quinta-feira, 20 de maio de 2021

DNA Murviedro Gran Astro Crianza Tempranillo 2015

 

No passado eu tinha certa rejeição, alguma controvérsia com os vinhos espanhóis. Talvez pela visão pré-concebida, preconceituosa acerca dos seus rótulos. Sempre tive a percepção de que os vinhos espanhóis ofertados em terras brasilis eram demasiados caros e pouco atrativos! Os valores altos são reais e verdadeiros até os dias de hoje, mas pouco atrativos não, nunca! Estava anestesiado pela ignorância, pela incapacidade de discernimento, de entendimento da relevância histórica e de qualidade dos vinhos da Espanha.

Mas convenhamos que no passado, cerca de 10 ou 15 anos atrás, aproximadamente, não tínhamos uma gama, um leque de opções de compra como temos em dias atuais, com uma enxurrada de e-commerce ofertando os mais variados rótulos espanhóis de todo o tipo e proposta, logo valores também, que vai do mais simbólico aos mais altos. Todavia tenho de admitir também que essa gama, essa diversidade sempre existiu, mas que, diante do ápice da minha incompetência ou diria, ingenuidade, nunca identifiquei.

O conceito de vinhos jovens, crianzas, reservas e gran reservas, nomenclaturas tão massificadas no universo do vinho, na Espanha é muito bem definido e regido por um conjunto de normas rígidas que devem ser seguidas para que esses vinhos garantam a sua tipicidade, expressando o que há de melhor de seus terroirs e consequentemente a sua qualidade, enquanto em outros polos importantes da vitivinicultura mundial e usado como marketing para se posicionar no mercado produtor de vinhos.

Quando descobri essas propostas de vinhos espanhóis, muito por acaso, uma janela de oportunidades se abriu diante dos meus olhos, me arrebatando por inteiro. Minhas experiências sensoriais se viram atraídos por esses vinhos e que culminou com o meu interesse pelos vinhos evoluídos, pelos vinhos de vocação de guarda. Sim, os crianzas, reservas e, sobretudo os gran reservas entregam longevidade.

E hoje, com a presença de um querido amigo que compõe a nossa nova e espero longeva confraria, reservo para degustando um interessante e instigante crianza que me chamou muita a atenção pelo surpreendente valor, um valor atrativo, na faixa dos R$ 39,90, de uma emblemática região espanhola, a grife dos vinhos daquele país, chamada Rioja, uma região que não degustava vinhos há tempos e que, no início, me deixou um tanto quanto receoso, afinal um vinho de Rioja a esse valor! Como? Mas o que me trouxe certa tranquilidade, reforçando a minha decisão de compra-lo foi o seu produtor, chamado Murviedro, cujos vinhos já degustei dois rótulos, com destaque para o Murviedro Collection Petit Verdot 2015 excepcional. Então assumi o risco e comprei!

O vinho que degustei e gostei como disse veio da região espanhola tradicional de Rioja e se chama DNA Murviedro Signature Gran Astro, um crianza, da safra 2015, da emblemática casta Tempranillo (100%), um DOC riojano. Esse é o meu terceiro crianza, os primeiros foram o Viña Chatel 2013 e o El Misionero da safra 2015. E já que falei muitas vezes dos vinhos “crianza”, vale e muito a pena embarcar no conceito desses vinhos e também da importante Rioja para a Espanha.

Crianza

O termo “Crianza”, encontrado em alguns dos rótulos dos vinhos espanhóis, ainda causa muita confusão. Ao contrário do que muitos imaginam, a palavra não está relacionada à jovialidade do vinho (não tem nada a ver com criança). A questão principal ao falar sobre um vinho Crianza é a sua maturação. O termo Crianza em espanhol é aplicado para determinar que àquele vinho passou por um processo em barrica de carvalho, desse modo, entrando em contato com madeira, e com isso, adquirindo corpo.

Geralmente um crianza estagia, no mínimo, seis meses em barrica de carvalho. Nas regiões de Rioja e Ribera del Duero, o tempo em carvalho aumenta para um ano. No caso dos brancos e rosés, mínimo de seis meses em barricas e total de um ano e meio de amadurecimento. E o que isso representa? Que é um vinho mais elaborado e que, por ter amadurecido em contato com a madeira, ganhou mais complexidade de aromas e sabores quando comparado a vinhos que não passam por este estágio.

Como todos os vinhos que passam por madeira – e podemos incluir os vinhos Reserva e Gran Reserva – os vinhos Crianza tem um maior volume de aromas, complexidade e sabores. São indicados para uma apreciação paciente e para acompanhar pratos que exijam uma presença de vinhos aromáticos.

Leia mais sobre os vinhos crianza, reserva e gran reserva em: Vinho espanhol Crianza, Reserva, Gran Reserva e outras classificações.

Rioja: a mais famosa região vinícola da Espanha

A Espanha é um retalho de diferentes denominações de origem ligadas ao vinho. Entre as mais importantes está Rioja, no nordeste do país, às margens do rio Ebro, com 63.593 hectares de vinhedos distribuídos no território das três províncias que margeiam o rio: La Rioja, Álava e Navarra. Cem quilômetros de distância separam Haro, a cidade mais ocidental, de Alfaro, a mais oriental. O vale ocupado por vinhedos tem cerca de 40 quilômetros de largura máxima.

Rioja

As primeiras vinhas desse vale remontam ao período romano e a cultura do vinho foi mantida durante a Idade Média pelos monges. Aliás, Gonzalo de Berceo, monge em San Millan de la Cogolla, considerado o primeiro poeta do idioma castelhano, chegou a exaltar em versos o vinho local. No entanto, durante séculos, a principal cultura local foi a de cereais. O vinho só tomaria lugar de destaque na Idade Moderna, com o aparecimento das cidades e o florescimento do comércio. Um dos principais marcos do vinho na região foi a criação do Conselho Real de Colhedores, em 1787, que visava promover o cultivo da videira, contribuir para melhorar a qualidade dos vinhos e facilitar o comércio dentro dos mercados do norte, de modo que sua dedicação prioritária foi construir e melhorar estradas e pontes para unir as cidades vinícolas de Rioja com Vitória e o porto de Santander.

O auge, porém, foi com a fundação de vinícolas históricas em meados do século XIX, a chegada da estrada de ferro e dos compradores franceses, devido à crise da filoxera. Enólogos ilustres como Luciano Murrieta (Marqués de Murrieta), Camilo Hurtado de Amezaga (Marqués de Riscal) e Rafael López Heredia (Viña Tondonia) introduziram o conceito de qualidade nos vinhos de Rioja.

Desde então, as vinícolas de Rioja têm estado à frente de muitas revoluções na indústria do vinho espanhol, especialmente durante a revolução tecnológica da década de 1970. A Denominação de Origem Qualificada foi dada em abril de 1991, fazendo com que Rioja se tornasse a primeira região a receber o status de DOCa.

