quarta-feira, 27 de abril de 2022

Dom Bernardino Riesling 2020

 

Continuo, a todo vapor, a me aventurar por novas experiências sensoriais, novas experiências de degustações que, cada vez mais, ampliam o meu leque de opções. Quando falo disso, e tenho comentado até de forma demasiada sobre, sempre olho para trás, olho para a minha trajetória de humilde enófilo que sou e sempre serei e me faço o seguinte comentário: estou em um momento muito alegre e satisfatório de minha caminhada.

A caminhada de desenvolvimento e que não se enganem, caros leitores: não é pautada por valores, por status, de quem está degustando rótulos caros, não é isso. Mas de vinhos cujas regiões, castas e propostas estão se aperfeiçoando, se diversificando e isso independente de status social e altos custos com compras de vinhos.

Claro que, admitamos que comprar vinhos no Brasil é uma aventura difícil, o custo Brasil, as taxas tributárias, a burocracia, impõe um revés muito grande para nós, apreciadores da poesia líquida, mas tudo é uma questão de oportunidade, não de demanda ou modismos de compra.

Mas fugindo um pouco desse assunto e falando das gratas novidades que vem a cada rótulo, surgindo em minha vida, o vinho de hoje foi, mais uma vez, um presente, uma cortesia do amigo, de São Paulo, Luciano, da loja Pemarcano Vinhos, que é oriundo da cidade de São Roque, conhecida carinhosamente pelos seus habitantes, como a “terra do vinho”, e que vem abrilhantando e inundando as minhas taças com vinhos, diria, no mínimo surpreendentes, sobretudo pela relação custo X benefício.

E de uma casta que jamais pensei que fosse degustar por estar associada aos rótulos germânicos tão caros e difícil acesso ao bolso de um assalariado enófilo brasileiro que é a Riesling. A propósito, será o meu primeiro Riesling brasileiro!

Vinhos diferentes, leves, frescos, com o DNA do clima tropical de nossas terras, mas com personalidade que poucas castas brancas podem oferecer, essa é a Riesling. Então sem mais delongas, vamos apresentar o vinho! O vinho que degustei e gostei veio, como disse da região paulista de São Roque, chamado Dom Bernardino Riesling.

Digo de antemão que o vinho é simplesmente surpreendente e valoriza o frescor, a leveza, a simplicidade sim, mas que entrega as características mais marcantes da Riesling. Características estas que, antes de descrever sobre o rótulo, falarei aqui bem como a história brilhante e repleta de riquezas e tradição de São Roque. Lembrando ainda que a minha experiência com esses vinhos, da Vinícola Bella Aurora, não é a primeira, pois degustei o também surpreendente Dom Bernardino Touriga Nacional 2018.

São Roque: “A terra do vinho”

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antonio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Roteiro do vinho em São Roque

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

Riesling

A casta Riesling é uma das grandes uvas brancas da Alemanha e uma das melhores variedades do mundo todo, capaz de conferir ao vinho incrível elegância e complexidade e uma habilidade inigualável de expressar o terroir.

Seus cachos apresentam coloração verde amarelada com tamanho médio e delicado. Os vinhos elaborados com a casta costumam ter acidez bastante destacada e são extremamente aromáticos. Os melhores brancos da casta costumam ser os varietais. A uva Riesling possui duas variações, sendo a Renana a de maior qualidade e a Itálica a que possui menor grau de expressividade.

Com textura bastante envolvente, os vinhos elaborados a partir da casta Riesling podem ser secos, meio doces ou bem doces. O que é de conhecimento sobre o cultivo da uva, é que para originar os maravilhosos e extraordinários vinhos de sobremesa, ocorrem dois processos bastante distintos.

O primeiro processo é o ato de congelar a uva antes da colheita, sendo conhecido como “eiswen” – ou vinhos de gelo. Nele a casta Riesling permanece vários dias congeladas (enquanto madura), ainda no vinhedo, por conta das baixas temperaturas em que fica exposta. Logo após serem colhidas, as uvas passam pelo processo de prensagem, tornando o vinho muito mais concentrado, já que haverá menor quantidade de água. Nesse caso os melhores exemplares são encontrados no Canadá, graças ao seu clima frio e com bastante presença de geadas.

O outro processo é quando ocorre a podridão nobre, momento em que o fungo “Botrytis Cinerea” fura a casca da uva e alimenta-se da água da casta, deixando-a desidratada e exaltando os açúcares presentes na sua composição. As uvas são colhidas e levadas para vinificação, tornando o vinho muito mais especial.

Alguns produtores estampam “dry” (seco) ou “sweet” (doce), mas isso não é suficiente perto dos tantos níveis de doçura da Riesling. Ela pode ser “medium dry” (vinho meio seco), “medium sweet” (meio doce) e por aí vai.

A forma de identificar essas propostas de vinhos Riesling é verificar a graduação alcoólica – quanto menor for mais doce será. Isso acontece porque durante a fermentação, o açúcar natural da uva vira álcool (se a conversão não acontece, permanece doce e menos alcoólico). Qualquer Riesling com mais de 11% é seco, pois quase todo seu açúcar foi transformado em álcool.

Por possuir presença de açúcar residual e tempos de guarda diferentes, os vinhos elaborados com a casta Riesling possuem maior atenção na hora da harmonização, sendo na maioria das vezes melhores quando degustados e apreciados sem a companhia de pratos.

Seus vinhos podem ser sublimes e costumam durar muito tempo. Além da Alemanha, também produz vinhos excelentes na Áustria, Alsácia e também em alguns países do Novo Mundo, como Nova Zelândia, África do Sul e Austrália.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um lindo e brilhante amarelo palha, translúcido, com reflexos esverdeados.

