sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Miolo Wild Gamay 2022

 

A Miolo, a vinícola brasileira Miolo, definitivamente está na minha história e não digo isso agora, mas há algum tempo e com muito orgulho e alegria. Falo com todo esse entusiasmo porque quando me fiz submeter à transição dos vinhos de mesa, os famosos vinhos coloniais para os vinhos finos, aqueles de uvas vitis viníferas, lá estava o Miolo e seus vinhos para me oferecer seus préstimos.

A Miolo hoje é uma indústria de vinhos e a sua representatividade mercadológica atesta isso e não é demérito para esse grande produtor ser uma indústria, principalmente quando se confirma também quando seus vinhos ainda fazem parte da vida de muitos e muitos enófilos espalhados pelo Brasil e pelo mundo!

E a Miolo ainda tem muito a oferecer, mesmo que ao longo de todo esse tempo em nosso mercado, e muita coisa nova, muitos novos rótulos arrojados que podem trazer grandes novidades, mensagens edificantes e a corroboração da saúde para aqueles que degustam bons vinhos, a qualidade de vida, os fatores sustentáveis!

Por que digo tudo isso? O vinho de hoje, não preciso dizer que é da Miolo, mas, direi mesmo assim, é da Miolo! E falo não apenas com um sentimento saudoso, de nostalgia, mas também com um agradável vislumbre do futuro, da capacidade desta vinícola de oferecer coisas novas, com aqueles rompimentos de paradigmas que só eles são capazes de oferecer.

Não direi que esse vinho só traz novidades para mim, de fato traz sim, muitas novidades, mas nem tanto, nem tanto, até porque já degustei, nos primórdios um vinho deles que hoje assumiu, como disse, alguns novos contornos seguindo, sobretudo, alguns anseios de uma camada socialmente, ambientalmente responsável.

Sem mais delongas, vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região brasileira da Campanha Gaúcha, mais precisamente da Campanha Meridional, que, a cada dia, cresce a olhos vistos em qualidade e tipicidade, mais precisamente da Campanha Meridional, dos vinhedos da Seival, e se chama Miolo Wild Gamay da safra 2022.

Quando falei que nem tudo é novidade é porque, em um passado razoavelmente distante, eu degustei, por duas vezes, a versão mais “antiga” do Miolo Gamay que é um dos melhores rótulos brasileiros produzidos por esta emblemática casta que se notabilizou em terras francesas.

Miolo Gamay 2015

E alguns detalhes, antes de entrar na história da Campanha Gaúcha e da Gamay, merecem serem exaltados, detalhes esses que eu mencionei como grandes novidades para mim: O Miolo Wild Gamay foi produzido por intermédio do método ancestral de maceração carbônica de cachos inteiros e a vinificar sem adição de sulfitos e sem adição de leveduras selecionadas, passando a usar leveduras selvagens da uva de Gamay do Seival.

E por ter sido, esse rótulo, em março, aproximadamente, de 2022, pode este vinho, ser considerado o primeiro vinho do mundo a ser lançado no ano de 2022! E de acordo com as palavras do enólogo Adriano Miolo, que produziu este vinho juntamente com Henry Marionnet, reconhecido como o “Papa do Gamay” no mundo, onde disse que “O Miolo Wild Gamay Safra 2022 vai ser a primeira oportunidade que o consumidor terá de degustar a qualidade desta safra. Estamos no meio da colheita deste ano, mas já podemos afirmar que é espetacular e deverá ser mais uma safra lendária para a Miolo, como foi em 2018 e 2020”.

O inverno muito rigoroso e o verão extremamente quente e seco, com temperatura que chegou a 44 graus em janeiro, determinaram a performance das uvas. O frio intenso proporcionou uma brotação uniforme da planta, porém tardia, que também refletiu na maturação tornando a colheita mais tardia do que o usual.

Bem diante dessas credenciais vamos para mais histórias, vamos de Campanha Gaúcha e da história da Gamay.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.

A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os “hermanos” do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

A mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

IP (Indicação de Procedência) da Campanha Gaúcha

Em 2020 a Campanha Gaúcha ganhou reconhecimento de Indicação de Procedência (IP) para seus vinhos. Aprovada pelo Inpi na modalidade de I.P., a designação vem sendo utilizado pelas vinícolas da região a partir do ano de 2020 para os vinhos finos, tranquilos e espumantes, em garrafa.

A Indicação Geográfica (IG) foi o resultado de mais de 5 anos de pesquisa, discussões e estudos de um grupo interdisciplinar coordenados pela Embrapa Uva e Vinhos do Rio Grande do Sul.

Além disso, os vinhos devem ser elaborados a partir das 36 variedades de vitis viníferas permitidas pelo regulamento, plantadas em sistema de condução em espaldeira e respeitando os limites máximos de produtividade por hectare e os padrões de qualidade das frutas que seguirão para a vinificação. Finalmente, os vinhos precisam ser avaliados e aprovados sensorialmente às cegas por uma comissão de especialistas.

Esta é uma delimitação localizada no bioma Pampa do estado do Rio Grande do Sul, região vitivinícola que começou a se fortalecer na década de 1980, ganhando novo impulso nos anos 2000, com o crescimento do número de produtores de uva e de vinho, expandindo a atividade para diversos municípios da região.

A área geográfica delimitada totaliza 44.365 km2. A IP abrange, em todo ou em parte, 14 municípios da região: Aceguá, Alegrete, Bagé, Barra do Quaraí, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Lavras do Sul, Maçambará, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana.

A Campanha Gaúcha está situada entre os paralelos 29º e 31º Sul e trata-se de uma zona ensolarada, com as temperaturas mais elevadas e o menor volume de chuvas entre as regiões produtoras do Sul do Brasil.

Ao mesmo tempo, as parreiras – predominantemente plantadas em sistema de espaldeira – foram estabelecidas em grandes extensões de planície (altitude entre 100 e 360 m.) com encostas de baixa declividade, o que favorece a mecanização das colheitas, reduz os custos e potencializa a escala produtiva. Uma característica importante é o solo basáltico e arenoso, com boa drenagem, que somada aos outros fatores propicia a ótima qualidade das uvas.

