quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Tyrrell's Old Winery Syrah 2009

Tem certas castas que ganham identidade fora de seu berço de origem. Embora tenham algumas peculiaridades, de acordo com os terroirs espalhados pelo mundo determinadas castas são lembradas, sobretudo no quesito qualidade e credibilidade com determinados países e terras lendárias e emblemáticas na produção do vinho.

Já degustei alguns rótulos que quando pensamos em comprar sempre vem à tona determinados países e quando falamos da grande Syrah não podemos negligenciar a importância da Austrália.

Não posso sequer negligenciar a Syrah australiana da minha enófila vida. Lembro-me dos meus primeiros Syrahs da Austrália, só não consigo lembrar-me como descobri a importância da Syrah australiana. Os primeiros Syrahs que degustei foram os chilenos, os próprios franceses, alguns poucos desse país e quando me vi estava com a taça cheia do Shiraz australiano.

Acredito que foi com a intenção de descobrir os próprios vinhos australianos e não como dissociar a Shiraz da Austrália. E de algo eu posso lembrar com grande nitidez: Quando estava à procura de alguns bons vinhos australianos me recomendaram uma casa no Rio de Janeiro, vizinha da minha querida cidade de Niterói que gozava de alguma popularidade e tradição na venda de rótulos pouco usuais, difíceis de encontrar em qualquer lugar a preços convidativos. E lá fui!

Lá cheguei e logo um senhor, muito simpático e prestativo, me perguntou se tinha algum vinho em especial que procurava e logo disse que gostaria de alguns rótulos australianos com um bom custo X benefício.

Ele olhou com um olhar meio perdido, a princípio e disse: “Meu filho não é fácil encontrar um australiano assim, mas é possível”! E de fato, lembro-me que, em tempos de outrora, era difícil encontrar um bom rótulo australiano com um bom preço, a maioria era muito cara e ainda o é, mas essa situação está, mesmo que vagarosamente, revertendo.

Ele andou para o lado, para o outro, demorou um pouco para encontrar um vinho que pudesse contemplar os meus anseios e finalmente encontrou um e o tomou em suas mãos e logo me entregou. Disse que era um bom vinho e contemplava de forma singular o Syrah australiano.

Olhei e hesitei um pouco: seria um papo de vendedor? Sabe como é, para vender falam qualquer coisa sem sequer se preocupar com os anseios daquele que vai degustar o vinho.

Mas à época achei um bom preço, “pagável” e decidi levar, literalmente paguei para ver. Não levei muito tempo para degusta-lo e logo escolhi o dia tão importante para degustar aquele Syrah australiano. E não é que o vinho era maravilhoso? Espetacular vinho! Então sem mais delongas apresento o vinho: O vinho que degustei e gostei é um Syrah australiano e oriundo de várias regiões emblemáticas da Austrália, um blend de Syrah, um blend de regiões da Austrália e se chama Tyrrell’s Old Winery Syrah da safra 2009. E já que falamos, até aqui, tanto da Syrah e da sua aventura na Austrália, falemos também da história da casta.

No século XIII, o cavaleiro Gaspard de Stérimberg, retornou das Cruzadas e estabeleceu-se ao sul da cidade de Lyon, perto do entroncamento dos rios Rhône e Isère. Lá, ergueu uma capela para São Cristóvão e viveu como ermitão, isolado do mundo. Acredita-se que ele ou talvez outros cruzados, ao retornarem para a França depois das batalhas no Oriente Médio, teriam trazido consigo mudas de vinhas da cidade de Shiraz (ou Chiraz), na Pérsia, então um importante centro comercial da antiguidade.

Outra lenda dá conta de que os imigrantes gregos da cidade de Foceia (atualmente Foça, na Turquia) teriam criado relações comerciais no Mediterrâneo e também fundado portos e cidades, entre elas Massalia (Marselha). Assim, eles teriam trazido as mudas adquiridas em Shiraz, na Pérsia, e as implantado na região ainda no século VI a.C. Há chances ainda de a variedade ter sido originada no mar Egeu, numa das ilhas gregas das Cíclades chamada Siro (ou Syra).

No entanto, alguns acreditam que a origem da uva Syrah no Rhône é ainda anterior, remontando a 310 a.C. Na época, Agathocles, tirano que reinava na ilha siciliana de Siracusa (Syracusa) teria trazido consigo mudas de vinhas quando esteve no Egito. Da ilha, as vinhas teriam se espalhado pelo sul da França.

Agathocles

Outros ainda cogitam a ideia de que, nos primeiros anos depois de Cristo, Plínio, o Velho, filósofo e naturalista romano, teria descrito a variedade Syriaca, uma versão escura da uva Aminea, que crescia na Síria, como uma ancestral da Syrah. Há quem sugira que São Patrício, patrono da Irlanda, foi quem plantou as primeiras mudas de Syrah no Rhône quando fazia seu trajeto para a abadia de Lérins, na ilha de Saint-Honorat, perto de Cannes.

Plínio, o velho

São Patrício

Já os viticultores albaneses creem que a Syrah tenha se originado em suas terras. Lá, cresce uma variedade tinta chamada Serina e Zezë e outra dita Shesh i zi, que teriam parentesco com a Syrah. Sérine, por sinal, é um dos nomes pela qual a variedade é conhecida.

As origens da variedade estão mesmo diretamente ligadas ao norte do vale do rio Rhône, mais especificamente na área ao norte do rio Isère e à leste do Rhône, até o lago de Genebra, entre a França e a Suíça, no departamento de Isère.

Essa hipótese foi levantada devido a uma análise de DNA feita em 1998 pela UC Davis e pelo INRA (instituto de pesquisas agronômicas) em Montpellier, no sul da França. O levantamento surpreendeu os cientistas e mostrou que a Syrah é um cruzamento natural entre a Mondeuse Blanche, branca, e a Dureza, tinta. A Mondeuse, natural da região de Savóia, próxima ao Rhône, costumava ser cultivada também em Ain e Isère. A Dureza, natural de Ardèche, logo a oeste do rio Rhône, costumava ser cultivada em Drôme e também em Isère. Portanto, os ampelógrafos concluíram que o nascimento da Syrah deve ter se dado em um local em que essas duas variedades eram plantadas, portanto, mais provavelmente em Isère por volta do século XII.

A data, porém, pode ser anterior, já que alguns estudiosos acham que a Syrah pode ter sido citada pelos primeiros naturalistas romanos como Columella e Plínio, o Velho, no século I da era cristã. Em seus escritos, eles apontavam uma variedade chamada de Allobrogica, cultivada na terra dos Alóbroges, que vai do lago de Genebra até Grenoble e do norte de Savóia até Vienne, cidade que faz parte de Côte Rôtie, logo ao sul de Lyon. Essa uva era usada para o picatum, um vinho resinoso feito perto de Vienne. Segundo Plínio, era uma casta de maturação tardia cultivada em terras frias. Daí também poderia ter surgido o nome Syrah, que seria uma derivação de Sérine, que viria do latim “serus” (tardio).

A Syrah, por sinal, possui diversos nomes e não apenas a sua variação mais comum Shiraz, que ficou famosa devido ao boom dos vinhos australianos. Aliás, até mesmo na Austrália ela possui ainda outro nome e pode ser chamada de Hermitage. Mas, suas variações mais comuns são: Sira, Sirac, Sirah, Syra, Syrac, além de, como já foi visto, Sérine, que também apresenta diversas possibilidades como: Sérène, Serine e Serinne. Ela também pode ser chamada de Petite Sirrah (não confundir com Petite Sirah, que é outra casta), Candive e Marsanne Noire.

A primeira citação conhecida sobre a Syrah é de 1781, pelo geólogo e naturalista Barthélemy Faujas de Saint-Fond, que a chamou de “‘la Sira de l’Hermitage”. Ele descreve: “produz um vinho agradável, generoso, apetitoso e que pode envelhecer bem: nós podemos misturar com uma pequena quantidade de uvas brancas, como é feito em Tain. Serine e Vionnier de Côte Rôtie também seriam adequadas”.