Desde então, as vinícolas de Rioja têm estado à frente de muitas revoluções na indústria do vinho espanhol, especialmente durante a revolução tecnológica da década de 1970. A Denominação de Origem Qualificada foi dada em abril de 1991, fazendo com que Rioja se tornasse a primeira região a receber o status de DOCa.

Um dos baluartes da DOCa Rioja é o uso da madeira, tanto que os vinhos são denominados qualitativamente de acordo com o tempo que passam em barrica, indo do genérico, passando pelo Crianza, depois Reserva e, por fim, Gran Reserva. No entanto, desde 2017, a região criou uma nova forma de dividir os vinhos qualitativamente ao dar mais ênfase à sua origem, além do tempo em barrica. Dessa forma, criou-se a seguinte divisão: vinhos de zona, vinhos de município e vinhos de vinhedos singulares (que seriam os mais representativos da região). E esses três tipos de vinhos então são divididos novamente em quatro categorias: genérico, Crianza, Reserva e Gran Reserva. Uma das características dos vinhos de Rioja é a aptidão que possuem para o envelhecimento.

A melhor uva tinta de Rioja é a Tempranillo, que atua com o mesmo peso das principais uvas tintas do mundo, como a Cabernet Sauvignon e a Nebbiolo. Os vinhos de Rioja são envelhecidos em tonéis de carvalho americano, atravessando um lento processo de evolução, micro-oxigenação e estabilização, o que lhes garante uma característica notoriamente distinta. Os vinhos brancos do Rioja, produzidos com a uva Viura, também participam de um longo envelhecimento nos tonéis de carvalho. Os exemplares mais modernos, que permanecem por menos tempo, adquirem um caráter leve e frutado.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi de média intensidade, vivo e muito brilhante, com lágrimas em abundância e muito finas e que teimavam em se dissipar das paredes do copo.

No nariz notas destacadas de frutas vermelhas frescas com toques amadeirados e de baunilha. Muito frescor no olfato, mostrando que o vinho, mesmo com seus seis anos de safra, estava pleno e vivo.

Na boca se revelou redondo, equilibrado e harmônico. Mesmo apresentando alguma estrutura e complexidade, o vinho se mostrou muito bem integrados entre taninos, muito amáveis e aveludados, entre a madeira, passou por 14 meses em barricas de carvalho, e acidez, de média intensidade entregando frescor, com as frutas vermelhas em evidência. Um final persistente e prolongado.

Um vinho que personifica Rioja e que foi “decantado” textualmente nesta resenha: expressivo, de marcante personalidade, mas fácil de degustar, valorizando sua elegância, seu equilíbrio, sua versatilidade. Um vinho que carrega essa máxima em seu nome: “DNA” Murviedro. Nele há a essência dos vinhos cuja origem é a fusão cultural intrínseca e ao povo das terras espanholas. Há o terroir à flor da pele, a terra represada na garrafa que, ao desarrolhar, explode em tipicidade, a força de Rioja Alta que dança na taça para deleite de nossos sentidos. Um vinho delicado, mas intenso, pleno, saboroso e de uma complexidade que só um crianza pode oferecer aos mais exigentes enófilos. A Espanha, a cada dia e rótulo, ainda revela grandes e atraentes surpresas. Teor alcoólico de 12,5%.

Sobre a Bodega Murviedro:

Em 1927 a Bodegas Schenk instala subsidiárias na Espanha, a primeira em Vilafranca del Penedès, na Catalunha, sob o nome de 'Schenk Spain'. Em 1929 abre vinícolas em Alicante, Utiel e Requena, vinícolas jovens que inicialmente optaram pelo vinho a granel de 'qualidade', uma marca registrada até hoje. Em 1931 a Schenk Espanha decide concentrar suas atividades na vinícola Valência, que, localizada ao lado do porto, foi o início de um dos pilares fundamentais da marca: as exportações. O vinho engarrafado está ganhando importância, até hoje é o foco principal da empresa, aderindo a essa “tendência”, em 1950. Em 1997 a Schenk Spain muda de sede, aproximando-se dos pés das vinhas, Requena, no coração da Denominação de Origem Utiel-Requena, produtora de vinhos de excelente qualidade. Em 2002 aproveitando a comemoração do 75º aniversário muda o nome da vinícola para 'Bodegas Murviedro', em homenagem ao seu vinho Cavas Murviedro, uma das marcas de vinho mais emblemáticas da Comunidade Valenciana e que fez de Murviedro uma das vinícolas mais reconhecidas.

Para mais informações acesse:

https://murviedro.es/

Referências:

“Blog Lovino”: https://blog.lovino.com.br/o-que-e-um-vinho-crianza/

“Blog Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/curiosidades/desvendando-vinhos-crianzas/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-grandes-vinhos-de-rioja-na-espanha_12056.html

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/rioja

“Revista Versar”: https://www.revistaversar.com.br/rioja-conheca-a-mais-famosa-regiao-vinicola-da-espanha/

 

 

 

 





segunda-feira, 17 de maio de 2021

Bertolini Teroldego 2018

 

Inspiração, novos caminhos, exemplos, tradição, histórias... São nomes que podem parecer um tanto quanto “soltos” e perdidos, mas quando falamos em vinhos brasileiros são conceitos que se fundem e que, ao longo do tempo, vem, apesar dos entraves que a política pública impõe ao vinho, vêm, a duras penas, se consolidando com força. Sem discursos ufanistas distantes da realidade do povo brasileiro, o vinho nacional vem conquistando notoriedade e respeito em todos os cantos do planeta e vem solidificando sua qualidade em terras consagradas e milenares na produção vinícola, no Velho Mundo. Pena que ainda não tivemos o reconhecimento, em todos os aspectos, em solo brasileiro, sobretudo pelos nossos governantes que, com um discurso torto e conservador, a considera apenas como um produto alcoólico e não como um alimento que é cientificamente comprovado por especialistas como benéfico à saúde.

Mas não é sobre isso que gostaria de falar, pelo menos ainda, e sim da qualidade do vinho brasileiro e quanto eles crescem em tipicidade, enaltecendo, de forma sublime, os nossos mais ricos e proeminentes terroirs. E o que mais me deixa feliz, como um apreciador da bebida de Baco, é de que castas raras ou oriundas de outros países estão sendo produzidas, cultivadas em nossas terras, adquirindo um caráter todo especial, com a nossa “assinatura”, o nosso DNA sem, é claro, abrir mão, negligenciar as suas mais genuínas características.

E, por intermédio, dos vinhos brasileiros, as conheci, estou conhecendo-as. As nossas terras entregam, com incrível brilhantismo, as castas de outras terras. Somos abençoados pela natureza, pelos nossos recursos naturais e diria culturais, dessas abnegadas pessoas que extraem, com amor e competência, a matéria-prima que nos presenteia com os seus grandes rótulos.

E assim descobri uma casta chamada Teroldego. Teroldego? Um nome esquisito, pouco usual diante dos nomes mais conhecidos como Malbec e Merlot, mas que alguns dos mais renomados e até menos conhecidos produtores desse país estão produzindo em suas vinícolas. E, depois de uma leitura mais minuciosa sobre a casta, não hesitei em comprar um exemplar dessa casta ainda pouco conhecida no Brasil.

