quarta-feira, 7 de junho de 2023

Antodie Viognier 2020

 

Sempre ouvi que os vinhos franceses, para pessoas menos abastadas, como eu, eram de difícil acesso. Sempre ouvi dizer que, por exemplo, os melhores Bordeaux, emblemática região francesa para a produção de vinhos, tinham que custar na faixa dos R$ 200,00!

E com essa afirmação um tanto quanto segmentada eu segui a minha trajetória enófila sem dar muito destaque aos vinhos franceses, temendo comprar aqueles vinhos mais baratos que chegavam em profusão no nosso mercado consumidor.

Fui, confesso, inocente em minha decisão de deixar de lado os franceses por conta dessas declarações segmentadas e exclusivistas, mas, em minha defesa, a desinformação reforçou a minha decisão de desprezar, por um longo tempo, os rótulos franceses.

Mas o tempo ajudou a desmistificar alguns mitos, algumas “máximas intolerantes” que teimam em tornar escuro, com uma neblina, as nossas retinas, as nossas percepções de vinho. Infelizmente o universo do vinho ainda é aristocrático e repleto de visões pré-concebidas.

E com isso, com esses caminhos tortuosos, pelo menos conheci uma região famosa na França que fez com que o sol do esclarecimento iluminasse os nossos caminhos, essa é a região do Languedoc-Roussillon.

Alguns vinhos degustei e gostei por demais! Como uma região pode entregar ótimos e agradáveis vinhos a valores extremamente competitivos? Sim, Languedoc tornou possível degustar bons vinhos franceses a bons preços, valores acessíveis e justos para todos aqueles, independentemente da sua posição social e econômica, que querem imergir no mundo do vinho.

E o vinho que degustei e gostei de hoje, além de ser, claro, do Languedoc-Roussillon, da França, traz alguma novidade para mim, pelo menos, é um branco 100% Viognier. Uma casta que ainda não tenho aquela “litragem”, mas estou ansioso para degustar o Antodie da safra 2020. Mas antes da degustação, vamos de história, vamos de Languedoc-Roussillion e de Viognier.

Languedoc-Roussillon

Languedoc-Roussillon é uma região francesa localizada na costa do país. Ela faz fronteira com a Espanha e é também chamada apenas de Languedoc. Na Idade Média, os povos que ocupavam o território da França atual tinham duas maneiras de dizer "sim": os do Norte diziam "oïl" e os do Sul diziam "oc". Dessa forma, o Norte era conhecido como a terra da Língua do Oïl e, o Sul, a terra da Língua do Oc ("Langue d'Oc"). Esse segundo nome persistiu e o território mediterrâneo entre Perpignan e Montpellier, no sul da França, incluindo Narbonne e Carcassone, é até hoje denominado Languedoc.

Languedoc-Roussillon

Durante séculos essa região ensolarada, voltada em forma de anfiteatro para o Mar Mediterrâneo, dedicou-se à produção de volumes enormes de vinhos de mesa populares e baratos, os quais eram servidos em copos, nos bares, ou em jarras de vidro ("pichés"), nos restaurantes franceses, a preço de banana.

Até recentemente, nos anos 1970 e início dos 1980, o Languedoc ainda produzia, na maior parte, vinhos propostos para o consumo massivo. Do ponto de vista vitivinícola, isso era impulsionado pela facilidade com que a uva Carignan, que não se inclui entre as melhores, é cultivada e amadurece nas planícies quentes do anfiteatro mediterrâneo. Ela ocupava grande área de cultivo e sua utilização não conhecia limites.

O prestígio veio depois, por volta dos anos 1980, quando os produtores elevaram a qualidade, chegando a exemplares de tipos variados, com destaque para tintos frutados e robustos, com excelente relação custo e benefício, o melhor da França.

No entanto, passados mais de trinta anos, poucas regiões vinícolas do mundo são tão excitantes para vinhos tintos robustos e frutados a preços convidativos como o Languedoc. Nesse período, vinicultores pioneiros ajudaram a elevar a qualidade para novos níveis. As uvas Syrah, Grenache e Mourvèdre ocuparam o lugar da Carignan e a procura pela qualidade reduziu a primazia dos vinhos populares.

Um cauteloso processo de subdivisão de Languedoc-Roussillon em terroirs reconhecidamente distintos está em andamento há alguns anos, originando as apelações Clairette du Languedoc, La Clape, Picpoul de Pinet, entre outras. Algumas encontram-se bem estabelecidas, com anos de certificação, outras estão conquistando aos poucos seus espaços perante o mundo do vinho.

As cidades de maior destaque do Languedoc são Nîmes, Montpellier, Sète e Bézier e as do Roussillon são Narbonne, Carcassone, Minervois, Saint-Hilaire e Limoux. Essas duas regiões produzem principalmente vinhos tintos, seguidos dos brancos espumantes, brancos doces, brancos tranquilos secos e rosés.

Tradicionalmente, a Carignan é a uva de destaque, mas atualmente muitas outras têm brilhado. Grenache, Mourvèdre, Syrah, Merlot, Cinsault e Cabernet Sauvignon, entres as tintas. Picpoul, Muscat, Maccabéo, Clairette, Rollet, Bouboulenc, Sauvignon Blanc, Viognier, Marsanne e Chardonnay, entre as brancas.

Por causa da boa adaptação de uma grande diversidade de uvas, há uma produção muito variada por lá. Os tintos Vin de Pays d’Oc são deliciosos e cheios de tipicidade. Os brancos são impressionantes, dos secos aos doces. Sem falar do precioso espumante Crémant de Limoux, de estilo similar ao champanhe.

Com exceção do seu extremo-oeste, que tem alguma influência atlântica, o clima da região é essencialmente mediterrâneo, com chuvas escassas (geralmente caem em temporais localizados) e verões muito quentes. O maior problema para a viticultura é a seca. O Roussillon é a região mais ensolarada da França, com 325 dias de sol no ano e com os ventos quentes que no verão aceleram a maturação das uvas.

O solo da maior parte da região é do tipo aluvial, exceção feita das partes mais ao norte, afastadas do litoral, e mais a oeste, próxima aos Pirineus, onde os vinhedos estão a altitudes maiores e repousam em solos variados como cascalhoso com seixos, xistoso, arenoso e de pedra calcária.

A virada

No período de 1982 a 1993, sub-regiões como Faugères, Minervois e Limoux enquadram-se como Denominação de Origem Controlada. Corbières, o vinhedo mais amplo da França Meridional, corre atrás com tintos apimentados da Grenache.

Como a quantidade - mais que a qualidade - era a premissa para a maioria dos produtores, isso se constituiu em uma virada no mundo dos vinhos franceses. A melhoria começa timidamente com a vinícola Fortant de France, do empreendedor Robert Skalli. Ele desvia-se da tradição local voltando-se para varietais de Cabernet Sauvignon, Viognier e Chardonnay, mas limita-se a enquadrar seus produtos sob a denominação Vin de Pays d'Oc (vinho regional).

