terça-feira, 13 de junho de 2023

Faustino Rivero Ulecia Reserva Tempranillo e Garnacha 2015

 

Rioja parece ser intransponível para mim. Algo inalcançável, sobretudo pelo valor de seus rótulos em nosso mercado consumidor. Eram escassas as possibilidades de degustação. Não me recordo os primeiros rótulos que degustei de Rioja e tão pouco as circunstâncias que levaram a escolher esses rótulos.

Certamente eram aqueles raríssimos rótulos de entrada, mais simples, que eram de fácil acesso. Na realidade são vários vinhos ofertados da região, sempre foi mais fácil encontra-los, mais o preço para mim era o entrave para degustação, mas até do que a minha dificuldade para encontrar rótulos espanhóis há anos atrás.

Os anos foram passando e Rioja parecia cada vez mais distante, não apenas pelo aspecto logístico, geográfico, mas também em minha adega. Os vinhos espanhóis, como um todo, pareciam ser algo irreal, pouco palpável em minha realidade.

Quando o número de e-commerces foram aumentando e uma competitividade por fatias de mercado foi se configurando, novas perspectivas, novas possibilidade de rótulos espanhóis se descortinavam diante dos meus olhos e, claro, os vinhos de Rioja vieram na mesma toada.

E com esse leque de ofertas ampliando a cada dia, os valores desses vinhos foram ficando mais atrativos para o meu limitado bolso que ansiava para algo mais barato, embora a minha percepção ainda estivesse engessada para riojanos caros e badalados entre a aristocracia do vinho.

Mas com essas possibilidades de um mercado competitivo e “inchado”, fui percebendo que os valores estavam mais justos, condizentes com a minha realidade financeira. Foi o começo de caminhos melhores para Rioja.

Eu queria ousar um pouco e “velejar” pelos rótulos mais complexos, com vocação para guarda e amadeirados, tão famosos em terras riojanas, e passei a aguardar, pacientemente por eventuais promoções ou algo que o valha.

Até que em um famoso e-commerce, famoso por atender a vários públicos em sua faixa de valores, difundiu a promoção de um Rioja Reserva a um preço que considerei espetacular, na faixa de R$ 89,00, principalmente levando em consideração que é um “reserva”. E para “traduzir” essa relação de característica e valor vale a leitura das classificações dos vinhos crianzas, reservas e gran reservas aqui.

Não hesitei e comprei imediatamente! Não sei se teria uma nova chance como essa, então não demorei para fazer a aquisição. O meu único arrependimento não foi ter comprado duas garrafas, até para degustar um e guardar, por mais anos outra e fazer aquela comparação de vinhos com características frutadas e outro mais evoluído.

Ficou por alguns anos na adega, mas hoje decidi desarrolhá-lo e “antecipar” a experiência o quanto antes. Digo antecipar porque era de intenção inicial degusta-lo com pelo menos 10 anos de garrafa, mas não consegui esperar por mais três anos e decidi degustar com seus 7 anos de vida. Não preciso dizer da minha animação e expectativa em degustar um Rioja Reserva de um produtor deveras conhecido por mim, a Marqués del Atrío.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio da região de Rioja, na Espanha, e se chama Faustino Rivero Ulecia Reserva, com um corte das principais castas tintas espanholas, Tempranillo e Garnacha, da safra 2015. E para celebrar a experiência significativa sensorial com este rótulo, nada melhor que exaltar a história de Rioja que eleva ao nível máximo a Espanha vitícola.

Rioja: icônica e emblemática

A Espanha é um retalho de diferentes denominações de origem ligadas ao vinho. É o terceiro país que mais produz vinho no mundo, atrás somente de Itália e França. No entanto, é o país com maior área de vinhedos plantada no planeta, com cerca de 1 milhão de hectares.

E diante dessa área enorme e de tantos vinhos serem produzidos em tantos locais diferentes geralmente quando alguém fala sobre vinhos espanhóis, vem à mente da maioria dos enófilos referências como La Rioja, Ribera del Duero, Tempranillo e não muito mais do que isso, o que é uma pena, pois há muito a se descobrir na Espanha.