Esta foi uma conquista para a região, que pode refletir em uma garantia da qualidade de seus produtos. Fica a torcida para que, após muito tempo de consistência de qualidade e de uma real identificação da tipicidade, a Campanha Gaúcha possa ter o reconhecimento de uma Denominação de Origem (DO). Leia aqui na íntegra o regulamento de uso da IP da Campanha Gaúcha.

Gamay

A Gamay é uma das principais uvas tintas da França, original da região de Beaujolais, sul da Borgonha, e norte das Côtes du Rhône. É responsável única pelo famoso vinho Beaujolais, um vinho leve, brilhante, suave e muito saboroso. Na região vizinha de Mâcon, é usada na elaboração dos Mâcon tintos, mas em combinação com Pinot Noir. Hoje está bem espalhada pelo mundo, onde produz bons varietais, principalmente na Califónia, Brasil, África do Sul e Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Croácia.

Possuindo grande variação de nome pelo mundo, a uva Gamay pode ser encontrada com diferentes denominações reconhecidas pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho. A casta pode ser identificada como Jurançon Noir, Gamay Beaujolais ou Gamay Noir. Possuindo parentesco comprovado com a casta Pinot Noir, a uva Gamay se contrapõe de forma elegante com a prima, disputando o mesmo território. Entretanto, em países como a Suíça, é possível encontrar vinhos onde a Gamay não é vinificada sozinha, como na França, e sim em cortes com a sua parente, a cepa Pinot Noir.

Intimamente ligada aos famosos vinhos tintos franceses Beaujolais, conhecidos por possuírem caráter leve, macio e repletos de aromas de frutas tropicais e refrescante acidez, a uva Gamay costuma brotar e amadurecer de forma precoce, sendo extremamente vigorosa e produtiva. Se espalhando pela Côte d’Or em meados do século XIV, a origem do nome da cepa Gamay provém de uma vila localizada no sul de Beaune, na região de Borgonha na França.

A casta Gamay começou a ser utilizada em vinhos brasileiros na década de 1970, especificamente no Rio Grande do Sul, na região de Viamão, próxima a Porto Alegre, produzindo vinhos bastantes jovens possuidores de excelente sabor.

A composição do solo onde ocorre o cultivo das vinhas de Gamay influencia no tipo de aroma que será adquirido no processo de vinificação. Caso o cultivo ocorra em solos granitados, a casta Gamay propiciará ao vinho aromas de pimenta e framboesa.

Possuindo caráter bastante frutado, a uva Gamay possui excelente estrutura no que se refere a acidez, além de baixa presença de taninos. Os vinhos de caráter e estilo leve elaborados a partir da casta Gamay são ideais para acompanhar pratos que possuam pescados, exaltando os aromas de frutas e refrescante acidez da uva.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo vermelho rubi, com halos violáceos bem brilhantes, com finas e discretas lágrimas que logo se dissipam do copo.

No nariz mostra uma exuberância aromática e muita tipicidade por conta do processo de maceração carbônica, destacando-se as notas frutadas, tais como maçã, cerejas, framboesa, morango, trazendo ao vinho um incrível frescor e delicadeza, corroborados com toques florais.

Na boca é leve, fresco, com algo de despretensioso, sendo muito saboroso e cheio na boca, conferindo-lhe também personalidade. Traz também o protagonismo da fruta vermelha fresca, como no aspecto olfativo. Tem taninos quase que imperceptíveis, ótima acidez e um curioso e agradável toque herbáceo. Final prolongado, longo.

E diante de tantas novidades que esse rótulo me proporcionou, bem como alguns momentos nostálgicos deliciosos, eu percebi hoje, degustando esse belíssimo e solar vinho da Campanha Gaúcha, que a história é viva e latente, não é estática e isso serve, sim, para o universo dos vinhos. Miolo Gamay Wild é assim! É um vinho arrojado, mas que traz as características mais marcantes da cepa é um vinho moderno, mas tradicional. É um vinho especial, frutado, com a cara, com o DNA do Brasil e dos atuais dias quentes que tanto caracteriza o nosso país. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Miolo:

A paixão pelo mundo fascinante do vinho é facilmente explicada pela história da família Miolo que, além de trabalhar na vitivinicultura desde a chegada de Giuseppe no Brasil em 1897, inova ano após ano. Uma das fundadoras do projeto Wines of Brasil, a Miolo Wine Group é a maior exportadora de vinhos do Brasil e a mais reconhecida no mercado internacional. A produção dentre as 4 vinícolas do grupo soma, em média, 10 milhões de litros por ano numa área cultivada de vinhedos próprios com aproximadamente 1.000 hectares.

A Miolo exporta para mais de 30 países de todos os continentes. É o maior exportador de vinhos finos do Brasil. De 30 hectares em 1989, a Miolo cultiva hoje, 30 safras mais tarde, cerca de 950 hectares de vinhedos em quatro terroirs brasileiros: Vale dos Vinhedos (Serra Gaúcha), Seival/Candiota (Campanha Meridional), Almadén/Santana do Livramento (Campanha Central) e Terranova/Casa Nova (Vale do São Francisco), sendo a única empresa do setor genuinamente brasileira com atuação em quatro diferentes regiões produtoras.

Com uma produção anual de cerca de 10 milhões de litros, é a marca que detém o maior portfólio de rótulos verde amarelos, exibindo centenas de prêmios conquistados no mundo inteiro. O pioneirismo na elaboração dos vinhos se estendeu para o enoturismo, onde a marca gera experiência, aproximando e formando novos apreciadores da bebida. Assim é no Vale dos Vinhedos com o Wine Garden Miolo, assim é no Vale do São Francisco com o Vapor do Vinho pelo Velho Chico, onde a Miolo transformou o sertão em vinhedo. Este mesmo espírito empreendedor que fez da pequena vinícola familiar a maior produtora de vinhos finos do Brasil em apenas 30 safras, é que move gerações e aproxima quem sonha de quem quer fazer.

