Depois que eu degustei o meu primeiro rótulo da casta
Riesling eu não a deixei de lado e, desde então, tenho tido algumas boas e
satisfatórias experiências com essa peculiar cepa branca muito aromática e
frutada.
E claro que esta variedade ganhou fama e credibilidade nas
terras frias alemãs onde encontrou o terroir perfeito para a produção das mais
variadas propostas, entregando vinhos secos, doces, leves, frescos, encorpados,
longevos e curtos. Enfim, a diversidade da Riesling tem lugar: Alemanha.
Mas atualmente, além da Alemanha e a França, mais
precisamente na região da Alsácia, outros lugares vem acolhendo a Riesling e
trazendo uma gama de propostas de rótulos, dos mais simples e frescos, aos
encorpados e complexos.
E se destacam a Austrália, o Brasil também vem se destacando
na produção da Riesling, e também o Chile, sobretudo o Chile vem despontando na
produção desta variedade em várias emblemáticas regiões.
Estive às voltas com um em especial que verdadeiramente me
surpreendeu, do Vale Central, do Club dos Sommeliers, um Reserva Riesling
extremamente saboroso, frutado, fresco, mas com uma personalidade graças ao seu
curto período de 3 meses em barricas de carvalho, dando-lhe certa untuosidade.
Então me dei o direito de buscar mais rótulos dessa casta
concebidos no Chile e, por uma sorte, em mais uma de minhas incursões aos
supermercados, avistei um vinho de uma linha de rótulos da grande Luis Felipe
Edwards que, percepções à parte de um fã, é um dos principais produtores do
Chile, chamada “Alto Los Romeros” e muito me interessei. Lembrando que o que
facilitou a minha escolha foi a degustação do Alto Los Romeros da queridinha
Pinot Grigio da safra 2018 que também surpreendeu!
Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei veio da região do Vale do Colchágua, no Chile, e se chama
Alto Los Romeros da casta Riesling da safra 2019.
Embora os quesitos o torne potencialmente bom, pelo fato do
produtor e também da linha de rótulos eu fiquei um tanto quanto receoso pela
proposta e o valor incrível gasto à época (R$ 23,90), levando em consideração
os altos valores dos Riesling alemães, mas logo o preconceito se dissipou
quando observei que se tratam de propostas diferentes e confesso que, quando
degustei o Alto Los Romeros Riesling, ele, dentro do que ele pode oferecer, ele
o fez muito bem. Fresco, leve e frutado!
Então, como sempre, antes de falar sobre o vinho, falemos um pouco da casta e também do Vale do Colchágua.
Vale do Colchágua
O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km
de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o
Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades
são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor
histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa
na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.
A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e
constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas,
que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no
processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos
internacionalmente, com alto conceito de qualidade.
Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito
sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que
desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo
de uvas tintas e produção de vinhos intensos.
Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com
temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no
inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a
outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários
tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas
presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot,
Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena.
O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena
ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as
principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon
Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por
especialistas e amantes do vinho.
Riesling
A casta Riesling é uma das grandes uvas brancas da Alemanha e
uma das melhores variedades do mundo todo, capaz de conferir ao vinho incrível
elegância e complexidade e uma habilidade inigualável de expressar o terroir.
Seus cachos apresentam coloração verde amarelada com tamanho
médio e delicado. Os vinhos elaborados com a casta costumam ter acidez bastante
destacada e são extremamente aromáticos. Os melhores brancos da casta costumam
ser os varietais. A uva Riesling possui duas variações, sendo a Renana a de
maior qualidade e a Itálica a que possui menor grau de expressividade.
Com textura bastante envolvente, os vinhos elaborados a
partir da casta Riesling podem ser secos, meio doces ou bem doces. O que é de
conhecimento sobre o cultivo da uva, é que para originar os maravilhosos e
extraordinários vinhos de sobremesa, ocorrem dois processos bastante distintos.