Mas não se pode negligenciar que Rioja é uma das mais importantes e tradicionais regiões espanholas na produção de vinhos

Está localizada no nordeste do país, às margens do rio Ebro, com 63.593 hectares de vinhedos distribuídos no território das três províncias que margeiam o rio: La Rioja, Álava e Navarra. 100Km de distância separam Haro, a cidade mais ocidental, de Alfaro, a mais oriental. O vale ocupado por vinhedos tem cerca de 40Km de largura máxima.

Três zonas

A DOCa Rioja possui três zonas distintas de produção: Rioja Alta, Rioja Alavesa e Rioja Oriental (até 2018 denominada Rioja Baja). Rioja Alavesa fica a oeste da cidade de Logroño, na margem norte do rio Ebro. Os vinhedos estão em solos predominantemente calcário-arenosos e os vinhos lá produzidos são provavelmente os mais sutis e elegantes da região.

Os climas em Rioja Alta e Rioja Alavesa são bastante similares e, devido à influência do Atlântico, não ocorrem temperaturas extremas. Em Rioja Oriental, a leste de Logroño e na margem sul do Ebro, o clima é mais continental, com verões quentes e invernos rigorosos. Os solos são bastante argilosos e chove pouco. Os vinhos da região costumam ter menor potencial de guarda do que os das outras regiões.

Rioja

Primórdios

As primeiras vinhas desse vale remontam ao período romano e a cultura do vinho foi mantida durante a Idade Média pelos monges. Aliás, Gonzalo de Berceo, monge em San Millan de la Cogolla, considerado o primeiro poeta do idioma castelhano, chegou a exaltar em versos o vinho local. No entanto, durante séculos, a principal cultura local foi a de cereais. O vinho só tomaria lugar de destaque na Idade Moderna, com o aparecimento das cidades e o florescimento do comércio.

O auge, porém, foi com a fundação de vinícolas históricas em meados do século XIX, a chegada da estrada de ferro e dos compradores franceses, devido à crise da filoxera. Enólogos ilustres como Luciano Murrieta (Marqués de Murrieta), Camilo Hurtado de Amezaga (Marqués de Riscal) e Rafael López Heredia (Viña Tondonia) introduziram o conceito de qualidade nos vinhos de Rioja.

Desde então, as vinícolas de Rioja têm estado à frente de muitas revoluções na indústria do vinho espanhol, especialmente durante a revolução tecnológica da década de 1970. A Denominação de Origem Qualificada foi dada em abril de 1991, fazendo com que Rioja se tornasse a primeira região a receber o status de DOCa. A região é tida por muitos especialistas como uma das cinco regiões vinícolas mais importantes do mundo, sendo chamada inclusive de “Bordeaux da Espanha”.

Alguns dos produtores mais progressistas da Espanha estão olhando para o modelo da Borgonha, por exemplo, para aumentar o valor de suas garrafas, concentrando-se na qualidade específica. Esses viticultores estão tentando fazer a rotulagem em torno de certas aldeias e vinhedos aceitos na Espanha como vinhedos ou parcelas diferenciadas por sua qualidade.

Assim sendo, não é difícil entender por que Rioja lançou uma nova campanha de marketing global para destacar uma série de mudanças nos níveis de qualidade e regulamentações da região - mas o que é diferente e por quê?

O conselho regulador de Rioja criou um slogan em espanhol que significa "saber quem você é", como parte de uma reformulação da marca para a região, que segue uma série de regras regulatórias destinados a estender a oferta de Rioja.

Entre estas estão uma série de novas indicações, incluindo Vinos de Zona, Vinos de Municipio (Pueblo), Viñedos Singulares, Espumosos de Calidad de Rioja, bem como novos requisitos de envelhecimento para vinhos Reserva e Gran Reserva, e a produção permitida de vinhos brancos monovarietais.

Os critérios de classificação dos vinhos da Rioja, até 2017 era, basicamente o processo de envelhecimento. Eram 4 categorias: Joven, Crianza, Reserva e Gran Reserva. Mudanças drásticas ocorreriam para determinar uma nova estrutura para a região, com destaque às diferentes amplitudes das classificações relacionadas ao terroir. E essas novas indicações precisariam ser utilizadas em conjunto com as regras existentes, que dizem respeito ao tempo, ao estágio desse vinho, seja em garrafa ou em barricas ou ambos.