Para encontrar os melhores tintos temos que nos voltar para os terrenos mais elevados. Isso significa, principalmente, os Côteaux du Languedoc, que contam, por sua vez, com diversas subregiões na zona de colinas entre a planície costeira e o Maciço Central. Os melhores tintos do Coteaux são cortes com base na Syrah e na Mourvedre. Propriedades emergentes, como os Châteaux la Roque, de Flaugergues e Puydeval despontam internacionalmente e são recomendados nos EUA, em 2003, pela Wine Spectator.

Outras, com nomes pouco divulgados até então como, por exemplo, os Domaines d'Aupilhac, Magellan e St. Martin de la Garrigue recebem tratamento semelhante. Os vinhos de Gerard Bertrand recebem da revista americana pontuações acima de noventa na sua escala de zero a cem.

A descoberta do Languedoc na Califórnia chega a ponto de Robert Mondavi tentar instalar-se com uma vinícola na região na cidade de Aniane. A prefeitura local socialista, entretanto, rechaça essa possibilidade e não autoriza o empreendimento. No local, instala-se a Maison Nicolas.

Futuras gerações

De modo geral, pode-se confiar de forma consistente em que os tintos contemporâneos do Languedoc, Corbières, Coteaux du Languedoc, Fitou etc, são vinhos equilibrados, potentes e que seu frutado não se deixa suplantar por aromas amadeirados. Tendo rompido com o passado, a possibilidade do Languedoc de elaborar vinhos de qualidade ainda mais elevada, reconhecidos internacionalmente, dependerá da dedicação da nova geração de vinhateiros ao se expandir pela diversidade de terroirs da região.

A hedonista Viognier

A Viognier é uma variedade de origem francesa, muito ligada ao Rhône, mas, graças às suas características aromáticas e estruturais, além de ser uma ótima “parceira” de outras castas brancas em blends, espalhou-se por diversas partes do mundo, gerando vinhos excepcionais.

As primeiras menções a ela são de 1781, ligando-a região de Condrieu e também Ampuis, no vale do Rhône, mas uma tese diz que a Viognier foi levada da costa da Dalmácia para a França pelo imperador Probus, e que a variedade veio de Smirnium na Croácia. No entanto, não há evidências históricas de que a casta seja mesmo croata.

Análises de DNA mostram uma relação pai-filho entre Viognier e a casta Mondeuse Blanche e isso a torna uma possível meio-irmão ou até mesmo avó da Syrah, já que elas fazem parte do mesmo grupo ampelográfico, mas especialistas ainda não descobriram a ordem exata dos fatores.

Viognier

A origem do seu nome ainda é um mistério, mas teoricamente derivaria do francês viorne, do gênero botânico “viburnum”, que remete a flores brancas, possivelmente ligado às características aromáticas.

Há cerca de 50 anos, a Viognier estava restrita a poucos lugares, encontrada em cerca de 10 hectares em Condrieu e no Château Grillet somente, e hoje é um fenômeno mundial. A casta é tradicionalmente cultivada em solos mais ácidos, mas também se adapta a regiões mais quentes, por isso tem sido plantada em vários locais do mundo, da Califórnia, ao Uruguai, passando por Austrália, Nova Zelândia, Chile, Alemanha etc.

A Viognier é para quem gosta de parar e sentir o cheiro das flores. Os vinhos variam de sabor, desde mais leves como frutas amarelas, em especial tangerina, manga e pêssegos até aromas mais cremosos de baunilha com especiarias de noz-moscada e cravo-da-índia. Dependendo do produtor e de como o vinho é feito, ele varia em intensidade, de leve e quente com um toque de amargor a ousado e cremoso.

No paladar, os vinhos são geralmente secos, embora alguns produtores façam um estilo levemente doce que embeleze os aromas de pêssego da Viognier. Os estilos mais secos aparecem menos frutados no palato e produzem amargura sutil, quase como se triturássemos uma pétala de rosa fresca. No geral, os vinhos desta casta encontram seu melhor momento depois de 2 ou 3 anos, quando alcançam um estado mais opulento e exótico.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo tendendo para o dourado, muito brilhante, com algumas lágrimas finas, que logo se dissipa.

No nariz é surpreendentemente aromático e fresco trazendo, em primeiro plano, aromas de frutas de polpa branca e tropicais com destaque para pera, abacaxi, melão, maracujá, lima e pêssego, com uma agradável mineralidade e grama cortada, algo de herbáceo.

Na boca traz notas deliciosas de aspecto seco, com muito frescor, mas com uma incrível estrutura, personalidade, um bom volume, cheio, com alguma untuosidade, mostrando equilíbrio entre corpo e frescor. As frutas entregam protagonismo e leveza, com bela citricidade residual, com uma acidez cativante, vibrante, que saliva, com final persistente.

Languedoc-Roussillon não entrega apenas tipicidade, qualidade e valores justos, acessíveis aos mais variados bolsos, mas traz uma alternativa para que todos indistintamente degustem vinhos franceses a bons preços e de qualidade atestada. E ainda me possibilitou novas experiências com a excelente casta Viognier com toda a sua exuberância aromática e complexidade no paladar. Que venham mais e mais! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vignobles & Compagnie:

Em 1963, graças ao espírito de federação dos viticultores, liderado por Paul Blisson, que deu origem a vinícola, originada a promover vinhos da região do Gard, do Vale de Rhône. A adega, um edifício original inspirado pelo brasileiro Oscar Niemeyer, estava e ainda está localizada em um ponto estratégico de Gard.

A família Merlout investe na organização, isso em 1969. À frente da empresa estava uma mulher, Miss Noble, um fato ousado para a época. Em 1972 a vinícola entra em uma nova era graças a modernização do local e ao grande crescimento econômico também.

Em 1990 o Grupo Taillan assumiu todas as atividades da vinícola, dando início a uma parceria importante com vários produtores locais, trazendo o conceito de regionalismo aos seus rótulos.

Mais informações acesse:

https://vignoblescompagnie.com/en/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/languedoc-roussillon

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=FR14

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/o-vinho-de-languedoc_8053.html

“Revista Sociedade da Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2021/10/languedoc-roussillon/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/262-uva-viognier-a-uva-hedonista

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/branca-do-rhone-curiosidades-sobre-casta-viognier_13425.html

 

 

 

 

 

 

 


 




terça-feira, 6 de junho de 2023

Cataregia Crianza 2018

 

E eu continuo, ferozmente, avidamente, nas minhas novas e excitantes experiências com o que há de mais intenso e complexo no universo dos vinhos e o que ele, claro, pode nos proporcionar. Eu confesso que, ao longo desse período, estou me divertindo muito e além do prazer da degustação que é, obviamente, o principal. Tenho imergido fundo nas histórias, no intenso processo de pesquisa. A história é viva e pulsa!