O primeiro processo é o ato de congelar a uva antes da
colheita, sendo conhecido como “eiswen” – ou vinhos de gelo. Nele a casta
Riesling permanece vários dias congeladas (enquanto madura), ainda no vinhedo,
por conta das baixas temperaturas em que fica exposta. Logo após serem
colhidas, as uvas passam pelo processo de prensagem, tornando o vinho muito
mais concentrado, já que haverá menor quantidade de água. Nesse caso os
melhores exemplares são encontrados no Canadá, graças ao seu clima frio e com
bastante presença de geadas.
O outro processo é quando ocorre a podridão nobre, momento em
que o fungo “Botrytis Cinerea” fura a casca da uva e alimenta-se da água da
casta, deixando-a desidratada e exaltando os açúcares presentes na sua
composição. As uvas são colhidas e levadas para vinificação, tornando o vinho
muito mais especial.
Alguns produtores estampam “dry” (seco) ou “sweet” (doce),
mas isso não é suficiente perto dos tantos níveis de doçura da Riesling. Ela
pode ser “medium dry” (vinho meio seco), “medium sweet” (meio doce) e por aí
vai.
A forma de identificar essas propostas de vinhos Riesling é
verificar a graduação alcoólica – quanto menor for mais doce será. Isso
acontece porque durante a fermentação, o açúcar natural da uva vira álcool (se
a conversão não acontece, permanece doce e menos alcoólico). Qualquer Riesling com
mais de 11% é seco, pois quase todo seu açúcar foi transformado em álcool.
Por possuir presença de açúcar residual e tempos de guarda
diferentes, os vinhos elaborados com a casta Riesling possuem maior atenção na
hora da harmonização, sendo na maioria das vezes melhores quando degustados e
apreciados sem a companhia de pratos.
Seus vinhos podem ser sublimes e costumam durar muito tempo.
Além da Alemanha, também produz vinhos excelentes na Áustria, Alsácia e também
em alguns países do Novo Mundo, como Nova Zelândia, África do Sul e Austrália.
E agora o vinho!
Na taça entrega um amarelo palha, translúcido, brilhante, com
reflexos esverdeados, com rápidas e discretas lágrimas finas.
No nariz não há uma complexidade aromática, dada a proposta
do vinho, mas percebe-se as notas frutadas, frutas de polpa branca e cítricas,
como pera, maçã-verde, abacaxi, maracujá, pêssego, limão e um delicado toque
floral e mineral.
Na boca é leve, fresco e dotado de uma delicadeza que o torna
elegante, com certo volume de boca, garantido, sobretudo pela sua boa acidez,
além da fruta mais predominante em boca
do que no aspecto olfativo. Tem um final de média persistência.
É incrível o quanto a Luis Felipe Edwards se supera quanto à
qualidade de seus vinhos, dos mais básicos aos mais complexos, todos, diante de
sua proposta, entregam com maestria qualidade, tipicidade, pois expressam com
beleza o seu terroir. Alto Los Romeros é um vinho que não traz as
expressividades, a estrutura e a longevidade dos Rieslings alemães, mas é um
vinho fresco, leve, frutado e que expressa a jovialidade de um branco ótimo
para os dias quentes e outonais. Tem 12,5% de teor alcoólico.
Aqui vale uma curiosidade sobre o nome do rótulo: “Alto Los
Romeros”
Alto Los Romeros era o nome dado há muitos anos aos
pitorescos prados de alecrim selvagem que crescem nos picos das colinas da
propriedade vinícola em Puquillay Alto, localizado no coração do Vale
Colchagua, no Chile. A uma altura de 700 metros, oferecem vistas panorâmicas
deslumbrantes da Cordilheira dos Andes. Foi aqui que as vinhas originais foram
plantadas e nasceu a inspiração para esta linha de vinhos.
Sobre a Luis Felipe Edwards:
A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo
empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na
Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua,
um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas
andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma
pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do
início da LFE.
De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor,
que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde,
começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no
Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a
fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas
para exportação.
O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards
veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado
sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o
fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como
atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização,
especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se
tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A
partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras
regiões do país.
Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.
Mais informações acesse:
Referências:
“Clube dos Vinhos” em: https://www.clubedosvinhos.com.br/um-passeio-pelo-vale-do-colchagua/
“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/como-escolher-um-riesling/amp/
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/riesling
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