E estava com um amigo em busca de escolha por um rótulo para compor o nosso mais novo encontro de confraria e sugeri a compra de um rótulo da casta Teroldego. E então resolvemos arriscar com um que veio de uma promissora região que fica no sudeste do Rio Grande do Sul, Encruzilhada do Sul. O Vinho que degustei e gostei, e como gostei, se chama Bertolini Riserva Famiglia Bigorna, da casta, é claro, Teroldego, da safra 2018. Já que falemos da Teroldego e de Encruzilhada do Sul, vamos traçar um histórico de todos!

Teroldego: A uva do Trentino

Teroldego (lê-se “terôldego”) é uma uva tinta da região do extremo norte de Trentino, nordeste da Itália. A primeira vez que o vinho utilizando essa uva foi mencionado (que se tem registro) foi em 1840 em Cognola na Itália, em um contrato que dizia haver uma quantidade de “bons vinhos Teroldego”.

É provável que o berço da Teroldego seja a planície Rotaliano e que tenha tomado o nome de um lugar chamado Alle Teroldege, onde vinhas foram mencionadas antes do século XV. Outra hipótese é pelo sinônimo Tiroldigo, o nome que deriva de Tiroler Gold, ouro do Tirol, este nome era, aparentemente, usado em Viena para designar vinhos de Trentino. Alguns autores sugerem que a uva foi introduzida a partir da planície vizinha de Verona, onde uma variedade chamada Terodol’i foi mencionada no passado. Estudos feitos baseados no DNA, revelou que a Teroldego é uma “irmã” da Dureza (uva extinta “mãe” da Syrah), portanto, um “tio/tia” da Syrah.

Teroldego é uma uva roxa de cor escura e cascas firmes. Produz vinhos com uma acidez e um amargor característicos e tem potencial para produzir desde vinhos de corpo mais leve até os mais encorpados.

Teroldego

Trentino continua sendo a “casa” da Teroldego. Elisabetta Foradori é a principal produtora dos vinhos Teroldego Rotaliano (D.O.C). Além disso, tais exemplares podem ser consumidos dentro de três anos após o engarrafamento ou, até mesmo, envelhecer por dez anos. Em blends, a uva Teroldego é utilizada para adicionar cor aos exemplares e é cultivada em Toscana e Veneto para esta utilidade. Outros países que produzem vinhos com esta uva são: Estados Unidos, Austrália e Brasil.

Teroldego no Brasil

A Teroldego é uma uva com fortes taninos e casca grossa e, dependendo da área onde estiver cultivada, dá origem a vinhos com diferentes estilos. Em regiões mais frias, assim como a Serra Gaúcha, essa variedade é responsável por elaborar vinhos menos potentes e aromáticos, bem como exemplares com coloração mais clara. No entanto, se a uva Teroldego estiver cultivada em regiões mais quentes e ensolaradas, como é o caso da Serra do Sudeste e Campanha, os vinhos tintos serão mais encorpados, aromáticos e com fortes taninos – suavizados com o uso de barris de carvalho. Mais informações sobre a Teroldego no Brasil leia: “Uva Teroldego resgata identidade no sul do País”.

Encruzilhada do Sul

Encruzilhada do Sul é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, localizado no Vale do Rio Pardo. O primeiro nome foi Santa Bárbara de Encruzilhada. No decorrer dos anos de 1715 até 1766 os primeiros habitantes instalaram-se no Capivari, região que hoje fica a alguns quilômetros da cidade. Surgiram na campanha os primeiros estabelecimentos pastoris, formados por uma vanguarda de missionários e índios, que lutaram juntamente com guardas que protegiam a Província das invasões espanholas. Domingos Bitencourt fez doação de uma parte de terras ao governo, onde fica a cidade de Encruzilhada do Sul, para que fosse construída uma Freguesia. Começou, então, a chegada dos primeiros povoadores de Rio Pardo, São Paulo, Açores e Laguna.

Curiosamente, a Serra do Sudeste abriga pouquíssimas cantinas. O relevo suavemente ondulado serve de sede quase que exclusivamente para vinhedos. A maior parte das uvas é transportada, geralmente à noite, até outras regiões do Rio Grande do Sul, onde é vinificada. No entanto, com o crescimento de sua importância no cenário enológico nacional e o surgimento de empreendimentos locais voltados à produção de uva, essa situação deve sofrer mudança em um futuro breve. Encruzilhada do Sul, é um amável município que fica a menos de duas horas de carro a sudoeste de Porto Alegre. Está localizado na Serra do Sudeste que possui altura média de 300 a 400 metros de altura, sendo boa parte de seu solo de pedra, com invernos rigorosos e verões com excelente insolação.

Serra do Sudeste e a Encruzilhada do Sul

Mapa Encruzilhada do Sul

A Serra do Sudeste tem colinas suaves, que facilitam o plantio e a mecanização, tornando-a um terroir mais simples de trabalhar. Aliadas a isso, estão as condições climáticas, mais favoráveis do que no Vale dos Vinhedos. Essa região tem o menor índice de chuvas do Estado do Rio Grande do Sul, além de noites frias mesmo no verão, justamente a época da maturação das uvas. Essas condições naturais, além de um solo mais pobre e de origem granítica, nos ajudam a ter maior concentração de cor, estrutura e potencial de envelhecimento dos vinhos. A expansão para a Serra do Sudeste é sinal claro da busca por qualidade dos produtores brasileiros e da diversidade de que os vinhos estão, finalmente, abraçando.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro, profundo com lágrimas grossas e abundantes que marca as paredes da taça, um vinho caudaloso que já denuncia a sua robustez.

No nariz traz um curioso aroma de fazenda, um toque terroso, de terra molhada, algo de estrebaria, um quê de rusticidade e notas discretas de frutas negras completa o coreto.

Na boca é estruturado, carnudo, aquele vinho que se degusta com “garfo e faca”, complexo, as frutas negras aparecem, toque de ameixas, por exemplo, as especiarias mostram a que vieram um fundo de ervas, com taninos poderosos e marcados, com uma acidez instigante. Tem um final longo, prolongado.

O apelo regionalista, a cultura arraigada e que personifica na tipicidade do vinho. A história, viva e latente, sendo, a cada dia escrita, a tradição se faz atual e contemporânea. As inspirações se confundem com a tipicidade, tudo isso em prol do nosso deleite, para a felicidade de quem degustará cada gota dessa bebida que é uma verdadeira poesia líquida. Um vinho de pegada, corpulento, voluptuoso, de personalidade. Assim podemos descrever o Bertolini Bigorna Teroldego. Ainda jovem, mostrou rebeldia e certa impetuosidade, mas, ao longo da degustação, foi afinando, amansando, se equilibrando, tornando-se fácil de degustar, harmônico, mas ainda assim expressivo e de marcante personalidade. Que a Teroldego encontre em nossas terras as condições necessárias para se perpetuar com cada vez mais rótulos e que nos brinde com vinhos cada vez melhores. Tem 13,7% de teor alcoólico.