Como se pode perceber, a variedade ganhou sua fama no norte do vale do Rhône, especialmente em Hermitage e Côte Rôtie, onde serve de base para os principais tintos, sendo muitos varietais, mas também contendo pequenas parcelas de Roussanne e Marsanne (Hermitage), ou Viognier (Côte Rôtie). Nos vinhos de Crozes-Hermitage e Saint-Joseph, a Syrah também é majoritária, e, em Cornas, ela deve ser monovarietal.

Contudo, apesar de seu berço francês, a fama do nome Syrah, mais precisamente Shiraz, deu-se com o boom dos vinhos australianos entre os anos 1980 e 1990. Parte do prestígio veio com o Penfolds Grange Hermitage. Lançado em 1952 pelo enólogo Max Schubert, este Shiraz tornou-se mundialmente conhecido, ganhando o prêmio de vinho do ano da revista Wine Spectator em 1995 (já sem Hermitage no rótulo), e levou o nome da casta às alturas, tornando-a tão conhecida quanto outras tintas já fartamente decantadas como Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir, por exemplo.

A Syrah chegou à Austrália em 1832, com James Busby, considerado o pai da indústria de vinhos no país. Ele teria trazido mudas em Montpellier, que na época eram conhecidas como Scyras, e mais tarde se provaram idênticas às de Tain, em Hermitage, daí o nome com que a uva ficou conhecida (Shiraz e Hermitage) por lá.

Apesar de a França ter a maior quantidade de área plantada, com quase 70 mil ha, a Austrália vem logo atrás com cerca de 42 mil ha. Os outros principais produtores são: Espanha (20 mil ha), Argentina (12,8 mil), África do Sul (10,1 mil), Estados Unidos (9,1 mil), Itália (6,7 mil), Chile (6 mil) e Portugal (3,5 mil).

Apesar de a Austrália ter ficado com a fama, um dos primeiros lugares fora da França em que a variedade foi cultivada foi na África do Sul, onde teria chegado em meados do século XVII. Todavia, ela permaneceu uma casta pouco importante no cenário sul-africano até o boom dos anos 1980 promovido pelos australianos. Em 1878, a cepa chegou aos Estados Unidos e, apesar de não ter o mesmo sucesso da Cabernet Sauvignon e Pinot Noir, levou um grupo de viticultores a criar, nos anos 1980, a associação “Rhône Ranges”, para promover as uvas do Rhône em solo norte-americano. A organização conta, hoje, com mais de 170 membros.

A Syrah é uma uva de personalidade forte. Os vinhos feitos a partir dela normalmente apresentam bom corpo, são potentes e cheios de sabor. Suas notas mais características variam entre frutas negras (como mirtilos e amoras), violetas e azeitonas pretas, além de especiarias picantes, muitas vezes pimenta preta, às vezes branca. Com o tempo, esses aspectos aromáticos evoluem e costumam surgir notas terrosas ou mesmo de carne – alguns associam ao defumado, couro e trufas.

E agora o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi escuro, profundo, mas com um intenso e lindo brilho, com lágrimas finas, lentas e em profusão, prevendo o corpo e a estrutura.

No nariz prevalecem as notas frutadas, de frutas negras maduras tais como groselha, amora, com toques discretos, em perfeita sincronia com a fruta, da baunilha, de chocolate, de notas amadeiradas, graças a uma curta passagem por madeira, não informado pelo produtor.

Na boca prevalecem as notas frutadas em abundância, com estrutura, um vinho cheio, de bom volume de boca, mas com um frescor evidente, muito típica da Syrah australiana: complexidade e frescor garantido pela fruta. É expressivo, marcante, de taninos presentes, gordos, mas equilibrados, com boa acidez que corrobora o frescor e um final longo e prolongado.

Quando falamos em terroir e tipicidade torna-se algo meio comum, meio clichê no universo dos vinhos, mas para este caso, para este rótulo merece, pois tem muita tipicidade, entrega grandemente as características genuínas de um Syrah australiano. Um vinho voluptuoso, carnudo, com aquela picante típico da casta, com o frescor, a maciez e elegância, mostrando-se um vinho versátil e fácil de degustar, apesar da sua excelente estrutura. Que a Austrália se revele sempre com os seus rótulos para o mundo, para a minha mesa. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Tyrrell’s Wines:

Em 1889, aos 18 anos, Edward George “Dan” Tyrrell, o filho mais velho entre os dez filhos de Edward Tyrrell, assume como enólogo. Carinhosamente conhecido como “Tio Dan”, ele iria oficiar mais de 69 safras surpreendentes. Seus esforços são auxiliados por seu irmão mais novo, Avery, cuja abordagem meticulosa da gestão dos vinhedos fornece os frutos excepcionais que constituem a espinha dorsal dos vinhos de Dan e dos vinhos que a Tyrrell's faz hoje.

Em 1959 Murray Tyrrell, filho de Avery, assume as funções de vinificação na Tyrrell's, após ter servido na Segunda Guerra Mundial e administrado um negócio de gado. Ele rapidamente formaliza os esforços para construir o valor dos vinhos da Tyrrell, ao mesmo tempo em que promove visitas à vinícola para degustação e venda, abrindo caminho para a Cellar Door como a conhecemos hoje. Em 1961, cria o sistema Private Bin, onde os frutos dos melhores blocos de vinha são amadurecidos em barricas ou cubas individuais de carvalho, sendo os vinhos resultantes os nomes das cubas de onde provêm. Quatro anos depois, com a ajuda da lenda do vinho australiano Len Evans, ele cria a linha Winemaker's Selection, que representa os melhores vinhos de cada safra, começando com o Vat 5 e o Vat 9 Shirazes, o Vat 8 Shiraz Cabernet e o Vat 11 Dry Red .

Em 1961 o Private Bin Club da Tyrrell, o primeiro clube de vinho da Austrália por correspondência, abre para negócios. Após tempestades de granizo devastadoras em 1958 e 1960, que destruíram a maior parte da safra, Murray começa a providenciar para que as pessoas visitem a vinícola, provem os novos vinhos em barris e os pré-encomendem. Esse processo acabou dando origem ao Private Bin Club, por meio do qual os membros passaram a ter acesso a vinhos de pequena produção disponíveis apenas na vinícola.

Em 1968 Murray planta as primeiras vinhas Chardonnay na propriedade da Tyrrell usando estacas da vinha HVD de propriedade da Penfolds. O vinho resultante, Vat 47 Chardonnay, se torna o primeiro Chardonnay comercial da Austrália quando é lançado três anos depois. A Tyrrell's envia sua primeira remessa de exportação para os EUA - um contêiner de 1.000 dúzias. Hoje, a Tyrrell's exporta 17.000 caixas de dúzia de garrafas para mais de 30 países a cada ano.

Em 1974, Bruce Tyrrell, filho de Murray, ingressou na empresa aos 23 anos, graduado em Economia Agrícola pela University of New England no ano anterior. Em 2000, ele substitui seu pai como diretor administrativo da Tyrrell's.

Em 1979 A Tyrrell's vence a primeira Olimpíada do Vinho em Paris, organizada pela revista francesa de gastronomia e vinhos Gault-Millau. O 1976 Vat 6 Pinot Noir é aclamado o melhor vinho do mundo, superando cerca de 330 vinhos de 33 países. O prêmio é uma justificativa particular, pois a Tyrrell's foi pioneira na variedade na Austrália, plantando dois acres de Pinot Noir em 1972 - entre as primeiras plantações comerciais da variedade na região de Hunter.