Vale registrar que a classificação pelo método de envelhecimento não mudou. Continuam valendo as quatro categorias anteriormente citada. Apenas o nome da categoria de entrada, que era chamada de Joven, foi alterada para “Genérico”, o que tem trazido muita discussão sobre o termo.

A mudança se deu com a introdução de uma nova dimensão: a localização do vinhedo, que vai desde toda a região da Rioja, passando pela zona de produção, município e um vinhedo único. As novas zonas: Rioja “genérico”; Vinos de Zona; Vinos de Municipio e, no centro, Viñedos Singulares

Basicamente o que se busca é explicar melhor as diferenças de terroir. A pirâmide acima, teoricamente, reflete a qualidade do vinho. Quanto mais específico for a localização, mais nobre tenderá a ser o vinho. Esse é exatamente o conceito criado pelos monges religiosos que ao longo de séculos, desde a idade média, esquadrinharam e classificaram cada pedaço de terra na Borgonha. Nesse sentido, pode-se dizer que o “Viñedo Singular” da Rioja tem como objetivo ser equivalente a um “Grand Cru” ou “Premier Cru” da Borgonha.

Por outro lado, a adição de uma nova categoria para os espumantes da região também merece destaque, já que os produtores que atualmente fazem o método tradicional e que podem rotulá-los como “DO Cava” ou simplesmente usar o nome “Rioja” para atender a mercados externos.

As classificações relacionadas ao local podem ser usadas em conjunto com as regras existentes sobre envelhecimento. Seguem:

Viñedos Singulares - A mudança mais significativa na natureza dos níveis de qualidade da Rioja vem com a adição de uma categoria completamente nova, chamada Viñedos Singulares. Projetado para destacar o terroir e as origens do vinho, além de refletir a diversidade da região, foi lançado em junho de 2017.

A nova categoria pode ser utilizada em conjunto com a classificação de qualidade existente em Rioja, que diz respeito ao tempo de estágio de um vinho em barrica e garrafa. Aqueles que optarem por usar a nova categoria devem estar em conformidade com os seguintes requisitos na etiqueta:

·              Nos rótulos comerciais constarão o nome do vinhedo, que deve ser registrado como marca.

·         O termo “Viñedo Singular” deve aparecer diretamente abaixo do nome do vinhedo, e o tamanho do texto não deve ser maior do que a palavra “Rioja” no rótulo.

·        Os selos de garantia no verso da garrafa manterão as classificações tradicionais de envelhecimento, mas agora também incluirão “Viñedo Singular”.

·             O selo de garantia pode ser “Crianza Viñedo Singular” ou “Gran Reserva Viñedo Singular”.

Vinos de Municipio e Vinos de Zona - O uso de Vinos de Municipio e Vinos de Zona é uma atualização da rotulagem de Rioja que já é permitida. As vinícolas podiam fazer referência à sua zona de produção desde 1998 e nomear a vila ou cidade desde 1999, porém os critérios não eram claros e foram aperfeiçoados. Em 2017, houve uma série de alterações a este regulamento com o objetivo de obter maior visibilidade para as aldeias / vilas e zonas.

As sub-regiões Rioja Alta, Rioja Alavesa e Rioja Oriental (anteriormente Baja) são agora conhecidas como Zonas. No bojo das alterações o nome da zona de menor prestígio, a “Rioja Baja”, aproveitou ser rebatizada para “Rioja Orientale”, numa tentativa de deixar usar um termo considerado pejorativo pelos produtores, o que evidentemente gerou outra discussão.

Municipios (municipalidades) / Pueblos (vilas e cidades) ou Zonas agora podem ter o mesmo tamanho de texto que Rioja no rótulo (anteriormente, eles só podiam ter dois terços do tamanho da palavra Rioja).

Embora a rotulagem seja semelhante, haverá uma menção adicional, como “Vino de Haro” ou “Vino de Samaniego”.

Os requisitos para Vinos de Zona (Rioja Alta, Rioja Alavesa, Rioja Oriental) são:

·            Rastreabilidade da produção.