Sobre a Bertolini Riserva Famiglia:

A Família Bertolini resgata sua trajetória, marcada pelo empreendedorismo, união e tradição italiana, e a transporta para a série especial “Vinhos Bertolini”, que homenageia os antepassados e os valores transmitidos pelos patriarcas. Cada garrafa expressa o talento para transformar matérias-primas em produtos de excelência. Hoje, parte da família, é reconhecida pela fundação e condução do Grupo Bertolini, referência pelo trabalho desenvolvido nos mercados moveleiro, de armazenagem e logístico, em todo o país.

Valorizando as raízes, os vinhos têm, em sua apresentação visual, o resgate dessa paixão através da representação das ferramentas de trabalho do ferreiro, ofício que o pai, Francisco, fez com maestria e deixou como legado para seus descendentes. Além de simbolizar os valores que forjaram o caráter da família Bertolini ao longo de sua história, elas expressam as características de cada vinho.

Os vinhos Bertolini têm como filosofia a naturalidade no processo de elaboração, ou seja, com o mínimo de intervenção mecânica e a preferência por métodos naturais durante a fermentação e afinamento. O mesmo vale para as correções de acidez, açúcar, feitas sem aporte de produtos químicos.

Assim, inspirados na tradição europeia, mas com um gosto contemporâneo, expressam o terroir de uma nova geração produtora no Brasil, que vem se destacando com excelentes resultados: a Encruzilhada do Sul.

O trabalho da Bertolini começou no ano de 2012. É um negócio pequeno que foi fundado por 5 irmãos em homenagem à geração anterior da família, de Domenico Bertolini, que era composta por metalúrgicos especializados em cozinhas de aço.

Dessa homenagem, vêm os nomes dos vinhos: “Cadinho”, “Bigorna” e “Tenaz”, referências às ferramentas utilizadas para a construção desses espaços. O foco é produzir líquidos que mostram ao máximo a tipicidade de Encruzilhada do Sul, região de clima ameno, em um vinho branco e vinhos tintos elaborados com uvas Chardonnay, Teroldego e uma mistura entre Merlot, Nebbiolo e Touriga Nacional: mistura europeia em vinhos brasileiros.

Referências:

“Vinho Básico”: https://www.vinhobasico.com/2015/06/26/teroldego-a-uva-do-trentino/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/teroldego

“Site Terra”: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/homem/uva-teroldego-resgata-identidade-no-sul-do-pais,d0084ee474237310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html

“Site Encruzilhada do Sul”: https://www.encruzilhadadosul.rs.gov.br/prefeitura/historia/

“Agência Preview”: https://www.agenciapreview.com/vindima-em-encruzilhada-do-sul/#:~:text=Descoberto%20na%20d%C3%A9cada%20de%201970,elaborados%20com%20uvas%20dessa%20%C3%A1rea.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html

“Blog Evino”: https://blog.evino.com.br/2020/06/vinhos-brasileiros-o-cultivo-de-uvas-da-europa-no-sul-do-brasil/#:~:text=Bertolini,-%E2%80%9CO%20nosso%20diferencial&text=O%20trabalho%20da%20Bertolini%20come%C3%A7ou,especializados%20em%20cozinhas%20de%20a%C3%A7o.

“Difusora 890”: https://difusora890.com.br/bertolini-apresenta-serie-especial-de-vinhos-que-contam-historia-da-familia/

 

 

 

 





 


J. Meyer Pinot Noir 2018

 

O meu atual estado de espírito enófilo está fazendo com que eu trafegue de forma inigualável e diria até inimaginável pelo universo do vinho e, com isso, eu chego a uma óbvia conclusão: por ser um universo ele ainda tem muito a oferecer, muitas galáxias a ser exploradas e muitas surpresas a nos proporcionar. Eu nunca esperei, como degustador de bebida de Baco, degustar vinhos germânicos. Para mim o que era acessível eram as proeminentes e viscerais bandas de rock n’ roll, bem como o seu vistoso futebol quatro vezes campeão mundial.

Sempre ouvi que naquelas terras produziam e produzem, de forma prolífica, grandes vinhos, tendo como carro-chefe a casta branca Riesling. Mas pouco conhecia, pouco sabia, pouco acesso a rótulos eu tinha, isso nos idos do início da década de 2000, quando eu comecei a flertar com os rótulos de castas vitis viníferas. A oferta, convenhamos, também era incipiente, poucos vinhos alemães adentravam o mercado brasileiro e quando acontecia os valores estavam além do que um reles trabalhador brasileiro, como eu, poderia ter.

Mas, aos poucos e em silêncio, fui acompanhando o florescer, que ainda acontece dos rótulos alemães ofertados em terras brasilis. Ainda está aquém, está um pouco lento, precisamos de mais opções de rótulos com valores mais amigáveis, com uma relação custo X benefício condizente para que, cada brasileiro tenha acesso, indistintamente aos rótulos da Alemanha.

Até que um belo dia, um grande e querido amigo de confraria, me disse que fez uma aquisição de um Pinot Noir alemão. Praticamente o intimei a leva-lo em nossa próxima degustação, afinal não podíamos deixar de celebrar a amizade degustando um néctar germânico! E ele, de posse da garrafa, veio até a minha casa e, ansiosos, mas felizes, nos preparamos para encher as nossas taças de prazer vínico.

Então o vinho que degustei e gostei veio da região alemã de Pfalz, um Pinot Noir, conhecida na Alemanha pelo nome de Spätburgunder, e se chama J. Meyer, da safra 2018. Se trata de um “Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA)”. E como eu não me atenho apenas a degustação o que já é significativo, fui buscar algumas informações sobre a Pinot Noir na Alemanha e descobri que não é apenas a Riesling que faz sucesso por lá, mas a Spätburgunder também, sobretudo pelo clima frio da Alemanha, onde a Pinot Noir encontra o seu melhor habitat, sobretudo na emblemática região de Pfalz. Falemos dela e também das nomenclaturas dos vinhos alemães, que está intimamente ligada a questão da proposta do vinho.

Pfalz

Localizada no sudoeste da Alemanha e fazendo fronteira com a Alsácia, na França, Pfalz é famosa por seus vinhos. É a segunda maior das 13 regiões vinícolas do país, com mais de três mil famílias de vinicultores dedicadas à produção de vinho. Região estreita de 22.000ha, o Platinado se estende a oeste do Reno, por cerca de 80 km seguindo um eixo norte-sul. Divide-se em três setores: Mittelhaardt (Haardt média), Deutschen Weinstraße (Rota Alemã do Vinho) e Südliche Weinstrasse (Rota Sul do Vinho). Os melhores vinhedos ladeiam as encostas a leste da Floresta do Platinado. A região é famosa pela qualidade de seus vinhos brancos, particularmente por seus Rieslings, vinhos de caráter, minerais, geralmente encorpados, mas também muito finos. A produção dos vinhos tintos é muito limitada, mas sua qualidade é geralmente excelente.