No nariz explodem os aromas de frutas brancas frescas e cítricas, onde se destaca pera, maçã-verde, pêssego, abacaxi, limão, com notas minerais que traz a sensação de leveza e frescor.

Na boca seguem as percepções frutadas, como observado no aspecto olfativo, trazendo também a leveza e a refrescância que o torna despretensioso e informal, além de uma ótima acidez que saliva e um final prolongado e frutado.

Vinho não é só poesia engarrafada como dizia aquele poeta, mas história engarrafada também. Degustamos história, degustamos cultura! É muito gratificante e especial degustarmos vinhos com essa carga histórica atrelada de forma tão veemente, tão latente. A história é viva e plena, não é algo estático. Degustar o Dom Bernardino Riesling é como se estabelecêssemos contato com um novo mundo, uma nova percepção, que enaltece as nossas experiências sensoriais. Um vinho que apesar de ter as tradições lusitanas, tanto que o nome “Dom Bernardino” é em homenagem ao fundador da vinícola Bernardino Pereira Leite, português que se estabeleceu em São Roque, graças às raízes que criaram a vinícola, tem o terroir brasileiro, o fazer brasileiro, a nossa cultura, a nossa assinatura. Dom Bernardino Riesling é jovem, fresco, leve, despretensioso e que harmonizou perfeitamente com um meio de tarde outonal. Que venham mais e mais momentos especiais como esse! Como curiosidade: as uvas vieram de Caxias do Sul e foram, claro, vinificadas pela Bella Aurora. Tem 11% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Bella Aurora:

Vinícola fundada na década de 1920 por Bernardino Pereira Leite imigrante português iniciou sua produção para consumo caseiro. A produção em escala comercial teve início em 1932.

Com mais de 85 anos, Vinhos Bella Aurora mantém sua tradição familiar na produção de saborosos vinhos, contando com uma excelente estrutura de atendimento aos visitantes e uma equipe de representantes comercial em todo estado de São Paulo.

A Vinícola proporciona um passeio turístico para quem busca contato com a natureza. Neste passeio poderá degustar bons vinhos e sucos, além de poder adquirir toda a linha de produtos típicos da Vinícola Bella Aurora. Para melhor atender os clientes, a cantina dos Vinhos Bella Aurora foi montada no interior de um autêntico tonel de madeira com capacidade para 120 mil litros.

Mais informações acesse:

https://www.bellaaurora.com.br/












domingo, 24 de abril de 2022

Rio Sol Gran Reserva Alicante Bouschet 2015

 

Há vinhos e vinícolas que fazem parte de nossa vida enquanto enófilo! Uma espécie de elo sentimental, algo afetivo que, como uma forte corrente, nos une. Ah só quem degusta vinhos sabe o que estou dizendo. Alguns vinhos, alguns rótulos foram e ainda são muito importantes, por exemplo, na minha transição de vinhos suaves, aqueles doces de garrafão para os vinhos finos, aqueles produzidos com castas vitiviníferas.

Está aí um momento de suma importância para qualquer enófilo brasileiro. Atirem a primeira pedra quem não passou por esse momento na história de degustação, de um bom e fiel apreciador da poesia líquida. Posso aqui elencar alguns vinhos e produtores que foram essenciais em minha vida nesse momento: Miolo, Almadén, foram sim, os vinhos brasileiros que me iniciaram há mais de 20 anos atrás. Parece que foi ontem!

Mas não posso me esquecer de um produtor que praticamente vi “nascer” para o mundo nas terras brasileiras, embora não seja genuinamente brasileiro, mas sim de um grupo português de produtor de vinhos, mas que praticamente desbravou e trouxe os preceitos técnicos e tecnológicos para o Vale São Francisco que hoje se tornou uma realidade no que tange aos terroirs brasileiros. Falo da Rio Sol!

Como disse apesar de estar em solo brasileiro a Rio Sol é um projeto ousado e grandioso da Global Wines, um conglomerado português que se instalou no Brasil do Velho Chico, os vinhos do Rio São Francisco que irrigam os parreirais e que entregam, para nosso deleite, vinhos frescos, maravilhosos e, ao mesmo tempo, dotados de uma marcante personalidade em todas as suas propostas.

E dessa vez assumirei um novo estágio nas degustações dos vinhos da Rio Sol, em uma nova nuance de proposta que terei o privilégio de degustar: a linha Gran Reserva da Rio Sol. Não as encaro como a melhor pelo fato de ser um “gran reserva” ou que, por esse motivo, seja mais caro. Vinho bom não é vinho caro, e nada mais que uma nova proposta de degustação de um rótulo que fez e faz parte da minha vida há mais de 20 anos e isso, por si só, já é relevante!

Então sem mais delongas apresento o vinho que degustei e gostei que veio do “eldorado” vitivinícola brasileiro, Vale do São Francisco, no Brasil e se chama Rio Sol Gran Reserva Alicante Bouschet da safra 2015. E o que mais me chama atenção neste vinho é a casta, sim, a casta! A casta, criada em laboratório, se notabilizou na região do Alentejo, mas ganhou alguma representatividade em terras brasileiras, sobretudo, claro, nas quentes terras nordestinas, banhadas pelo Velho Chico. Será minha primeira experiência e como está o coração? Cheio de alegria e expectativas! Mas antes de falar do vinho falemos do Vale do São Francisco e da Alicante Bouschet.

Vale do São Francisco: os vinhos do Velho Chico

A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma excepcionalidade no mundo, uma vez que está localizada entre os paralelos 8º e 9o S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o ano todo totalizando duas safras e meia em condições ambientais adversas como alta luminosidade, temperatura média anual de 26oC, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de altitude, em solo pedregoso.