Mais informações acesse:

https://www.miolo.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/ciclo-de-crescimento-da-uva/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/campanha-gaucha

“Tudo do Vinho”: https://tudodovinho.wordpress.com/2020/07/14/i-p-campanha-gaucha/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_ela_uvas_mostra.php?num_uva=13

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/196-uva-gamay-a-pequena-joia-do-beaujolais

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gamay

“Embalagem Marca”: https://embalagemmarca.com.br/2022/03/miolo-wild-gamay-2022-chega-ao-mercado-ainda-em-marco/










sábado, 3 de dezembro de 2022

Finca Constancia Parcela 12 Single Vineyard Graciano 2017

 

Retomando agora, e com muito entusiasmo, é claro, com as grandes novidades que só o universo do vinho é capaz de nos proporcionar. E já estava com saudades de degustar novas, pelo menos para mim, castas, de novas regiões e tudo o mais.

E hoje a degustação será de uma casta que já conhecia e que sempre figurou em blends, com pequenas percentagens, principalmente em vinhos espanhóis, sobretudo em cortes de vinhos reservas e gran reservas daquele país.

Em uma pesquisa preliminar a respeito dela pude apurar que é uma cepa que não tem a grande popularidade de uma Tempranillo ou Garnacha, inclusive são poucos os hectares dessa uva por lá e não preciso dizer que, diante disso, a ansiedade em degusta-la é grande.

A oferta de rótulos dessa casta, no mercado brasileiro, reflete basicamente esse panorama sendo, consequentemente, bem baixa, então a oportunidade é rara, pouco constante de degustar vinhos com essa casta. Falo da Graciano.

Pouco se conhece, pouco se fala! Isso já é muito bom para quem está garimpando novas experiências, novos rótulos, novos terroirs, novas expressões sensoriais. E por falar em terroirs o rótulo de hoje, além de trazer a novidade, traz também uma região que tenho apreciado a cada degustação: Castilla La Mancha.

Sempre ouvi, e isso é fato, de que a região de Castilla La Mancha, a terra do errante Dom Quixote, é de grande produção, produção de volume, logo surge aquela discussão de que são vinhos de baixa qualidade, ruins.

Não quero entrar no mérito dessa discussão, apesar desta impactar na qualidade do vinho, mas um vinho que carrega, em seu nome, “Parcela 12”, ou seja, de um vinhedo especial, de uma terra especial, além do nome de “Single Vineyard” que corrobora essa definição, não pode ser de uma região que predominante produza vinhos ruins.

Enfim, sem mais delongas, vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Castilla La Mancha, como já apresentado, e se chama Finca Constancia Parcela 12 Single Vineyard da casta Graciano, da safra 2017. E para não perder o costume vamos também de histórias. Falemos de Castilla La Mancha e da casta Graciano!

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

“Em um lugar em La Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.

“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.

Castilla La Mancha

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

Graciano

A uva Graciano é típica de Rioja, considerada por muitos a melhor uva da região, acima até mesmo da Tempranillo, variedade mais cultivada em toda a Espanha. A casta Graciano é conhecida também por outros nomes, como Tinta Miúda e Morrastel e Xeres. Outros nomes para esta uva são Bastardo Nero, Bordelais, Cagnolale, Cagnovali Negro, Cagnulari, Cagnulari Bastardo, Cagnulari Sardo, Caldaredou Caldarello, Cargo Muol, Couthurier, Graciano Tinto, Gros Negrette, Minustello, Tinta do Padre Antonio, Tintilla, Zinzillosa.

Cultivada principalmente em Rioja e Navarra, representa apenas 0,02% da área plantada da Espanha, concentrada sobretudo na Navarra (31,4% do total) e na Rioja (23,4%). A Graciano é encontrada também em regiões da França, em Languedoc-Roussillon, na Argentina, nos Estados Unidos e na Austrália. Em Languedoc-Roussillon a variedade recebeu notório destaque durante o século XIX, contribuindo para aumentar o prestígio da região perante o mundo do vinho.

Segundo dados da OIV, em 2015 eram apenas 2.137 hectares de Graciano plantados ao redor do mundo, a totalidade deles na Espanha. No entanto, existem pequenas parcelas de vinhedos também em países como Portugal, França e Estados Unidos.

Considerada uma uva de difícil plantio e propensa a doenças, os rendimentos da Graciano apresentam números pequenos. O período de amadurecimento dessa variedade é alto, fazendo com que a uva não se adapte em regiões com climas frios. No entanto, tal demora é responsável também por adicionar maior complexidade de sabores e aromas e somente uvas completamente maduras garantem sua plena expressão.

Os vinhos produzidos a partir da uva Graciano costumam ser ricos em acidez e, às vezes, bastante tânicos, tornando-se aptos a envelhecer com excelente qualidade. O clássico vinho Graciano é moderadamente tânico, com coloração profunda e rico em aromas. Em Rioja, onde a maior parte dos vinhos tintos são envelhecidos em barris de carvalho, estas notas tornam-se ainda mais aromáticas, complementadas por baunilha e especiarias doces – as marcas dos vinhos tintos envelhecidos em madeira.

Durante o século XX, muito produtores da região de Rioja substituíram as vinhas da uva Graciano por uvas internacionais, consideradas como “uvas mais elegantes”, entre elas encontram-se as castas Tempranillo e Cabernet Sauvignon.

O crescente interesse por uvas autóctones tem feito a Graciano ser reconhecida e conquistar cada vez mais atenção e espaço. Fazendo parte, tradicionalmente, de vinhos de corte produzidos em Rioja, adicionando-os cor e aromas, a uva Graciano tem sido utilizada cada vez mais na produção de vinhos varietais. Felizmente, a Graciano vem recebendo notória importância nos dias de hoje e elabora alguns dos melhores vinhos espanhóis, capazes de agradar a paladares de inúmeros críticos, especialistas e amantes do mundo do vinho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um deslumbrante e intenso vermelho rubi vivo fechado, intransponível, com halos granada, com lágrimas grossas e em profusão que mancham o bojo.

No nariz traz aromas altivos e pronunciados de frutas pretas maduras, como ameixa, amora e cereja, além de um delicado e agradável floral, algo de violetas, notas de especiarias, talvez pimentas e cravo, com toques discretos da madeira e o seu aporte como cacau, baunilha, terra molhada. O vinho passou 8 meses em barricas de carvalho.