Pfalz

A região vinícola do Palatinado, denominada oficialmente de Pfalz, pode ser descoberta da melhor maneira pela Rota Alemã do Vinho (Deutschen Weinstraße). Essa rota turística de vinhos, a mais antiga do gênero no mundo, liga diversas cidades produtores de vinho, de Bockenheim, ao norte, a Schweigen, na fronteira com a França. A rota permite conhecer de maneira agradável a região vinícola entre a floresta Pfälzerwald e o Reno.

Pfalz possui uma grande variedade de solos: arenito (na maior parte da região), calcário erodido, ardósia, rocha basáltica e loess (sedimento fértil de cor amarela que só existe em algumas partes da Europa e da China), entre outros - o que permite o cultivo de amplo sortimento de castas de uvas tintas e brancas. Comparado a outras regiões alemãs, o clima de Pfalz é mais quente, porém ameno. Não há invernos rigorosos e verões de altíssimas temperaturas. A chuva acontece na medida certa e tudo isto beneficia o cultivo das uvas, influenciando diretamente na qualidade destas.

Em Pfalz são cultivadas 45 castas de uva branca e 22 de uva tinta. Aproximadamente 25% dos vinhedos do local são cultivados com a variedade Riesling, por isso, Pfalz é considerada a maior produtora destas uvas em todo o mundo. Entretanto, 40% dos vinhedos são de frutas tintas, e a região é a maior produtora de vinhos tintos do país. Além da Riesling, as uvas brancas Gewürztraminer e Scheurebe são destaque na região. Entre as tintas cultivadas em Pfalz temos Dornfelder, Portugieser, Spätburgunder (Pinot Noir) e Regent, além das mundialmente conhecidas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo e Syrah. Em Pfalz a Pinot Noir dá os melhores resultados dentre as regiões alemãs.

Nomenclatura e definições dos vinhos alemães

O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade, tipo e estilo do vinho. Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e outros que são apenas opcionais. O vinho alemão passa por um rigoroso teste de controle de qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de Agricultura (DLG). Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de qualidade. Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e qualidade das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de qualidade podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por também conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas autorizadas, entre outros.

Deutscher Wein: São os vinhos mais simples de todas as categorias. Os vinhos podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de todo o território alemão.

Landwein: Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.

Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA): É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:

Trocken: vinho seco.

Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.

Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes ao Halbtrocken.

Liebliche: vinho doce.

Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.

Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein

As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de colheita:

Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras. Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.

Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.

Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no paladar. A doçura no paladar não é uma regra.

Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta concentração.

Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.

Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.

E agora o vinho!

Na taça tem um lindo vermelho rubi, brilhante, bem intenso para um Pinot Noir, mas com aquele tom tipicamente grená com algumas formações de finas lágrimas em média intensidade.

No nariz tem aquela indefectível presença de frutas vermelhas, tais como framboesa e morango, com um discreto toque herbáceo, algo de especiarias.

Na boca é muito frutado, as frutas vermelhas aparecem divinamente, com alguma estrutura, mas macio, delicado e elegante, com taninos polidos e uma boa acidez evidenciando o seu frescor. Tem um final longo, persistente.

Mais um degrau para a nossa história enófila, mais um canto deste vasto universo explorado. O meu primeiro Pinot Noir alemão! Um Pinot Noir como deve ser: frutado, macio, elegante, agradável, sobretudo em uma tarde outonal de sábado e com uma grande companhia do meu fraternal amigo que diretamente foi responsável por degustar esse néctar de Baco e Dionísio. Toques sutis de frutas maduras, algo mais “ousado” para um Pinot Noir, tais como alguma estrutura, um pouco de especiarias, algo mais expressivo talvez, mas sem perder a majestade de um genuíno Pinot Noir. Um vinho especial para um momento especial e que possamos navegar para mares nunca dantes navegados e que possamos nos inebriar de momentos únicos: boas degustações e grandes amizades. Celebremos sempre! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Moselland:

A princípio, no século XIX, muitos produtores individuais da Alemanha se uniram por necessidade econômica para formar pequenas cooperativas vitícolas: eles pretendiam trabalhar com mais eficiência, unindo forças.

Em seguida, em 1969, as principais cooperativas se fundiram com a Hauptkellerei Koblenz para formar a maior cooperativa vitícola do estado de Rheinland-Pfalz. Desse modo, o resultado foi a criação da Moselland, localizada em Bernkastel Kues, que por mais de um quarto de século, foi um nome garantiu alta qualidade.

Sendo assim, na Moselland, a qualidade começa bem na vinha. Os viticultores são especialistas em gerenciamento de vinhedos, desde o plantio até a colheita, assim produzem uvas da mais alta qualidade que são entregues em nas estações de prensagem e coleta, ao lado das vinhas. Além disso, a equipe altamente qualificada assume o processo de vinificação usando os mais modernos maquinários.

Mais informações acesse:

https://www.moselland.de/

Referências:

Vinho sem Segredo: https://vinhosemsegredo.com/2011/05/02/nomenclatura-do-vinho-alemao-i/

Winepedia: https://www.wine.com.br/winepedia/dicas/como-ler-rotulos-alemanha/

“Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/conheca-pfalz-regiao-que-mais-produz-vinhos-alemanha

“Carpevinum”: https://www.carpevinum.com.br/loja/noticia.php?loja=677095&id=255

 

 

 

 


 









quarta-feira, 12 de maio de 2021

Clos de Torribas Crianza 2013

 

Não se engane e não se deixe enganar pelos vinhos baratos. Não se engane e não se deixe enganar com a discriminação e a intolerância de algumas pessoas quando falam dos vinhos vendidos em supermercados. Você pode se surpreender com os rótulos que podem encontrar a um baixo preço nos supermercados. Desde que me entendo como enófilo, que sempre fiz as minhas incursões em supermercados e sempre encontrei vinhos especiais, surpreendentes nesses pontos de venda. Claro que seguir recomendações básicas de especialistas e ter bom senso, senso crítico é também extremamente conveniente, mas não podemos nos condicionar a comentários preconceituosos que segrega.

Por que estou dizendo isso tudo? Passei por uma experiência incrível de um vinho que avistei em uma gôndola de um grande supermercado, que estava meio esquecido, quase no chão, de tão vilipendiado e com alguma poeira em si e no seu entorno. Qualquer um, em uma pretensa “sã consciência” não arriscaria comprar um vinho nessas condições custando em torno de R$ 32,00!

Evidente que o preço atrai, pode ser, confesso pernicioso em alguns momentos e ser, em grande parte, o fator preponderante para uma compra de vinho, mas, quando o tomei pelas mãos, embora com algum ceticismo inicial, senti, meu coração dizia, apesar do valor excepcional, que se tratava de um vinho, no mínimo interessante. Esse fora o meu primeiro crianza. Esse foi a abertura de uma janela para o mundo maravilhoso dos vinhos espanhóis que eu pouco conhecia e que, talvez pelo desconhecimento, abriu um precedente para uma visão pré-concebida, preconceituosa mesmo, dos vinhos desse tradicional país.