Cinturão dos vinhos

Seus vinhos possuem público crescente, porque são jovens “vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabores, considerados como fáceis de beber e apresentando boa relação comercial qualidade/preço. Aliado a essas particularidades, diretamente associadas à produção de vinhos finos, o Vale é ainda cenário de diversas belezas naturais, históricas e culturais. Estudos já publicados permitem identificar que a região conta com diversas características que comprovam o seu potencial turístico para o desenvolvimento da atividade, como é o caso da sua história, riquezas ambientais e diversificada cultura regional.

Esses fatores estão relacionados à diversidade observada na região. Isso é notado, principalmente, em decorrência da sua extensão. A Bacia do São Francisco é a terceira maior bacia hidrográfica do país e a única que está totalmente inserida no território nacional. Nela estão localizados 506 municípios contando com, aproximadamente, 13 milhões de habitantes, que representa 9,6% da população brasileira.

Bem antes do Vale do São Francisco se consolidar como polo de vitivinicultura, quem já exercia esse papel no Brasil era a região Sul. No século 19, o Rio Grande do Sul, mesmo com as condições climáticas desfavoráveis, passou a ser considerado um polo crescente nesse meio – e até hoje segue inserido no ramo. Mas, a chegada de imigrantes estrangeiros no país trouxe o conhecimento técnico e a noção de mercado, o que fez com que outras regiões brasileiras também mostrassem a sua capacidade produtiva.

É na década de 1960 que o Nordeste entra em cena e o Vale do São Francisco inicia a sua trajetória na produção de uvas e vinhos, com a implantação das primeiras videiras. Nos anos de 1963 e 1964, foram instaladas duas estações experimentais, nos municípios de Petrolina, no Sertão de Pernambuco e Juazeiro, na Bahia, onde seriam implantados, respectivamente, o Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro Irrigado de Mandacaru.

Vale do são Francisco

Apesar da escassez de chuva, o clima quente e seco do semiárido mostrou-se terreno fértil para a vitivinicultura e, na mesma década, outras cidades do Sertão de Pernambuco passam a fazer parte da cadeia produtiva. O pioneirismo da vitivinicultura no Nordeste é representado pelo Sertão Pernambucano, que iniciou a sua trajetória na vitivinicultura na década de 1960, produzindo vinhos base para vermutes, na cidade de Floresta, uvas de mesa em Belém do São Francisco e em Santa Maria da Boa vista, localidade que na época se chamava Coripós.

Entre os anos 1980 e 1990, a região banhada pelo Rio São Francisco passa a ser conhecida também pela produção de vinhos finos, e em 1984 é produzido o primeiro vinho no Vale do Submédio São Francisco, com a marca Boticelli. O fortalecimento da vitivinicultura no Vale do Submédio São Francisco se deu com a instalação de vinícolas na Fazenda Milano, em Santa Maria da Boa Vista – PE e Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, que passaram a produzir vinhos finos.

Ao longo da década de 1990, ganha destaque a vitivinicultura tecnificada e a produção de uvas sem sementes. É também nessa época, que cresce o investimento de grupos empresariais na região. A instalação de uma infraestrutura física, como construção de packing houses, melhoria no sistema rodoviário e portuário, e, sobretudo, a organização dos produtores em associações e cooperativas, desempenharam um importante papel na consolidação das exportações de uvas de mesa do Vale do Submédio São Francisco.

A partir dos anos 2000, a produção se fortalece ainda mais com a implantação de outras vinícolas e vitivinícolas e também com as iniciativas públicas. Ações governamentais e de ensino, pesquisa e inovação, a partir do ano 2000, trouxeram novas tecnologias de produção e processamento de uvas e o reconhecimento de atores internacionais. É nessa época que surge a Escola do Vinho do Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano.

Estruturação de IG (Indicação Geográfica)

A estruturação da Indicação de Procedência Vale do São Francisco para vinhos está vinculada a projeto financiado pelo MCT/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tenológico - CNPq. A ação do projeto, voltada para a estruturação da IG, tem as seguintes instituições de CT&I como executoras: Embrapa Uva e Vinho (coordenação) em parceria com a Embrapa Semiárido, Embrapa Clima Temperado, UCS, UFLA, UFP e IF Sertão. O setor vitivinícola da região é representado pelo “Instituto do Vinho do Vale do São Francisco” (Vinhovasf). O projeto conta, ainda, com outras instituições que participam em diversas pesquisas para apoiar o desenvolvimento tecnológico da vitivinicultura da região do Vale do São Francisco. Os produtos IP Vale do São Francisco incluem os vinhos finos tranquilos brancos, rosados e tintos, o espumante fino e o moscatel espumante.

Alicante Bouschet

O palco da uva tinta Alicante Bouchet é, sem dúvidas, a região de Alentejo, em Portugal, onde esse tipo de uva faz grande sucesso. A variedade é utilizada para adicionar corpo e estrutura aos rótulos produzidos na região, bem como dar mais volume aos vinhos.

Criada em laboratório pelo Francês Henri Bouchet, no final de 1800, na região de Languedoc-Roussillon, a uva Alicante Bouchet é a união das castas Petit Bouchet e Grenache. Apesar de ter sido criada na França, esse tipo de uva é majoritariamente cultivado em Portugal, e os vinhos tintos que usam a Alicante Bouchet são rótulos frutados de bom equilíbrio. A casta proporciona enorme capacidade de envelhecimento para os exemplares, de forma que os vinhos se tornem profundos, aromáticos e que se assemelhem a canela e pimenta.

Muito utilizada em vinhos de corte, a Alicante Bouchet dá origem a vinhos excelentes que harmonizam de forma notável com pratos que levam carnes vermelhas. Isso se deve à sua tanicidade, que contrasta muito bem com a gordura, criando sensações memoráveis no paladar.

