Retomando agora, e com muito entusiasmo, é claro, com as
grandes novidades que só o universo do vinho é capaz de nos proporcionar. E já
estava com saudades de degustar novas, pelo menos para mim, castas, de novas
regiões e tudo o mais.
E hoje a degustação será de uma casta que já conhecia e que
sempre figurou em blends, com pequenas percentagens, principalmente em vinhos
espanhóis, sobretudo em cortes de vinhos reservas e gran reservas daquele país.
Em uma pesquisa preliminar a respeito dela pude apurar que é
uma cepa que não tem a grande popularidade de uma Tempranillo ou Garnacha,
inclusive são poucos os hectares dessa uva por lá e não preciso dizer que,
diante disso, a ansiedade em degusta-la é grande.
A oferta de rótulos dessa casta, no mercado brasileiro,
reflete basicamente esse panorama sendo, consequentemente, bem baixa, então a
oportunidade é rara, pouco constante de degustar vinhos com essa casta. Falo da
Graciano.
Pouco se conhece, pouco se fala! Isso já é muito bom para
quem está garimpando novas experiências, novos rótulos, novos terroirs, novas
expressões sensoriais. E por falar em terroirs o rótulo de hoje, além de trazer
a novidade, traz também uma região que tenho apreciado a cada degustação:
Castilla La Mancha.
Sempre ouvi, e isso é fato, de que a região de Castilla La
Mancha, a terra do errante Dom Quixote, é de grande produção, produção de
volume, logo surge aquela discussão de que são vinhos de baixa qualidade,
ruins.
Não quero entrar no mérito dessa discussão, apesar desta
impactar na qualidade do vinho, mas um vinho que carrega, em seu nome, “Parcela
12”, ou seja, de um vinhedo especial, de uma terra especial, além do nome de
“Single Vineyard” que corrobora essa definição, não pode ser de uma região que
predominante produza vinhos ruins.
Enfim, sem mais delongas, vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei veio de Castilla La Mancha, como já apresentado, e se chama
Finca Constancia Parcela 12 Single Vineyard da casta Graciano, da safra 2017. E
para não perder o costume vamos também de histórias. Falemos de Castilla La
Mancha e da casta Graciano!
Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos
de Vento
Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas
plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está
localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com
grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes
elevações. É nessa macrorregião que se
origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.
“Em um lugar em La
Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um
cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um
galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.
“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de
Miguel de Cervantes.
O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em
árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste
território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de
temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros
podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do
inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.
A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo
índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o
local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada
de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente
3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo
sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e
Valdepeñenas.
La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo
considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo. O território abrange 182 municípios,
distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As
principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular
tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.
Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas
condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de
vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends
desta com castas internacionais.
A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos
plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área
vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro
províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.
As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são:
Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são:
Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.
Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:
Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para
ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.
Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais
estrutura do que o Jóven.
Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo
de 90 dias em barris de carvalho.
Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo
menos, seis meses em barris de carvalho.
Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho
e 24 meses em garrafa.
Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em
barris de carvalho e 42 meses em garrafa.
Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda
fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.
Graciano
A uva Graciano é típica de Rioja, considerada por muitos a
melhor uva da região, acima até mesmo da Tempranillo, variedade mais cultivada
em toda a Espanha. A casta Graciano é conhecida também por outros nomes, como
Tinta Miúda e Morrastel e Xeres. Outros nomes para esta uva são Bastardo Nero,
Bordelais, Cagnolale, Cagnovali Negro, Cagnulari, Cagnulari Bastardo, Cagnulari
Sardo, Caldaredou Caldarello, Cargo Muol, Couthurier, Graciano Tinto, Gros
Negrette, Minustello, Tinta do Padre Antonio, Tintilla, Zinzillosa.
Cultivada principalmente em Rioja e Navarra, representa
apenas 0,02% da área plantada da Espanha, concentrada sobretudo na Navarra
(31,4% do total) e na Rioja (23,4%). A Graciano é encontrada também em regiões
da França, em Languedoc-Roussillon, na Argentina, nos Estados Unidos e na
Austrália. Em Languedoc-Roussillon a variedade recebeu notório destaque durante
o século XIX, contribuindo para aumentar o prestígio da região perante o mundo
do vinho.
Segundo dados da OIV, em 2015 eram apenas 2.137 hectares de
Graciano plantados ao redor do mundo, a totalidade deles na Espanha. No
entanto, existem pequenas parcelas de vinhedos também em países como Portugal,
França e Estados Unidos.
Considerada uma uva de difícil plantio e propensa a doenças,
os rendimentos da Graciano apresentam números pequenos. O período de
amadurecimento dessa variedade é alto, fazendo com que a uva não se adapte em
regiões com climas frios. No entanto, tal demora é responsável também por
adicionar maior complexidade de sabores e aromas e somente uvas completamente
maduras garantem sua plena expressão.