Na boca revela de imediato a sua complexidade e estrutura, um vinho volumoso, cheio, o álcool corrobora tal personalidade, mas sem agredir, se mostrando, ao mesmo tempo, elegante e redondo. Os taninos, presentes, são domados e equilibra com a acidez média, bem como a fruta, que também protagoniza, que em sinergia com a madeira, faz do vinho marcante. Trazem também notas de chocolate meio amargo, baunilha, couro, tabaco, baunilha, uma rusticidade elegante. Tem final longo, prolongado.

Curiosidade sobre o nome do vinho:

O vinho recebe o nome “Parcela 12” porque fica no extremo oeste da propriedade Finca Constancia, onde são plantadas as castas Graciano, sendo de altíssima qualidade e vindimadas à mão.

É com essa designação de terroir, de especificidades de terra, de pequenos lotes que faz de um vinho especial, importante e único. Assim é o Finca Constancia Parcela 12 Single Vineyard. E mais especial ainda é a Graciano. Viva, plena, intensa, de marcante personalidade, em todos os seus aspectos. É definitivamente uma experiência sensorial gigante. Um vinho que marcou e que sempre virá à tona em minhas lembranças! Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Finca Constancia:

Finca Constancia faz parte da González Byass ‘Familia de Vino’, e seu espírito se reflete em uma citação do fundador de González Byass em 1836: “Não consigo pensar em negócio melhor do que fazer vinho e a ele, portanto, dedico minha vida. ”

O nome da vinícola é em sua homenagem, pois para ele a constância era a principal virtude da vida e ele chamou sua primeira adega de “La Constancia”.

A Finca Constancia foi fundada em Castilla la Mancha, perto de Toledo, em 2001, e 200 hectares foram selecionados por causa de sua enorme diversidade de solos e o clima continental seco. As vinhas são plantadas em 79 parcelas distintas, ou parcelas, classificadas de acordo com o tipo de solo e microclima.

Os vinhedos abrigam uma série de variedades de uvas nativas e internacionais, incluindo então Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Syrah, Cabernet Franc, Petit Verdot, Graciano, Garnacha, Verdejo e Sauvignon Blanc.

Cada parcela é plantada com o propósito de melhor adequar a variedade de uva com as condições e tipo de solo. Ademais são vinificados separadamente, o que permite a rastreabilidade total e a produção de vinhos de parcela única. Estes vinhos e a Finca Constancia Seleccion são as referências da propriedade.

Finca Constancia se dedica ao meio ambiente e por conseguinte está se convertendo às práticas biodinâmicas. Sendo assim, o trabalho na vinha é realizado a um ritmo ditado pelos ciclos da lua e pela posição dos planetas.

Apenas material vegetal compostado é usado para nutrir o solo, culturas de cobertura são plantadas para incorporar mais nitrogênio ao solo assim como a terra é povoada com fauna local para promover um ecossistema natural.

Dentro da gama, a marca Altozano é uma homenagem a Toledo, uma das cidades mais emblemáticas de Espanha, refletindo o imaginário e símbolos clássicos desta famosa capital. Os vinhos são frescos e baseados em frutas – uma ótima introdução aos vinhos espanhóis modernos.

Mais informações acesse:

https://fincaconstancia.es/en/

https://www.gonzalezbyass.com/validate

Referências:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/graciano-mais-que-uma-uva-de-corte/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/graciano








quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Galitos branco

 

Eu não negarei nunca, sempre gritarei aos quatro cantos do mundo que adoro os vinhos do Alentejo! Talvez esteja sendo sugestionado, influenciado por um incontido amor, mas para mim as terras alentejanas são as melhores de Portugal para o cultivo do vinho!

Eles têm uma “pegada”, um aspecto regional muito arraigado, muito intenso, muito forte. Quando se degusta um vinho do Alentejo logo se percebe, pois têm impacto no nosso palato, as nossas impressões sensoriais são definitivamente arrebatadas a um nível imensurável.

E não se engane que isso varia de acordo com as propostas dos vinhos! Todos os rótulos parecem personificar a região com força, com intensidade. Não que os demais rótulos, das demais regiões lusitanas, não expressem esse apelo regionalista, mas o Alentejo reflete as suas características de uma maneira avassaladora, diria.

O vinho que degustei e gostei é aquele de preço também avassalador. Um vinho que custa na faixa dos R$ 30, pasmem, e que confesso não esperava muito dele. Para mim, no máximo, entregaria o que contempla a sua proposta, o seu preço, mas não! O vinho entregou uma personalidade que jamais esperaria e que se tornou uma degustação agradável, surpreendente.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei é um regional alentejano e se chama Galitos, um branco que carrega as castas Rabo de Ovelha, Roupeiro e Arinto, as cepas típicas do Alentejo e uma tida como a branca mais famosa de Portugal, sem informação de safra.

E pelo amor e apreço que nutro pelo terroir alentejano nada melhor que viajar profundamente pela região com a sua rica e envolvente história. Com vocês Alentejo!

Alentejo

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas. As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Alentejo

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

História (Passado, presente e futuro)

A história do vinho e da vinha no território que é hoje o Alentejo exige uma narrativa longa, com uma presença continuada no tempo e no espaço, uma gesta ininterrupta e profícua que poucos associam ao Alentejo. Uma história que decorreu imersa em enredos tumultuosos, dividida entre períodos de bonança e prosperidade, entrecortados por épocas de cataclismos e atribulações, numa flutuação permanente de vontades, com longos períodos de trevas seguidos por breves ciclos iluministas e vanguardistas.

É uma história faustosa e duradoura, como o comprovam os indícios arqueológicos presentes por todo o Alentejo, testemunhas silenciosas de um passado já distante, evidências materiais da presença ininterrupta da cultura do vinho e da vinha na paisagem tranquila alentejana. Infelizmente, por ora ainda não foi possível determinar com acuidade histórica quando e quem introduziu a cultura da videira no Alentejo.

Mas ainda assim pode-se afirmar que a história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente há 3.000 anos atrás.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.