A uva Alicante Bouchet também é bastante utilizada na elaboração de vinhos na Espanha e Croácia, regiões nas quais recebe diferentes nomes. Na Croácia, por exemplo, a uva é conhecida como Dalmatinka ou Kambusa, enquanto na Espanha é popularmente nomeada como Garnacha Tintorera, ainda que a Organização da Vinha e do Vinho (OIV) não reconheça o sinônimo espanhol.

Sua polpa possui coloração intensa e avermelhada, e seus bagos, dispostos em grandes cachos, são redondos de cor negra. Essas características naturais fazem da uva Alicante Bouchet uma variedade de grande relevância na intensificação da coloração de vinhos tintos.

A uva, apesar de não aparecer muito nos vinhedos da região americana da Califórnia, já foi bastante representativa e de grande relevância para a região. O maior destaque da uva Alicante Bouchet no país, entretanto, deu-se na época da Lei Seca, em 1920, quando a fruta era utilizada para a produção de suco de uva, uma vez que o governo norte americano havia proibido e criminalizado o transporte, comercialização e consumo de bebidas alcoólicas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi vibrante, intenso, límpido com reflexos violáceos com lágrimas grossas e em profusão que desenham as bordas do copo.

No nariz é bem aromático e remetem a compota de frutas vermelhas maduras, como cereja, framboesa e até morangos, com notas evidentes da madeira, graças aos 9 meses em barricas de carvalho, porém bem integrados, com leve tabaco e especiarias doces.

Na boca traz a fruta vermelha protagonizando também, como no aspecto olfativo, tem personalidade marcante, por ter um bom volume de boca, mas também elegante graças aos já sete anos de safra, um pouco alcoólico, mas sem agredir, sem desequilíbrio, com taninos presentes, mas domados, a presença discreta da madeira e um final agradável e de média persistência.

E já que eu falei de história e de afetividades, o Rio Sol Gran Reserva já faz parte dela, da minha história e da minha humilde vida de enófilo. Um vinho marcante, de personalidade, intenso, complexo, mas que, ao mesmo tempo revela todo o frescor, as notas frutadas que faz com que este rótulo exploda em versatilidade. Que venham mais vinhos da Velho Chico, que venham mais vinhos da Rio Sol e que eles continuem a inundar a minha taça de história viva e plena de grandes experiências sensoriais. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Santa Maria:

Localizada no Vale do São Francisco com 120 hectares de área plantada, a Rio Sol produz 1,5 milhão de quilos de uva anualmente. Entre as espécies plantadas estão uvas tintas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Aragonês, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Tempranillo e Merlot, além das brancas Chenin Blanc, Viognier e Moscatel. Este é o único lugar do mundo que produz, hoje, duas safras de uvas por ano, resultado das características naturais da região e do conhecimento de seus produtores.

É no mesmo local onde se situa a indústria da Rio Sol, onde toda a linha de produtos da empresa é produzida e engarrafada, seguindo os mais modernos conceitos de qualidade. A empresa conta com modernos tanques com controle de temperatura e pressão, sala de barricas para estágio dos vinhos em barris de carvalho francês e uma linha de engarrafamento e rotulagem que utiliza tecnologia importada, semelhante a utilizada nas outras vinícolas do grupo na Europa.

Anualmente são produzidas, aproximadamente, 2 milhões de garrafas, entre vinhos e espumantes, distribuídos para todo o Brasil. Toda essa produção é acompanhada de perto pela equipe de qualidade da Rio Sol, que atua tendo como foco a melhoria contínua da qualidade e a adequação dos produtos às tendências de mercado, sempre visando a sustentabilidade e a segurança do processo. A Rio Sol possui certificação internacional ISO 9001, que atesta os rigorosos controles de qualidade da produção de uvas e elaboração de vinhos.

Sobre a Global Wines:

O Grupo Global Wines nasceu em 1990 no Dão, com o nome Dão Sul. A sua missão era ser a maior empresa da mais antiga região de vinhos tranquilos de Portugal, o Dão. Quando o objetivo foi atingido, partiram para outros sonhos, outras aventuras, outras regiões e outros países. Ainda são a empresa de vinhos líder do Dão. Mas também são uma empresa de vinhos da Bairrada, do Alentejo, de Portugal e até o Brasil.

Tem atualmente 5 Espaços de Enoturismo, 3 dos quais com restaurante, onde procuram conjugar o vinho e a gastronomia, despertando como as melhores sensações, na experiência perfeita. Recebem, diariamente, pessoas de todas as partes do mundo, a quem procuram dar a melhor experiência de vinho e gastronomia. Atualmente estão presentes nos 5 continentes e as suas marcas chegam a mais de 40 países.

Mais informações acessem:

https://www.vinhosriosol.com.br/principal/

https://www.globalwines.pt/#globalwines

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/alicante-bouchet




 

 

 

 




 




quinta-feira, 21 de abril de 2022

Freixenet Cordon Negro Gran Selección brut

 

Tudo bem, tudo certo que o champagne é a bebida mais famosa do planeta e claro entre os borbulhantes também. É aquele sonho de consumo de muitos pobres mortais assalariados como eu. São os únicos que podem carregar esse nome entre os famosos vinhos de perlages, onde carrega o mesmo nome da região, na França, que é concebido.

Hoje costumamos, com toda a razão e mérito, que, caso queira degustar um vinho espumante, mais próximo da realidade financeira de muitos (nem tanto, nem tanto...), com o maior leque de opções possíveis, temos de recorrer aos nossos espumantes, os espumantes brasileiros que vem atingindo reconhecimento de qualidade, conquistando prêmios em nossas terras e em todo o mundo nos principais polos de produção vitivinícola, principalmente a terra do champagne: a França.