Mais informações acesse:

https://tyrrells.com.au/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sinonimos_10240.html

Degustado em: 2016

 

 





 

domingo, 24 de outubro de 2021

Família Silotto Merlot 2019

 

Nessas minhas andanças na estrada do vinho eu já degustei muitos rótulos! Viajei, por intermédios das taças cheias da poesia líquida, por regiões, países, histórias, naveguei por muitas culturas e comportamentos que impactaram nas tipicidades de muitos vinhos, mas para alguns rótulos em especial eu sempre mantive uma postura de distanciamento, algo intransponível, difícil de ter em minha mesa, em minha taça.

Claro que em algum momento de nossa vida podemos ter a alegria de degustar aquele vinho caro, de uma região que sempre quis ter em nossa taça, aquela proposta de vinho raro, difícil de encontrar por aí. Talvez seja um pessimismo da minha parte dizer que um vinho seja inalcançável para mim, mas a impressão é essa para mim, quando olho alguns rótulos e um exemplo eram os vinhos artesanais.

Sempre vi alguns especialistas eufóricos falar dos vinhos artesanais, caseiros mesmo, naturais, biodinâmicos, entre outros e eu sempre pensei: Nossa nunca terei acesso a esses vinhos, parece ser difícil encontra-los, de tê-los em minha adega, devem ser caros demais!

Como deve ser bom degustar um vinho de pequeno produtor, que produz vinhos em baixa escala. Que legal deve ser valorizar os pequenos produtores que ajudam e muito a alavancar a nossa cultura vitivinífera e que geralmente são esses pequenos produtores, esses produtores de vinhos artesanais que personificam a história vinífera do Brasil com os imigrantes italianos e portugueses, que são os pilares, o sustentáculo de nossa ainda nova indústria do vinho.

E o rótulo, especial, de hoje é um vinho artesanal que descobri da forma mais despretensiosa do mundo! Estava eu navegando pelas redes sociais, sem nenhum tipo de pretensão, olhando as publicações de forma aleatória sem a pretensão de achar nada e vi uma publicação de um produtor artesanal expondo o seu rótulo da casta Merlot e aquilo me fez parar e olhar com mais atenção.

Olhei de cara que era um vinho artesanal, que estava estampado no rótulo, e que vinha de uma cidade chamada Serra Negra, em São Paulo. Aquilo já me contaminou de interesse incontido! Mas esbarrei em uma questão: onde comprar? Comentei na publicação sobre detalhes do vinho e também perguntei onde poderia compra-lo e com um link de site eu tive a resposta: Pemarcano Vinhos.

Logo acessei o site, mas com aquele sentimento de incredulidade, pensando em encontrar valores demasiadamente altos, mas acessei mesmo assim. Lá estava o vinho e pasme, ele custava R$ 35,00! Não acreditei, não esperava que fosse encontrar um vinho artesanal por esse preço. Há sim vinhos artesanais com esse valor. Depois fui descobrindo, emaranhando nos vinhos da região de São Paulo, do interior desse estado, e descobri que há várias adegas artesanais e pequenas que produzem e vendem seus vinhos artesanais e coloniais a preços muito competitivos.

Então vamos às apresentações: O vinho que eu degustei e gostei veio do Brasil, da região de Serra Negra, São Paulo, e se chama Família Silotto da casta Merlot e a safra é 2019. O vinho é muito bem feito, saboroso, como um Merlot brasileiro tem de ser e faz com se desaba quaisquer preconceitos que possa existir com os vinhos artesanais e este rótulo é um grande representante desta quebra de paradigma. Mas antes de falar do vinho falemos um pouco da região de Serra Negra e também da breve história do Brasil vitivinícola que nos ajudará e muito a entender o conceito do vinho artesanal.

Serra Negra, o circuito das águas.

Encravada na Serra da Mantiqueira a 150 quilometros da capital, em uma região de 927 metros de altitude com picos de até 1.300metros está localizada a Estância Turística Hidromineral de Serra Negra.

A cidade é cercada por montanhas da Serra da Mantiqueira, a vegetação é exuberante, compondo um cenário de extraordinária beleza natural. Em meio ao Circuito das Águas Paulista, Serra Negra possui um ambiente seguro e agradável. Aqui a tranquilidade e qualidade de vida estão presentes por meio da boa estrutura turística.

Serra Negra

A cidade possui uma das maiores redes hoteleiras da região do Circuito das Águas Paulista e por isso pode abrigar milhares de pessoas que fazem a população de visitantes aumentar durante as férias e feriados oferecendo total comodidade e conforto.

Além da exuberante riqueza natural, a cidade possui diversidade e amplos tesouros culturais, como a produção rural e a produção artesanal de queijos e bebidas.

Quem procura uma experiência única a Rota do Café, do Queijo e do Vinho excelente e rica opção de passeio. São 8 km de extensão, a estrada leva os visitantes para conhecer as delícias tradicionais e artesanais produzidas na cidade. Cada sítio é especializado em um produto, seja ele café, queijos ou vinhos.

Serra Negra vista de cima

Breve história do Brasil vitivinícola e o conceito de vinho artesanal

O Brasil foi descoberto pelos Portugueses em 1500, e em 1532 Martim Afonso de Souza chegou com as primeiras mudas de videiras vitis viníferas que foram plantadas na Capitania de São Vicente, porém sem sucesso em função do clima e do solo. Mas Brás Cubas membro da expedição de Martim Afonso de Souza transfere as plantações do litoral para o Planalto Atlântico e em 1551 consegue elaborar o primeiro vinho brasileiro, mas sem muito sucesso, sua iniciativa não teve sequência devido as condições de solo e clima não serem adequados ao cultivo das videiras.

Em 1626 os Jesuítas chegaram à região das Missões e impulsionam a vitivinicultura no Sul do Brasil. O Padre Roque Gonzales de Santa Cruz recebeu os créditos pela introdução das videiras no Rio Grande do Sul, com ajuda dos Índios foi elaborado vinho utilizado nas celebrações religiosas.

Em 1640 foi promovida a primeira degustação no Brasil. A intenção foi de melhorar os vinhos comercializados no país. Em 1732, os Portugueses da Região do Açores, povoaram o litoral do Rio Grande do Sul e formaram-se colônias em Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, plantaram mudas de videira provenientes do Açores e da Ilha da Madeira, mas as plantações não se desenvolveram adequadamente.

Em 1789 a corte portuguesa percebeu o grande interesse do Brasil pela vinicultura e proibiu o cultivo de uva no país, como forma de proteger a sua produção em Portugal. A medida inibiu a comercialização da bebida nas colônias e restringiu a atividade ao âmbito familiar.

Em 1808, quando da transferência da coroa portuguesa para o Brasil é derrubada à proibição ao cultivo da uva e são estimulados os hábitos no entorno do vinho, inclusive degusta-lo junto às refeições, encontros sociais e festas nas comunidades religiosas.

Em 1817, os gaúchos são considerados pioneiros na vinicultura e esse pioneirismo se materializa no lendário Manoel Macedo, produtor da cidade de Rio Pardo, até o ano de 1835 todo o vinho que produzia era documentado, em um dos anos ficou registrado a elaboração de 45 pipas, o que lhe rendeu a primeira carta patente para a produção da bebida no país.

Em 1824 tem início a colonização alemã e os mesmos tinham muito interesse em vinhos. Na mesma época o italiano João Batista Orsi se estabelece na Serra Gaúcha e recebe de Dom Pedro I a concessão para o cultivo de uvas europeias, torna-se um dos precursores do ramo na região.

Em 1840 pelas mãos do inglês Thomas Messiter, são introduzidas no Rio Grande do Sul as uvas Vitis Lambrusca e vitis Bourquina, de origem americana que são mais resistentes a doenças. Inicialmente foram plantadas na Ilha dos Marinheiros, na lagoa dos Patos e logo se espalharam pelo Estado.

Em 1860 a uva Isabel, uma das variedades americanas introduzidas no Rio Grande do Sul, ganha rapidamente a simpatia dos agricultores. Há registros de que, por volta de 1860 a uva Isabel formava vinhedos nas cidades de Pelotas, Viamão, Gravataí, Montenegro e municípios do Vale dos Sinos.

