sábado, 6 de maio de 2023

Nebbiolo D'Alba Brumo 2018

 

“Todo Barolo é feito com Nebbiolo, mas nem toda Nebbiolo é feita com Barolo”. Sempre li ou ouvi essa frase quando o assunto era o “Rei dos Vinhos” ou o “Vinho dos Reis”, o Barolo, um pequeno, mas emblemático local que fica na região italiana do Piemonte.

E sempre que lia ou ouvia os tais influenciadores do universo do vinho falar em Barolo ou Nebbiolo, achava que tais vinhos jamais desfilariam em minha reles e humilde adega. O tempo foi passando e as possibilidades foram aumentando. Tinha uma luz, mesmo que distante, no fim do túnel.

Alguns e-commerces começaram a baratear alguns Barolos e sim, começou a se tornar viável, palpável a possibilidade de tê-los em minha adega. Consegui, com alguma dificuldade, comprar o meu primeiro Barolo, há cerca de 3 anos atrás, aproximadamente.

E como foi especial tal momento! Ter um clássico italiano desse porte em minha adega era certeza de que estava no caminho certo para as cortinas se abrirem para a aquisição de outros clássicos do país da bota. E não há país no mundo que produza tantos clássicos como a Itália.

Mas com a compra de meu primeiro Barolo eu descobri que para apreciá-lo em sua plenitude, tem de fazê-lo com pelo menos uns oito ou nove anos de garrafa. O meui rótulo, de 2016, precisava esperar um pouco mais, porém a ansiedade gritava a plenos pulmões para degustar.

O que fazer? Foi nesse momento que eu descobri essa frase que iniciou o texto. Então podemos ter rótulos com a clássica Nebbiolo, mas que não é o Barolo e que poderia ser degustado mais cedo. Então me coloquei a pesquisar rótulos com valores atraentes para degustar mais cedo e finalmente conhecer, na taça, a Nebbiolo.

De início pesquisei alguns da região do Langhe, os mais famosos, e os valores estavam demasiadamente altos, até mais que o Barolo! O que fazer? Continuar procurando. Afinal estava determinado a ter um Nebbiolo que não precisava ser Barolo!

E em um site mais popular, de alcance diversificado de público, encontrei um Nebbiolo, porém da região de Alba, no Piemonte, com um preço irresistível, na faixa, à época, de R$89,00, e não hesitei, comprei.

O vinho evoluiu ainda alguns anos, talvez cerca de dois anos, na adega, evoluindo, precisava também de tempo, afinal, embora na seja Barolo, é um Nebbiolo e a casta é conhecida pelo seu tanino marcado e acidez alta. Esperei, no auge da ansiedade, um pouco mais, fui paciente.

Hoje, olhando a adega e o vinho, decidi que seria o momento propício para degusta-lo, enfim chegou o aclamado momento! Hoje com seus exatos cinco anos de garrafa creio que o encontrarei no auge da degustação.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região de Alba, no Piemonte, terra do Barolo, na Itália e se chama Brumo, um 100% Nebbiolo da safra 2018. E como não podemos negligenciar a história, vamos de Alba, Piemonte e da minha “estreia”, a Nebbiolo.

Piemonte: a filha pródiga dos vinhos italianos

A região do Piemonte disputa com Toscana a primazia de produzir os melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da Itália, fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início à produção de vinhos.

Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do norte da Europa.

A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou ao clarete, que era a moda na Europa de então.

Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha. plantada de vinhedos.


Piemonte

Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram cerca de 26% de terras planas.

Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara, dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos aluviais.

O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo, vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália), Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas francesas, como a Cabernet Sauvignon.

As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG (Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D' Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di Origine Controllata) e vários Vini da Tavola de boa qualidade.

As sub-regiões do Piemonte

As sub-regiões do Piemonte diferem bastante entre si e possuem muitas DOC. São elas:

Monferrato

É uma vasta região de colinas, que pode ser dividida em duas partes bem diferentes:

Basso Monferrato - (Raciocinar ao inverso) é a parte mais setentrional e de maiores altitudes, com a base pelos 350m e os picos em 700m, um território muito apropriado para os vinhedos. Aqui predominam a Barbera e a Grignolino, em vinhos macios e fáceis de beber se comparados aos demais tintos piemonteses. Em Chieri se produz um Freisa DOC.

DOC: Albugnano, Cisterna d´Asti, Colline Torinesi, Dolcetto d`Asti , Freisa di Chieri, Gabiano, Grignolino d`Asti, Grignolino del Monferrato, Malvasia di Casorzo d`Asti, Malvasia di Castelnuovo Don Bosco, Monferrato, Rubino di Cantavenna , Ruché di Castagnole Monferrato

DOCG: Barbera d`Asti, Barbera del Monferrato,

Alto Monferrato - Ainda raciocinando invertido, aqui estão altitudes menores, e curiosamente o terreno é mais acidentado, com encostas mais íngremes e vales mais profundos. Esta conformação estranha tem seu efeito na viticultura, inicialmente pelo plantio de Barbera e Moscato, seguido das uvas autóctones como a Cortese, que aqui tem sua melhor expressão, na DOCG Gavi. Em seguida vem a Dolcetto, com ótimos resultados no entorno de Acqui e Ovada ambas DOCs. A terceira menção é a Brachetto, muito difundida no passado, mas hoje restrita a 50 hectares em Strevi. O Alto Monferrato costuma ser dividido em Monferrato Casalese e Monferrato Astigiano, por suas diferenças de território.