Eu estou, a cada dia, descobrindo a Espanha, claro, por intermédio dos seus mais importantes e emblemáticos rótulos. Essa mesma Espanha que, há alguns anos atrás, tinha dificuldade de trafegar, por conta da baixa oferta que eu tinha, além dos valores altos que eram praticados para a compra.

Talvez o meu leque de opções fosse pequeno, mas o fato que, há cerca de 10 anos, aproximadamente, não tínhamos tantas opções de e-commerce e a consequente competitividade entre elas, ocasionando a baixa de alguns vinhos.

O panorama é outro e favorável! Temos, não só uma boa variedade, como várias camadas de propostas de vinhos, que me deu o luxo, inclusive, de escolher algumas características e me aprofundar nelas, é o caso dos crianzas, reservas e gran reservas espanhóis, tão famosos por serem tão criteriosos e carregarem tais “títulos” com uma real razão de ser.

A Espanha é o terceiro maior produtor de vinhos do mundo, ficando atrás apenas da França e dos Estados Unidos. Com uma tradição tão expressiva na viticultura, o país conta com uma rígida legislação na classificação de seus vinhos.

E hoje a degustação será de um crianza da região de Terra Alta. Essa será a minha terceira experiência com vinhos dessa região. Região esta que serviu de paisagem e inspiração para um dos melhores pintores da história, Pablo Picasso.

E além de conhecer e desbravar novas regiões de uma Espanha tão diversificada no que tange aos seus terroirs vale saber também o conceito de “crianza” que ainda gera equívocos quanto ao seu conceito.

A palavra “crianza” em espanhol significa criação, não tendo nada a ver com “criança” em português. Segundo a legislação da Espanha, para serem classificados como Vinhos Crianza, os vinhos tintos devem envelhecer por um período mínimo de 24 meses, sendo de 6 a 12 meses em barris de carvalho e o restante na garrafa. Já os vinhos brancos e rosés devem envelhecer por um período mínimo de dezoito meses, sendo 6 meses em barris de carvalho e o restante na garrafa.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio da região de Terra Alta DO, que fica na cidade espanhola da Catalunha e se chama Cataregia, um crianza com o corte das castas Cabernet Sauvignon e Garnacha, da safra 2018. Então para variar vamos de história, vamos de Catalunha e Terra Alta!

Catalunha

A região da Catalunha, no norte da Espanha, é a área vinícola com maior número de DOs (Denominação de Origem) do país e que foi formalmente reconhecida em 1999 e também para salvaguardar a tradição de produção de vinho na Catalunha, tão importante há mais de 2.000 anos. Foi criada também com o propósito específico de fornecer suporte comercial para mais de 200 vinícolas (bodegas), mas que não foram incluídos em outros DOP's específicos na Catalunha.

Entre as mais importantes encontram-se Costers del Segre, Montsant e Penedès, além da reputada DOC Priorato, a segunda mais reconhecida na Espanha. Não tem uma localização geográfica específica, mas é formado por mais de 40 km² de vinhedos individuais que estão dispersos por toda a Catalunha e permite a mistura de uvas de outros DOPs, ou seja, cerca de 4.000 hectares de vinha distribuídos por toda a região. De um modo geral, um clima mediterrâneo domina com muitas horas de sol, mas sem calor excessivo.

Lar do famoso espumante espanhol Cava, a região da Catalunha possui solos chamados de 'licorella' e apresenta um baixo índice pluviométrico, fazendo com que as videiras apresentem baixa produtividade e as uvas tornem-se muito concentradas. Mais precisamente em Penedès Central, na região espanhola de Sant Saurndí d’Anoia, que ocorre a elaboração do Cava, produzido pelo método tradicional com, no mínimo, nove meses de contato com as leveduras. Diferentes uvas podem integrar a composição do vinho Cava, classificando os exemplares entre os estilos branco ou rosado, que também variam em nível de doçura.

Apesar de utilizarem-se métodos de produção similares, o sabor encontrado no Cava é diferente do Champagne, principalmente pela distinção das uvas utilizadas: enquanto um é produzido a partir das uvas Pinot Meunier, Chardonnay e Pinot Noir, o Cava é elaborado com as castas Parellada, Macabeo e Xarel-lo.

Já a região do Priorato é conhecida por ter recebido o título máximo de denominação espanhola, elaborando vinhos com castas autóctones cultivadas na Catalunha. Outra região vinícola importante é Montsant, lar de alguns dos melhores e mais renomados produtores da Espanha e a denominação de origem mais nova da Catalunha, regulamentada somente em 2001.

Catalunha

Porém também abrange vinhos brancos, rosés e tintos, bem como licorosos tradicionais, mistela, vinhos maduros e doces naturais. Em geral, os vinhos são modernos e inovadores, com uma cor atraente, intensidade aromática média e acidez moderada.

Os brancos são leves e frutados e os tintos são encorpados e equilibrados. Todos estes vinhos podem ser descobertos e experimentados durante a “Mostra de Vinhos i Caves de Cataluña” que acontece em Barcelona em meados de setembro.

Muitos dos vinhos com a Denominação de Origem da Catalunha são encontrados perto de mosteiros que remontam à Idade Média, como os de Montserrat, Santes Creus, Poblet ou Sant Pere de Rodes. Isso se deve ao fato de que em muitos casos os monges eram aqueles que tinham autorizações régias para produzir vinho. Da mesma forma, os vinhos com esta designação podem ser descobertos visitando as caves onde foram produzidos.

Terra Alta

A Denominação de Origem (DO) Terra Alta está localizada no interior, a sudoeste de Tarragona, delimitada por montanhas e pelo rio Ebro. A altitude varia entre 350 e 500 metros.

É formada por novas vinícolas e cooperativas estabelecidas há bastante tempo que cultivam uvas nativas e importadas. Existe um investimento considerável em nova tecnologia. Essa DO consiste em 12 municípios localizados no oeste da Província de Tarragona.

Terra Alta

Como o nome da área indica, está situada numa encosta de grande beleza, usado por Picasso em suas obras quando passava os verões nessa região.

Devido ao seu isolamento geográfico, essa área primeiramente produzia vinho somente para o mercado interno, que continua a preservar o método tradicional de produção de vinho.

Ao mesmo tempo, pequenas vinícolas privadas e grandes cooperativas estão também produzindo excelentes vinhos tintos com características do Mediterrâneo. Seu clima é mediterrâneo com influências continentais.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi intenso, quase escuro com reflexos granada, lágrimas finas, lentas, intensas e coloridas.

