domingo, 17 de abril de 2022

Alto Los Romeros Riesling 2019

 

Depois que eu degustei o meu primeiro rótulo da casta Riesling eu não a deixei de lado e, desde então, tenho tido algumas boas e satisfatórias experiências com essa peculiar cepa branca muito aromática e frutada.

E claro que esta variedade ganhou fama e credibilidade nas terras frias alemãs onde encontrou o terroir perfeito para a produção das mais variadas propostas, entregando vinhos secos, doces, leves, frescos, encorpados, longevos e curtos. Enfim, a diversidade da Riesling tem lugar: Alemanha.

Mas atualmente, além da Alemanha e a França, mais precisamente na região da Alsácia, outros lugares vem acolhendo a Riesling e trazendo uma gama de propostas de rótulos, dos mais simples e frescos, aos encorpados e complexos.

E se destacam a Austrália, o Brasil também vem se destacando na produção da Riesling, e também o Chile, sobretudo o Chile vem despontando na produção desta variedade em várias emblemáticas regiões.

Estive às voltas com um em especial que verdadeiramente me surpreendeu, do Vale Central, do Club dos Sommeliers, um Reserva Riesling extremamente saboroso, frutado, fresco, mas com uma personalidade graças ao seu curto período de 3 meses em barricas de carvalho, dando-lhe certa untuosidade.

Então me dei o direito de buscar mais rótulos dessa casta concebidos no Chile e, por uma sorte, em mais uma de minhas incursões aos supermercados, avistei um vinho de uma linha de rótulos da grande Luis Felipe Edwards que, percepções à parte de um fã, é um dos principais produtores do Chile, chamada “Alto Los Romeros” e muito me interessei. Lembrando que o que facilitou a minha escolha foi a degustação do Alto Los Romeros da queridinha Pinot Grigio da safra 2018 que também surpreendeu!

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região do Vale do Colchágua, no Chile, e se chama Alto Los Romeros da casta Riesling da safra 2019.

Embora os quesitos o torne potencialmente bom, pelo fato do produtor e também da linha de rótulos eu fiquei um tanto quanto receoso pela proposta e o valor incrível gasto à época (R$ 23,90), levando em consideração os altos valores dos Riesling alemães, mas logo o preconceito se dissipou quando observei que se tratam de propostas diferentes e confesso que, quando degustei o Alto Los Romeros Riesling, ele, dentro do que ele pode oferecer, ele o fez muito bem. Fresco, leve e frutado!

Então, como sempre, antes de falar sobre o vinho, falemos um pouco da casta e também do Vale do Colchágua. 

Vale do Colchágua

O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.

Vale do Colchágua

A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas, que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos internacionalmente, com alto conceito de qualidade.

Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos.

Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena.

O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.

Riesling

A casta Riesling é uma das grandes uvas brancas da Alemanha e uma das melhores variedades do mundo todo, capaz de conferir ao vinho incrível elegância e complexidade e uma habilidade inigualável de expressar o terroir.

Seus cachos apresentam coloração verde amarelada com tamanho médio e delicado. Os vinhos elaborados com a casta costumam ter acidez bastante destacada e são extremamente aromáticos. Os melhores brancos da casta costumam ser os varietais. A uva Riesling possui duas variações, sendo a Renana a de maior qualidade e a Itálica a que possui menor grau de expressividade.

Com textura bastante envolvente, os vinhos elaborados a partir da casta Riesling podem ser secos, meio doces ou bem doces. O que é de conhecimento sobre o cultivo da uva, é que para originar os maravilhosos e extraordinários vinhos de sobremesa, ocorrem dois processos bastante distintos.

O primeiro processo é o ato de congelar a uva antes da colheita, sendo conhecido como “eiswen” – ou vinhos de gelo. Nele a casta Riesling permanece vários dias congeladas (enquanto madura), ainda no vinhedo, por conta das baixas temperaturas em que fica exposta. Logo após serem colhidas, as uvas passam pelo processo de prensagem, tornando o vinho muito mais concentrado, já que haverá menor quantidade de água. Nesse caso os melhores exemplares são encontrados no Canadá, graças ao seu clima frio e com bastante presença de geadas.

O outro processo é quando ocorre a podridão nobre, momento em que o fungo “Botrytis Cinerea” fura a casca da uva e alimenta-se da água da casta, deixando-a desidratada e exaltando os açúcares presentes na sua composição. As uvas são colhidas e levadas para vinificação, tornando o vinho muito mais especial.

Alguns produtores estampam “dry” (seco) ou “sweet” (doce), mas isso não é suficiente perto dos tantos níveis de doçura da Riesling. Ela pode ser “medium dry” (vinho meio seco), “medium sweet” (meio doce) e por aí vai.

A forma de identificar essas propostas de vinhos Riesling é verificar a graduação alcoólica – quanto menor for mais doce será. Isso acontece porque durante a fermentação, o açúcar natural da uva vira álcool (se a conversão não acontece, permanece doce e menos alcoólico). Qualquer Riesling com mais de 11% é seco, pois quase todo seu açúcar foi transformado em álcool.

Por possuir presença de açúcar residual e tempos de guarda diferentes, os vinhos elaborados com a casta Riesling possuem maior atenção na hora da harmonização, sendo na maioria das vezes melhores quando degustados e apreciados sem a companhia de pratos.

Seus vinhos podem ser sublimes e costumam durar muito tempo. Além da Alemanha, também produz vinhos excelentes na Áustria, Alsácia e também em alguns países do Novo Mundo, como Nova Zelândia, África do Sul e Austrália.

E agora o vinho!

Na taça entrega um amarelo palha, translúcido, brilhante, com reflexos esverdeados, com rápidas e discretas lágrimas finas.

No nariz não há uma complexidade aromática, dada a proposta do vinho, mas percebe-se as notas frutadas, frutas de polpa branca e cítricas, como pera, maçã-verde, abacaxi, maracujá, pêssego, limão e um delicado toque floral e mineral.

Na boca é leve, fresco e dotado de uma delicadeza que o torna elegante, com certo volume de boca, garantido, sobretudo pela sua boa acidez, além da fruta  mais predominante em boca do que no aspecto olfativo. Tem um final de média persistência.

É incrível o quanto a Luis Felipe Edwards se supera quanto à qualidade de seus vinhos, dos mais básicos aos mais complexos, todos, diante de sua proposta, entregam com maestria qualidade, tipicidade, pois expressam com beleza o seu terroir. Alto Los Romeros é um vinho que não traz as expressividades, a estrutura e a longevidade dos Rieslings alemães, mas é um vinho fresco, leve, frutado e que expressa a jovialidade de um branco ótimo para os dias quentes e outonais. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Aqui vale uma curiosidade sobre o nome do rótulo: “Alto Los Romeros”

Alto Los Romeros era o nome dado há muitos anos aos pitorescos prados de alecrim selvagem que crescem nos picos das colinas da propriedade vinícola em Puquillay Alto, localizado no coração do Vale Colchagua, no Chile. A uma altura de 700 metros, oferecem vistas panorâmicas deslumbrantes da Cordilheira dos Andes. Foi aqui que as vinhas originais foram plantadas e nasceu a inspiração para esta linha de vinhos.

Sobre a Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE.

De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação.

O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país.

Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Referências:

“Clube dos Vinhos” em: https://www.clubedosvinhos.com.br/um-passeio-pelo-vale-do-colchagua/

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/como-escolher-um-riesling/amp/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/riesling

 

 

 

 



Nenhum comentário:

Postar um comentário