·          Uma mudança legal foi submetida para permitir que 15% das uvas venham de uma zona vizinha (por exemplo, 85% de Rioja Alta e 15% de Rioja Alavesa).

·           No caso de compra de uvas (até 15% conforme indicado acima), a vinícola deve ter parceria comercial há pelo menos 10 anos. Pode ter o mesmo tamanho de texto que Rioja no rótulo.

Os requisitos para Vinos de Municipio são:

·            Rastreabilidade da produção.

·            A vinícola deve estar localizada na aldeia.

·       Uma mudança legal foi submetida para permitir que 15% das uvas venham de uma aldeia vizinha, embora uma parceria comercial de pelo menos 10 anos seja necessária.

·            A menção do município pode ter o mesmo tamanho de texto que Rioja no rótulo.

Requisitos de envelhecimento - Em julho de 2017, o Consejo Regulador DOCa Rioja introduziu novos requisitos de envelhecimento para permitir aos produtores uma maior flexibilidade para o envelhecimento em garrafa.

Um dos baluartes da DOCa Rioja é o uso da madeira, tanto que os vinhos são denominados qualitativamente de acordo com o tempo que passam em barrica, indo do genérico, passando pelo Crianza, depois Reserva e, por fim, Gran Reserva. No entanto, desde 2017, com o surgimento das mudanças, a região criou uma nova forma de dividir os vinhos qualitativamente ao dar mais ênfase à sua origem, além do tempo em barrica.

Dessa forma, criou-se a seguinte divisão: vinhos de zona, vinhos de município e vinhos de vinhedos singulares (que seriam os mais representativos da região). E esses três tipos de vinhos então são divididos novamente em quatro categorias: genérico, Crianza, Reserva e Gran Reserva. Uma das características dos vinhos de Rioja é a aptidão que possuem para o envelhecimento. De acordo com o processo um vinho é enquadrado nas seguintes categorias:

Genérico

São geralmente vinhos em seu primeiro ou segundo ano, que mantêm suas características primárias de frescor e fruta. Esta categoria também pode incluir outros vinhos que não se enquadram nas categorias de Crianza, Reserva ou Gran Reserva, embora tenham sido sujeitos a processos de envelhecimento, uma vez que estes não são certificados pelo Conselho Regulador.

Crianza

São vinhos pelo menos em seu terceiro ano que permaneceram pelo menos um ano em barris de carvalho. Nos vinhos brancos, o período mínimo de envelhecimento em barril é de seis meses.

Reserva

Corresponde a vinhos selecionados com um envelhecimento mínimo entre barricas de carvalho e garrafa de três anos, dos quais um pelo menos nas primeiras, seguido e complementado com envelhecimento mínimo em garrafa de seis meses. Nos vinhos brancos, o período de envelhecimento é de dois anos, dos quais pelo menos seis meses em barris.

Gran Reserva

São vinhos de grandes safras que foram envelhecidos durante um período total de sessenta meses, com um mínimo de dois anos em barris de carvalho e dois anos em garrafa. Nos vinhos brancos, o período de envelhecimento é de quatro anos, dos quais seis meses pelo menos em barrica.

Diante de tantas mudanças e algumas discordâncias entre os produtores e os demais grupos de interesse o fato é que o mais importante é provar que a qualidade continua tão boa quanto antes. Para muitos, as mudanças têm mais a ver com marketing do que propriamente qualidade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um intenso e vívido vermelho, com halos granada, pelo tempo em que estagiou em barricas de carvalho e o tempo em garrafa, com lágrimas finas, em profusão, que escorrem lentamente no bojo.

No nariz é intenso, elegante, complexo, com frutas pretas e vermelhas bem maduras, com destaque para cereja, framboesa, ameixa preta, com as proeminentes notas amadeiradas, graças aos 24 meses que estagiou em barricas de carvalho, que em plena convergência com a fruta, aporta baunilha, especiarias, couro, tabaco, cacau, defumado e leve tosta.

Na boca é seco, macio e maduro, o tempo lhe foi gentil, porém traz marcante personalidade, é cheio em boca, alcoólico, as frutas protagonizam, como no aspecto olfativo, a madeira se faz presente em uma incrível sinergia, conferindo ao vinho a complexidade entregando chocolate amargo, com taninos domados, mas com alguma pegada, acidez correta e final de média persistência.