No nariz se mostra muito agradável, com aromas de frutas vermelhas maduras e com algum frescor, com notas discretas do carvalho, devido aos seis meses de passagem por barricas, com toques de baunilha, algo de couro, especiarias, diria pimentão, herbáceo.

Na boca é muito interessante o equilíbrio entre a Cabernet Sauvignon e a Garnacha, mostrando um pouco a característica de cada cepa, com a fruta vermelha madura também protagonizando, sendo de leve a médio corpo, com bom volume de boca, discreta madeira, baunilha, leve tosta, taninos presentes, mas domados, boa acidez, com final de razoável persistência, com leve dulçor.

Um belo vinho, um blend arrebatador das castas gulosas, carnudas, de caráter frutado e estruturado mostrando todo o caráter do terroir local. E falando em tipicidade a Vinícola Reserva de la Tierra possui um lindo projeto de nome “produção partilhada” conhecida como “Winemakers e Winelovers” e consiste na participação dos enófilos que escolhem as diferentes opções de parcelas que estão sendo vinificadas, sendo engarrafados os vinhos escolhidos pelos “Winelovers”. Fantástica iniciativa que alia algo arrojado que é o terroir, o respeito a terra e suas particularidades e os anseios dos enófilos em escolher, querer degustar vinhos que lhe apetecem. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Reserva de la Tierra:

A Reserva de la Tierra faz parte deste maravilhoso mundo do vinho há mais de 60 anos. Os primeiros passos foram dados em San Rafael, província de Mendoza, na República Argentina. Foi naquelas terras tão distantes, e ao mesmo tempo tão caras aos emigrantes espanhóis, que os primeiros vinhos foram feitos com muito entusiasmo, tenacidade e muito esforço.

Anos depois, já com uma grande experiência acumulada, o Grupo fixou-se em Espanha, atrás de um novo sonho. Daquele momento até hoje, o Reserva de la Tierra não parou um momento de trabalhar, da tradição à inovação em cada uma das iniciativas do Grupo.

Hoje a empresa é admirada e respeitada em todo o mundo por sua constante adaptação às mudanças, sua visão inovadora e seu respeito por trabalhar em harmonia com o meio ambiente. Menção especial deve ser feita aos valores em relação às pessoas que fazem parte desta grande família. A honestidade é especialmente valorizada e acima de tudo a atitude empreendedora.

Com paixão, esforço e dedicação constante, Reserva de la Tierra vem cumprindo todas as expectativas. As vinhas, as adegas, os vinhos, nada mais são do que sonhos realizados.

“Winemakers e Winelovers” – conceito e filosofia

Na Reserva de la Tierra há uma visão diferente do mundo do vinho, partilhada, mais social e mais próxima de todos.

Para Reserva de la Tierra cada vinho é concebido com paixão como a união entre dois mundos: Enólogos e Enólogos. Cria-se vinhos com pessoas, abraçando uma filosofia de trabalho ao mesmo nível que se distingue dos restantes.

Os enólogos selecionam as melhores cepas e terroirs para fazer os vinhos mais especiais. Mas o mais importante é que grupos muito variados de apreciadores de vinho participem desse processo, degustando diferentes opções de variedades. Após este processo, engarrafa-se apenas o vinho selecionado pelos Winelovers, conseguindo assim vinhos com uma identidade única.

Mais informações acessem:

https://www.reservadelatierra.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/catalunha

“Catalunya.com”: https://www.catalunya.com/do-catalunya-23-1-43?language=en

“Wikipedia”: https://en.wikipedia.org/wiki/Catalunya_(DO)

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/regioes-117-Terra-Alta

“Wine”: https://www.wine.com.br/vinhos/dardines-reserva-d-o-terra-alta-2015/prod27301.html

 

 

 

 

 






sábado, 3 de junho de 2023

Somewhere Else Tannat 2018

 

Quando mencionamos a emblemática casta Tannat lembramos imediatamente do Uruguai, é fato! O que surpreende, pelo menos para mim, é que país com dimensões territoriais tão modestas consegue produzir tantos rótulos com uma infinidade de propostas e características.

Mas a casta é de origem francesa, da região de Madiran, que está localizada no sul da cidade de Bordeaux, na direção dos Pirineus Atlânticos. Produzem vinhos tintos poderosos e de longo potencial de guarda, baseados, claro, na Tannat.

Mas foi o Uruguai que repercutiu a casta e tudo começou graças a Pascoal Harriague quando as levou para o país sul americano e que atualmente se tornou um símbolo da vinicultura daquele país.

Porém dessa vez não degustarei um tradicional e emblemático Tannat uruguaio, mas um de terras argentinas que, para mim, será uma novidade. E melhor: não será da já manjada região de Mendoza, tida como a maior e melhor região produtora dos nossos “Hermanos” argentinos, mas de outra que é, pelo menos por enquanto, pouco conhecido e pouco consumido entre os brasileiros. Falo do Valle de Tulum, em San Juan.

Dupla novidade! O meu primeiro Tannat argentino e um rótulo do Valle de Tulum, em San Juan. Na realidade San Juan não é necessariamente uma novidade para mim, afinal degustei um espumante da região que definitivamente me arrebatou à época, da Família Putruele, o Putruele Extra Brut 2018. Um espumante fresco, leve, com alguma untuosidade, pois estagiou sob as suas borras finas, o famoso “sur lie”.

Depois dessa experiência maravilhosa eu não consegui mais degustar nenhum rótulo dessa região argentina, passou mais do que na hora de repetir esse momento especial. E surgiu esse Tannat com um valor mais do que competitivo em um famoso site de vendas de vinhos na internet.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio, como disse do Valle de Tulum, em San Juan, na Argentina e se chama Somewhere Else Vineyards da casta Tannat e a safra é 2018. E para não perder o costume vamos de história, um pouco sobre o Valle de Tulum, um pouco sobre San Juan.

San Juan

Com uma população de mais de 600.000 habitantes e uma superfície de 89.651 km, a economia sanjuanina tem caráter eminentemente agrícola, eis que depende da presença de verdadeiros oásis ao pé da montanha, regada de rios e junto aos quais se concentra toda a população.

A viticultura é a atividade agrícola mais importante dessa região, eis que os vinhedos estão localizados em diversos vales irrigados pelos rios Jáchal e San Juan. É a segunda província argentina em produção e suas zonas vinícolas mais importantes são: Valle de Tulum, Valle de Ullum-Zonda, Valle de Calingasta e Valle El Pedernal.

San Juan

A área de produção de vinho mais importante é o Vale de Tulum, cujo clima seco e temperado é ideal para o cultivo e produção de variedades como Syrah, Cabernet-Franc, Chardonay ou Cabernet Franc. A isto junta-se a produção de uvas frescas, passas e mosto (sumo de uva concentrado) que chega a todo o país e também para o mercado externo.