Em 1875 ocorre o grande salto na produção nacional de vinhos em função da chegada em massa dos imigrantes italianos, pois, trouxeram de sua terra natal o conhecimento técnico de elaboração dos vinhos e a cultura do consumo, os italianos elevaram a qualidade da bebida e conferem importância econômica à atividade.

Em 1881 foi elaborado 500 mil litros de vinho na cidade de Garibaldi no Rio Grande do Sul, este número consta em um relatório feito em 1883 pelo cônsul da Itália, Enrico Perrod, após sua visita à região. Em 1928 é criado o Sindicato do Vinho, essa iniciativa foi articulada por Oswaldo Aranha, então secretário estadual do Governador Getúlio Vargas.

Em 1929 o associativismo é adotado pelos agricultores e em um período de 10 anos, 26 cooperativas são fundadas, algumas como a Cooperativa Garibaldi atuam até hoje. O modelo da competitividade entre os pequenos produtores os direciona a uma situação de equilíbrio, tal equilíbrio é alcançado na década seguinte.

Em 1951 a vinícola Georges Aubert é transferida da França para o Brasil e marca o início de um novo ciclo. O interesse de empresas estrangeiras no país se consolida na década de 70 e trouxe novas técnicas para os vinhedos e para as cantinas, além de ampliar as áreas de cultivo da uva.

Em 1990 temos as vinícolas melhoradas, pois ao longo da década de 80 os vinhedos passaram por uma tremenda reconversão, e à partir da abertura econômica do Brasil a produção de vinho ganha impulso. O acesso a diferentes estilos de vinhos e a concorrência com os importados levaram os produtores a melhorar a qualidade.

Em 2002 a vitivinicultura está consolidada em diferentes regiões, do Sul ao Nordeste do país, cada zona produtiva investe no desenvolvimento de uma identidade própria. O pioneiro é o Vale dos Vinhedos, que conquista a Indicação de Procedência em 2002.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, mas com brilhantes reflexos violáceos, com lágrimas finas que marcam no bojo do copo e em razoável intensidade.

No nariz se destacam os aromas frutados, frutas vermelhas e pretas maduras, tais como framboesa, ameixa, amora, morango, as notas amadeiradas se destacam também, mas em sinergia com a fruta e um delicado e agradável toque floral.

Na boca é leve, redondo, equilibrado, a madeira se destaca também no paladar, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho, a fruta também está em evidência, a acidez é equilibrada e dita o frescor do vinho, com taninos aveludados e um final curto.

Mais um sonho atingido com êxito! Sempre quis degustar um vinho artesanal! Esse longa distância se encurtou com o esforço, o interesse que, mesmo diante de olhar pessimista que nutri, ele veio de forma despretensiosa, de uma formal atípica, mas que construí com base no interesse que sempre pautou a minha enofilia. A história desse rótulo, da Família Silotto é a personificação da rica, da prolífica história do Brasil dos imigrantes, do Brasil sofrido, de seu povo batalhador que, em um intercâmbio histórico, edificou a sua história vinífera. Degustar o Família Silotto Merlot é como se estivéssemos degustando a história do Brasil e seus desdobramentos vínicos, mas com os pés calcados no presente, vislumbrando um olhar no futuro. Há sim lugar para os vinhos artesanais, para os vinhos produzidos por pequenos produtores que, apesar de pequenos, são gigantes para a construção de uma indústria do vinho em ascensão. Família Silotto Merlot traz as frutas maduras no aroma e no paladar, traz as notas amadeiradas, com taninos maduros, mas domados, traz personalidade, traz história de um povo que sabe sim fazer vinho! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Família Silotto:

A História da família Silotto em Serra Negra começou quando o italiano da região de Treviso, Pietro Silotto, comprou suas terras no bairro das Três Barras, pois achou muita semelhança com as terras da Itália.

Neste bairro se iniciou a cidade de Serra Negra (O bairro das Três Barras seria inicialmente o centro de Serra Negra, porém pela região extremamente montanhosa, subiram a serra até chegar a um local mais plano, onde é o centro atual).

Veio acompanhado de seus irmãos, Fortunato, Ângela e Henrique. Aqui construiu sua família com treze filhos, dez homens (Basílio, Ermínio, José, Olívio, Quinto, Atílio, aqui todos lavoravam. Cada filho criou sua família, sempre juntos morando na casa acima construída em 1934 por Pietro Silotto. Já mais velho resolveu dividir suas terras entre seus filhos, sendo assim, cada um teve seu sítio e sua casa. Continuou aqui onde tudo começou Quinto Silotto, seu 5º filho.

Família Silotto

Pietro viveu aqui até o final de seus dias, deixando a sede para Quinto Silotto. Quinto também trabalhou muito, teve dez filhos, sete mulheres (Nera, Maria Inês, Dalva, Maria Alice, Elza, Julietta, Bertina) e três homens (Décio, mais conhecido como Neno, Alfeu e José Carlos);

Dois de seus filhos começaram a trabalhar na lavora com sete anos e continuam até os dias de hoje. Cuidam das terras com muito amor, pois foi esse amor que veio desde o começo.

Aqui cuidam da videira centenária plantada por Pietro Silotto, do cultivo da cana e do café e da produção de bebidas artesanais, com a mesma tradição e dedicação de seus antepassados. Tudo isso com muito suor e orgulho.


Mais informações acesse:


Referências:

“Clube do Vinho Artesanal”: https://clubedovinhoartesanal.com.br/vinho-caseiro

“Em algum lugar do mundo”: https://emalgumlugardomundo.com.br/o-que-fazer-em-serra-negra/








sábado, 23 de outubro de 2021

Viñas del Vero Cabernet Sauvignon e Merlot 2018

 

Novos terroirs, novas regiões, novas experiências, percepções... Pois é, nada mais excitante, com o perdão da emoção da palavra, do que ter essas grandes novidades no universo do vinho. Por isso sempre uso o termo “universo” para definir a alegria de degustar vinhos, porque ele é inexplorado, dada a diversidade cultural, regional entre outros quesitos.

E o rótulo de hoje vem da Espanha, justo da Espanha que, em um passado razoavelmente distante, eu tinha dificuldades de escolher vinhos, talvez por uma visão pré-concebida construída pela questão do tal custo X benefício. O que era um mundo intransponível no passado, atualmente se tornou um leque de possibilidades com direito a desbravar novas regiões e experiências.

E esse rótulo se enquadra perfeitamente nessa proposta bem atraente, diria. Uma região pouco conhecida, mas que, aos poucos, vem ganhando alguma notoriedade, graças aos seus rótulos modernos, arrojados, que entregam vinhos mais joviais, mais frutados e com personalidade.

E não para por aí! Esse rótulo, pelo menos para mim, traz outra novidade: trata-se de um blend, um corte tipicamente bordalês, sim, um clássico corte de uma das regiões emblemáticas da França e do mundo: Bordeaux. Um blend de Cabernet Sauvignon e Merlot oriundo de uma região chamada Somontano, na Espanha.

Imaginem a minha animação, a minha euforia em degustar esse vinho. Claro que tais castas tem se adaptado com maestria em terras espanholas, mas a combinação, o casamento das duas em um rótulo para mim é uma novidade.

Sem mais delongas vamos as apresentações. O vinho que degustei e gostei veio, como disse, da região de Somontano, na Espanha e se chama Viñas del Vero, com o famoso corte bordalês das castas Cabernet Sauvignon e Merlot da safra 2018. O vinho de fato é muito, muito bom. Um vinho frutado, saboroso, expressivo, versátil. Mas não entrarei, ainda, em detalhes, pois falarei antes da região de Somontano. Ah cabe lembrar que já tive uma gratíssima oportunidade de degustar um vinho, deste mesmo produtor que vale a pena conferir, o Viñas del Vero Garnacha e Syrah 2018.