Os gregos, cuja presença é denunciada pelas centenas de ânforas catalogadas nos achados arqueológicos do sul de Portugal, sucederam aos fenícios no comércio e exploração dos vinhos do Alentejo. Por esta época, a cultura da vinha no Alentejo, apesar de incipiente, contava já com quase dois séculos de história. A persistência de uma cultura da vinha e do vinho, desde os tempos da antiguidade clássica, permite presumir, com elevado grau de convicção, que as primeiras variedades introduzidas no território nacional terão arribado a Portugal pelo Alentejo, a partir das variedades mediterrânicas.

É mesmo provável, se atendermos os registros históricos existentes, que a produção alentejana tenha proporcionado a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma, a primeira aventura de internacionalização de vinhos portugueses! A influência romana foi tão peremptória para o desenvolvimento da viticultura alentejana que ainda hoje, dois mil anos após a anexação do território, as marcas da civilização romana continuam a estar patentes nas tarefas do dia-a-dia, visíveis através da utilização de ferramentas do quotidiano, como o Podão, instrumento utilizado intensivamente até há poucos anos. Mas foi no aproveitamento das talhas de barro, prática que os romanos divulgaram e vulgarizaram no Alentejo, que a influência romana deixou as suas marcas mais profundas e até hoje é difundida, dada a devida proporção, por alguns abnegados produtores, e claro, a sua população.

Com a emergência do cristianismo, credo disseminado quase instantaneamente por todo o império romano, e face à obrigatoriedade da presença do vinho na celebração eucarística da nova religião, abriram-se novos mercados e novas apetências para o vinho. A fé católica, ainda que indiretamente, afirmou-se como um fator de desenvolvimento e afirmação da vinha no Alentejo, estimulando o cultivo da videira na região.

Com tantas influências culturais o Alentejo sofreu com algumas crises e a primeira se deu exatamente entre os cristãos e muçulmanos. Embora os mulçumanos tenham se mostrando tolerante com os costumes dos povos conquistados, consentindo na manutenção da cultura da vinha e do vinho, sujeitando-a a duros impostos, mas autorizando a sua subsistência, logo nasceu uma intolerância crescente para com os cristãos e os seus hábitos, manifesta no cumprimento rigoroso e vigoroso das leis do Corão.

Inevitavelmente, a cultura do vinho foi sendo progressivamente negada e a vinha gradualmente abandonada, reprimida pelas autoridades zelosas das regiões ocupadas. Com a invasão muçulmana a vinha sofreu o primeiro revés sério no Alentejo. A longa reconquista cristã da península ibérica, riscada de Norte para Sul, geradora de incertezas e inseguranças, com escaramuças permanentes entre cristãos e muçulmanos, sem definição de fronteiras estáveis, maltratou ainda mais a cultura da vinha, uma espécie agrícola perene que, por forçar à fixação das populações, foi sendo progressivamente abandonada.

Foi só após a fundação do reino lusitano, concorrendo através do poder real e das novas ordens religiosas, que a cultura do vinho regressou com determinação ao Alentejo. Poucos séculos mais tarde, já em pleno século XVI, a vinha florescia como nunca no Alentejo, dando corpo aos ilustres e aclamados vinhos de Évora, aos vinhos de Peramanca, bem como aos brancos de Beja e aos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades. 

Em meados do século XVII, eram os vinhos do Alentejo, a par da Beira e da Estremadura, que gozavam de maior fama e prestígio em Portugal. Desventuradamente, foi sol de pouca dura! A crise provocada pela guerra da independência, logo secundada por nova crise despertada pela criação da Real Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída pelo Marquês de Pombal como justificação para a defesa dos vinhos do Douro em detrimento das restantes regiões, com arranques coercivos de vinhas em muitas regiões, deu matéria para a segunda grande crise do vinho alentejano, mergulhando as vinhas alentejanas no obscurantismo.

A crise foi prolongada. Foi preciso esperar até meados do século XIX para assistir à recuperação da vinha no Alentejo, com a campanha de desbravamento da charneca e a fixação à terra de novas gerações de agricultores. Nasceu então mais uma época dourada para os vinhos do Alentejo, período que infelizmente viria a revelar ser de curta duração. O entusiasmo despertou quando se soube que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, tendo sido igualmente apreciados e valorizados vinhos de Évora, Borba, Redondo e Reguengos.

Pouco anos mais tarde, decorria o ano de 1895, edificou-se a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, pelas mãos avisadas de António Isidoro de Sousa, pioneiro do movimento associativo em Portugal. Desafortunadamente, este período de glória viria a terminar abruptamente. Duas décadas passadas, já na primeira metade do século XX, sobreveio um conjunto de acontecimentos políticos, sociais e econômicos que contribuíram decidida e decisivamente para a degradação da viticultura alentejana.

António Isidoro de Sousa

Ao embate da filoxera, somou-se a primeira das duas grandes guerras mundiais, as crises econômicas sucessivas, e, sobretudo, a campanha cerealífera do estado novo que suspendeu e reprimiu a vinha no Alentejo, apadrinhando a cultura de trigo na região que viria a apelidar como "celeiro de Portugal". A vinha foi sendo sucessivamente desterrada para as bordaduras dos campos, para os terrenos marginais em redor de montes, aldeias e vilas, para as pequenas courelas em redor das povoações, reduzindo o vinho à condição de produção doméstica para autoconsumo. Em poucos anos o vinho no Alentejo, salvo raras exceções, desapareceu enquanto empreendimento empresarial.

Foi sob o patrocínio solene da Junta Nacional do Vinho, já no final da década de 1940, que a viticultura alentejana ganhou a primeira oportunidade de recobro, ainda que de forma titubeante.

O movimento associativo foi preponderante para o ressurgimento da atividade vitícola no Alentejo. Em 1970, sob os auspícios da Comissão de Planeamento da Região Sul, foi anunciado o estudo "Potencialidades das sub-regiões alentejanas", coadjuvado dois anos mais tarde pelo estudo "Caracterização dos vinhos das cooperativas do Alentejo. Contribuição para o seu estudo", do professor Francisco Colaço do Rosário, ensaios acadêmicos determinantes para o reconhecimento regional e nacional do potencial do Alentejo. Associando várias instituições ligadas ao setor e tirando proveito das sinergias criadas, o Alentejo conseguiu estabelecer um espírito de cooperação e entreajuda entre os diversos agentes.