DOC: Dolcetto d`Acqui, Cortese Dell`Alto Monferrato, Dolcetto d`Alba, Loazzolo,

DOCG: Asti, Bracchetto d`Acqui (Acqui), Moscato dAsti, Gavi (Cortese di Gavi).

Langhe

Tem seu principal centro vitícola em Alba, mas a fama mundial desta província veio de dois centros menores, Barolo e Barbaresco. É neste local que a Nebbiolo, já qualificada em outras sub-regiões, se exprime ao nível mais alto, nestes ícones italianos. Aqui também se produzem os qualificados Moscato dAsti, os ótimos Nebbiolo, o Barbera dAlba e quatro Dolcettos, sendo o melhor o Dogliani. Para acolher os vinhos menos portentosos, mas muito bons, existe a DOC Langhe.

DOC: Barbera d`Alba, Dolcetto delle Langhe Monregalesi, Dolcetto di Dogliani, Dolcetto di Ovada, Dolcetto delle Langhe Monregalesi, Langhe, Nebbiolo d`Alba, Verduno Pelaverga (Verduno),

DOCG: Barbaresco, Barolo, Dolcetto delle Langhe Superiore, Dolcetto di Diano d`Alba (Diano dAlba), Dolcetto di Ovada Superiore (Ovada)

Roero

É um distrito situado na margem oposta a Alba, tendo como centros Bra e Canale. Aqui também se planta Nebbiolo, mas as brancas Arneis e Favorita, que no passado eram usadas em cortes, hoje produzem ótimos varietais.

DOC: Roero e Roero Arneis

Colline Astigniame

Compreendem uma área de vinicultura de grande interesse, situadas entre Canelli e Nizza, onde se produzem Moscato d`Asti e Barbera d`Asti. Aqui se diz ter sido inventado o espumante, há mais de um século e que tem aqui seu maior centro produtivo.

Colli Tortonesi

Estão entre o Alto Monferrato e o Pavese e possuem características ambientais e culturais típicas do Piemonte. As variedades principais são a Barbera eCortese, mas têm-se trabalhado outras uvas. Recentemente foi descoberta a variedade branca Timorasso.

DOC: Colli Tortonese

Colli Saluzzesi

Engloba 9 comunidades em Cuneo nas colinas suaves vale do rio Po. Aqui se cultivam Barbera e Nebbiolo, e também as variedades Pelaverga e Quagliano, das quais se produzem varietais.

DOC: Colline Saluzzesi, Pinerolese

Cavanese

Está na região a nordeste de Torino, com duas regiões vinícolas de importância:

A primeira está centrada no município de Caluso, se estendendo até as colinas de Ivrea. Aqui predomina a variedade autóctone branca Erbaluce, que produz um vinho passito tradicional e um branco delicado.

A segunda é a zona de Carema, com vinhedos em terraços com muros de pedra e pérgolas, cultivando a Nebbiolo.

DOC: Erbaluce di Caluso, Caluso Passito, Cavanese, Carema

Colli Novaresi e Colli Vercellosi

Estão situadas a noroeste, perto do lago Maggiore, nas províncias de Biella, Novara e Vercelli, abrigando diversas DOCs, algumas de alto nível. A mais prestigiada é o Gattinara, tinto famoso desde a corte de Carlos V, que hoje foi elevada a DOCG, e também a DOC Ghemme.

DOC: Boca, Bramaterra , Colline Novaresi, Coste della Sesia, Fara, Lessona, Sizzano,

DOCG: Gattinara, Ghemme


Nebbiolo

Originária da região do Piemonte, na Itália, onde foi identificada no século XIII, quando ela era chamada de Nibiol, a uva Nebbiolo é a uva dos grandes vinhos tintos italianos, como os reputados Barolo e Barbaresco e, ao lado da casta Sangiovese, é uma das mais nobres cepas tintas da Itália.

O nome da casta é baseado nas condições climáticas da região de Piemonte, local conhecido por apresentar uma forte presença de neblina. O termo Nebbiolo provém da palavra nebbia (neblina), condição climática extremamente presente nas colinas de cultivo da casta na época do outono, período em que a uva é colhida para dar início à elaboração de vinhos tintos poderosos.

Na Itália pode-se encontrar uma série de sinônimos para algumas das principais variedades do país. E a Nebbiolo, estrela do Piemonte, não fica atrás e recebe outros vários nomes. Na região de Valtellina, por exemplo, ela pode ser encontrada e com o nome de Chiavennasca. Outros sinônimos menos comuns são Prunent, Spanna e Picoutender.