Temos também os grandes proseccos italianos: sinônimo de frescor, de leveza, de sabor pronunciado de frutas brancas, citricidade etc e que se deu muito bem, inclusive, no Brasil. Claro que é uma grande opção para degustar aqui no Brasil, levando em consideração que o nosso país, tropical, tem dias quentes e de sol a maior parte do ano.

Mas não podemos negligenciar uma linha de espumantes também famosos na Espanha, mais precisamente nas terras da Catalunha, que são os cavas, os cavas espanhóis. Eu confesso que pouco degustei cavas em minha história enófila, para dizer que não degustei e gostei o meu primeiro e único rótulo foi o Real de Aragón, composto pelas castas Chardonnay e Macabeo.

Lembro-me que, ávido pela curiosidade como sempre, busquei o nome “Cava” na grande rede e decidi investigar, procurar sobre e quando tive acesso a tais informações fui para o segundo plano: localizar um rótulo interessante e que fosse atrativo monetariamente falando. Encontrei o Real de Aragón na faixa dos incríveis R$ 45,00! Hoje, o custo Brasil, os encargos tributados impedem de degustar um Cava a este valor.

Mas tenho a sorte de ter alguns bons e queridos amigos e eu fui presenteado por um Cava, um Cava que sobrara de uma festa de quinze anos da filha dessa querida amiga e ela, sabendo das minhas predileções pelo vinho, me presenteou com um rótulo, que hoje é famoso, bem famoso.

O vinho que degustei e gostei veio da região de Penedès na Espanha e se chama Freixenet Cordón Negro, sem safra, composto pelas castas tradicionais Macabeo, Parellada, Xarel·lo. E como temos muito a contar, antes de falar do vinho falemos das castas típicas da Espanha, da região a qual o vinho foi concebido e sobre os Cavas espanhóis.

DO Cava

Originário da Catalunha, ao leste da Península Ibérica, esse vinho espumante remonta ao século XIX, quando, em 1872, foram feitas as primeiras garrafas em uma pequena cidade da província de Barcelona. Inicialmente chamada de champán ou xampany, a intenção era imitar os vinhos feitos em Champagne, na França.

Mas, com o passar dos anos, os espanhóis perceberam que seu produto tinha qualidade elevada, porém, características diferentes da bebida francesa, e encontraram na palavra cava — que significa adega ou cave — a sua melhor definição.

No entanto, a Denominação de Origem só foi instituída em 1972, quando passou a ser necessário seguir algumas normas para imprimir essa denominação nos rótulos. De acordo com a atual legislação, as zonas geográficas autorizadas englobam 106 cidades (das quais se destaca Penedés) espalhadas em sete comunidades autônomas: Catalunha, Navarra, Aragão, Rioja, Extremadura, Valência e Álava. Apesar de toda essa abrangência, a maioria massiva da produção é catalã, especialmente da região de Penedés.

DO Cava

O Cava é um produto com origens locais, baseado em variedades autóctones espanholas, que desenvolveu um estilo próprio e ganhou grande prestígio pelo seu estilo e competitividade. As variedades principais são Macabeo (Viura), Xarel·lo y Parellada. A Macabeo aporta doçura e perfume, a Parellada aporta finesse, frescor e aromas e Xarel-Lo aporta corpo e estrutura.

No início do século 20 foram experimentadas a Chardonnay e a Pinot Noir, aproximando o Cava do estilo do Champagne (existem Cavas produzidos apenas com essas duas uvas francesas). Mais recentemente foi autorizado o uso da Pinot Noir nos Cavas rosados, antes era permitida só em Cavas brancos.

As principais variedades de uvas tintas são: Garnacha Tinta, Monastrell, Pinot Noir e Trepat (somente autorizadas para Cavas Rosados) e as principais variedades de uvas brancas são: Macabeo (Viura), Xarelo.lo, Parellada, Subirat (Malvasia Riojana) e Chardonnay.

Métodos de produção do Cava

Assim como em Champagne, para a produção dos Cavas, é utilizado o método champenoise, também conhecido como tradicional. Nele, o vinho base é engarrafado com o acréscimo de leveduras e açúcar, para que a segunda fermentação (aquela que origina o gás carbônico da bebida) ocorra dentro da própria garrafa.

Uma vez realizada a fermentação, é feito o processo de remuage, que consiste em colocar as garrafas em um cavalete com o gargalo para baixo, onde durante alguns dias são giradas em 1/4 de volta, fazendo com que o sedimento decante na tampa. Feito isso, congela-se o gargalo com nitrogênio líquido e remove-se a parte sólida. Apenas depois dessas etapas é que a bebida recebe o licor de expedição e a rolha.

Além do método de elaboração ser obrigatoriamente o tradicional, para receber essa denominação, o espumante deve permanecer em contato com as leveduras por, pelo menos, nove meses após a fermentação.

Características do Cava

De cor amarelo limão, os Cavas podem ir de elegantes e delicados a muito encorpados. Parte disso é o método utilizado em sua produção, do qual já falamos acima. Por conta da forte incidência solar nas regiões produtoras, seu sabor e perfume são muito mais frutados. Já o inverno ameno traz docilidade às uvas, característica transferida aos rótulos.

Esse estilo traz ao nariz aromas cítricos com um toque de pera e, à boca, muito frescor. São ideais para consumir ainda jovens. Apesar da tenra idade desse espumante, ele pode apresentar três classificações:

ü  Jovem: a segunda fermentação dura entre 9 e 14 meses e tem selo branco;

ü  Reserva: com selo verde, a segunda fermentação leva de 15 a 29 meses;

ü  Gran Reserva: sua segunda fermentação é de pelo menos 30 meses e recebe um selo preto.

Diferenciado pela quantidade de açúcar acrescentado após o processo de maturação.