Não são apenas as três etapas mais importantes da percepção de um vinho que vai encantar a quem está degustando os vinhos da linha Faustino Rivero, mas também a estética de seu rótulo. Já no rótulo o vinho já diz a que veio, o quão único é este exemplar é para a vinícola. Se revela delicioso e complexo o leque aromático exibindo frutas maduras, baunilha e tostados, já que passou por um longo tempo em barricas de carvalho, além de trazer a tipicidade de um terroir emblemático por intermédio de suas castas típicas. Que as portas de Rioja se abram sempre pelos seus rótulos. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Faustino Rivero:

A mesma paixão, trabalho árduo e determinação que caracterizaram os primórdios da jornada da família Rivero na criação de grandes vinhos cinco gerações atrás estão orgulhosamente no coração de tudo o que a vinícola faz hoje.

Olegario Rivero, a primeira geração da família, começou a fazer vinho em uma pequena adega no centro da cidade de Arnedo (La Rioja), em 1899. O vinho que produzia era depois vendido à população local, em odres e botas.

Esta forma de comercializar o vinho fez com que, anos mais tarde, a segunda geração, com Agapito Rivero, se especializasse num ofício, o de sapateiro, necessário numa época em que o vinho era comercializado de uma forma muito diferente da atual. Além de fabricar botas e odres, os fabricantes de odres também atendiam os clientes e atuavam como intermediários entre os vindimadores e os compradores.

Na década de 1940 o negócio da família passou à terceira geração, composta por Amador e Faustino Rivero, cuja intuição lhes dizia que poderia haver um grande futuro para o vinho e decidiram dedicar-se exclusivamente a este negócio.

Compravam uvas em várias cidades de La Rioja Baja, como Bergasa, Quel, Autol e Aldeanueva de Ebro, para fazer vinho que vendiam a granel e odres de produção própria, e vendiam diretamente para mercados próximos, como Soria e Burgos.

Mais tarde, durante a década de 1950, o mercado de Rioja se expandiu para áreas como o País Basco, Catalunha e Galiza, vendendo o vinho em tonéis de castanha. Durante este período, a família Rivero continuou a aperfeiçoar suas técnicas de vinificação, inclusive vendendo para outras empresas comerciais da Rioja que já comercializavam vinho. Isto deu-lhes a conhecer novos segmentos de mercado e, em meados da década de 1960, decidiram comprar a primeira máquina de engarrafamento para vender o seu próprio vinho, dando origem à marca “Chitón”.

Não foi até o final dos anos 1960 e 1970, coincidindo com o grande desenvolvimento vivido pelo DOCa. Rioja a partir do último terço do século XX, para os primeiros vinhos engarrafados sob o nome de Faustino Rivero Ulecia. No final dos anos 70, a empresa familiar assume um conceito mais empreendedor, integrando a quarta geração, Agapito e Jesús Rivero, com formação específica que proporcionou o know-how para o crescimento da adega. A mudança começou com a construção em 1980 de uma nova e maior adega na periferia da cidade, permitindo mais espaço para o envelhecimento do vinho.

A década de 1980 e 1990 foi fundamental para a expansão da vinícola, tornando-se pioneira na exportação do vinho de Rioja para o exterior e sendo líder de mercado em países como Dinamarca e Suécia. Em resposta às necessidades destes mercados, a família começou a interessar-se por outras regiões vitivinícolas, o que os levou a acabar por fazer o seu próprio vinho em Navarra e Utiel-Requena.

Sobre a Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio:

A família Rivero está de fato relacionada ao mundo do vinho há mais de um século. Nos anos 40, Amador Rivero, pai dos atuais proprietários, Agapito e Jesús Rivero, começou então a cultivar videiras e a produzir vinho profissionalmente em sua vinícola Faustino Rivero Ulecia, em Arnedo (na região de La Rioja).

Em 2003, a Família Rivero decidiu construir uma nova vinícola, Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio, S.L., pois o aumento da vinícola em Arnedo não era possível e a oferta de uvas na área era limitada.