Com a criação do PROVA (Projeto de Viticultura do Alentejo), em 1977, foram criadas as condições técnicas para a implementação de um estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi arquitetada para promover a cultura da vinha nos diferentes terroirs do Alentejo.

Em 1988 regulamentaram-se as primeiras denominações de origem alentejanas, fundamento para o estabelecimento, em 1989, da CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), garante da certificação e regulamentação dos vinhos do Alentejo.

Borba

Borba possui um longo passado histórico, como nome incontornável do vinho alentejano e português. As referências apontam para a existência de produção de vinho neste concelho em 1345, no entanto, é muito provável que já na época romana isso acontecesse, devido à influência marcante que este povo teve no desenvolvimento da cultura vínica alentejana.

A arquitetura tradicional reflete a cultura do vinho, com a existência de inúmeras casas de viticultores com tipologia arquitetônica característica dos séculos XVII e XVIII, constituídas por um piso superior para habitação e um piso térreo para a tradicional adega. Por outro lado, existe um riquíssimo património edificado, composto por solares e casas apalaçadas, que resultou da riqueza gerada pela produção de vinho desde o século XVIII.

Borba é a segunda maior sub-região do Alentejo (DOC – Denominação de Origem Controlada), alastrando-se ao longo do eixo que une Estremoz a Terrugem, estendendo-se por Orada, Vila Viçosa, Rio de Moinhos e Alandroal. A sub-regiões de Borba, uma das mais dinâmicas do Alentejo, detém solos únicos de mármore que marcam de forma permanente e determinante o temperamento dos vinhos. Borba possui uma área de vinha de cerca de 3500 ha e uma produção de aproximadamente 155.000 hl.

Borba

O microclima especial de Borba garante índices de pluviosidade levemente superior à média, bem como níveis de insolação ligeiramente inferiores à média alentejana, proporcionando vinhos especialmente frescos e elegantes.

Rabo de Ovelha

Casta tradicional do Alentejo, presente em quase todas as sub-regiões, onde teve grande importância no passado. Muito discutível quer quanto à produção quer quanto ao valor enológico.

Muito produtiva, mas irregular na produção. Robusta, origina vinhos ricos em ácidos não muito alcoólicos, usado por isso, com alguma vantagem, em lotes com castas de menor acidez. Deve ser vindimada precocemente de modo a manter o teor de ácidos num nível aceitável.

As principais qualidades da casta Rabo de Ovelha nos vinhos são o alto teor alcoólico, boa longevidade e elevada acidez. Os vinhos que incluem esta casta na sua composição apresentam aromas discretos, com notas florais, vegetais e até minerais.

Roupeiro

Esta casta, nativa de Portugal, conhecida como Síria, na região de Beiras, por exemplo, faz muito sucesso em seu local preferido, na borda de fronteira com a Espanha. Muito longe da influência do Atlântico. Vai assim margeando a Espanha, desde Trás-os-Montes até o Alentejo passando por Beiras Interior onde, nas partes mais altas alcança seu máximo.

Uva que precisa de tempo seco, muito sol e boas diferenças de temperatura entre dia e noite. Como não podia deixar de ser é casta de vários nomes dependendo da região. Desde Codega, Crato Branco até Roupeiro, no Alentejo onde é mais conhecida mundialmente.

Seus vinhos são para serem apreciados jovens. Nos melhores apresenta seu potencial de acidez marcante, aromas cítricos em outros casos frutados como melão e um toque floral.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo citrino, brilhante, límpido, esboçando um dourado intenso, com nuances esverdeadas e discretas e rápidas lágrimas finas.

No nariz traz exuberantes aromas de frutas tropicais, com destaque para um pêssego maduro e frutas cítricas, além de secas também, com um discreto toque floral e algo mineral.

Na boca revela frescor, leveza, mas com uma personalidade, com alguma estrutura, denotando também frutas tropicais bem maduras, com uma acidez média e um final persistente e retrogosto muito frutado.

O Alentejo, como sempre, vibrante, regional que globaliza, que se faz forte em tipicidade, o terroir vivo, pleno, altivo que guarda uma tradição reluzente e que se moderniza em seus rótulos cada vez mais ousados, versáteis. O Alentejo catapulta Portugal para longe e faz deste país, cada vez mais, um centro vitivinícola de suma importância para o planeta vinho. Que possamos ser atores dessa história viva e que se mostra mutável. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Borba:

Fundada em 1955, as raízes da Adega de Borba remontam a um passado ainda mais longínquo no qual Portugal não era considerado reino.

A vinha está presente no Alentejo há mais de 3.000 anos. Foi a partir do século XVIII que a produção de vinho em Borba floresceu, contribuindo para um acentuado crescimento econômico e social da região. Desde então, vários acontecimentos marcaram o setor vitivinícola: uns de forma positiva, como a implementação de técnicas mais modernas de produção, e outros de forma negativa, nomeadamente a destruição provocada pela Guerra da Restauração e Invasões Napoleônicas.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares.

Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Independentemente destas oscilações, a importância da vinha em Borba nunca se dissipou e foi sempre a grande cultura agrícola da região.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares. Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Cada um dos viticultores distingue-se pela oferta de um produto de qualidade, envergando na sua essência uma história que nos faz recordar as verdadeiras raízes do cultivo da vinha. É com base em cada um dos seus legados, da sua partilha de conhecimentos e da sua união que a Adega de Borba consegue hoje em dia colocar em prática o real conceito de Cooperativa.

Mais informações acesse:

https://adegaborba.pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Vinhos do Alentejo”: https://www.vinhosdoalentejo.pt/pt/vinhos/historia-dos-vinhos/

“Além do Vinho”: https://alemdovinho.wordpress.com/tag/uva-roupeiro/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/uvas-211-Rabo-de-Ovelha

“Vida Rural”: https://www.vidarural.pt/sem-categoria/castas-de-portugal-rabo-de-ovelha/

 

 

 











 


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Rio Sol Syrah 2020

 

Sabe quando um vinho faz parte da nossa vida, da nossa história enquanto enófilo? Aquele vinho que nos acompanha e que nos transforma? Ah só quem degusta vinhos sabe o que estou dizendo. Alguns vinhos, alguns rótulos foram e ainda são muito importantes, por exemplo, na minha transição de vinhos suaves, aqueles doces de garrafão para os vinhos finos, aqueles produzidos com castas vitiviníferas.