Acredito que tenha sido por intermédio desse vinho que o meu interesse pelos rótulos evoluídos, com capacidade de guarda, tenha surgido e confesso também que esse tenha sido o motivo pelo qual tenha surgido junto o meu ceticismo, afinal esse rótulo era de uma safra “antiga”, 2013, e acredito também que a safra tenha feito com que o valor do vinho tenha despencado. Decidi compra-lo e decidi também que não levaria muito tempo para degusta-lo, estava muito curioso em tê-lo em minha taça. É chegado o grande dia! Desarrolhei o vinho, ainda com resquício de desconfiança, mas muito animado e quando o coloquei em minha taça, que maravilha! O vinho que degustei e gostei veio de uma famosa, mas que eu não conhecia até então, região espanhola de Penedès, da igualmente famosa Bodega Pinord, e se chama Clos de Torribas, um crianza, composto pelas castas Tempranillo (90%) e Cabernet Sauvignon (10%) da safra 2013. Então falemos um pouco do conceito de “crianza” e contar um pouco da história da região de Penedès.

Crianza

O termo “Crianza”, encontrado em alguns dos rótulos dos vinhos espanhóis, ainda causa muita confusão. Ao contrário do que muitos imaginam a palavra não está relacionada à jovialidade do vinho (não tem nada a ver com criança). A questão principal ao falar sobre um vinho Crianza é a sua maturação. O termo Crianza em espanhol é aplicado para determinar que àquele vinho passou por um processo em barrica de carvalho, desse modo, entrando em contato com madeira, e com isso, adquirindo corpo.

Geralmente um crianza estagia, no mínimo, seis meses em barrica de carvalho. Nas regiões de Rioja e Ribera del Duero, o tempo em carvalho aumenta para um ano. No caso dos brancos e rosés, mínimo de seis meses em barricas e total de um ano e meio de amadurecimento. E o que isso representa? Que é um vinho mais elaborado e que, por ter amadurecido em contato com a madeira, ganhou mais complexidade de aromas e sabores quando comparado a vinhos que não passam por este estágio.

Como todos os vinhos que passam por madeira – e podemos incluir os vinhos Reserva e Gran Reserva – os vinhos Crianza tem um maior volume de aromas, complexidade e sabores. São indicados para uma apreciação paciente e para acompanhar pratos que exijam uma presença de vinhos aromáticos.

Leia mais sobre os vinhos crianza, reserva e gran reserva em: Classificação dos Vinhos Espanhóis.

DO Penedès

A menos de meia hora de Barcelona está o DO Penedès que pode orgulhar-se de 2.700 anos de história. As últimas descobertas arqueológicas na Font de la Canya encontraram vestígios de grainhas de uva, o que mostra que os habitantes desta zona já faziam vinho nesta época, assim como uma vasilha grega, um sinal inequívoco, para o beber. Este local, a Font de la Canya, era um armazém de cereais, vinho e metais. A sua proximidade com aquela estrada romana conhecida por Via Augusta e que coincide com as atuais linhas ferroviárias e autoestradas, faz imaginar que seja um poderoso povoado de produtores e comerciantes.

Penedès

Recuando no tempo, a uma época muito passada, em que esta depressão que hoje é conhecida como Penedès foi ocupada pelo mar, e que mais tarde recuou até como a conhecemos hoje, deixou a sua marca na terra depois de milhões de anos podemos encontrar notas iodadas e salinas nos vinhos que são feitos com as uvas aqui cultivadas. Como prova dessa afirmação, restos marinhos foram encontrados, como fósseis de ostras, bivalves, dente de tubarão, etc. que nos falam sobre seu passado como um mar.

Recuando a uma época mais recente, já na nossa era cristã, foram encontrados documentos escritos do século X que falam da viticultura nesta zona do Penedès. E já no nosso momento atual, e como consequência do crescimento de 3 grandes vinícolas neste DO Penedès, tem motivado a criação de dois DOs independentes: o DO Cava e o DO Catalunya. À semelhança do modelo francês, já pensam em distinguir as diferentes subáreas que compõem este território. Esta DO está também a trabalhar na divulgação de todas as idiossincrasias desta zona, promovendo o enoturismo com visitas guiadas a adegas e espaços culturais da zona. Também o esforço de recuperação da uva autóctone como forma urgente de se adaptar às consequências desastrosas e irrefreáveis ​​das alterações climáticas.

DO Penedès

O clima é mediterrâneo. Os verões são quentes, os invernos são suaves, e as chuvas moderadas estão concentradas, principalmente na primavera e no outono. Mas a variação climática é bastante grande, dentro da região. A denominação é composta por 3 zonas distintas: Penedès Superior (próxima às cordilheiras do interior), Penedès Marítimo ou Baixo (entre o mar e as colinas costeiras) e Penedès Central (na planície entre essas duas zonas). Aproximadamente 75% dos vinhedos da denominação estão ocupados com vinhas de cepas brancas, sendo que as mais cultivadas são: Xarel-lo, Macabeu, Parellada, Chardonnay e Moscatel d’Alexandria. Entre as tintas, as mais cultivadas dentro das regras do conselho regulador são Merlot, Cabernet Sauvignon e Tempranillo. É possível observar, nessa região, uma tendência dos produtores para as cepas internacionais, em detrimento às nativas. O estilo dos vinhos de Penedès varia de secos a doces, tranquilos a espumantes, podendo ser brancos, tintos ou rosés. Os melhores tintos encorpados vêm do Alto Penedès, ou Penedès Superior. Os brancos frescos de maior destaque, em contrapartida, são produzidos no Baixo Penedès.

E agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi intenso e brilhante quase escuro com discretos tons atijolados na borda, com lágrimas finas e abundantes que teimavam em se dissipar da parede do copo.

No nariz se destaca o aroma da madeira, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho, de frutas vermelhas maduras, toques herbáceos, de especiarias e de terra.

Na boca é seco, de paladar suave, moderado, delicado e elegante, mas mostrando complexidade graças a passagem pela madeira amaciando o vinho e também pelo tempo em garrafa, de mais 12 meses, antes de sair da vinícola. É percebido também as notas amadeiradas muito bem integrado aos taninos, polidos e presentes, com a acidez de leve para moderada que ainda lhe confere frescor e vivacidade. Final longo e persistente com retrogosto frutado.