A família escolheu a região de Mendavia, no vale do Ebro, porque garante uma qualidade suprema das uvas, necessária para atender às exigências do mercado.

A Rivero Family não vende apenas vinhos com a DOCa Rioja, mas em 1988 começou a vender vinho engarrafado com DO Navarra produzido em Corella (em Navarra) e em 1997 vinhos com DO Utiel-Requena produzido em Requena (em Valência).

Em 2001, pretendendo atender à demanda de vinhos varietais únicos e de consumo diário, a vinícola começou, portanto, a vender vinhos regionais. Em 2007, foi dado outro passo e a venda de Cava foi iniciada, aproveitando dessa forma a oportunidade de expansão na indústria do vinho.

Mais informações acesse:

https://grupomarquesdelatrio.com/en/

https://faustinorivero.com/en/

Referências:

“Revista Versar”: https://www.revistaversar.com.br/rioja-conheca-a-mais-famosa-regiao-vinicola-da-espanha/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/rioja

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-grandes-vinhos-de-rioja-na-espanha_12056.html

“Vinoticias”: https://www.vinoticias.com.br/post/rioja-a-evolu%C3%A7%C3%A3o-do-vinho-na-espanha




 










sábado, 10 de junho de 2023

Califortune Merlot 2012

 

Olha que eu gosto todo particular do jeito dos norte-americanos fazer os seus vinhos! Os poucos rótulos que tive a alegria de degustar tiveram um impacto consistente em minha enófila vida. Que fique muito claro, porém, que existem vinhos ruins, bons e ótimos em qualquer lugar do mundo e nos Estados Unidos não seria diferente, mas, até o momento em que redigo esse texto, só tive boas experiências com os vinhos da terra do Tio Sam.

E claro que a casta que me apresentou os vinhos dos Estados Unidos foi a Zinfandel que nada mais é do que a famosa Primitivo na Itália. Lembro-me de ter degustado um rótulo, pela primeira vez, da Zinfandel no natal, harmonizando magistralmente com as diversas e saborosas comidas natalinas. Lembro-me de ter degustado outro Zinfandel quando recebi um amigo de longa data em minha casa e foi um sucesso!

Os poucos rótulos dos Estados que degustei sempre esteve atrelado a bons e inesquecíveis momentos, propiciando, ajudando, incrementando os bons e prazerosos momentos de alegria e congraçamento.

Mas nunca foi fácil ter acesso aos rótulos norte-americanos. Os valores sempre foram altos e as opções pouco variadas, sobretudo naquelas famosas “camadas” de valores, que nos ajudam a escolher ou ter, como falei, o mínimo acesso aos rótulos da Califórnia, Nappa Valley entre outros.

Evidentemente que o cenário de hoje está melhor que há 10, 15 anos atrás, com um leque maior de opções, graças também a maior competitividade entre os inúmeros e-commerces de vinhos disponíveis na grande rede.

O que chama a atenção dos rótulos dos Estados Unidos, pelo menos os poucos que degustei, é a corpulência, a intensidade em frutas e em alguns casos de madeira, alcoólicos, enfim, trata-se de um nicho que tenho apreciado nos últimos tempos e precisava, preciso, na realidade, voltar a degustar os vinhos dos norte-americanos.

E esse momento finalmente chegou! E pasmem foi um achado! Logo o principal entrave que era o alto valor, não se tornou um empecilho na compra dessa minha nova degustação: Esteve na faixa dos R$ 78,00! E detalhe importante, da safra 2012! Um vinho no auge dos seus onze anos de vida e está literalmente no auge de sua plenitude, incrivelmente!

O vinho que degustei e gostei veio da região de Napa Valley, na Califórnia e se chama Califortune, um 100% Merlot da safra 2012. E teremos, para variar, mais uma novidade: será minha primeira experiência com a famosa casta Merlot. O momento único de minha vida enófila: uma degustação norte-americana de uma de minhas cepas preferidas, a Merlot.

Então não podemos deixar de falar de Napa Valley que certamente, entre as regiões do Novo Mundo, é uma das mais famosas e prolíficas do universo do vinho.