ü  Brut Nature: Sem adição de açúcar, até 3 gramas por litro

ü  Extra Brut: Até 6 gramas por litro

ü  Brut: Entre 7 e 12 gramas por litro

ü  Extra Seco: Entre 12 e 17 gramas por litro

ü Seco: Entre 17 e 32 gramas por litro

ü Semi Seco: Entre 32 y 50 gramas por litro

ü Dulce: Mais de 50 gramas por litro

O Instituto del Cava oficializou em março 2017 um novo nível de qualidade superior, caracterizado pela origem de vinhedo único, divulgando os primeiros classificados para sua utilização comercial.

A definição oficial é Cava obtido a partir de um vinho produzido com uvas de um lugar específico (paragem), cujas próprias condições edáficas e microclimáticas, juntamente com critérios de qualidade na sua produção e processamento, levaram a um cava com características únicas.

As castas

Macabeo

É a uva vinífera branca mais popular do norte da Espanha, também conhecida como Viúra. Os nomes Macabeu e Maccabéo são mais comuns em Languedoc-Roussillon, no sul da França. Macabeo aparece em grande parte de sua terra natal, na Espanha. Viúra é comum em Rioja, onde é, de longe, a uva de vinho branco mais plantada.

Uma informação relevante: essa é uma das principais variedades utilizadas na produção dos espumantes Cava. Na maioria das vezes engarrafado jovem, o vinho produzido com essa uva é seco, e tem uma boa capacidade de envelhecimento, como comprovam os melhores exemplares da cepa.

E essa é uma uva, naturalmente, de alto rendimento. Sem o devido cuidado, os frutos ficam muito grandes, com baixa proporção entre casca e polpa, e os cachos, de tão apertados, podem facilmente apodrecer. Mas, com a planejada redução por parte do viticultor, essa uva concentra aromas e sabores de maneira muito interessante.

Xarel-lo

A uva de pele clara Xarel-lo é uma variedade típica e amplamente cultivada na região da Catalunha, nordeste da Espanha. A Xarel-lo é utilizada na produção de diversos estilos de vinho, no entanto, é conhecida principalmente por participar da composição dos famosos espumantes Cava, ao lado das uvas Macabeo e Parellada.

Adicionando excelente acidez aos vinhos que dá origem, a Xarel-lo é altamente valorizada pelos produtores, se destacando como uma das melhores uvas espanholas. Com pele grossa, essa variedade é rica em polifenóis e possui ótimo equilíbrio entre seus ácidos e açúcares, tornando-se a grande responsável pela alta capacidade de envelhecimento dos tradicionais vinhos espumantes Cava.

As vinhas da Xarel-lo se adaptam facilmente a solos com diferentes tipos de composição e são capazes de tolerar uma ampla gama de climas, produzindo frutos de tamanho médio e apresentando um tempo de amadurecimento razoável, o que as tornam extremamente populares entre diversos produtores. Embora a uva Xarel-lo seja famosa pela elaboração de bons vinhos espumantes, essa variedade também é utilizada na produção de vinhos de mesa seco, principalmente, nas redondezas da cidade de Alella, que fica a alguns quilômetros da cidade de Barcelona.

Parellada

A uva Parellada, nativa da Catalunha, é cultivada exclusivamente em sua região de origem e participa da composição do prestigiado vinho espumante Cava. Conhecida também como Montonec ou Montonega, essa variedade de uva é cultivada nas montanhas do Alto Penedès, a 600 metros acima do nível do mar.

A Parellada atinge o ápice qualitativo quando cultivada em grandes altitudes, onde as baixas temperaturas favorecem sua acidez natural e necessita de um período maior de tempo para desenvolver todos os seus compostos aromáticos. Essa variedade é utilizada, principalmente, na fabricação de alguns dos melhores espumantes espanhóis, o Cava, ao lado das uvas Xarel-lo e Macabeo.

A Parellada, considerada a uva mais elegante e refinada entre as três variedades, é responsável por adicionar acidez e frescor aos exemplares. Os vinhos elaborados a partir da uva Parellada apresentam aromas florais e cítricos, além de serem exemplares extremamente delicados, ricos em acidez, aromáticos, com coloração brilhante e contam com a presença de um baixo teor alcoólico.

DO Penedès

A menos de meia hora de Barcelona está o DO Penedès que pode orgulhar-se de 2.700 anos de história. As últimas descobertas arqueológicas na Font de la Canya encontraram vestígios de grainhas de uva, o que mostra que os habitantes desta zona já faziam vinho nesta época, assim como uma vasilha grega, um sinal inequívoco, para o beber.

Este local, a Font de la Canya, era um armazém de cereais, vinho e metais. A sua proximidade com aquela estrada romana conhecida por Via Augusta e que coincide com as atuais linhas ferroviárias e autoestradas, faz imaginar que seja um poderoso povoado de produtores e comerciantes.

DO Penedès

Recuando no tempo, a uma época muito passada, em que esta depressão que hoje é conhecida como Penedès foi ocupada pelo mar, e que mais tarde recuou até como a conhecemos hoje, deixou a sua marca na terra depois de milhões de anos podemos encontrar notas iodadas e salinas nos vinhos que são feitos com as uvas aqui cultivadas. Como prova dessa afirmação, restos marinhos foram encontrados, como fósseis de ostras, bivalves, dente de tubarão, etc. que nos falam sobre seu passado como um mar.

Recuando a uma época mais recente, já na nossa era cristã, foram encontrados documentos escritos do século X que falam da viticultura nesta zona do Penedès. E já no nosso momento atual, e como consequência do crescimento de 3 grandes vinícolas neste DO Penedès, tem motivado a criação de dois DOs independentes: o DO Cava e o DO Catalunya.