DO Somontano

Localizada no nordeste da Espanha, aos pés da Cordilheira dos Pirineus, no coração da província de Huesca, a região de Somontano conta com mais de 440 hectares de vinhas cultivadas. Entre uvas brancas e tintas, prevalecem as de coloração escura, ocupando cerca de 75% dos vinhedos.


Somontano

Com elevados índices pluviométricos, Somontano é conhecida internacionalmente pela capacidade de seus produtores em elaborar vinhos equilibrados com a marcante presença de aromas frutados. A altitude da região - entre 350 e 650 metros– beneficia as videiras com uma conveniente variação de temperatura ao longo do dia, alta enquanto ainda há luz do sol e baixa ao anoitecer, oferecendo às uvas um cenário ideal para que desenvolvam o equilíbrio entre açúcar e acidez.

O nome da região referencia sua principal característica topográfica e quer dizer “sob as montanhas”. Somontano é uma comunidade autônoma da região de Aragão, na Espanha, onde se cultivam mais de 15 variedades de uvas. Os vinhos elaborados nesta área são longevos e frescos, com aromas delicados e coloração intensa, evidenciando a dinamicidade de caráter dos exemplares produzidos na região.

Além disso, Somontano tem um grande apelo turístico ligado à vinicultura local, que oferece não só as belas paisagens, mas principalmente uma notável relevância histórica da comunidade produtora de vinhos.

Aragón

Ainda que a região tenha ganhado o mundo do vinho recentemente, oficializando-se Denominação de Origem Espanhola em 1984, as primeiras documentações sobre a vinicultura em Somontano datam de 500 A.C.. Os tipos de uva tinta mais recorrentes na região são Merlot, Cabernet Sauvignon, Syrah, Tempranillo, Pinot Noir, Garnacha Tinta, Moristel e Parraleta, enquanto no caso das variedades brancas, que representam 25% do cultivo na região, as castas de maior destaque são Sauvignon Blanc, Riesling, Garnacha Blanca, Macabeo, Gewürztraminer e Alcañón.

Somontano dispõe de grande prestígio quando o assunto é inovação técnica vitivinícola. Essa renovação se deve à devastação dos vinhedos franceses pelo inseto filoxera, que impeliu os produtores da região espanhola a fundarem “La Cooperativa Comarcal de Somontano” para suprir a demanda do mercado francês e finalmente se lançar ao mundo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, vivo, com reflexos violáceos brilhantes com lágrimas finas dispersas com média persistência.

No nariz no início mostrou-se um pouco fechado, mas com alguns minutos na taça logo se abriu, apresentando frutas negras maduras onde se destacam a ameixa e amora. Um discreto tostado e amadeirado também foi sentido, mas em perfeita sintonia com a fruta.

Na boca é seco, suculento, com certa estrutura, mas equilibrado, redondo, versátil e muito fácil de degustar. Afinal a Cabernet Sauvignon traz a personalidade ao vinho e o Merlot a maciez. As notas frutadas reaparecem em evidência em perfeito sincronismo com as notas amadeiradas e de baunilha, graças aos 4 meses de barricas de carvalho que lhe conferem elegância, mas alguma complexidade. Tem taninos presentes, mas domados, acidez correta e final médio.

Um vinho nobre, porque mesmo simples na proposta é gigante no que entrega e surpreende porque ultrapassa todas as expectativas. Da simplicidade vem a nobreza! Definitivamente é uma região que preciso me aventurar, a viajar nas taças, nos rótulos. É uma pena que não somos ofertados com tantos vinhos dessa região, mas quem sabe o tempo descortina a oportunidade, o eldorado de uma região que vem crescendo a olhos vistos no cenário vitivinícola espanhol. As informações que coletei na grande Web dão conta de que o ano de 2018 foi desafiador por conta da intensa chuva que caiu na primavera e verão. Mas o enólogo conseguiu desenvolver um vinho expressivo, intensamente aromático e muito equilibrado. E faço jus a essas observações. Um vinho de personalidade, a fruta explode em aromas e é muito versátil, pois, além de marcante é fácil de degustar. Belo vinho! Bela Somontano! Tem 13,5% de teor alcoólico imperceptível.

Sobre a Viñas del Vero:

Viñas del Vero deve seu nome a um rio da região de Somontano, o rio Vero, famoso por suas ravinas, gargantas e desfiladeiros. Viñas del Vero é o melhor e mais reputado produtor da denominação de origem Somontano, localizada aos pés dos Pirineus, perto da fronteira com a França. Fundada em 1986, a bodega rapidamente chamou a atenção da imprensa especializada por seus excelentes vinhos tintos e brancos, que em poucos anos se tornaram vinhos de referência no país.

O produtor foi eleito a “Melhor Bodega de 2002” pelo Guía de Vinos Gourmets, distinção que já havia recebido anteriormente. Os vinhos mais tradicionais de Viñas del Vero, que levam o nome da bodega, são elaborados com uvas nativas e internacionais. A vinícola possui também uma interessante linha de vinhos tintos e brancos varietais. Viñas del Vero também é proprietária da Blecua, que produz dois vinhos de minúscula produção, os maravilhosos Blecua e Secastilla, elaborados apenas com as melhores uvas dos melhores vinhedos de Somontano.

Além dos rendimentos baixíssimos, apenas os melhores barris são selecionados a cada ano. O resultado são vinhos que em pouco tempo se afirmaram entre os melhores e mais disputados vinhos de toda a Espanha. O Blecua 2004 foi indicado ao “Quadro de Honra” do Guía Campsa 2008 como um dos melhores vinhos do país, merecendo 95 pontos. Viñas del Vero é a principal vinícola da região de Somontano, em termos de volume e qualidade dos vinhos produzidos.

A adega possui mais de 700 hectares de vinhedos e elabora, cerca de, 5 milhões de garrafas de vinho por ano. Além disso, seus rótulos são consumidos em mais de 40 países, demonstrando a importância de Viñas del Vero para o mundo do vinho.

Sobre a González Byass, dona da Viñas del Vero:

Em 1835, o jovem Manuel María González Ángel iniciou uma longa carreira dedicada ao mundo do vinho. Tradição, inovação, sustentabilidade e busca pela excelência são seu legado. O jovem empresário Manuel María González iniciou a sua carreira no mundo do vinho como comerciante, associado a Juan Bautista Dubosc e Francisco Gutiérrez de Agüera. Mas o sucesso da sua empresa cresce tão rápido que logo se torna necessário se envolver também na produção. E o faz de mãos dadas com o tio materno, José Ángel, que lhe ensinou tudo o que sabia. Em sua homenagem, batizou a fundadora solera de “Solera del Tío Pepe”.

Assim começa a lenda do Fino mais famoso do mundo, que em 1854, com apenas 20 anos de existência, se tornou uma das referências e o primeiro exportador de vinho xerez, posição privilegiada que manteria por muitos anos. Para aquela lenda que cruzou fronteiras contribuiu o envio das primeiras botas deTio pepeao Reino Unido  por sugestão de Robert Blake Byass, o agente da empresa na Inglaterra, a quem Manuel María recomendou em uma carta para vender um vinho "excepcionalmente pálido".

O sucesso da recepção motivou a associação dos dois empresários a continuar promovendo as exportações. Nesse período, paralelamente à construção da adega La Constancia, a primeira adega de Jerez, foram acrescentadas outras, dentro e fora do território nacional, até hoje, onde a  5ª geração continua a mantê-la como empresa família, mas expandindo nossa paixão por vinhos e bebidas espirituosas para mais de 100 países.