O Vale de Tulum tem um desenvolvimento vitivinícola muito importante que continua a crescer e melhorar. Neste oásis os extensos vinhedos perfumam o lugar e as antigas bodegas guardam os segredos de uma longa tradição de bons vinhos que são apreciados tanto pelos locais como por quem vem conhecer a província e seus encantos.

A Região de San Juan é considerada o oásis na terra dos vizinhos argentinos, graças à produção farta e diferenciada. A região vitivinícola da Província de San Juan despontou recentemente (em relação a outras regiões) no mercado Argentino. Isso porque segue produzindo exemplares ímpares, que carregam em seus sabores e aromas. Seus vinhos surgem de um relevo montanhoso e de grande altitude, além das ricas condições climáticas da região.

O Valle de San Juan localiza-se nos arredores da província de Mendoza, e sua capital homônima dista 1.255 km da capital argentina. Seus vinhedos estão estampados ao longo de quase 90.000 quilômetros, alcançando altitudes acima de 600 metros. Porém os vinhedos estão a diferentes altitudes, podendo ir desde 600 metros (próximo ao Vale de Tulum) até os 1.400 metros no que se estende ao Vale de Pedernal.

A “Rota do Vinho” é uma das propostas turísticas oferecidas pela província e que convida a explorar os vales sanjuaninos em uma viagem que tem como fio condutor, claro, o vinho. Assim, os visitantes poderão desfrutar, além da região de Tulum, do Valle Fértil, Calingasta, Ullum-Zonda e Pedernal. Esta rota é uma forma de se aproximar dos vinhedos de San Juan para aprender como se cultiva a videira, as diferentes etapas de produção e, finalmente, degustar vinhos requintados diante de uma paisagem única.

As Principais cepas brancas cultivadas na região são: Chardonnay, Viognier, Torrontés Sanjuanino e Pinot Gris, conhecida como Pinot Grigio. Já as cepas tintas são: Syrah, Cabernet Sauvignon, Bonarda, Cabernet Franc e Tannat. Nos últimos anos, essa província de um salto qualitativo principalmente na produção das uvas tintas. A aparição de algumas cepas com plena adaptação ao terroir local marca esse salto. Syrah, Cabernet Franc e Bonarda entregam bons varietais. Existe em San Juan um corte típico da Austrália: Cabernet Sauvignon e Syrah. Nos brancos, o destaque fica por conta da Viognier.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi, um vermelho púrpura intenso, escuro, fechado, com boa viscosidade, que faz com que as lágrimas finas, lentas e em profusão, manchem as bordas do copo.

No nariz oferecem aromas de frutas vermelhas e pretas, com notas amadeiradas presentes, mas que se mantém em plena convergência com a fruta, mostrando-se equilibrado, entregando baunilha, carvalho, leve tosta, café torrado, especiarias, algo de pimenta e ervas.

Na boca surpreende pelo frescor extremamente agradável que se difere do peso dos Tannats uruguaios, por exemplo, mas que revela as características marcantes da cepa, sendo estruturado, de marcante personalidade, com as notas frutadas protagonizando, bem como o toque generoso do carvalho, graças aos oito meses de passagem por barricas de carvalho, dando-lhe a baunilha, o chocolate, o tostado. Tem taninos presentes, mas domados, boa acidez e um final longo, cheio e amadeirado.

Uma celebração à altura, em grande estilo! Um Tannat cuja acidez e taninos estão perfeitamente lapidados, redondos, elegantes e em perfeito equilíbrio, entregando um vinho potente, estruturado, como todo bom Tannat, mas extremamente elegante, harmonioso e vivaz. Não podemos deixar passar a beleza e a descontração do rótulo que carrega o cerne do nome da vinícola, “Somewhere Else” que, em tradução livre significa: “Em outro lugar”, onde vaquinhas são abduzidas por OVNIs ou melhor discos voadores. Um conceito maravilhoso entre terroir, vinho e estética faz desse rótulo especial. Tem 14 % de teor alcoólico.

Sobre a Somewhere Else Vineyards:

A vinícola está localizada no Valle de Tullum, em um edifício tradicional da década de 1950 que foi restaurado em 2002. Os idealizadores buscaram, com a concepção da vinícola, um espírito inovador constante, unindo tecnologia com intuição e conhecimento para alcançar a melhor expressão do terroir de San Juan, abraçando a sustentabilidade e um cuidado constante de Nosso ambiente.

Liderada por Alejandro e Guillermo, a equipe está absolutamente focada em moldar e permitir a expressão material da personalidade única de cada um dos rótulos que formam o portfólio da Somewhere Else Vineyards.

Prensam uvas selecionadas e fermentam em cubas de inox com câmara de resfriamento, tanques de concreto com revestimento epóxi e barricas, que permitem elaborar diversos estilos de vinhos de um mesmo varietal para conferir complexidade e identidade própria a cada linha de seus vinhos. Investem em tecnologia de ponta que garante a qualidade permitindo atender às exigências de exportação.

A filosofia da Somewhere Else é valorizar e orgulhar-se do seu terroir, dedicando-se a fazer vinhos que enfatizem as características do estilo e também da Somewhere Else Vineyards: pureza da fruta, frescura, intensidade, elegância, equilíbrio e expressão máxima da vinha –terroir– de onde vêm as uvas.

Na Somewhere Else Vineyards é enfatizada a máxima expressão das regiões de onde vêm as uvas. Os vinhos combinam a complexidade de cada vinhedo com a pureza da fruta. Atualmente a vinícola produz cerca de 5.000.000 de litros de vinho por ano.

Mais informações acesse:

https://somewhere.com.ar/

Referências:

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/233-a-regiao-de-san-juan-um-oasis-argentino

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2011/11/18/o-vale-de-san-juan-argentina/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/233-a-regiao-de-san-juan-um-oasis-argentino

“Caminos Culturales”: https://www.caminosculturales.com.ar/el-valle-de-tulum-una-region-de-san-juan-que-se-destaca-por-sus-vinedos-y-bodegas/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=MADIRAN

 

 

 

 

  





segunda-feira, 29 de maio de 2023

Trifula Barbera 2021

 

Quando nos lembramos da Itália imediatamente associamos aos clássicos! Aqueles rótulos com sisudez, austeridade, aqueles vinhos carnudos, opulentos, encorpados, de longevidade, de potência mesmo.

Rótulos aristocráticos, com brasões, mostrando tradição, história e até mesmo luxo e poder. Mas não se enganem que a Itália tem produzido alguns rótulos mais descontraídos, com uma abordagem estética descontraída, bem como também na concepção do seu vinho.

Se para alguns e diria muitos sejam vinhos simplórios e ordinários, uma versão “bonitinha” e solar para vinhos ruins, enganam-se retumbantemente. São vinhos simples, mas sem depreciar, porque essa é a proposta: de vinhos jovens, frutados, frescos e descomplicados.