À semelhança do modelo francês, já pensam em distinguir as diferentes subáreas que compõem este território. Esta DO está também a trabalhar na divulgação de todas as idiossincrasias desta zona, promovendo o enoturismo com visitas guiadas a adegas e espaços culturais da zona. Também o esforço de recuperação da uva autóctone como forma urgente de se adaptar às consequências desastrosas e irrefreáveis ​​das alterações climáticas.

DO Penedès

O clima é mediterrâneo. Os verões são quentes, os invernos são suaves, e as chuvas moderadas estão concentradas, principalmente na primavera e no outono. Mas a variação climática é bastante grande, dentro da região.

A denominação é composta por 3 zonas distintas: Penedès Superior (próxima às cordilheiras do interior), Penedès Marítimo ou Baixo (entre o mar e as colinas costeiras) e Penedès Central (na planície entre essas duas zonas). Aproximadamente 75% dos vinhedos da denominação estão ocupados com vinhas de cepas brancas, sendo que as mais cultivadas são: Xarel-lo, Macabeu, Parellada, Chardonnay e Moscatel d’Alexandria.

Entre as tintas, as mais cultivadas dentro das regras do conselho regulador são Merlot, Cabernet Sauvignon e Tempranillo. É possível observar, nessa região, uma tendência dos produtores para as cepas internacionais, em detrimento às nativas. O estilo dos vinhos de Penedès varia de secos a doces, tranquilos a espumantes, podendo ser brancos, tintos ou rosés. Os melhores tintos encorpados vêm do Alto Penedès, ou Penedès Superior. Os brancos frescos de maior destaque, em contrapartida, são produzidos no Baixo Penedès.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um lindo amarelo palha, brilhante e com reflexos esverdeados com perlages finos, abundantes e persistentes.

No nariz traz aromas delicados de frutas brancas, tropicais e cítricas que destacam pera, abacaxi, maracujá, lima, limão siciliano, sente-se também um fundo de ervas. Corrobora com a sua elegância e frescor um toque agradável de flores brancas

Na boca é fresco, leve, saboroso, tem um excelente volume de boca, bem amplo, graças a uma discreta, mas evidente cremosidade, untuosidade, certamente por ter sido concebido pelo método tradicional e também permanecido de 18 a 24 meses em garrafa, com uma acidez instigante, correta e equilibrada, com um final longo e persistente com um retrogosto frutado.

Lançado originalmente em 1974, Freixenet Cordón Negro é leve, apreciado por seu grande frescor e conhecido mundialmente por sua emblemática garrafa preta e dourada. O meu retorno às degustações do Cava foi em grande estilo. Um espumante extremamente versátil e que entrega personalidade, estrutura, untuosidade, cremosidade, mas que aponta frescor, leveza, delicada, as notas frutadas e muito, muito sabor, um vinho cheio na boca. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Henkell Freixenet:

Em 1861, em Sant Sadurní d´Anoia (Penedès) a família Sala começava um empreendimento de produção e exportação de vinhos de qualidade. No começo do século XX, acontece o casamento entre Dolores Sala com Pedro Ferrer, que revolucionaria o negócio ao unir os conhecimentos de enologia de Dolores com a capacidade comercial e inovadora de Pedro. Do casamento, nasce a marca Freixenet, uma das maiores produtoras de Cava, cuja primeira garrafa elaborada com o nome da marca, surge em 1911.

Desde a produção da sua primeira garrafa, até o dia de hoje, a marca continuou viva e seguiu crescendo, devido a inovação e qualidade, como principais valores da empresa. Atualmente além das uvas produzidas nos próprios vinhedos, a Freixenet também é abastecida com a produção de mais de 2.000 viticultores da região. A casa “La Freixeneda”, onde a marca foi fundada, continua ativa, como casa-museu e com uma produção de Cavas emblemáticos.

Em 2018 a Freixenet e a Alemã Henkell se fundem nascendo o Grupo Henkell Freixenet, mantendo o espírito familiar das marcas e conseguindo a força necessária para ser a maior produtora de espumantes do mundo. A cooperação entre Espanha e Alemanha cria o líder mundial no setor de espumantes, permitindo que Henkell e Freixenet, ampliem seu portfólio e desenvolvam novos mercados e canais de distribuição.













domingo, 17 de abril de 2022

Alto Los Romeros Riesling 2019

 

Depois que eu degustei o meu primeiro rótulo da casta Riesling eu não a deixei de lado e, desde então, tenho tido algumas boas e satisfatórias experiências com essa peculiar cepa branca muito aromática e frutada.

E claro que esta variedade ganhou fama e credibilidade nas terras frias alemãs onde encontrou o terroir perfeito para a produção das mais variadas propostas, entregando vinhos secos, doces, leves, frescos, encorpados, longevos e curtos. Enfim, a diversidade da Riesling tem lugar: Alemanha.

Mas atualmente, além da Alemanha e a França, mais precisamente na região da Alsácia, outros lugares vem acolhendo a Riesling e trazendo uma gama de propostas de rótulos, dos mais simples e frescos, aos encorpados e complexos.

E se destacam a Austrália, o Brasil também vem se destacando na produção da Riesling, e também o Chile, sobretudo o Chile vem despontando na produção desta variedade em várias emblemáticas regiões.

Estive às voltas com um em especial que verdadeiramente me surpreendeu, do Vale Central, do Club dos Sommeliers, um Reserva Riesling extremamente saboroso, frutado, fresco, mas com uma personalidade graças ao seu curto período de 3 meses em barricas de carvalho, dando-lhe certa untuosidade.

Então me dei o direito de buscar mais rótulos dessa casta concebidos no Chile e, por uma sorte, em mais uma de minhas incursões aos supermercados, avistei um vinho de uma linha de rótulos da grande Luis Felipe Edwards que, percepções à parte de um fã, é um dos principais produtores do Chile, chamada “Alto Los Romeros” e muito me interessei. Lembrando que o que facilitou a minha escolha foi a degustação do Alto Los Romeros da queridinha Pinot Grigio da safra 2018 que também surpreendeu!