Século 20: diversificação

Embora a primeira aguardente data de 1844 e seja exportada desde os primeiros tempos, a idade de ouro deste "vinho queimado" viria alguns anos depois. Em 1927 a área de envelhecimento do conhaque foi ampliada com a construção da vinícola San Pedro Nolasco e de mais seis vinícolas na mesma área de Jerez, mas foi em 1951 quando lançou o que se tornaria o conhaque mais seleto de González. Byass, o Lepanto. A diversificação de produtos não terminaria com aguardentes. González Byass expande seu compromisso primeiro com o Cognac, comprando uma destilaria na França, e depois com o anis, comprando o Alcoólatra chinchón em 1969, a primeira destilaria de anis e aguardentes da Espanha e a única com indicação geográfica protegida, sendo o início da nossa trajetória no mundo das aguardentes.

Mas a busca por novos produtos e o respeito permanente pela sustentabilidade levaram à criação do primeiro centro privado de pesquisa enológica na Espanha em 1955, CIDIMA (Qualidade, Pesquisa, Desenvolvimento, Inovação e Meio Ambiente), que em poucos anos conseguiu demonstrar o que eram. os principais fatores que influenciam a qualidade e é a gênese de inúmeras inovações de produtos, bem como medidas para melhorar o meio ambiente. Mais tarde, eles colocaram o primeiro pé em La Rioja, tornando-se parte da Beronia, uma de suas vinícolas mais emblemáticas da atualidade, e na Catalunha, com a compra da cava Vilarnau, em Sant Sadurní d'Anoia, que produz os vinhos Cavas e Penedés.

Século 21: internacionalização

Na González Byass chegamos à atualidade sendo fiéis às nossas origens, mas avançando para oferecer os melhores vinhos e bebidas espirituosas do mundo. E este compromisso é o que nos levou a crescer para ter 14 vinícolas em terras espanholas, chilenas e mexicanas e uma gama de destilados premium altamente reconhecidos. Assim, como poderia ser diferente, o s. XXI começa com a compra de Finca Moncloa, onde se aposta na tradição de outrora de fazer vinhos tintos de qualidade na província de Cádis e na recuperação da casta autóctone esquecida, Tintilla de rota, seguida da aquisição das Croft, Viñas del Vero e Pazos de Lusco.

Seguindo o espírito inovador do fundador da González Byass, construímos as vinícolas Finca Constanciano coração da província de Toledo. Nos últimos anos, adquirimos a Veramonte no Chile, Pedro Domecq no México e nossa mais recente adição, Domínio Fournier, no coração da Ribera del Duero. Neste período aumentámos a família das bebidas espirituosas com a criação das nossas gamas premium de gins The London Nº 1 e MOM , e Nomad , o nosso whisky, nascido e envelhecido na Escócia, e refinado em Jerez.

Mais informações acesse:

https://www.vinasdelvero.es/vinas-del-vero

https://www.gonzalezbyass.com/

Fontes de pesquisa:

Portal Mistral em: https://www.mistral.com.br/produtor/vinas-del-vero

https://www.mistral.com.br/produtor/vinas-del-vero?adgroupid=111769480760&campaignid=1711766775&gclid=Cj0KCQiAnb79BRDgARIsAOVbhRqVTSvtC82aOMEE45Dj6OnUk5TeQfRxciQOlK4Q6s9RsZDAqlv4DPoaAj7UEALw_wcB

https://www.mistral.com.br/regiao/somontano#:~:text=Ainda%20que%20a%20regi%C3%A3o%20tenha,Somontano%20datam%20de%20500%20A.C..

Portal DO Somontano em: https://dosomontano.com/?lang=en#dop-somontano


 


 




domingo, 17 de outubro de 2021

Gran Legado brut

 

Início de tarde de domingo. Um friozinho fora do roteiro, ventos ocasionais corroborava a temperatura, o sol, em raros momentos, timidamente aparecendo entre as nuvens. Então o que vem à mente? Um vinho mais encorpado, complexo e estruturado. Mas olhei para a adega e decidi subverter o convencionalismo: degustar um espumante nacional, brasileiro. Um vinho leve, menos intenso, sem aquela preocupação latente de fazer análises complexas ou coisa que o valha. Para as jovens tardes de domingo, como dizia a música, um vinho descomplicado.

Mirei os olhos para a adega, olhei cada canto, cada detalhe e todos os rótulos que, no auge do seu merecimento, descansavam e observei um espumante brasileiro! Sim! Um espumante brasileiro! Nada mais pertinente para o que eu procurava, para o que eu ansiava. Tenho alguns muito interessantes, claro, como não encarar o espumante brasileiro assim? Ufanismos à parte, afinal exaltemos os nossos rótulos, os nossos espumantes que tanto projetam, de forma positiva, o nosso vinho globalmente em festivais e concursos de renome. Mas escolhi um que ganhei de presente há cerca de um ano atrás!

Então já era hora de degusta-lo! E já que falei do espumante como um verdadeiro produto nacional, que é o DNA de nossa cultura, de nossas terras, cabe lembrar alguns números que traduzem essa máxima, bem como algumas histórias que fazem dele o que é hoje.

Em 2002, o consumo de espumante nacional era de 4,2 milhões de litros, em 2014 esse número saltou para 16,7 milhões de litros. Segundo o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), em torno de 75% do espumante consumido no país é brasileiro.

Esses dados não aconteceram por acaso. Há uma série de fatores que resultam nesses valores, como aprimoramento das técnicas de manejo dos vinhedos e na elaboração da bebida nas vinícolas. Além disso, o espumante deixou de ser uma bebida apenas para final do ano e comemorações, e passou a ser pelos consumidores uma bebida do dia a dia.

A história do espumante tem seu início na França, no século XVII, na região de Champagne. Essa região sempre foi produtora de vinhos tranquilos na França, brancos e tintos. Nessa época os vinhos eram comercializados em tonéis, e como fator de desvalorização, caracterizavam-se por apresentar uma tendência efervescente, que era um grande entrave para a conservação e para o transporte a locais mais distantes.

Com a invenção das garrafas em 1680 pelos ingleses, a comercialização dos vinhos ganhou maior praticidade. A partir desse momento, começaram os problemas para os vinhos da Champagne, que sofriam uma segunda fermentação na garrafa, pressurizando e lançando as rolhas e explodindo as garrafas.

Don Pérignon, monge beneditino e tesoureiro da abadia de Hautvillers era responsável pelos vinhos e teve a missão de solucionar esse problema dessa segunda fermentação. Sendo assim, ele começou a estudar esse fenômeno e compreendeu que o que ocorria era devido ao gás carbônico (CO2), recomendando assim, que as garrafas fossem reforçadas.

Segundo a tradição, conta-se que, ao abrir uma garrafa, arrolhada, Don Pérignon foi surpreendido pela espuma da bebida, e quando provou, falou a seguinte frase: Estou bebendo estrelas! Don Pérignon foi quem mais se dedicou ao processo da segunda fermentação na garrafa, atualmente conhecida como método Champenoise.

A produção de espumantes no Brasil teve inicio em 1913, no município de Garibaldi – RS. O autor do primeiro espumante brasileiro foi o imigrante italiano Manoel Peterlongo, elaborado pelo método Champenoise. Dois anos depois a Vinícola Peterlongo era inaugurada no país, dando inicio a trajetória do espumante brasileiro.

A partir dos anos 60 a vinda de empresas multinacionais com grandes recursos, como a Martini & Rossi, Cinzano, Moët & Chandon, Maison Forestier, Almadén modificaram a cara do espumante brasileiro. Passados pouco mais de 100 anos, o Brasil já se consolidou como terroir de referência na elaboração de espumantes de qualidade e a cada safra o espumante brasileiro vem conquistando consumidores no Brasil e no exterior.

E depois desse breve desfile, mas significativa história do nosso espumante, apenas para ter uma ideia, uma dimensão de sua importância atual, vou apresentar, sem mais delongas, o meu rótulo. A minha “primeira vez” com esse produtor que, já que falamos em história, foi um dos primeiros produtores internacionais que chegaram ao Brasil e que contribuiu grandemente para o nosso espumante, a Maison Forestier, o vinho que degustei e gostei veio do Vale dos Vinhedos e se chama Gran Legado Brut, produzido pelo método Charmat, com um corte das castas Chardonnay, Riesling Itálico, Viognier e Glera, sem safra.