É também uma proposta os vinhos austeros, encorpados, complexos. O que não se pode pensar e disseminar uma cultura intolerante contra as propostas dos vinhos, fazendo incutir na mente das pessoas a sua torta percepção.

E hoje a Itália que se descortina em minhas retinas será descontraída, solar, com frescor, vivacidade e muito leve, na sua versão estética e do vinho propriamente dito. É com alegria e satisfação que anuncio o vinho que degustei e gostei que veio do Piemonte e se chama Trifula, um 100% Barbera da safra 2021.

Mas o que significa “Trifula”?

 Trifula é um cão sagaz que vive neste terroir inspirador. Trifula raramente experimenta algo especial, até que um belo dia descobre uma legítima trufa branca enterrada na sua árvore favorita, em Alba.

A trufa é vendida por um milhão de dólares na famosa Feira Internacional de Trufas da região, tornando Trifula mundialmente conhecido e digno de receber uma homenagem em rótulos que inspiram sua história e trazem a leveza e descontração encontrada nos vinhos.

E na sequência de histórias vamos agora com a tradição do Piemonte e a casta mais popular do Piemonte, a “uva do povo”, Barbera.

Piemonte: a filha pródiga dos vinhos italianos

A região do Piemonte disputa com Toscana a primazia de produzir os melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da Itália, fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início à produção de vinhos.

Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do norte da Europa.

A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou ao clarete, que era a moda na Europa de então.

Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha. plantada de vinhedos.


Piemonte

Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram cerca de 26% de terras planas.

Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara, dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos aluviais.

O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo, vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália), Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas francesas, como a Cabernet Sauvignon.

As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG (Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D' Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di Origine Controllata) e vários Vini da Tavola de boa qualidade.

As sub-regiões do Piemonte

As sub-regiões do Piemonte diferem bastante entre si e possuem muitas DOC. São elas:

Monferrato

É uma vasta região de colinas, que pode ser dividida em duas partes bem diferentes:

Basso Monferrato - (Raciocinar ao inverso) é a parte mais setentrional e de maiores altitudes, com a base pelos 350m e os picos em 700m, um território muito apropriado para os vinhedos. Aqui predominam a Barbera e a Grignolino, em vinhos macios e fáceis de beber se comparados aos demais tintos piemonteses. Em Chieri se produz um Freisa DOC.

DOC: Albugnano, Cisterna d´Asti, Colline Torinesi, Dolcetto d`Asti , Freisa di Chieri, Gabiano, Grignolino d`Asti, Grignolino del Monferrato, Malvasia di Casorzo d`Asti, Malvasia di Castelnuovo Don Bosco, Monferrato, Rubino di Cantavenna , Ruché di Castagnole Monferrato

DOCG: Barbera d`Asti, Barbera del Monferrato,

Alto Monferrato - Ainda raciocinando invertido, aqui estão altitudes menores, e curiosamente o terreno é mais acidentado, com encostas mais íngremes e vales mais profundos. Esta conformação estranha tem seu efeito na viticultura, inicialmente pelo plantio de Barbera e Moscato, seguido das uvas autóctones como a Cortese, que aqui tem sua melhor expressão, na DOCG Gavi. Em seguida vem a Dolcetto, com ótimos resultados no entorno de Acqui e Ovada ambas DOCs. A terceira menção é a Brachetto, muito difundida no passado, mas hoje restrita a 50 hectares em Strevi. O Alto Monferrato costuma ser dividido em Monferrato Casalese e Monferrato Astigiano, por suas diferenças de território.

DOC: Dolcetto d`Acqui, Cortese Dell`Alto Monferrato, Dolcetto d`Alba, Loazzolo,

DOCG: Asti, Bracchetto d`Acqui (Acqui), Moscato d’Asti, Gavi (Cortese di Gavi).

Langhe

Tem seu principal centro vitícola em Alba, mas a fama mundial desta província veio de dois centros menores, Barolo e Barbaresco. É neste local que a Nebbiolo, já qualificada em outras sub-regiões, se exprime ao nível mais alto, nestes ícones italianos. Aqui também se produzem os qualificados Moscato d’Asti, os ótimos Nebbiolo, o Barbera d’Alba e quatro Dolcettos, sendo o melhor o Dogliani. Para acolher os vinhos menos portentosos, mas muito bons, existe a DOC Langhe.

DOC: Barbera d`Alba, Dolcetto delle Langhe Monregalesi, Dolcetto di Dogliani, Dolcetto di Ovada, Dolcetto delle Langhe Monregalesi, Langhe, Nebbiolo d`Alba, Verduno Pelaverga (Verduno),

DOCG: Barbaresco, Barolo, Dolcetto delle Langhe Superiore, Dolcetto di Diano d`Alba (Diano d’Alba), Dolcetto di Ovada Superiore (Ovada)

Roero

É um distrito situado na margem oposta a Alba, tendo como centros Bra e Canale. Aqui também se planta Nebbiolo, mas as brancas Arneis e Favorita, que no passado eram usadas em cortes, hoje produzem ótimos varietais.

DOC: Roero e Roero Arneis

Colline Astigniame

Compreendem uma área de vinicultura de grande interesse, situadas entre Canelli e Nizza, onde se produzem Moscato d`Asti e Barbera d`Asti. Aqui se diz ter sido inventado o espumante, há mais de um século e que tem aqui seu maior centro produtivo.

Colli Tortonesi

Estão entre o Alto Monferrato e o Pavese e possuem características ambientais e culturais típicas do Piemonte. As variedades principais são a Barbera eCortese, mas têm-se trabalhado outras uvas. Recentemente foi descoberta a variedade branca Timorasso.

DOC: Colli Tortonese

Colli Saluzzesi

Engloba 9 comunidades em Cuneo nas colinas suaves vale do rio Po. Aqui se cultivam Barbera e Nebbiolo, e também as variedades Pelaverga e Quagliano, das quais se produzem varietais.

DOC: Colline Saluzzesi, Pinerolese

Cavanese

Está na região a nordeste de Torino, com duas regiões vinícolas de importância:

A primeira está centrada no município de Caluso, se estendendo até as colinas de Ivrea. Aqui predomina a variedade autóctone branca Erbaluce, que produz um vinho passito tradicional e um branco delicado.

A segunda é a zona de Carema, com vinhedos em terraços com muros de pedra e pérgolas, cultivando a Nebbiolo.

DOC: Erbaluce di Caluso, Caluso Passito, Cavanese, Carema

Colli Novaresi e Colli Vercellosi

Estão situadas a noroeste, perto do lago Maggiore, nas províncias de Biella, Novara e Vercelli, abrigando diversas DOCs, algumas de alto nível. A mais prestigiada é o Gattinara, tinto famoso desde a corte de Carlos V, que hoje foi elevada a DOCG, e também a DOC Ghemme.