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região do Vale do Colchágua, no Chile, e se chama Alto Los Romeros da casta Riesling da safra 2019.

Embora os quesitos o torne potencialmente bom, pelo fato do produtor e também da linha de rótulos eu fiquei um tanto quanto receoso pela proposta e o valor incrível gasto à época (R$ 23,90), levando em consideração os altos valores dos Riesling alemães, mas logo o preconceito se dissipou quando observei que se tratam de propostas diferentes e confesso que, quando degustei o Alto Los Romeros Riesling, ele, dentro do que ele pode oferecer, ele o fez muito bem. Fresco, leve e frutado!

Então, como sempre, antes de falar sobre o vinho, falemos um pouco da casta e também do Vale do Colchágua. 

Vale do Colchágua

O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.

Vale do Colchágua

A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas, que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos internacionalmente, com alto conceito de qualidade.

Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos.

Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena.

O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.

Riesling

A casta Riesling é uma das grandes uvas brancas da Alemanha e uma das melhores variedades do mundo todo, capaz de conferir ao vinho incrível elegância e complexidade e uma habilidade inigualável de expressar o terroir.

Seus cachos apresentam coloração verde amarelada com tamanho médio e delicado. Os vinhos elaborados com a casta costumam ter acidez bastante destacada e são extremamente aromáticos. Os melhores brancos da casta costumam ser os varietais. A uva Riesling possui duas variações, sendo a Renana a de maior qualidade e a Itálica a que possui menor grau de expressividade.

Com textura bastante envolvente, os vinhos elaborados a partir da casta Riesling podem ser secos, meio doces ou bem doces. O que é de conhecimento sobre o cultivo da uva, é que para originar os maravilhosos e extraordinários vinhos de sobremesa, ocorrem dois processos bastante distintos.

O primeiro processo é o ato de congelar a uva antes da colheita, sendo conhecido como “eiswen” – ou vinhos de gelo. Nele a casta Riesling permanece vários dias congeladas (enquanto madura), ainda no vinhedo, por conta das baixas temperaturas em que fica exposta. Logo após serem colhidas, as uvas passam pelo processo de prensagem, tornando o vinho muito mais concentrado, já que haverá menor quantidade de água. Nesse caso os melhores exemplares são encontrados no Canadá, graças ao seu clima frio e com bastante presença de geadas.

O outro processo é quando ocorre a podridão nobre, momento em que o fungo “Botrytis Cinerea” fura a casca da uva e alimenta-se da água da casta, deixando-a desidratada e exaltando os açúcares presentes na sua composição. As uvas são colhidas e levadas para vinificação, tornando o vinho muito mais especial.

Alguns produtores estampam “dry” (seco) ou “sweet” (doce), mas isso não é suficiente perto dos tantos níveis de doçura da Riesling. Ela pode ser “medium dry” (vinho meio seco), “medium sweet” (meio doce) e por aí vai.

A forma de identificar essas propostas de vinhos Riesling é verificar a graduação alcoólica – quanto menor for mais doce será. Isso acontece porque durante a fermentação, o açúcar natural da uva vira álcool (se a conversão não acontece, permanece doce e menos alcoólico). Qualquer Riesling com mais de 11% é seco, pois quase todo seu açúcar foi transformado em álcool.

Por possuir presença de açúcar residual e tempos de guarda diferentes, os vinhos elaborados com a casta Riesling possuem maior atenção na hora da harmonização, sendo na maioria das vezes melhores quando degustados e apreciados sem a companhia de pratos.

Seus vinhos podem ser sublimes e costumam durar muito tempo. Além da Alemanha, também produz vinhos excelentes na Áustria, Alsácia e também em alguns países do Novo Mundo, como Nova Zelândia, África do Sul e Austrália.

E agora o vinho!

Na taça entrega um amarelo palha, translúcido, brilhante, com reflexos esverdeados, com rápidas e discretas lágrimas finas.

No nariz não há uma complexidade aromática, dada a proposta do vinho, mas percebe-se as notas frutadas, frutas de polpa branca e cítricas, como pera, maçã-verde, abacaxi, maracujá, pêssego, limão e um delicado toque floral e mineral.

Na boca é leve, fresco e dotado de uma delicadeza que o torna elegante, com certo volume de boca, garantido, sobretudo pela sua boa acidez, além da fruta  mais predominante em boca do que no aspecto olfativo. Tem um final de média persistência.

É incrível o quanto a Luis Felipe Edwards se supera quanto à qualidade de seus vinhos, dos mais básicos aos mais complexos, todos, diante de sua proposta, entregam com maestria qualidade, tipicidade, pois expressam com beleza o seu terroir. Alto Los Romeros é um vinho que não traz as expressividades, a estrutura e a longevidade dos Rieslings alemães, mas é um vinho fresco, leve, frutado e que expressa a jovialidade de um branco ótimo para os dias quentes e outonais. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Aqui vale uma curiosidade sobre o nome do rótulo: “Alto Los Romeros”

Alto Los Romeros era o nome dado há muitos anos aos pitorescos prados de alecrim selvagem que crescem nos picos das colinas da propriedade vinícola em Puquillay Alto, localizado no coração do Vale Colchagua, no Chile. A uma altura de 700 metros, oferecem vistas panorâmicas deslumbrantes da Cordilheira dos Andes. Foi aqui que as vinhas originais foram plantadas e nasceu a inspiração para esta linha de vinhos.

Sobre a Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE.

De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação.

O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país.

Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Referências:

“Clube dos Vinhos” em: https://www.clubedosvinhos.com.br/um-passeio-pelo-vale-do-colchagua/

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/como-escolher-um-riesling/amp/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/riesling