Mas antes de falar do vinho continuemos a passear pela história do espumante no Brasil e a importância dos imigrantes europeus para esse processo nas últimas décadas do século XIX quando a reunificação italiana e uma forte crise econômica assolaram parte do continente europeu.

É claro que os imigrantes italianos que para cá vieram, em sua enorme maioria do norte da Itália, não pensavam em vinhos espumantes e – provavelmente – mal conheciam as borbulhas. No entanto, o vinho era essencial em suas celebrações religiosas, era parte indissociável de seus costumes e as uvas tornaram-se rapidamente uma fonte de renda, principalmente para os imigrantes que ocuparam algumas das cidades da Serra Gaúcha.

A vitivinicultura se desenvolveu rapidamente por toda a região no início do século XX, mas concentrada em vinhos brancos e tintos, de produção quase artesanal. “Quase”, pois essa produção feita nas cantinas dos imigrantes passou, aos poucos, a ser comercializada. A virada do século, que viu o País sair da monarquia, abriu as portas para o crescimento da agroindústria, e muitas vinícolas surgiram. A família Peterlongo foi uma das pioneiras do espumante nacional.

Num movimento paralelo, que aproxima a região da longa história da campanha francesa (a região de Champagne), por aqui também os religiosos tiveram um papel preponderante no desenvolvimento da vitivinicultura. Os irmãos Maristas, que chegaram ao sul em 1904, começaram a plantar uvas na região da atual Garibaldi, para fazer o vinho de missa e aquele que acompanhava a mesa dos religiosos. E esses vinhos logo passaram a ser enviados para outras partes do estado, até mesmo para fora dele.

Os Maristas

Foi assim fundada a Granja Santo Antônio, que viria a ser uma das mais importantes vinícolas da região, a Pindorama S/A - Vinhos e Champanhas. Pelas mãos de um irmão de nome Pacômio, a vinícola cresceu e ficou conhecida pela salubridade de suas uvas, por sua organização e pela qualidade dos produtos. Segundo as informações do Arquivo Municipal de Garibaldi, a vinícola, que em 1915 já havia construído uma segunda cantina, armazenava 20 mil litros de vinhos nesse momento, volume que chegou a 400 mil em 1930, época da construção da terceira cantina.

No entanto, foi um imigrante que chegou ao País em condição mais favorecida do que a grande maioria, que teria o privilégio de ser o produtor do primeiro espumante documentado do país: Manoel Peterlongo Filho imigrou para o País por volta de 1875, vindo da região do Trento, e trouxe consigo os conhecimentos da profissão que exercia na Itália, a de agrimensor, e instalou-se num lote na região central da colônia de Conde d’Eu. Por sua profissão de engenheiro, ele foi convidado pela intendência estadual a participar da medição da área que se destinaria ao município de Garibaldi, realizando todo o traçado urbano e rural da cidade, por volta do ano de 1890.

Manoel Peterlongo Filho

Casado com outra imigrante italiana e com 10 filhos (apenas um homem), Manoel trabalhava para o município e produzia vinhos para consumo próprio das uvas plantadas em suas terras, das variedades Malvasia, Moscatel, Vernaccia, Rabosa e Formosa. Com uma pequena produção de espumantes, feitos pelo método tradicional, Manoel já havia conquistado pedidos de amigos e familiares, que compartilhavam taças em sua casa e, em 1913, decidiu inscrever um desses produtos no concurso da primeira exposição de uvas da cidade de Garibaldi. Foi lá que seu espumante ganhou a primeira medalha de ouro e o registro oficial que atesta o início da produção no País. E o resto a gente já sabe.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha, claro, mas reluzente, brilhante com uma concentração de média intensidade de perlages muito finas.

No nariz traz aromas delicados de frutas brancas, cítricas, frescas, com notas florais, de flores brancas, que corrobora seu frescor e delicadeza.

Na boca é leve, elegante, o toque frutado também ganha protagonismo dando algum volume de boca, com um discreto fundo adocicado, mesmo se tratando de um “brut”, mas sem soar enjoativo. Tem uma boa acidez, não sendo muito intensa reforçando sua elegância e um final vivaz e prolongado.

Um típico espumante brasileiro, sim, mas especial e que me arrebatou, de forma significativa, os sentidos, as experiências sensoriais foram divinamente atacadas, de forma beligerante, entregando sabor, tipicidade, mostrando que a tradição pode sim andar junto, de mãos dadas com a modernidade, o dinamismo de uma sociedade, de um mercado que, na mesma proporção do crescimento do nosso espumante, se torna cada vez mais exigente e especialista na degustação de nossos borbulhantes. Pensou em espumante? Pensou em degustar bons espumantes por valores atrativos, honestos e de preços democráticos e justos? Mire seus olhares e intenção aos nossos espumantes! Gran Legado sintetiza, com fidelidade, o nosso terroir e anseios com um espumante leve, fresco, com muita fruta branca, cítrica, com belíssima acidez que traz todo a delicadeza e leveza que um espumante, em sua gênese, deve e pode entregar. Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Maison Forestier:

A Maison Forestier é uma das marcas mais clássicas da história do vinho no Brasil. Nascida em 1750, na França, chegou ao país em 1970 como produto importado. Devido ao sucesso de vendas e da sua qualidade, em 1977 instalou-se em Garibaldi.

A vinícola implantou vinhedos experimentais num belo e modelar “domaine”. Foi a grande marca responsável por agregar charme, excelência e valor ao vinho nacional. Agora, toda esta tradição está de volta com os espumantes e vinhos Forestier.

Palavra do produtor:

Unimos à essa tradição francesa nossa experiência de pouco mais de duas décadas com a elaboração da linha Gran Legado Vinhos e Espumantes.

Com produção controlada, os rótulos Forestier e Gran Legado também asseguram qualidade em matéria prima e uma elaboração de excelência, conquistando os paladares nos principais concursos nacionais e internacionais.

Detentora de grandes prêmios é uma linha que esbanja sofisticação com espumantes nobres e exclusivos, além de vinhos finos, leves e frutados.

Mais informações acesse:

http://www.granlegado.com.br/home

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-primeiros-100-anos_9482.html

“Falando em Vinhos”: https://falandoemvinhos.wordpress.com/

 

 

 

 

 

 

 

 

 




 


 


sábado, 16 de outubro de 2021

Partridge Reserva Cabernet Sauvignon 2019

 

Quando falamos em Mendoza, na Argentina, em vinhos argentinos encorpados, estruturados, com complexidade, lembramos, associamos imediatamente na grande Malbec, mas não podemos esquecer a rainha das uvas tintas: Cabernet Sauvignon. Como no Chile e em grande parte do Cone Sul, a Cabernet Sauvignon é famosa e uma das mais consumidas.

E encontrou no solo andino as condições perfeitas para crescer, um novo e já tradicional terroir argentino, de Mendoza para uma cepa francesa. E já que falamos em tradição e do solo argentino, a produção e consumo de vinhos na terra dos hermanos tornou-se tradicional há aproximadamente duzentos anos. Mas a história do cultivo da uva e da produção vinícola no país do extremo sul da América começou já com os colonizadores espanhóis no século XVI.

Devido às ótimas condições de clima e solo da região andina, não demorou para que os vinhedos se desenvolvessem, mesmo que de forma rudimentar, logo no período colonial. Foi a partir dos sacerdotes da igreja católica que a vitivinicultura se iniciou na Argentina: os jesuítas produziam em seus monastérios o vinho necessário para a celebração de suas missas.

No século XIX, com a chegada maciça dos imigrantes europeus na região, algumas novas técnicas de cultivo foram implantadas, e, no mesmo passo, a variedade de uvas também aumentou, diversificando os tipos de vinhos e elevando a produção de vinho na região a um novo patamar. Castas de uvas como Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot e Chenin Blanc vieram junto com esses imigrantes e deram maior qualidade aos vinhos argentinos.