Possuindo cacho alongado e casca fina, as uvas denotam uma presença marcante de pruína, uma espécie de cera que confere um leve tom esbranquiçado ao bago da Nebbiolo, outra característica que pode ter influenciado a escolha do nome para essa casta.

Nebbiolo

A uva Nebbiolo é cultivada nas encostas da região do Piemonte, local que reúne características singulares para que haja o crescimento e amadurecimento correto das vinhas, tornando-as favoráveis à elaboração de vinhos tintos intensos.

Seus vinhos têm aroma intenso e complexo, maravilhoso, com características únicas. Na boca são poderosos, tânicos, com grande acidez e bastante austeridade. Perfeitos para acompanhar momentos gastronômicos que possuam sabores marcantes e fortes, os tintos elaborados com a casta Nebbiolo acompanham de forma única e com duradouro momento de prazer e degustação carnes assadas, risotos e queijo grana padano.

Embora seja uma uva um pouco difícil ao primeiro contato, ela produz vinhos tintos grandiosos, que podem durar muito tempo. Alguns dos vinhos elaborados com a casta Nebbiolo amadurecem mais de 10 anos antes de serem apreciados e degustados, atingindo o melhor ponto de consumo.

Os vinhos da região de Barolo, são elaborados 100% com a uva Nebbiolo. São vinhos bastante profundos, intensos, longevos rústicos e com excelente potencial de guarda.

Já os Barbarescos são menos tânicos que os Barolos, mas ainda assim muito complexos. Seus aromas são mais puxados para as frutas vermelhas, como morango, framboesa e cereja.

Há ainda outras variações menos complexas, como Langhe Nebbiolo, Nebbiolo D’Alba e Magno. São vinhos que apresentam as mesmas características da uva, porém não necessitam de tanto tempo evoluindo em garrafa, podendo ser apreciados mais jovens.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi de intensidade média, lembrando um Pinot Noir, apenas visualmente, com halos granada, atijolado, mas com muito brilho, além de lágrimas finas, lentas e em profusão denotando seu alto teor alcoólico.

No nariz aromas abundantes e fragrantes de frutas vermelhas maduras, como framboesas, cerejas e morangos, variando com notas especiadas, de pimenta, com um evidente amadeirado, graças aos 80% do lote que passou 12 meses em barricas de carvalho, que entrega baunilha, um discreto defumado.

Na boca é seco, poderoso, estruturado, robusto e como no aspecto olfativo se mostra complexo, mas elegante e equilibrado. A fruta vermelha madura ganha protagonismo no paladar, bem como os toques amadeirados, mas ambos em total sinergia, com notas de chocolate, baunilha, caramelo, toffee, mentolado e algo de terra molhada. Traz taninos marcados, potentes e presentes, com uma intensa acidez, extremamente salivante com um final persistente e cheio.

A primeira experiência com a Nebbiolo foi especial, única, certamente ficará na memória por todo o sempre, enquanto houver uma taça, enquanto houver amor pelo vinho, esse rótulo estará em minha mente e foi uma “entrada” e tanto para a degustação dos meus já seis rótulos que possuo em minha adega! Sim! O Tempo foi passando e o Barolo já faz parte da minha vida enófila! Que o tempo passe e que me brinde com os melhores Barolos que pude ter.

E aqui vale uma curiosidade sobre o nome do vinho degustado, o Brumo Nebbiolo 2018. A Nebbiolo, casta nobre típica do Piemonte, recebe o nome de “pruina”, uma substância que podemos encontrar na casca das bagas que as faz parecer cobertas por neblina (“nebbia” ou “bruma” em italiano). E é na época do nevoeiro – entre Outubro e Novembro – que o Nebbiolo amadurece: agora se explica o nome do nosso Nebbiolo d'Alba DOC “Brumo”.

Tem 14% de teor alcoólico.

 Sobre a SanSilvestro Vini:

A vinícola San Silvestro está localizada em Novello , no coração do  distrito de Barolo . Aqui, Paolo e Guido Sartirano comandam os negócios com sabedoria e respeito pela tradição e pela história desta empresa.

Eles representam a quarta geração e querem respeitar o trabalho que sua família fez para chegar onde está hoje. Investimentos para o futuro com olhos atentos aos valores que aprenderam com seus ancestrais: consistência, autenticidade e inovação.

Cada taça incorpora esses três princípios para devolver vinhos que refletem a singularidade desta grande área. Trabalhando em estreita colaboração com viticultores de diferentes áreas vinícolas, San Silvestro oferece uma variedade de vinhos que vão de Gavi a Barbaresco, passando pelos distritos de Asti e Barolo.

Mais informações acesse:

https://www.sansilvestrovini.com/?lang=en

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=PIEMONTE

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nebbiolo

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/nebbiolo-famosa-uva-do-piemonte-e-seus-outros-nomes_12622.html

“Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/uva-nebbiolo/

 

 

 

 

 

 

 






 


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