Os vinhos produzidos a partir da uva Graciano costumam ser
ricos em acidez e, às vezes, bastante tânicos, tornando-se aptos a envelhecer
com excelente qualidade. O clássico vinho Graciano é moderadamente tânico, com
coloração profunda e rico em aromas. Em Rioja, onde a maior parte dos vinhos
tintos são envelhecidos em barris de carvalho, estas notas tornam-se ainda mais
aromáticas, complementadas por baunilha e especiarias doces – as marcas dos
vinhos tintos envelhecidos em madeira.
Durante o século XX, muito produtores da região de Rioja
substituíram as vinhas da uva Graciano por uvas internacionais, consideradas
como “uvas mais elegantes”, entre elas encontram-se as castas Tempranillo e
Cabernet Sauvignon.
O crescente interesse por uvas autóctones tem feito a
Graciano ser reconhecida e conquistar cada vez mais atenção e espaço. Fazendo
parte, tradicionalmente, de vinhos de corte produzidos em Rioja, adicionando-os
cor e aromas, a uva Graciano tem sido utilizada cada vez mais na produção de
vinhos varietais. Felizmente, a Graciano vem recebendo notória importância nos
dias de hoje e elabora alguns dos melhores vinhos espanhóis, capazes de agradar
a paladares de inúmeros críticos, especialistas e amantes do mundo do vinho.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um deslumbrante e intenso vermelho rubi
vivo fechado, intransponível, com halos granada, com lágrimas grossas e em
profusão que mancham o bojo.
No nariz traz aromas altivos e pronunciados de frutas pretas
maduras, como ameixa, amora e cereja, além de um delicado e agradável floral,
algo de violetas, notas de especiarias, talvez pimentas e cravo, com toques discretos
da madeira e o seu aporte como cacau, baunilha, terra molhada. O vinho passou 8
meses em barricas de carvalho.
Na boca revela de imediato a sua complexidade e estrutura, um
vinho volumoso, cheio, o álcool corrobora tal personalidade, mas sem agredir, se
mostrando, ao mesmo tempo, elegante e redondo. Os taninos, presentes, são
domados e equilibra com a acidez média, bem como a fruta, que também
protagoniza, que em sinergia com a madeira, faz do vinho marcante. Trazem
também notas de chocolate meio amargo, baunilha, couro, tabaco, baunilha, uma
rusticidade elegante. Tem final longo, prolongado.
Curiosidade sobre o nome do vinho:
O vinho recebe o nome “Parcela 12” porque fica no extremo
oeste da propriedade Finca Constancia, onde são plantadas as castas Graciano, sendo
de altíssima qualidade e vindimadas à mão.
É com essa designação de terroir, de especificidades de
terra, de pequenos lotes que faz de um vinho especial, importante e único.
Assim é o Finca Constancia Parcela 12 Single Vineyard. E mais especial ainda é
a Graciano. Viva, plena, intensa, de marcante personalidade, em todos os seus
aspectos. É definitivamente uma experiência sensorial gigante. Um vinho que
marcou e que sempre virá à tona em minhas lembranças! Tem 14% de teor
alcoólico.
Sobre a Finca Constancia:
Finca Constancia faz parte da González Byass ‘Familia de
Vino’, e seu espírito se reflete em uma citação do fundador de González Byass
em 1836: “Não consigo pensar em negócio melhor do que fazer vinho e a ele,
portanto, dedico minha vida. ”
O nome da vinícola é em sua homenagem, pois para ele a
constância era a principal virtude da vida e ele chamou sua primeira adega de
“La Constancia”.
A Finca Constancia foi fundada em Castilla la Mancha, perto
de Toledo, em 2001, e 200 hectares foram selecionados por causa de sua enorme
diversidade de solos e o clima continental seco. As vinhas são plantadas em 79
parcelas distintas, ou parcelas, classificadas de acordo com o tipo de solo e
microclima.
Os vinhedos abrigam uma série de variedades de uvas nativas e
internacionais, incluindo então Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Syrah,
Cabernet Franc, Petit Verdot, Graciano, Garnacha, Verdejo e Sauvignon Blanc.
Cada parcela é plantada com o propósito de melhor adequar a
variedade de uva com as condições e tipo de solo. Ademais são vinificados
separadamente, o que permite a rastreabilidade total e a produção de vinhos de
parcela única. Estes vinhos e a Finca Constancia Seleccion são as referências
da propriedade.
Finca Constancia se dedica ao meio ambiente e por conseguinte
está se convertendo às práticas biodinâmicas. Sendo assim, o trabalho na vinha
é realizado a um ritmo ditado pelos ciclos da lua e pela posição dos planetas.
Apenas material vegetal compostado é usado para nutrir o
solo, culturas de cobertura são plantadas para incorporar mais nitrogênio ao
solo assim como a terra é povoada com fauna local para promover um ecossistema
natural.
Dentro da gama, a marca Altozano é uma homenagem a Toledo,
uma das cidades mais emblemáticas de Espanha, refletindo o imaginário e
símbolos clássicos desta famosa capital. Os vinhos são frescos e baseados em
frutas – uma ótima introdução aos vinhos espanhóis modernos.
Mais informações acesse:
https://fincaconstancia.es/en/
https://www.gonzalezbyass.com/validate
Referências:
“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html
“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
“Wine Fun”: https://winefun.com.br/graciano-mais-que-uma-uva-de-corte/
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