Califórnia

Os Estados Unidos ocupam a quarta posição no ranking dos países que mais produzem vinho no mundo, ficando atrás apenas da França, Itália e Espanha. Cerca de 90% dos vinhos provenientes do País são produzidos na Califórnia, onde a vitivinicultura foi iniciada no século 18, mais precisamente em San Diego, por missionários franciscanos. A primeira variedade de uva a ser cultivada foi a Mission, originária da Espanha, onde é chamada de Misión.

Califórnia fica na costa, fazendo divisa com outros três estados americanos e o México. A região tem paisagem diversificada, contendo praias, montanhas, desertos e vales. Essa variedade de relevos faz com que cada microrregião tenha um cultivo específico de uva.

Califórnia

A Califórnia possui diversas particularidades territoriais. É um estado costeiro, com inúmeras praias e também possui montanhas, desertos e vales. O clima predominante é o mediterrâneo, com muito sol, noites mais frescas e chuvas em épocas bem definidas. O verão é seco e o inverno chuvoso.

Porém, a maioria de suas regiões vinícolas possui características muito particulares em relação ao solo e clima, propiciando diferentes terroirs, o que beneficia o cultivo de uma ampla variedade de uvas.

As regiões californianas mais importantes são Napa Valley e Sonoma Valley, seguidas por Mendoncino e Lake Counties, situadas em direção norte a partir da cidade de São Francisco.

Napa é conhecida mundialmente pela qualidade de seus vinhos. Ali se encontram mais de 500 vinícolas, tornando-a a mais densa região vinícola do mundo! Várias delas realizam trabalhos reconhecidos de enologia, produzindo vinhos ícones de prestígio mundial. O território de Napa é estreito, ladeado por colinas vulcânicas baixas.

Napa Valley responde por 20% dos valores comercializados da Califórnia, apesar de sua produção girar em torno de apenas 4%. Os 90% do vinho americano, situados na Califórnia, concentra-se neste estado da costa oeste.

Napa Valley é uma das áreas nobres da Califórnia, muito bem situada em termos de clima e solos. Se há um lugar no mundo onde a Cabernet Sauvignon, por exemplo, possa fazer frente ao terroir sagrado do Médoc (a chamada margem esquerda de Bordeaux), esse lugar é Napa Valley, especificamente em comunas famosas como Rutherford, Oakville e Stag´s Leap.

As contíguas AVAs (Área Viticultural Americana) desde Santa Helena a norte até Stag´s Leap mais ao sul, funcionam como as famosas comunas do Medóc (Pauillac, St Julien, St Estèphe e Margaux). Neste local, os vinhedos desenvolvem-se entre as cadeias de montanhas Mayacamas a oeste e Vaca Range, a leste.

O clima tende a ser mais quente ao norte, próximo a Calistoga, e mais frio ao sul, próximo à cidade de Napa. Os nevoeiros frios pelas manhãs entram pelo sul através da baía de San Pablo e vão perdendo força, à medida que caminham para o norte.

Os solos do Napa são extremamente complexos e diversificados. São de origem vulcânica, sedimentar e também aluvial. Argila, areia, pedras e marga são seus principais componentes. Em linhas gerais, no fundo do vale, próximo ao rio Napa, os solos são aluviais, argilosos e relativamente profundos. Já os solos nas encostas, são mais diversificados, mais pedregosos, pobres e pouco profundos.

As castas

Cerca de 100 tipos de uvas são cultivadas na Califórnia, como Pinot Noir, Merlot e Chardonnay, mas os destaques são a Cabernet Sauvignon e a Zinfandel. Originária da região de Bordeaux, na França, e considerada por muitos como a “Rainha das uvas tintas”, a Cabernet Sauvignon é o “carro-chefe” da região. Já a Zinfandel é cultivada no estado desde a metade do século 19 e considerada patrimônio nacional, tal a sua importância.

A maior parte dos vinhos produzidos é classificada como de mesa (graduação alcoólica de 10º a 13º), espumante (gaseificado) ou de sobremesa (doce). A produção da bebida tem influência francesa, ao estilo Bordeaux, de extrema qualidade.

Depois da França, os melhores rótulos de Cabernet Sauvignon estão na Califórnia: são vinhos tintos encorpados. Com a Zinfandel, é possível produzir vinhos com uma gama de características e podem ser encorpados ou de médio corpo, secos ou doces, de fácil degustação ou robustos, entre outros perfis.