Um crianza espetacular e que ainda estava no auge, na plenitude de sua personalidade e expressividade, entregando também elegância e equilíbrio. Um vinho complexo como todo o crianza pode proporcionar. Um vinho esquecido e desprezado na gôndola do supermercado, barateado porque estava encalhado, mas que se revelou especial e surpreendente, poderoso e delicado e com essa versatilidade certamente pode ser democrático nos mais variados e exigentes paladares. Ponto positivo também para a tradicional e gigante Bodegas Pinord que é sinônimo do que há de melhor das terras espanholas enaltecendo seu terroir, a importância de Penedès e dos seus grandes rótulos nas mais diversas expressões e propostas. Viva as grandes supressas e aos grandes vinhos espanhóis. Tanto gostei dos crianzas da Pinord que degustei o Viña Chatel da safra 2013! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Pinord:

Bodegas Pinord têm mais de cem anos de experiência em vinificação na região de Penedès, no nordeste da Espanha, em seu nome. Eles produzem vinhos e cavas (espumantes), usando métodos tradicionais, herdados de seus ancestrais. Hoje, o uso de tecnologia de ponta, juntamente com uma equipe excepcional de profissionais esforçados, ajuda a tornar seus vinhos e cavas famosos em todo o mundo. A história da Bodegas Pinord remonta ao tempo em que, há mais de cento e cinquenta anos, a família Tetas começou a produzir vinhos brancos e tintos em sua propriedade em Sant Cugat Sesgarrigues a partir de uvas que eles mesmos haviam cultivado. Mesmo naquela época, eles produziam e envelheciam os vinhos usando os métodos mais tradicionais empregados na região. Em 1942, Josep Maria Tetas instalou a atual vinícola em Vilafranca del Penedès, a apenas quatro quilômetros da propriedade original. É o nome desta vinha que, de fato, inspirou a família a criar o nome da empresa: “Pi del Nord” (Pinheiro do Norte) e hoje, que foi reconvertida para a agricultura orgânica, fornecendo à vinícola uvas de alta qualidade, assim como fez séculos antes. Naquela época, Miquel Tetas, pai de Josep Maria, fermentou uvas Xarel·lo de suas vinhas e, uma vez que foi dito, ele viajou a noite toda com um cavalo e uma carroça e dois barris de 500 litros para vender seus vinhos em Barcelona, ​​onde os habitantes desfrutaram muito da delicadeza de seus vinhos. Logo, Josep Maria Tetas, que era um homem inquisitivo e empreendedor, observou como alguns de seus vinhos jovens emitiam espontaneamente pequenas quantidades de dióxido de carbono - bolhas como os petilantes franceses ou os frizzantes italianos. Ele começou a investigar como fermentar suas uvas, a fim de manter essa efervescência em seus vinhos. Reynal, o primeiro vinho pérola fabricado na Espanha, foi o resultado de sua pesquisa. O sucesso foi imediato e foi muito além das expectativas: muito em breve, a Pinord começou a exportar seus vinhos para todo o mundo e a vinícola cresceu rapidamente. Eles estenderam a vinícola e aumentaram a produção. Foi durante esses anos que Marrugat Cavas foi criado usando o sobrenome da esposa de Josep Maria Teta, cuja família há muito estava ligada à produção de vinho na região de Penedès. Eles também começaram a fazer uma variedade de vinhos tranquilos, muscadelle e outras especialidades que compunham um portfólio muito amplo de vinhos, ganhando elogios da vinícola e fama internacional durante os anos cinquenta e sessenta. Foi nessa época que Pinord se tornou um dos pontos de referência da vinificação em Penedès. Nos últimos anos, a Bodegas Pinord ampliou sua gama de produtos e começou a produzir vinhos em outras denominações de vinhos na Espanha. Estes novos vinhos são todos feitos usando métodos de agricultura biológica. Geração após geração, a filosofia da família Tetas pode ser resumida nas seguintes palavras: Tradição familiar, espírito pioneiro e inovador, amor pela terra e paixão por ótimos vinhos.

Mais informações acesse:

http://www.pinord.com/

Referências:

“Blog Hedonista”: https://bloghedonista.com/2019/04/07/experiencia-penedes-2-700-anos-de-historia-vinicola-en-la-do-penedes/

“DO Penedès”: http://www.dopenedes.cat/en/subzones.php

“Blog Lovino”: https://blog.lovino.com.br/o-que-e-um-vinho-crianza/

“Blog Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/curiosidades/desvendando-vinhos-crianzas/

Degustado em: 2018

 

 

 

 







sábado, 8 de maio de 2021

Putruele Extra Brut 2018

 

Costumo falar, até de forma demasiada, de que degustar vinhos é como se fora uma celebração. Celebrar a vida, aqueles que amamos e o próprio rótulo que está degustando após uma dedicada e esforçada escolha e garimpo. E o que costuma simbolizar esse momento de celebração é o brinde! O tilintar das taças traz o som da alegria, da degustação, do momento especial. E apesar de alguns modismos que vem e vão, a celebração e o clima festivo que gira em torno do vinho não perece, não se torna obsoleto.

E um rótulo que não costuma sair de moda nesses momentos é o bom espumante ou o velho e especial champanhe. E nós, como brasileiros, valorizamos, nesse momento, o nosso espumante que, ao longo dos anos, vem ganhando qualidade e notoriedade, conquistando inúmeros prêmios em todos os cantos do planeta, inclusive em polos de excelência de produção de vinhos, sobretudo na Europa. Então a escolha é certa! Um grande e necessário espumante brasileiro! Sim! Sim? Talvez... Nem sempre!

Mas por quê? Isso é um sacrilégio, como talvez? Espumante brasileiro é o que há de melhor, a escolha é certa e inevitável! Certa com certeza! O nosso espumante traz a certeza da escolha com a sua tipicidade, o valor do terroir nunca foi tão evidenciada ao longo desse tempo e o resultado são os prêmios ostentados, mas inevitável, nunca! Defendo que devemos valorizar o produto nacional, sem discursos ufanistas, e a escolha de nossos espumantes é mais do que certa, mas não devemos também negligenciar as bebidas de borbulha espalhadas pelo mundo afora.

E quando estava em mais uma das minhas incursões aos supermercados observei que um em especial, estava com algumas interessantes promoções para os espumantes. Logo me aproximei para conferir, na esperança de encontrar um rótulo tupiniquim. Quem sabe eu encontraria? Encontrei de fato alguns com preços muito atrativos, mas a esmagadora maioria eu já tinha degustado e fiquei, confesso um tanto quanto frustrado, até que, em um relance, avistei um rótulo que já tinha visto neste mesmo mercado por um valor alto, mas estava na faixa dos R$ 30,00! Era um argentino! Um argentino? Rejeitei de início, mas decidi inspecioná-lo com mais detalhe, acessei o site do produtor naquele momento e gostei do que li. Resolvi compra-lo para ver o que ele poderia me oferecer.

O dia tão esperado para desarrolhá-lo enfim chegou. Recebi um querido amigo em minha casa e achei que o rótulo viria a calhar. E voilá! Estupendo vinho! Então o vinho que degustei e gostei veio de uma região na Argentina chamada San Juan, em Valle de Tulum, e se chama Putruele, um extra brut, produzido pelo método Charmat com um corte das castas Chardonnay e Pinot Blanc, da safra 2018. E como apareceu uma nova região para mim, San Juan, não podemos deixar de falar um pouquinho sobre ela e a sua importância para o cenário vitícola argentino.