Está aí um momento de suma importância para qualquer enófilo brasileiro. Atirem a primeira pedra quem não passou por esse momento na história de degustação, de um bom e fiel apreciador da poesia líquida. Posso aqui elencar alguns vinhos e produtores que foram essenciais em minha vida nesse momento: Miolo, Almadén, entre outros que foram sim, os vinhos brasileiros que me iniciaram há mais de 23 anos atrás. Parece que foi ontem!

Mas não posso esquecer-me de um produtor que praticamente vimos “nascer” para o mundo nas terras brasileiras, que praticamente foi um dos pioneiros, aqueles que desbravaram um terroir que parecia improvável cultivar cepas e fazer vinhos: o Nordeste brasileiro, o semiárido, uma região desértica, praticamente, onde há séculos, bravas gentes sofrem com a escassez de água e que são esquecidos pelo Poder Público.

Uma porção de terra que se destaca com uma vegetação plena, que belamente destoa abundantemente: Falo da Rio Sol. Apesar de estar em solo brasileiro, a Rio Sol é uma concepção da Global Wines, um conglomerado português que se instalou no Brasil com uma ideia arrojada e determinada a trazer, a edificar um novo terroir: os vinhos do Velho Chico, os vinhos do Rio São Francisco que irrigam os parreirais e que entregam, para nosso deleite, vinhos frescos, maravilhosos e, ao mesmo tempo, dotados de uma marcante personalidade em todas as suas propostas.

Fazenda Santa Maria

Mas mesmo que a Rio Sol, com seus rótulos, me traga nostalgias agradáveis, boas lembranças e experiências sensoriais, ainda há espaço para novidades, ainda há espaço para novas e impactantes experiências e essa eu já esperava por alguns anos, mas que, por alguns motivos, eu ainda não havia degustado: Um Syrah da Rio Sol, um Syrah do nordeste brasileiro que, de uns tempos para cá, vem ganhando amplitude no cenário vitivinícola brasileiro, juntamente, claro, com os Syrahs mineiros.

E depois de alguns rótulos degustados e a certificação de qualidade e prazer que me proporcionaram, lá vem mais um: o Syrah. Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio do Velho Chico, do Vale do São Francisco, e é o Rio Sol Syrah da safra 2020. Para não perder o costume vamos com as histórias da região, antes de falar do vinho.

Vale do São Francisco: os vinhos do Velho Chico

A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma excepcionalidade no mundo, uma vez que está localizada entre os paralelos 8º e 9o S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o ano todo totalizando duas safras e meia em condições ambientais adversas como alta luminosidade, temperatura média anual de 26oC, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de altitude, em solo pedregoso.

Cinturão dos vinhos

Seus vinhos possuem público crescente, porque são jovens “vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabores, considerados como fáceis de beber e apresentando boa relação comercial qualidade/preço. Aliado a essas particularidades, diretamente associadas à produção de vinhos finos, o Vale é ainda cenário de diversas belezas naturais, históricas e culturais. Estudos já publicados permitem identificar que a região conta com diversas características que comprovam o seu potencial turístico para o desenvolvimento da atividade, como é o caso da sua história, riquezas ambientais e diversificada cultura regional.

Esses fatores estão relacionados à diversidade observada na região. Isso é notado, principalmente, em decorrência da sua extensão. A Bacia do São Francisco é a terceira maior bacia hidrográfica do país e a única que está totalmente inserida no território nacional. Nela estão localizados 506 municípios contando com, aproximadamente, 13 milhões de habitantes, que representa 9,6% da população brasileira.

Bem antes do Vale do São Francisco se consolidar como polo de vitivinicultura, quem já exercia esse papel no Brasil era a região Sul. No século 19, o Rio Grande do Sul, mesmo com as condições climáticas desfavoráveis, passou a ser considerado um polo crescente nesse meio – e até hoje segue inserido no ramo. Mas, a chegada de imigrantes estrangeiros no país trouxe o conhecimento técnico e a noção de mercado, o que fez com que outras regiões brasileiras também mostrassem a sua capacidade produtiva.

É na década de 1960 que o Nordeste entra em cena e o Vale do São Francisco inicia a sua trajetória na produção de uvas e vinhos, com a implantação das primeiras videiras. Nos anos de 1963 e 1964, foram instaladas duas estações experimentais, nos municípios de Petrolina, no Sertão de Pernambuco e Juazeiro, na Bahia, onde seriam implantados, respectivamente, o Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro Irrigado de Mandacaru.

Vale do São Francisco

Apesar da escassez de chuva, o clima quente e seco do semiárido mostrou-se terreno fértil para a vitivinicultura e, na mesma década, outras cidades do Sertão de Pernambuco passam a fazer parte da cadeia produtiva. O pioneirismo da vitivinicultura no Nordeste é representado pelo Sertão Pernambucano, que iniciou a sua trajetória na

vitivinicultura na década de 1960, produzindo vinhos base para vermutes, na cidade de Floresta, uvas de mesa em Belém do São Francisco e em Santa Maria da Boa vista, localidade que na época se chamava Coripós.

Entre os anos 1980 e 1990, a região banhada pelo Rio São Francisco passa a ser conhecida também pela produção de vinhos finos, e em 1984 é produzido o primeiro vinho no Vale do Submédio São Francisco, com a marca Boticelli. O fortalecimento da vitivinicultura no Vale do Submédio São Francisco se deu com a instalação de vinícolas na Fazenda Milano, em Santa Maria da Boa Vista – PE e Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, que passaram a produzir vinhos finos.

Ao longo da década de 1990, ganha destaque a vitivinicultura tecnificada e a produção de uvas sem sementes. É também nessa época, que cresce o investimento de grupos empresariais na região. A instalação de uma infraestrutura física, como construção de packing houses, melhoria no sistema rodoviário e portuário, e, sobretudo, a organização dos produtores em associações e cooperativas, desempenharam um importante papel na consolidação das exportações de uvas de mesa do Vale do Submédio São Francisco.

