“Todo Barolo é feito com Nebbiolo, mas nem toda Nebbiolo é
feita com Barolo”. Sempre li ou ouvi essa frase quando o assunto era o “Rei dos
Vinhos” ou o “Vinho dos Reis”, o Barolo, um pequeno, mas emblemático local que
fica na região italiana do Piemonte.
E sempre que lia ou ouvia os tais influenciadores do universo
do vinho falar em Barolo ou Nebbiolo, achava que tais vinhos jamais desfilariam
em minha reles e humilde adega. O tempo foi passando e as possibilidades foram
aumentando. Tinha uma luz, mesmo que distante, no fim do túnel.
Alguns e-commerces
começaram a baratear alguns Barolos e sim, começou a se tornar viável, palpável
a possibilidade de tê-los em minha adega. Consegui, com alguma dificuldade,
comprar o meu primeiro Barolo, há cerca de 3 anos atrás, aproximadamente.
E como foi especial tal momento! Ter um clássico italiano
desse porte em minha adega era certeza de que estava no caminho certo para as
cortinas se abrirem para a aquisição de outros clássicos do país da bota. E não
há país no mundo que produza tantos clássicos como a Itália.
Mas com a compra de meu primeiro Barolo eu descobri que para
apreciá-lo em sua plenitude, tem de fazê-lo com pelo menos uns oito ou nove
anos de garrafa. O meui rótulo, de 2016, precisava esperar um pouco mais, porém
a ansiedade gritava a plenos pulmões para degustar.
O que fazer? Foi nesse momento que eu descobri essa frase que
iniciou o texto. Então podemos ter rótulos com a clássica Nebbiolo, mas que não
é o Barolo e que poderia ser degustado mais cedo. Então me coloquei a pesquisar
rótulos com valores atraentes para degustar mais cedo e finalmente conhecer, na
taça, a Nebbiolo.
De início pesquisei alguns da região do Langhe, os mais
famosos, e os valores estavam demasiadamente altos, até mais que o Barolo! O que
fazer? Continuar procurando. Afinal estava determinado a ter um Nebbiolo que
não precisava ser Barolo!
E em um site mais popular, de alcance diversificado de
público, encontrei um Nebbiolo, porém da região de Alba, no Piemonte, com um
preço irresistível, na faixa, à época, de R$89,00, e não hesitei, comprei.
O vinho evoluiu ainda alguns anos, talvez cerca de dois anos,
na adega, evoluindo, precisava também de tempo, afinal, embora na seja Barolo,
é um Nebbiolo e a casta é conhecida pelo seu tanino marcado e acidez alta.
Esperei, no auge da ansiedade, um pouco mais, fui paciente.
Hoje, olhando a adega e o vinho, decidi que seria o momento propício para degusta-lo, enfim chegou o aclamado momento! Hoje com seus exatos cinco anos de garrafa creio que o encontrarei no auge da degustação.
Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei veio da região de Alba, no Piemonte, terra do Barolo, na
Itália e se chama Brumo, um 100% Nebbiolo da safra 2018. E como não podemos
negligenciar a história, vamos de Alba, Piemonte e da minha “estreia”, a
Nebbiolo.
Piemonte: a filha pródiga dos vinhos italianos
A região do Piemonte disputa com Toscana a primazia de
produzir os melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da
Itália, fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início
à produção de vinhos.
Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um
grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas
mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do
norte da Europa.
A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das
uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática
da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por
séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou
ao clarete, que era a moda na Europa de então.
Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha. plantada de vinhedos.
Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da
montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A
maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram
cerca de 26% de terras planas.
Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade
também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se
encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara,
dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras
de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos
aluviais.
O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos
rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As
uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo,
vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália),
Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas
francesas, como a Cabernet Sauvignon.
As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato
Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG
(Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos
vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D'
Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di
Origine Controllata) e vários Vini da
Tavola de boa qualidade.
As sub-regiões do Piemonte
As sub-regiões do Piemonte diferem bastante entre si e possuem
muitas DOC. São elas:
Monferrato
É uma vasta região de colinas, que pode ser dividida em duas
partes bem diferentes:
Basso Monferrato - (Raciocinar ao inverso) é a parte mais
setentrional e de maiores altitudes, com a base pelos 350m e os picos em 700m,
um território muito apropriado para os vinhedos. Aqui predominam a Barbera e a
Grignolino, em vinhos macios e fáceis de beber se comparados aos demais tintos
piemonteses. Em Chieri se produz um Freisa DOC.
DOC: Albugnano, Cisterna d´Asti, Colline Torinesi, Dolcetto
d`Asti , Freisa di Chieri, Gabiano, Grignolino d`Asti, Grignolino del
Monferrato, Malvasia di Casorzo d`Asti, Malvasia di Castelnuovo Don Bosco,
Monferrato, Rubino di Cantavenna , Ruché di Castagnole Monferrato
DOCG: Barbera d`Asti, Barbera del Monferrato,
Alto Monferrato - Ainda raciocinando invertido, aqui estão
altitudes menores, e curiosamente o terreno é mais acidentado, com encostas
mais íngremes e vales mais profundos. Esta conformação estranha tem seu efeito
na viticultura, inicialmente pelo plantio de Barbera e Moscato, seguido das
uvas autóctones como a Cortese, que aqui tem sua melhor expressão, na DOCG
Gavi. Em seguida vem a Dolcetto, com ótimos resultados no entorno de Acqui e
Ovada ambas DOCs. A terceira menção é a Brachetto, muito difundida no passado,
mas hoje restrita a 50 hectares em Strevi. O Alto Monferrato costuma ser
dividido em Monferrato Casalese e Monferrato Astigiano, por suas diferenças de
território.