San Juan

Com uma população de mais de 600.000 habitantes e uma superfície de 89.651 km, a economia sanjuanina tem caráter eminentemente agrícola, eis que depende da presença de verdadeiros oásis ao pé da montanha, regada de rios e junto aos quais se concentra toda a população. A viticultura é a atividade agrícola mais importante dessa região, eis que os vinhedos estão localizados em diversos vales irrigados pelos rios Jáchal e San Juan. É a segunda província argentina em produção e suas zonas vinícolas mais importantes são: Valle de Tulum, Valle de Ullum-Zonda, Valle de Calingasta e Valle El Pedernal.

San Juan

A Região de San Juan é considerada o oásis na terra dos vizinhos argentinos, graças à produção farta e diferenciada. A região vitivinícola da Província de San Juan despontou recentemente (em relação a outras regiões) no mercado Argentino. Isso porque segue produzindo exemplares ímpares, que carregam em seus sabores e aromas. Seus vinhos surgem de um relevo montanhoso e de grande altitude, além das ricas condições climáticas da região. O Valle de San Juan localiza-se nos arredores da província de Mendoza, e sua capital homônima dista 1.255 km da capital argentina. Seus vinhedos estão estampados ao longo de quase 90.000 quilômetros, alcançando altitudes acima de 600 metros. Porém os vinhedos estão a diferentes altitudes, podendo ir desde 600 metros (próximo ao Vale de Tulum) até os 1.400 metros no que se estende ao Vale de Pedernal.

Principais cepas brancas: Chardonnay, Viognier, Torrontés Sanjuanino e Pinot Gris. Cepas tintas: Syrah, Cabernet Sauvignon, Bonarda, Cabernet Franc e Tannat. Nos últimos anos, essa província de um salto qualitativo principalmente na produção das uvas tintas. A aparição de algumas cepas com plena adaptação ao terroir local marca esse salto. Syrah, Cabernet Franc e Bonarda entregam bons varietais. Existe em San Juan um corte típico da Austrália: Cabernet Sauvignon e Syrah. Nos brancos, o destaque fica por conta da Viognier.

E agora finalmente o vinho!

Na taça conta com um amarelo palha, tendendo ao dourado, com muito brilho e limpidez, perlages finas e de média intensidade, além de uma incrível concentração de lágrimas finas, mas que logo se dissipam.

No nariz a explosão de frutas brancas e cítricas se torna evidente e agradável, além da presença da tosta e do fermento, graças ao estágio em leveduras de fermentação (sur lie) por 6 meses, mais 6 meses em garrafa em estiva de cava.

Na boca é seco, mas saboroso, fresco, com as notas frutadas com destaque para o abacaxi, maçã verde, pêssego e pera. Apresenta certa untuosidade, cremosidade, trazendo um bom volume de boca. Como no aspecto olfativo o fermento também está em destaque, mas sutil, mostrando elegância. Tem uma boa acidez e um final persistente e frutado.

Uma celebração à altura! À vida! E com grande estilo! Um espumante argentino com personalidade, graças ao seu curto envelhecimento nas leveduras ganhando untuosidade, expressividade, mas não perdendo o frescor, a leveza, a elegância que um bom espumante deve entregar, deve proporcionar. As taças represaram um verdadeiro néctar, mas que rompeu com o apelo das papilas gustativas que estava ávida por tê-la. A celebração não tem fronteiras e tão pouco país e bandeiras. Exploremos, façamos de nossas percepções e experiências sensoriais globalizadas, expandindo-as. Tem 12,4% de teor alcoólico.

Curiosidade

O que é envelhecimento em leveduras de fermentação? O Sur Lie!

Sur lie é um termo francês que significa “sobre as borras” e trata-se de uma técnica de amadurecimento muito utilizada em espumantes e vinhos brancos e que também pode ser explorada nos tintos. Após a fermentação, alguns enólogos optam por manter o vinho em contato com as borras finas, ou seja, as leveduras. Com o fim da fermentação, elas morrem e sofrem um processo chamado de autólise, que consiste em uma autodestruição espontânea. Essa decomposição da levedura libera diversos compostos como proteínas que, ao entrar em contato com o vinho, agregam elegância, maciez, estrutura, complexidade aromática e cremosidade (no caso dos espumantes).

Utilizadas em tanques ou barricas de carvalho, as borras naturalmente se depositam no fundo do recipiente, porém, é necessário agitar periodicamente esse sedimento, para proporcionar um contato com todo o vinho. Aqui entra a bâtonnage que é, justamente, essa ação de proporcionar movimento. A frequência da bâtonnage, assim como o tempo em que o vinho permanece em contato com as borras, é determinada pelo enólogo e pode variar de acordo com o seu objetivo. Quanto mais tempo o vinho permanecer em contato com as borras, maior será o grau de complexidade do exemplar. O começo dessa técnica de amadurecimento é incerto, mas há indícios de que tenha surgido na Borgonha, França, com a uva Chardonnay. Existem também alguns relatos sobre um historiador romano de nome Cato, que comparou as diferenças de aromas e sabores de vinhos submetidos (e não) ao contato com as borras finas.

Sobre a Bodega Putruele:

Don Carlos Putruele, filho de imigrantes italianos, radicou-se em San Juan de la Frontera nos anos 50, dedicando-se à viticultura. Com produção própria, a vinícola foi fundada em 1958 no Vale de Tulum; com um crescimento constante na produção de uvas e vinhos.

Em 1950 foram feitas as primeiras plantações de uvas onde a Vinícola Putruele está atualmente localizada na cidade de San Martín, San Juan. Funcionava como um transportador comum de vinho. Nos anos 1970 a produção é ampliada e novos vinhedos começam a se desenvolver em fazendas como Angaco e Santa Lucía, ambas de propriedade da empresa. A grande virada começou em 1980 quando foram plantados vinhedos de uvas finas com vistas ao seu próprio parcelamento.

Em 1997 foi incorporada a primeira máquina de fracionamento de garrafas. Desde então, a vinícola vem se renovando constantemente e incorporando a mais avançada tecnologia para a produção de vinhos finos, a fim de melhorar continuamente a qualidade de seus produtos. Tanques de aço inoxidável são adquiridos para um volume total de 1.500.000 litros de vinho. Estas com capacidades de 10, 15, 25, 30 e até 60 mil litros cada.

A vinícola agregou recentemente às suas instalações a mais avançada tecnologia de espumante da província, com o objetivo de promove-los em seu já diversificado portfólio. Atualmente possui todo o equipamento para a elaboração do mesmo.

Hoje a família Putruele continua o trabalho de crescimento, aprimorando-se constantemente em busca da excelência, promovendo as exportações e desenvolvendo produtos de alto padrão.

Mais informações acesse:

http://www.bodegaputruele.com/inicio.html

Referências:

“Site Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/sur-lie-e-batonnage/#:~:text=Sur%20lie%20%C3%A9%20um%20termo,%2C%20ou%20seja%2C%20as%20leveduras.

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/233-a-regiao-de-san-juan-um-oasis-argentino

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2011/11/18/o-vale-de-san-juan-argentina/