A partir dos anos 2000, a produção se fortalece ainda mais com a implantação de outras vinícolas e vitivinícolas e também com as iniciativas públicas. Ações governamentais e de ensino, pesquisa e inovação, a partir do ano 2000, trouxeram novas tecnologias de produção e processamento de uvas e o reconhecimento de atores internacionais. É nessa época que surge a Escola do Vinho do Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano.

IG do Vale do São Francisco

O Vale do São Francisco é a nova Indicação Geográfica (IG) do Brasil para vinhos finos, nobres, espumantes naturais e moscatel espumante. A região recebeu o selo na modalidade Indicação de Procedência (IP) e o registro foi publicado na Revista da Propriedade Industrial do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

A nova indicação geográfica valerá para as cidades de Lagoa Grande (PE), Petrolina (PE), Santa Maria da Boa Vista (PE), Casa Nova (BA) e Curaçá (BA) e a expectativa é que traga mais olhares e investidores para a região vitivinícola.

A busca pela Indicação Geográfica na região é antiga e nasceu em 2002 com o reconhecimento do Vale dos Vinhedos, já a vitivinicultura nasceu em 1960 com a organização da produção agrícola irrigada no Vale do Rio São Francisco. A irrigação permitiu que as terras com caatinga, até então consideradas improdutivas, se tornassem áreas verdes ao longo das margens do rio.

A região do Vale do Rio São Francisco possui características únicas para a viticultura e produção de vinho. Seu clima permite duas podas e duas safras anuais e o resultado é um vinho geralmente frutado, de baixo teor alcóolico e acidez moderada. No Vale do São Francisco os espumantes predominam com três milhões de litros produzidos anualmente contra 1,5 milhão de litros dos vinhos tranquilos.

A Indicação Geográfica Vale do São Francisco autoriza a produção de vinhos tranquilos brancos, rosés ou tintos e espumantes brancos ou rosés que podem ser bruts, demi-secs ou moscatéis. A uva para a produção do vinho tem que ser 100% proveniente da região delimitada e são autorizadas 23 castas diferentes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi com alguma intensidade, mas com brilhantes reflexos violáceos e uma grande concentração de lágrimas, finas e lentas.

No nariz o início estava um pouco tímido, fechado, mas logo se abriu e revelou-se um vinho muito frutado, frutas vermelhas e pretas maduras, com destaque para ameixas, cerejas, amora e morangos, com um agradável toque floral e notas de especiarias, algo de pimenta, típico da Syrah.

Na boca é seco, leve, macio, com uma boa textura que o torna também marcante, cheio, talvez pela presença razoável do álcool e o protagonismo das notas frutadas, como no aspecto olfativo. Tem taninos domados, boa acidez, as especiarias também aparecem, uma sensação de picância e um final persistente e retrogosto frutado.

O reconhecimento da Indicação Geográfica certifica e corrobora a qualidade dos vinhos do Vale de São Francisco, chancelando, perpetuando a sua tipicidade, enaltecendo o seu terroir e garantindo o prazer e a perspectiva de catapultar a disseminação dos rótulos do Velho Chico para todo o Brasil e o mundo. Nós, especialmente os brasileiros, precisam conhecer os rótulos da Rio Sol e de todos os seus produtores que, arduamente, há anos constrói aquele terroir que, para muitos, no início era algo improvável. O Rio Sol Syrah é um exemplo de que a região está, a cada dia, crescendo e entregando a sua cultura engarrafada. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Santa Maria:

Localizada no Vale do São Francisco com 120 hectares de área plantada, a Rio Sol produz 1,5 milhão de quilos de uva anualmente. Entre as espécies plantadas estão uvas tintas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Aragonês, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Tempranillo e Merlot, além das brancas Chenin Blanc, Viognier e Moscatel. Este é o único lugar do mundo que produz, hoje, duas safras de uvas por ano, resultado das características naturais da região e do conhecimento de seus produtores.

É no mesmo local onde se situa a indústria da Rio Sol, onde toda a linha de produtos da empresa é produzida e engarrafada, seguindo os mais modernos conceitos de qualidade. A empresa conta com modernos tanques com controle de temperatura e pressão, sala de barricas para estágio dos vinhos em barris de carvalho francês e uma linha de engarrafamento e rotulagem que utiliza tecnologia importada, semelhante a utilizada nas outras vinícolas do grupo na Europa.

Anualmente são produzidas, aproximadamente, 2 milhões de garrafas, entre vinhos e espumantes, distribuídos para todo o Brasil. Toda essa produção é acompanhada de perto pela equipe de qualidade da Rio Sol, que atua tendo como foco a melhoria contínua da qualidade e a adequação dos produtos às tendências de mercado, sempre visando a sustentabilidade e a segurança do processo. A Rio Sol possui certificação internacional ISO 9001, que atesta os rigorosos controles de qualidade da produção de uvas e elaboração de vinhos.

Sobre a Global Wines:

O Grupo Global Wines nasceu em 1990 no Dão, com o nome Dão Sul. A sua missão era ser a maior empresa da mais antiga região de vinhos tranquilos de Portugal, o Dão. Quando o objetivo foi atingido, partiram para outros sonhos, outras aventuras, outras regiões e outros países. Ainda são a empresa de vinhos líder do Dão. Mas também são uma empresa de vinhos da Bairrada, do Alentejo, de Portugal e até o Brasil.

Tem atualmente 5 Espaços de Enoturismo, 3 dos quais com restaurante, onde procuram conjugar o vinho e a gastronomia, despertando como as melhores sensações, na experiência perfeita. Recebem, diariamente, pessoas de todas as partes do mundo, a quem procuram dar a melhor experiência de vinho e gastronomia. Atualmente estão presentes nos 5 continentes e as suas marcas chegam a mais de 40 países.

Mais informações acessem:

https://www.vinhosriosol.com.br/principal/

https://www.globalwines.pt/#globalwines

Referências:

“O Globo”: https://oglobo.globo.com/blogs/saideira/post/2022/11/vinhos-do-vale-do-sao-francisco-terao-indicacao-de-procedencia-entenda-a-conquista-e-conheca-rotulos-da-regiao.ghtml

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vale-do-sao-francisco-recebe-selo-de-indicacao-geografica.html