universo do vinho.

Um produtor idôneo, que produz grandes vinhos, em todas as suas escalas de propostas, uma região proeminente, os prêmios que determinados vinhos ganham (embora não seja determinante), pode caracterizar a qualidade de um rótulo, em especial.

É claro que quando você compra um vinho na faixa dos R$ 25,00 você não pode esperar complexidade, grande estrutura, longevidade ou coisa que o valha, é preciso entender a sua escala de proposta e isso também é preponderante para a qualidade de um vinho. Afinal em todas as suas escalas de propostas o vinho pode ser especial, não precisa ser aquele mais caro ou de grande complexidade para entregar satisfação ao enófilo.

E o exemplo dessas questões levantadas é o vinho que degustei e gostei que veio de uma região portuguesa chamada Beira Atlântico, próximo a clássica Bairrada. É um vinho que encontrei na faixa dos R$ 25,00, é um vinho de uma região que gosto, que venho gostando a cada rótulo degustado, de um produtor que admiro, que respeito. É um “combo” de satisfações que faz com que se arrisque em comprar o vinho e que, ao abri-lo, você confirma as suas expectativas. O nome do vinho é o Cantanhede Seleção da safra 2016 composto pelas castas Baga (50%), Aragonez (30%) e Touriga Nacional (20%).

E não podemos falar dos vinhos dessa região sem falar da sua autóctone casta Baga e quão longeva é, mesmo que em vinhos não tão complexos. Falar de Baga é falar da Bairrada, do Beira Atlântico, é uma questão de terroir, de história. E por falar em história, vamos textualiza-los aqui, pois são dignos de merecimento.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. Joao I e de D. Joao III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

Baga

A uva Baga, conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Fina ou Tinta Poeirinha, é uma das principais uvas nativas de Portugal e capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação.

Presente em alguns dos melhores vinhos tintos portugueses, a uva Baga é conhecida pela sua complexidade e peculiaridade, dando origem a vinhos interessantes, únicos e intensos. Encontrada, sobretudo na região da Bairrada, a uva Baga produz excelentes vinhos em uma das mais prestigiadas regiões produtoras de Portugal.

Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

Luis Patto

Luís Pato foi o responsável por fazer com que a fruta desse origem a alguns dos melhores vinhos tintos da região da Bairrada. Produzindo grandes exemplares de tintos, finos, estruturados e complexos, a variedade é, sem dúvida, uma ótima referência de Portugal.

O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.

A casta Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita personalidade, altamente interessantes e únicos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi de média intensidade e brilhante, graças aos reflexos violáceos, com razoável proliferação de lágrimas finas e de média persistência.

No nariz prevalecem os aromas de frutas vermelhas maduras, tais como cereja, framboesa, ameixa, morango, frutas secas, bem como um discreto toque de especiarias.

Na boca tem média estrutura, sendo equilibrado, frutado e elegante, com um volume de boca pronunciado, taninos comportados, acidez na medida e um final agradável e muito sedoso.

O exemplo cabal de que vinho bom é aquele com que você se identifica, com que você gosta, fundamentado no produtor que você aprecia, na região que você gosta. E convenhamos, quando compramos um vinho de 3 ou 4 dígitos de valor, por exemplo, é neste que esperamos que sempre será ótimo e não os mais baratos, lembrando, mais uma vez, que valores são relativos. Como sempre a Adega de Cantanhede sempre entregando o melhor da Bairrada e do Beira Atlântico e graças a esse produtor, podemos degustar grandes e especiais vinhos com valores um pouco mais justos, acessíveis ao máximo possível de pessoas em um país como o nosso onde o salário mínimo infelizmente perde, a olhos vistos, o seu poder de compra. E apesar da discussão do vinho caro e vinho barato pareça ser interminável, algo não pode fugir de nossas percepções: não podemos nos esconder em uma bolha social e achar que sempre os vinhos caros são os melhores, é um desserviço a difusão da cultura do vinho. Tem 13% de teor alcoólico.

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. Sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Soul Wines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/


Degustado em: 2019

 

 

 






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