Para muitos, eu diria que seja unânime, que a região francesa
de Bordeaux é uma das mais prestigiadas do planeta do vinho, se não for a mais
importante. Não quero entrar em discussões frívolas, mas o fato é que, sem
sombra de dúvidas, Bordeaux é uma das mais famosas, mas melhor, em um universo
de milhares terroirs, seria até fazer pouco caso das demais regiões.
Evidente que cada terra, cada região tem as suas
particularidades, tornando-se impossível fazer quaisquer juízos de valores
nesse quesito. Mas em um quesito, eu acho que Bordeaux ganha de lavada: o seu
famoso blend: Cabernet Sauvignon e Merlot ou Merlot e Cabernet Sauvignon,
dependendo do “lado” da região.
Sou um entusiasta desse blend. Para mim é o melhor blend que
existe! Independente se é “Lado Direito” ou “Lado Esquerdo”, o corte dessas
duas castas, na sua predominância, pois pode levar também, em um pequeno
percentual, Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot, traz uma versatilidade
incrível.
Tem a força, a potência, a estrutura da Cabernet Sauvignon, a
maciez da Merlot e nessa ambiguidade o vinho ganha em personalidade e
elegância, sem contar que, dependendo da proposta, o vinho ganha em
longevidade. Não há como negligenciar a complexidade que esse “assemblage”,
como dizem os franceses, pode nos entregar.
Mas não se enganem, mesmo que diante desse glamour e fama dos
tintos de Bordeaux há sim lugar e espaço para os brancos “tranquilos” da região
bordalesa. E eu custei, até por causa desse prestígio que os tintos ostentam, a
perceber que os brancos têm vez na emblemática Bordeaux.
E descobri, por acaso, quando fazia aquelas indispensáveis
incursões aos supermercados em busca de alguns “achados”, algo que nos faça
crer que vale a pena continuar a degustar a poesia líquida. E não é que achei o
tal “achado”?
E de Bordeaux! Um branco bordalês! Desculpem-me se eu fiquei
animado quando, nessa altura da vida, encontrei um branco de Bordeaux, mas para
mim é uma novidade diante de tantos tintos dessa região.
E é tão novo, não apenas pelo fato de ser um branco de Bordeaux,
mas de uma sub-região que, à época, quando o comprei, eu, diante da minha
estupenda ignorância, desconhecia: Entre-Deux-Mers.
Claro que tudo isso gerou um clima de excitação, eu precisava
ter esse vinho em minha adega, haja vista que não é tarefa fácil encontrar uma
boa variedade desses rótulos por aqui em terras brasileiras. E o preço também
excitou: cerca de R$34,90, aproximadamente. Dizem que é uma temeridade comprar
Bordeaux a esses valores! Que se dane! Comprar vinho é um risco, então vamos encará-los!
Sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei, veio de Bordeaux, de Entre-Deux-Mers, e se chama L’Esquirre,
composto pelo blend das castas Semillon (50%) e Sauvignon Blanc (50%) da safra
2020. Falemos um pouco de Entre-Deux-Mers.
Entre-Deux-Mers: Entre dois mares
O extenso território situado entre Graves e Sain-Émilion,
dentro do “Y” formado pelos afluentes Garrone e Dordogne, ganhou sua
denominação que significa “Entre-dois-Mares”. O nome da região é derivado, não
da palavra francesa “mer” ("mar"), mas de "marée"
("maré"). Assim, significa "entre duas marés", uma
referência à sua localização entre dois rios de maré.
Com 3.000 hectares (7.400 acres), é a maior sub-região de
Bordeaux, embora, como existem grandes áreas de floresta, apenas metade da
terra é usada para o cultivo de uvas. A área total de vinha é de cerca de 1.500
hectares (3.700 acres), com cerca de 250 produtores fazendo vinho nesta região.
Essa sub-região sempre foi conhecida por seus vinhos brancos,
na AOC de mesmo nome, mas nas últimas décadas progrediu muito a produção de
vinhos tintos nas AOC regionais Bordeaux e Bordeaux Supérieur, baseados na uva
mais plantada em Bordeaux - a Merlot. É uma região de interesse onde surgem
boas descobertas.
A região vinícola de Entre-Deux-Mers possui 8 apelações:
Bordeaux-Haut-Benauge (AOC), Côtes de Bordeaux Saint-Macaire (AOC),
Entre-Deux-Mers (AOC), Entre-Deux-Mers-Haut-Benauge (AOC), Graves de Vayres
(AOC), Loupiac (AOC), Premières Côtes de Bordeaux (AOC) e Sainte-Croix du Mont
(AOC).
A apelação Bordeaux e suas derivadas (Bordeaux Supérieur,
Bordeaux Blanc Sec, Bordeaux Clairet, Bordeaux Rosé, Crémant de Bordeaux) é uma
apelação regional: Todos os vinhos produzidos no departamento da Gironde podem
se classificar para usar esta AOC. Os produtores mais qualificados preferem
usar as apelações comunais como Pauillac ou Moulis, mas todos podem produzir
vinhos na AOC Bordeaux. Curiosamente vários produtores de Blaye preferem usar
AOC Bordeaux.
A AOC Bordeaux Supérieur não produz vinhos brancos secos. Na
AOC Bordeaux os tintos são produzidos principalmente em Entre-Deux-Mers, ao sul
de Graves, na margem direita (fora das zonas de AOC) e também uma pequena área
no Médoc, perto da cidade de Bordeaux.