DOC: Boca, Bramaterra , Colline Novaresi, Coste della Sesia, Fara, Lessona, Sizzano,

DOCG: Gattinara, Ghemme

DOs Piemonte


Barbera, o “vinho do povo”.

Uma das maiores uvas italianas, ficando atrás apenas da Sangiovese, a uva Barbera, conhecida anteriormente por produzir vinhos de menor qualidade, hoje é responsável por vinhos nobres e notáveis. Esta casta passou, pelos últimos anos, uma verdadeira história de superação. Trata-se da uva que é responsável pelo vinho que os piemonteses consomem no dia a dia, daí o nome que foi concedido pelas pessoas da região: “o vinho do povo”.

Acredita-se que a uva Barbera tem origem nas montanhas de Monferrato, na região central de Piemonte, na Itália. Alguns documentos, datados entre 1246 e 1277, encontrados na Catedral da Casale Monferrato, detalham acordos relacionados a vinhedos plantados com “de bonis vitibus barbexinis”, a uva Barbera.

Contudo, um ampelógrafo chamado Pierre Viala especula que ela se originou em Oltrepò Pavese, na região da Lombardia. Nos séculos 19 e 20, ondas de imigrantes italianos trouxeram esta cepa para a Califórnia, Argentina e outros lugares nas Américas. Em 1985, um evento trágico relacionado à uva Barbera envolveu produtores adicionando ilegalmente metanol aos vinhos.

Esta ação causou declínio no plantio e vendas da uva. Isto levou a Montepulciano tomar o posto da uva Barbera no meio da década de 90. Anteriormente considerada uva de vinhos inferiores, até o escândalo de Relações Públicas nas décadas de 80 e 90, a uva Barbera tomou um rumo de superação muito interessante.

Frutado, ele tem gosto de cerejas, morangos e framboesas. Quando jovem, o vinho Barbera pode ter aroma de mirtilos também. Com pouco tanino e alta acidez natural, a uva Barbera é uma boa pedida para harmonizar vinhos com alimentos ricos e reconfortantes, como queijos, carnes e cogumelos.

Além de Piemonte, a uva Barbera é cultivada em outras regiões da Itália, como Campania, Emilia-Romagna, Puglia, Sardenha e Sicília, somando 52.600 acres de plantação. O vinho Pomorosso 2008, do produtor Coppo, é famoso por transformar a Barbera em uma casta nobre - elegante, também é reconhecido como um dos melhores tintos italianos.

Fora do país, a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos e até mesmo o Brasil são outros produtores conhecidos de vinhos de qualidade com a Barbera. Em regiões quentes, como a Califórnia, nos EUA, destacam-se toques de ameixa, além do sabor frutado de cereja.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi intenso, com brilho, reluzente, com halos violáceos e lágrimas finas, em profusão, mais rápidas.

No nariz traz aromas agradáveis de frutas vermelhas frescas, com destaque para framboesa, groselha e morangos, com nuances florais e um toque especiado, algo como ervas, um toque herbáceo.

Na boca é leve, fresco, saboroso, jovem, com as notas frutadas replicadas como no aspecto olfativo, com taninos amáveis, dóceis e domados, com uma acidez média que corrobora o seu frescor e leveza. Tem um final de média persistência e de retrogosto frutado.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi intenso, com brilho, reluzente, com halos violáceos e lágrimas finas, em profusão, mais rápidas.

No nariz traz aromas agradáveis de frutas vermelhas frescas, com destaque para framboesa, groselha e morangos, com nuances florais e um toque especiado, algo como ervas, um toque herbáceo.

Na boca é leve, fresco, saboroso, jovem, com as notas frutadas replicadas como no aspecto olfativo, com taninos amáveis, dóceis e domados, com uma acidez média que corrobora o seu frescor e leveza. Tem um final de média persistência e de retrogosto frutado.

Um Barbera super gastronômico, com notas de frutas vermelhas frescas, nuances florais e algum toque especiado, além da acidez vivaz que dá vida a vinhos frescos e saborosos. O estágio em tanques de aço inox contribui para preservar as características primárias de aromas e sabores, que encantam no primeiro gole! E viva a leveza! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Mondo del Vino:

A Mondo del Vino possui vinícolas de última geração mostrando seu compromisso dinâmico com a inovação e a sustentabilidade. Seu objetivo é oferecer aos enófilos um ótimo produto, mas também seguro e justo. Uma forma de fazer isso é medir o impacto ambiental de seus processos e produtos, bem como a conscientização sobre o impacto de sua produção.

Desde 2016, a MDV começou a pesar e medir seu impacto ambiental com a Avaliação do Ciclo de Vida (ISO 14040-44:2006) adotando o que a Comissão da UE promove: a Pegada Ambiental da Organização (OEF) e a Pegada Ambiental do Produto (PEF). Ao fazer isso, estão na vanguarda da análise de desempenho ambiental, com base em uma ferramenta científica, sendo a primeira vinícola da Europa a adotar a política ecológica da UE.

Combina solidez produtiva, paixão pelas pessoas e responsabilidade pelos ecossistemas, buscando ser, no mundo, um ponto de referência da cultura e excelência do vinho italiano, dando sua contribuição tangível à sua história milenar, para que a Itália se torne o primeiro produtor no mundo por volumes e, sobretudo por valores.

Mais informações acesse:

https://www.mondodelvino.com/en/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=PIEMONTE

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/piemonte-grandiosa-regiao-italiana_8360.html

“Vem da Uva”: https://www.vemdauva.com.br/vinho-barbera-conheca-suas-caracteristicas/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/256-uva-barbera-conheca-o-vinho-do-povo

“Blog Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/uva-barbera-mais-plantadas-na-italia

 

 

 

 

 

 

 

 




domingo, 28 de maio de 2023

Valtier Reserva Tempranillo e Bobal 2015

 

Será que um raio cai duas vezes no mesmo lugar? O que é bom merece bis? Por que estou trazendo à tona esses ditados populares? Tanta pergunta que merece a resposta que até me parece simples: Sim, degustarei um rótulo a qual já tive uma agradável e especial experiência e que irei repetir.

Mas terá uma diferença: a safra. A Colheita será diferente! O que estará guardado para mim? O mais do mesmo? Terei novidades nesta safra? Será esta a melhor que a anterior que degustei? Será? Será? Perguntas que podem gerar alguma tensão, mas que na realidade só aguça ainda mais a curiosidade em degustar a “nova versão” desse rótulo que vem ganhando alguma fama.

Sim, fama! Certamente a linha “Valtier” é um dos rótulos mais vendidos de um conhecido e-commerce de venda de vinhos do Brasil, principalmente pelo seu atraente custo X benefício imbatível.

Apesar da popularidade do rótulo a região de onde este vinho veio ainda é pouco conhecida entre nós, brasileiros enófilos, arriscaria dizer que não está sequer entre as regiões mais famosas da Espanha.