DOC: Dolcetto d`Acqui, Cortese Dell`Alto Monferrato, Dolcetto
d`Alba, Loazzolo,
DOCG: Asti, Bracchetto d`Acqui (Acqui), Moscato dAsti, Gavi (Cortese di Gavi).
Langhe
Tem seu principal centro vitícola em Alba, mas a fama mundial
desta província veio de dois centros menores, Barolo e Barbaresco. É neste
local que a Nebbiolo, já qualificada em outras sub-regiões, se exprime ao nível
mais alto, nestes ícones italianos. Aqui também se produzem os qualificados
Moscato dAsti, os ótimos Nebbiolo, o Barbera dAlba e quatro Dolcettos, sendo o
melhor o Dogliani. Para acolher os vinhos menos portentosos, mas muito bons,
existe a DOC Langhe.
DOC: Barbera d`Alba, Dolcetto delle Langhe Monregalesi,
Dolcetto di Dogliani, Dolcetto di Ovada, Dolcetto delle Langhe Monregalesi,
Langhe, Nebbiolo d`Alba, Verduno Pelaverga (Verduno),
DOCG: Barbaresco, Barolo, Dolcetto delle Langhe Superiore,
Dolcetto di Diano d`Alba (Diano dAlba), Dolcetto di Ovada Superiore (Ovada)
Roero
É um distrito situado na margem oposta a Alba, tendo como
centros Bra e Canale. Aqui também se planta Nebbiolo, mas as brancas Arneis e
Favorita, que no passado eram usadas em cortes, hoje produzem ótimos varietais.
DOC: Roero e Roero Arneis
Colline Astigniame
Compreendem uma área de vinicultura de grande interesse,
situadas entre Canelli e Nizza, onde se produzem Moscato d`Asti e Barbera
d`Asti. Aqui se diz ter sido inventado o espumante, há mais de um século e que
tem aqui seu maior centro produtivo.
Colli Tortonesi
Estão entre o Alto Monferrato e o Pavese e possuem
características ambientais e culturais típicas do Piemonte. As variedades
principais são a Barbera eCortese, mas têm-se trabalhado outras uvas.
Recentemente foi descoberta a variedade branca Timorasso.
DOC: Colli Tortonese
Colli Saluzzesi
Engloba 9 comunidades em Cuneo nas colinas suaves vale do rio
Po. Aqui se cultivam Barbera e Nebbiolo, e também as variedades Pelaverga e
Quagliano, das quais se produzem varietais.
DOC: Colline Saluzzesi, Pinerolese
Cavanese
Está na região a nordeste de Torino, com duas regiões
vinícolas de importância:
A primeira está centrada no município de Caluso, se estendendo
até as colinas de Ivrea. Aqui predomina a variedade autóctone branca Erbaluce,
que produz um vinho passito tradicional e um branco delicado.
A segunda é a zona de Carema, com vinhedos em terraços com
muros de pedra e pérgolas, cultivando a Nebbiolo.
DOC: Erbaluce di Caluso, Caluso Passito, Cavanese, Carema
Colli Novaresi e Colli Vercellosi
Estão situadas a noroeste, perto do lago Maggiore, nas
províncias de Biella, Novara e Vercelli, abrigando diversas DOCs, algumas de
alto nível. A mais prestigiada é o Gattinara, tinto famoso desde a corte de
Carlos V, que hoje foi elevada a DOCG, e também a DOC Ghemme.
DOC: Boca, Bramaterra , Colline Novaresi, Coste della Sesia,
Fara, Lessona, Sizzano,
DOCG: Gattinara, Ghemme
Nebbiolo
Originária da região do Piemonte, na Itália, onde foi
identificada no século XIII, quando ela era chamada de Nibiol, a uva Nebbiolo é
a uva dos grandes vinhos tintos italianos, como os reputados Barolo e
Barbaresco e, ao lado da casta Sangiovese, é uma das mais nobres cepas tintas
da Itália.
O nome da casta é baseado nas condições climáticas da região
de Piemonte, local conhecido por apresentar uma forte presença de neblina. O
termo Nebbiolo provém da palavra nebbia
(neblina), condição climática extremamente presente nas colinas de cultivo da
casta na época do outono, período em que a uva é colhida para dar início à
elaboração de vinhos tintos poderosos.
Na Itália pode-se encontrar uma série de sinônimos para
algumas das principais variedades do país. E a Nebbiolo, estrela do Piemonte,
não fica atrás e recebe outros vários nomes. Na região de Valtellina, por
exemplo, ela pode ser encontrada e com o nome de Chiavennasca. Outros sinônimos
menos comuns são Prunent, Spanna e Picoutender.