Esses pequenos Bordeaux hoje são comercializados com preços
muito competitivos e sua qualidade os faz ótima compra. Na maioria são
produzidos com uma presença maior de Merlot (70-90%), podendo jovens ser sem
madeira, 30% de barrica.
Os pequenos Bordeaux podem ter 70%, 80% ou mais de Merlot,
beneficiando-se assim da maior produtividade dessa uva e produzindo vinhos
macios e fáceis de agradar, com bons preços.
Esses vinhos podem ser elaborados sem madeira, com 30% ou com
100% de madeira, nesse caso os preços variam bastante, mas são vinhos que
surpreendem.
Os brancos são tradicionalmente produzidos com Sauvignon
Blanc, seja em varietais, na atualidade, ou em cortes tradicionais com Sémillon
e Muscadelle.
A AOC Bordeaux Supérieur possui normas de produção mais
rígidas, como menores rendimentos por hectare e maturação mais longa. O nível
médio de qualidade é bom, mas cada vez mais produtores se destacam pela alta
qualidade de seus vinhos.
A denominação Entre-Deux-Mers tem as seguintes
características:
1 - Vinho branco seco: menos de 4 gramas/litro de açúcar
residual;
2 - Lote de três castas: Sauvignon Blanc (principalmente),
Sémillon e Muscadelle;
3 - Teor alcoólico mínimo de 11,5%;
4 - O vinho é tipicamente apreciado jovem – dentro de um ano
de safra – mas tem algum potencial de envelhecimento, devido ao Sémillon.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um amarelo palha com reflexos esverdeados bem
brilhantes, límpido e com lágrimas finas, dispersas e ligeiras.
No nariz intensidade aromática alta com as notas frutadas
predominando, com destaques para frutas amarelas, de polpa branca e cítricas,
tais como pêssego, em destaque, abacaxi, pera, maçã-verde, combinados com uma
boa mineralidade e algo floral, de flores brancas.
Na boca é seco, com incrível frescor e leveza, mas que traz
certo volume de boca, é um vinho cheio, diria entregar uma discreta untuosidade,
com a fruta aparecendo, como no aspecto olfativo, com uma acidez média e
agradável e um final de persistência média.
Bordeaux é sempre Bordeaux! E algumas “máximas” quanto a
qualidade dos vinhos tendo como parâmetro o preço, não funcionou, pelo menos na
minha reles e humilde percepção! Não quero entrar em discussões polarizadas e
tão pouco questionar a qualidade dos Bordeaux mais caros e de “grife”, mas há
sim vida nos bordaleses mais baratos. Esse L’Esquirre (Camarão, em francês),
trouxe aquelas notas agradáveis de frutas como maracujá, abacaxi, pera, um
delicado floral, boa acidez e uma leveza sem igual. Belo Bordeaux! Tem 12,5% de
teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Seignouret Frères:
Fundada em 1830, A Seignouret Frères é uma das casas comerciais mais antigas de Bordeaux. No entanto, a história de seu fundador, François Seignouret, parece muito com uma história de sucesso americana. Nascido em Bordeaux em 1783, chegou a Nova Orleans em 1808. A cidade, que acaba de passar sob a bandeira americana, está crescendo. François Seignouret lança-se com sucesso no design de tapeçaria e mobiliário.
Em 1820, sua reputação se estendeu além da Louisiana. Ele é
então considerado o fabricante dos móveis mais elegantes do sul dos Estados
Unidos. Ainda hoje, possuir um “Seignouret” é um privilégio.
Para atender à crescente demanda por vinhos franceses nos
Estados Unidos, Seignouret fundou uma casa de exportação em 1830, a rue de la
Verrerie. Em Nova Orleans, ele converteu suas oficinas em adegas onde
engarrafava vinhos excepcionais como Château Margaux, Château Lafite, Château
Latour, Château Mouton Rothschild e Château Haut-Brion.
François Seignouret morre em Bordeaux em 1852. Seu negócio
permanecerá nas mãos dos descendentes da família Seignouret até 1927, quando a
casa é comprada pela família Brou de Laurière antes de ser adquirida em 2011
por Laurent Barrier e Erwan Flageul.
Entre os últimos comerciantes de vinho independentes em
Bordeaux, Seignouret Frères segue uma abordagem muito particular: combina sua
busca permanente por safras excepcionais e exclusivas com a paixão pelas
profissões da vinha e da vinificação.
Igualmente essencial é a proximidade que cultivamos com os
nossos clientes e parceiros, elemento essencial para nos mantermos proativos e
respondermos de forma adequada às suas necessidades.
Graças ao seu conhecimento histórico dos terroirs, apurado ao
longo de dois séculos, Seignouret Frères sabe como selecionar grands crus
excepcionais e descobrir os tesouros escondidos de Bordeaux. Um know-how
enológico interno também permite produzir cuvées e marcas muito apreciadas
pelos conhecedores. Cada garrafa é cuidadosamente armazenada em adegas internas
mantidas em temperatura e umidade ideais.
A Seignouret Frères gera mais de 80% do seu volume de
negócios com exportações. A casa sempre esteve muito presente em nichos de
mercado: departamentos e territórios ultramarinos, Pacífico, Sudeste Asiático,
Caribe, África, Europa Oriental, América Central e América do Sul. A Seignouret
Frères também trabalha com lojas duty
free e companhias aéreas.
Mais informações acesse:
Referências:
“Além do Vinho”: https://alemdovinho.wordpress.com/2016/03/23/os-segredos-de-bordeaux/
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/direita-ou-esquerda_9559.html
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=ENTREDX_R
“Wikipedia: https://en.m.wikipedia.org/wiki/Entre-Deux-Mers
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