segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Praça dos Marqueses Escolha 2018

 

É possível ser fã de um produtor de vinhos? A resposta é tão objetiva quanto a pergunta: Sim! E quando você degusta os rótulos de todas as propostas, de toda a linha e chega a essa conclusão é a prova contundente da idoneidade e qualidade da vinícola.

Foi por intermédio da Adega de Cantanhede que descobri os vinhos da Bairrada e do Beira Atlântico que, quando chega em nossas terras, em pouca quantidade, em comparação, por exemplo, aos alentejanos, do Porto e por aí vai, com um preço justo é melhor ainda. Degustar rótulos, degustar vinhos de qualidade a um preço acessível a vários bolsos, o famoso custo X benefício.

E que me chama a atenção na Adega de Cantanhede, além, claro, dos seus vinhos e rótulos, são as histórias e culturas do seu povo estampado nos seus rótulos que muita explica a qualidade do vinho, o seu terroir.

E o vinho de hoje entrega todo esse “combo” de que falei e revela aquela surpresa grata de um vinho de excelente custo, mas que entrega muito mais do que valeu. O que era a assinatura de um vinho produzido por uma vinícola de que sou fã, passou a ser também um belo rótulo, como disse, surpreendente!

O vinho que degustei e gostei veio do Beira Atlântico, região lusitana próxima à da emblemática Bairrada e se chama Praça dos Marqueses Escolha composto por um interessante blend capitaneado pela casta tradicional da região Baga (60%), Touriga Nacional (20%), Jaen (10%) e Castelão (10%) da safra 2018.

E aí vem aquela dúvida: Mas o que significa a palavra “Escolha” que vem junto com o nome do vinho. Eu confesso que, até pouco tempo atrás, eu não sabia o significado e consegui buscar a definição por intermédio de algum produtor que não me recordo cujo vinho comprei e que carregava essa nomenclatura no seu rótulo. “Escolha” é uma denominação de qualidade, tal como reserva. Significa que obteve uma qualificação uns pontos acima do “normal” regional, pelo organismo que certifica o vinho.

Bem depois dessa entrada e que já, previamente, define a percepção positiva que tive do vinho o degusta-lo, sigamos com um pouco mais de história e falemos um pouco sobre a região do Beira Atlântico, ainda um pouco conhecida entre nós, enófilos brasileiros.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, mas com bordas, entornos violáceos brilhantes com algumas lágrimas finas de média persistência.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas maduras, frutas negras e frutas silvestres, algo de floresta, talvez um pouco de rusticidade conferido pela Baga, com notas agradáveis florais.

Na boca é frutado, redondo, macio, tem estrutura leve para média, é saboroso, com alguma elegância, um pouco alcoólico, mas que não incomoda, não é algo desequilibrado, tem taninos macios e acidez correta, com um final frutado e prolongado.

E falando em curiosidades e história, por que o nome do vinho é “Praça dos Marqueses”? Lá vai a resposta: Em homenagem à Família Meneses, Senhores de Cantanhede e titulares dos títulos nobiliárquicos de Cantanhede e Marquês de Marialva, que aqui residiram ao longo de várias gerações, contribuindo para o desenvolvimento da região, deixando património edificado de grande relevo, nomeadamente a residência familiar Palácio dos Meneses, um edifício quinhentista, hoje Paços do Concelho, localizado na principal Praça da Cidade.

Esse mesmo palácio quinhentista que estampa o rótulo do vinho. Degustemos história, cultura, a degustação traz o intercâmbio cultural, o prazer da bebida, o terroir de uma região, o apelo regionalista evidenciado pelas suas castas mais famosas, autóctones. Um vinho que não passa por barricas de carvalho, que entrega as características mais genuínas de cada casta, traz o vinho na sua gênese sem o mínimo de intervenção. Como diz o grande Didu Russo: “Quer mensurar a qualidade de uma vinícola, deguste os seus vinhos mais básicos”. Esse vinho entregou muito mais do que eu esperava e do que eu investi. Excelente! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. Sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Soul Wines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

 





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