Possuindo cacho alongado e casca fina, as uvas denotam uma
presença marcante de pruína, uma espécie de cera que confere um leve tom
esbranquiçado ao bago da Nebbiolo, outra característica que pode ter
influenciado a escolha do nome para essa casta.
A uva Nebbiolo é cultivada nas encostas da região do
Piemonte, local que reúne características singulares para que haja o
crescimento e amadurecimento correto das vinhas, tornando-as favoráveis à
elaboração de vinhos tintos intensos.
Seus vinhos têm aroma intenso e complexo, maravilhoso, com
características únicas. Na boca são poderosos, tânicos, com grande acidez e
bastante austeridade. Perfeitos para acompanhar momentos gastronômicos que
possuam sabores marcantes e fortes, os tintos elaborados com a casta Nebbiolo
acompanham de forma única e com duradouro momento de prazer e degustação carnes
assadas, risotos e queijo grana padano.
Embora seja uma uva um pouco difícil ao primeiro contato, ela
produz vinhos tintos grandiosos, que podem durar muito tempo. Alguns dos vinhos
elaborados com a casta Nebbiolo amadurecem mais de 10 anos antes de serem
apreciados e degustados, atingindo o melhor ponto de consumo.
Os vinhos da região de Barolo, são elaborados 100% com a uva
Nebbiolo. São vinhos bastante profundos, intensos, longevos rústicos e com
excelente potencial de guarda.
Já os Barbarescos são menos tânicos que os Barolos, mas ainda
assim muito complexos. Seus aromas são mais puxados para as frutas vermelhas,
como morango, framboesa e cereja.
Há ainda outras variações menos complexas, como Langhe
Nebbiolo, Nebbiolo D’Alba e Magno. São vinhos que apresentam as mesmas
características da uva, porém não necessitam de tanto tempo evoluindo em
garrafa, podendo ser apreciados mais jovens.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um rubi de intensidade média, lembrando um
Pinot Noir, apenas visualmente, com halos granada, atijolado, mas com muito
brilho, além de lágrimas finas, lentas e em profusão denotando seu alto teor
alcoólico.
No nariz aromas abundantes e fragrantes de frutas vermelhas
maduras, como framboesas, cerejas e morangos, variando com notas especiadas, de
pimenta, com um evidente amadeirado, graças aos 80% do lote que passou 12 meses
em barricas de carvalho, que entrega baunilha, um discreto defumado.
Na boca é seco, poderoso, estruturado, robusto e como no
aspecto olfativo se mostra complexo, mas elegante e equilibrado. A fruta
vermelha madura ganha protagonismo no paladar, bem como os toques amadeirados,
mas ambos em total sinergia, com notas de chocolate, baunilha, caramelo,
toffee, mentolado e algo de terra molhada. Traz taninos marcados, potentes e
presentes, com uma intensa acidez, extremamente salivante com um final
persistente e cheio.
A primeira experiência com a Nebbiolo foi especial, única, certamente ficará na memória por todo o sempre, enquanto houver uma taça, enquanto houver amor pelo vinho, esse rótulo estará em minha mente e foi uma “entrada” e tanto para a degustação dos meus já seis rótulos que possuo em minha adega! Sim! O Tempo foi passando e o Barolo já faz parte da minha vida enófila! Que o tempo passe e que me brinde com os melhores Barolos que pude ter.
E aqui vale uma curiosidade sobre o nome do vinho degustado,
o Brumo Nebbiolo 2018. A Nebbiolo, casta nobre típica do Piemonte, recebe o
nome de “pruina”, uma substância que podemos encontrar na casca das bagas que
as faz parecer cobertas por neblina (“nebbia” ou “bruma” em italiano). E é na
época do nevoeiro – entre Outubro e Novembro – que o Nebbiolo amadurece: agora se
explica o nome do nosso Nebbiolo d'Alba DOC “Brumo”.
Tem 14% de teor alcoólico.
A vinícola San Silvestro está localizada em Novello , no
coração do distrito de Barolo . Aqui,
Paolo e Guido Sartirano comandam os negócios com sabedoria e respeito pela
tradição e pela história desta empresa.
Eles representam a quarta geração e querem respeitar o
trabalho que sua família fez para chegar onde está hoje. Investimentos para o
futuro com olhos atentos aos valores que aprenderam com seus ancestrais:
consistência, autenticidade e inovação.
Cada taça incorpora esses três princípios para devolver
vinhos que refletem a singularidade desta grande área. Trabalhando em estreita
colaboração com viticultores de diferentes áreas vinícolas, San Silvestro
oferece uma variedade de vinhos que vão de Gavi a Barbaresco, passando pelos
distritos de Asti e Barolo.
Mais informações acesse:
https://www.sansilvestrovini.com/?lang=en
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=PIEMONTE
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nebbiolo
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/nebbiolo-famosa-uva-do-piemonte-e-seus-outros-nomes_12622.html
“Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/uva-nebbiolo/
Nenhum comentário:
Postar um comentário