A região mais tradicional de produção vinícola na Argentina é a província de Mendoza, no oeste do país, responsável por mais da metade da produção nacional. Foi nessa região que em 1534 que as primeiras videiras no país foram plantadas, e partir de lá que o cultivo da uva espalhou-se para as outras regiões da Argentina. O Padre Cidrón e o fundador da província de Mendoza, Juan Jufré, foram os responsáveis pela primeira plantação de videiras na Argentina, no séc. XVI. Fonte: Clube dos Vinhos em: Argentina e seu perfeito solo andino.

E com esse breve desfile histórico da vitivinicultura argentina, mas muito significativa falarei do meu rótulo que escolhi para a degustação de hoje e desde já sou um réu confesso da minha afeição pelo Cabernet Sauvignon que vem da Argentina. São marcantes, expressivos e entregam todas as características que a casta pode nos oferecer em todas as suas propostas. Esse vinho me chamou a atenção pelo atrativo valor, antes de qualquer coisa e depois pela sua descrição. Então o comprei e resolvi “aceitar” os riscos, afinal, comprar vinho é, em sua boa parte, aceitar correr riscos.

O momento importante chegou! Um sábado agradável, tranquilo e que conspirava para uma boa degustação, uma degustação à altura do momento, então o ritual foi posto, mais uma vez, em prática. A rolha se desprendeu da garrafa, o vinho derramou na taça, a explosão de aromas incita as papilas gustativas e voilá! O vinho que degustei e gostei veio da abençoada região de Mendoza, da Argentina e s e chama Partridge Cabernet Sauvignon Reserva da safra 2018.

Mas antes do vinho falemos um pouco mais de Mendoza que, embora seja uma região que já massifica o imaginário de inúmeros enófilos, sempre convém detalhar certas histórias que passam despercebidas e que apesar de simples, são significativos para a construção dos rótulos que chegam à nossa mesa.

Mendoza, que fica próxima a cordilheira dos Andes, a altitude varia substancialmente e, por isso, muitos microclimas podem ser encontrados. Disso resulta uma variedade grande de vinhos, alguns dos mais especiais e apreciados da cultura vinícola argentina são dessa região.

Além da província de Mendoza, cujos principais distritos, Lugan de Cuyo, Maipu, San Rafael e Vale do Uco são responsáveis por quase 70% de todo o vinho produzido na Argentina.


Todas essas regiões produtoras são conhecidas mundialmente como Rota dos Vinhos. E, além da importância para a indústria vinícola, servem como atração turística para aqueles que visitam anualmente o país andino – com centros de artesanatos, museus e adegas famosas, a rota é um ótimo lugar para comprar vinhos aprendendo um pouco de sua história e fabricação.

Possui mais de 1.200 vinícolas, com pelo menos 200 abertas à visitação. A Argentina ocupa a posição de 5a maior produtora de vinhos do mundo, e mais de 80% de toda produção está concentrada nesta região. Mendoza tem clima considerado desértico. Praticamente não chove durante todo o ano. O índice pluviométrico (de chuvas) médio anual é de míseros 213mm. (Para se ter uma ideia de comparação, em Petrolina, sertão de Pernambuco, esse índice é de 435mm ano).

Toda a água que abastece a cidade vem do degelo das montanhas em um sistema desenvolvido pelo povo Inca (primeiros habitantes da região). A água escorre por gravidade do degelo das montanhas, e aproveitando o caminho natural das águas são feitas pequenas acequias, canais escavados na terra. Essa água pura e de excelente qualidade é utilizada para irrigar a plantação.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, profundo e escuro, com lágrimas finas e em grande intensidade que marca o bojo.

No nariz uma explosão aromática de frutas vermelhas maduras, tais como groselha e cereja, com as notas amadeiradas vivas, que revela baunilha, um defumado, couro, tabaco.

Na boca é estruturado, com alguma complexidade, alcoólico, mas sem ser agressivo, a fruta aparece também em perfeita sinergia com a madeira, graças aos 12 meses de passagem por barrica de carvalho, garantindo a sua versatilidade, seu equilíbrio, sua harmonia, com as notas amadeiradas aparecendo juntamente com a tosta e o chocolate, com taninos presentes, gordos, mas domados, com acidez agradável e um final prolongado.

Falamos de terroir demasiadamente, de tipicidade, um assunto, um tema tão complexo, tão interminável, com tantos “microclimas” dentro de uma região, parece que, mesmo diante de nossa incapacidade enciclopédica do assunto, parece que quando degustamos um Cabernet Sauvignon argentino, em especial, percebemos as nuances de um vinho produzido em Mendoza desta casta. O Partridge Reserva entrega com fidelidade, com, olha a palavra de novo, TIPICIDADE. Essas impressões, as experiências sensoriais se tornam tão aguçadas que quando, às vezes, falta a questão técnica sobre o entendimento do terroir, nos sobra os sentidos. Percebi que uma das filosofias da Viña Las Perdices, produtor responsável pela linha “Partridge”, é de que os vinhos têm de maturar em barricas de carvalho, tendo o aporte da madeira, sendo incorporados ao vinho, conferindo-lhe estrutura e complexidade o que esse rótulo garante, mas nunca mascarando as características essenciais da Cabernet Sauvignon, sendo um vinho frutado, saboroso, potente, robusto, mas equilibrado e harmonioso: a sinergia perfeita. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Viña Las Perdices:

Em 1952, Juan Muñoz López decidiu deixar sua cidade natal, Andalucia, no sul da Espanha, e ele e sua família emigraram para Mendoza, na Argentina, a fim de buscar novos horizontes.

Em seguida, já em solo argentino, não pôde deixar de notar as perdizes que vagavam pela terra. Com efeito, um vizinho disse a ele que essas aves geralmente são vistas em grupos de três.

Assim sendo, com o passar dos dias, as perdizes se tornaram as companheiras constantes de Don Juan em seus longos dias de trabalho. Assim, ele decidiu nomear sua vinícola Partridge Vineyard: “Viña las Perdices”.

A adega hoje é uma operação familiar criada por Juan Muñoz López, sua esposa Rosario, seus filhos Nicolas e Carlos e sua filha Estela.

A vinícola, assim, se localiza no sopé da Cordilheira dos Andes a 1.030 metros acima do nível do mar, em Agrelo, Luján de Cuyo – a primeira zona DOC (denominação de origem controlada) argentina. Do mesmo modo, as uvas são provenientes de duas de suas vinhas em Agrelo em Lujan de Cuyo e Barancas em Maipu.

Por fim, hoje Las Perdices continua a ser uma vinícola de pequena produção e com um espírito entusiasmado em apresentar os vinhos finos de Mendoza.

Sobre a Partridge Vineyard:

A linha Partridge foi criada em 2009 para complementar o portfólio da Viña Las Perdices nos mercados internacionais. São vinhos de perfil clássico e de qualidade, que ganhou a preferência dos consumidores.

A linha tem quatro divisões, que variam de acordo com o perfil dos rótulos:

Partridge Flying,

Partridge Reserva,

Partridge Gran Reserva,

Partridge Selección de Barricas.

A sub-linha Partridge Flying oferece vinhos fáceis de beber que são excelentes para o dia a dia. Em Reserva, os rótulos amadurecem em barricas de carvalho, agregando mais corpo e complexidade aos vinhos. Já na Gran Reserva, os vinhos são sofisticados e passam no mínimo 12 meses em carvalho, garantindo grande intensidade. E, por último, a Selección de Barricas, conta com exemplares de alta gama.

Mais informações acesse:

https://www.lasperdices.com/index.php

Referências:

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/vinhos-las-perdices-o-melhor-do-terroir-argentino/

“Clube de Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/argentina-e-seu-perfeito-solo-andino/

“Vinho Vida Viagem”: https://vinhovidaviagem.com.br/enoturismo-em-mendoza-argentina/