Utiel-Requena, apesar de seus registros históricos antigos de produção de vinhos sempre produziu seus rótulos para consumo apenas na região, não desbravando o mundo, outros mercados consumidores, tendo apenas essa “aventura” de uns poucos anos para cá.

O Brasil está na rota e atualmente se encontra com alguma facilidade, principalmente graças a este famoso e-commerce, alguns rótulos de Utiel-Requena, dos mais simples até os mais complexos, como, diria, a linha “Valtier”.

A região se orgulha de cultivar a sua casta mais famosa, a Bobal que, definitivamente caiu nas minhas graças e a cada dia venho me enamorando pelas suas mais emblemáticas e atraentes características.

A linha “Valtier” traz um blend extremamente interessante, onde protagoniza a filha pródiga de Utiel-Requena, a Bobal, com a mais popular casta espanhola, a Tempranillo. E se revelou fantástica, com complexidade, explosão de frutas maduras e personalidade.

E graças a esses quesitos e a grande satisfação em ter degustado o Valtier Reserva 2013, o raio cairá sim duas vezes no mesmo lugar, porque tudo que é bom merece bis, então, sem mais delongas, vamos às apresentações. O vinho que degustei e gostei veio da região emergente espanhola chamada Utiel-Requena e se chama claro, Valtier Reserva da safra 2015, com as castas Bobal (50%) e Tempranillo (50%).

E para não perder o costume vamos de história, vamos, cada vez mais, difundir a região de Utiel-Requena e a sua casta Bobal, com as suas histórias.

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos.

El Molón

Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo.

Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha. Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol.

Fortaleza Moura nos arredores de Chera

Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel.

Utiel-Requena

A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica.

Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente à Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Tradicionalmente, Utiel-Requena é a terra da Bobal, cepa tinta autóctone (originária da região) bastante adaptada aos rigores do clima da região. Ocupa 75% da superfície total dos vinhedos, também sendo bem adaptada ao calcário típico do seu solo.

São produzidos rosés e tintos, em sua maioria varietais, desta cepa; os primeiros costumam ser muito aromáticos, remetendo geralmente a frutas negras e muito fresco no paladar. Os tintos, por sua vez, geralmente são muito bem estruturados e potentes, com aromas de frutas maduras, especiarias e notas de couro.

Possuem bom potencial de envelhecimento. Uma curiosidade: quando da expansão da filoxera pelo continente europeu, as vinhas de Bobal demonstraram grande resistência à praga, ao contrário da maior parte do vinhedo do continente, o que permitiu à região manter por algum tempo as plantações sem a enxertia com a videira americana, e também propiciou um grande aumento das vendas e exportações de seus vinhos, avidamente procurados por consumidores “puristas”, em busca de vinhos oriundos de videiras sem a enxertia.

Também se faz presente a cepa Tempranillo, plantada cerca de 10% das vinhas da região. Outras cepas tintas permitidas pela legislação: Garnacha (Grenache) Tinta, Garnacha Tintorera, Cabernet Sauvignon, Mertlot, Syrah, Pinot Noir, Petit verdot e Cabernet Franc.

Diante da predominância tinta, naturalmente a participação das vinhas brancas na composição da denominação é baixa: cerca de 6%. A cepa mais cultivada é a também autóctone Tardana, de amadurecimento tardio. Produz vinhos de cor amarela, pálidos com reflexos dourados. Os aromas geralmente remetem a frutas como abacaxi e maçã. Frescos e equilibrados no paladar, costumam ser bem estruturados e de boa persistência na boca. Outras variedades brancas plantadas são: Macabeo, Merseguera, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Parellada, Verdejo e Moscatel de grano menudo.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos e de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso, com halos granada, devido ao tempo, oito anos de garrafa e pela longa passagem por carvalho, com algum brilho e boa profusão de lágrimas lentas e finas.

No nariz traz aromas envolventes de frutas vermelhas bem maduras, com destaque para ameixas, amoras, framboesas e até mesmo morangos, em uma sinergia adorável com o carvalho, bem integrado ao vinho, devido aos vinte e quatro meses estagiando em barricas, com notas defumadas, de couro, estrebaria, tabaco, baunilha, além de especiarias, ervas, por exemplo, além de terra molhada, tudo envolto em muita complexidade.

Na boca é seco, marcante, de personalidade, mas, por outro lado, o tempo de vida lhe conferiu maciez e elegância. As frutas, como no aspecto olfativo, ganha protagonismo, com destaque para um delicioso ameixa maduro. O carvalho, devido ao tempo em barricas, se faz presente, contudo igualmente integrado como no olfativo. Traz taninos presentes, mas domado, dócil, com acidez de baixa para média, denotando que poderia ter ainda algum tempo em garrafa, com final de média persistência.

O raio caiu duas vezes no mesmo lugar e fez um significativo estrondo em minhas experiências sensoriais. A minha taça foi o para-raios e o meu coração se viu na mais perfeita sintonia com esse momento, mais uma vez, especial. A linha “Valtier” definitivamente merece a sua condição de “fama” entre os brasileiros e sabe conduzir a representação típica da região de Utiel-Requena. Um vinho de incrível custo X benefício e que prova para todos os preconceituosos de plantão no universo do vinho que sim, podemos ter vinhos especiais e de marcante personalidade a preços acessíveis para todos os enófilos, de forma indistinta. Que o caminho continue a ser percorrido e que possamos sempre viajar pelas várias vindimas que esse vinho puder conceder. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio:

A família Rivero está de fato relacionada ao mundo do vinho há mais de um século. Nos anos 40, Amador Rivero, pai dos atuais proprietários, Agapito e Jesús Rivero, começou então a cultivar videiras e a produzir vinho profissionalmente em sua vinícola Faustino Rivero Ulecia, em Arnedo (na região de La Rioja).

Em 2003, a Família Rivero decidiu construir uma nova vinícola, Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio, S.L., pois o aumento da vinícola em Arnedo não era possível e a oferta de uvas na área era limitada.

A família escolheu a região de Mendavia, no vale do Ebro, porque garante uma qualidade suprema das uvas, necessária para atender às exigências do mercado.

A Rivero Family não vende apenas vinhos com a DOCa Rioja, mas em 1988 começou a vender vinho engarrafado com DO Navarra produzido em Corella (em Navarra) e em 1997 vinhos com DO Utiel-Requena produzido em Requena (em Valência).

Em 2001, pretendendo atender à demanda de vinhos varietais únicos e de consumo diário, a vinícola começou, portanto a vender vinhos regionais. Em 2007, foi dado outro passo e a venda de Cava foi iniciada, aproveitando dessa forma a oportunidade de expansão na indústria do vinho.

Mais informações acesse:

https://grupomarquesdelatrio.com/en/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html