A variedade de uva branca dominante é a Chardonnay, quase um ícone dos vinhos americanos, mas vale citar a presença da White Zinfandel, que produz vinhos leves e simples.

Principais regiões da Califórnia

Napa Valley: Possui a maior concentração de vinícolas e é a mais rica, reconhecida pelos seus vinhos de alta qualidade. Ela é a região preferida dos turistas. Fica localizada perto de grandes cidades como São Francisco, Santa Bárbara e Los Angeles.

Sonoma Valley: Tem menos vinícolas e é mais rural que Napa, conhecida pela variedade e a qualidade de seus produtos.

Agosto e setembro são os melhores meses para o enoturismo na Califórnia, época da colheita das uvas e do clima mais agradável, com sol durante o dia e noite mais fresca. Napa Valley, Sonoma, Mendocino, Santa Cruz, Amador, San Luis Obispo, Lake, Monterey e Santa Bárbara são regiões que se dedicam quase que exclusivamente à vitivinicultura.

Entretanto, há vinícolas em muitas outras regiões. Elas geralmente abrem para o público entre 10 horas e 17 horas. Além da degustação, que é paga, alguns produtores promovem tours – uns gratuitos, outros não – pelas propriedades. Definitivamente a Califórnia é um case de sucesso da vitivinicultura do Novo Mundo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela as nuances de um vinho de onze anos em garrafa, com rubi com intensidade, dominado pelo atijolado, pelo acastanhado, com ainda uma boa profusão de lágrimas, grossas, lentas e coloridas.

No nariz não se percebe as notas frutadas tão eloquentemente, o tempo encarregou-se de entregar notas de frutas secas, em compota, algo também de frutos secos, como avelã, noz moscada e amêndoa. Algumas notas mais rústicas como coco, terra molhada e couro estão evidentes, como uma discreta madeira, graças aos dezoito meses que o vinho estagiou que entrega café, cacau.

Na boca é macio, com elegância, as frutas secas são sentidas, como no aspecto olfativo, as notas amadeiradas são mais perceptíveis, com toques balsâmicos, com destaque para café, madeira, algo de carvalho doce, especiarias doces também. Os taninos ainda estão presentes, bem como o álcool, que trazem personalidade ao vinho, porém domados e maduros a acidez discreta, quase inexiste. Final de média persistência.

Apesar de apreciar o estilo de vinho “frutadão” e com muita complexidade, aquele famoso vinho “bombadão” o Califortune Merlot, principalmente pelo fato de já ser um vinho de idade, mostrou elegância, maciez, aliado sim a complexidade. Um vinho que definitivamente ficará guardado na minha mente e alma. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Grand Napa Vineyards:

Grand Napa Vineyards está localizado no coração de Rutherford, perto do sopé do Monte. São João na Serra dos Mayacamas. Em 1838, quando a Califórnia ainda fazia parte do México, 11.814 acres do Caymus Rancho foram concedidos ao explorador George Yount pelo General Mariano G. Vallejo.

Um barracão de cowboys construído em 1888 ainda existe lá, e nas proximidades Yount plantou as primeiras videiras de Napa. Após a morte de Yount, o capitão Gustave Niebaum comprou algumas de suas propriedades e estabeleceu a Inglenook Winery, a primeira vinícola do estilo Bordeaux nos EUA.

Seus Cabernets ganharam medalhas de ouro na Feira Mundial de Paris em 1889, ano em que o mundo começou a notar os vinhos da Califórnia - vinhos de Rutherford. E em 1939, os vinhos Rutherford ganharam o prêmio “Grand Sweepstakes” da Golden Gate Exposition em San Francisco.

Sobre a West Coast Wine Group:

A visão da West Coast Wine Group é dedicada a produzir vinhos da mais alta qualidade da Califórnia. Como amantes apaixonados do vinho, estão obcecados com a ideia de criar vinhos excepcionais que sejam apreciados por pessoas de todo o mundo. Com essa paixão e visão, fundaram a vinícola.

Desde o início, o fundador se comprometeu a usar apenas as melhores uvas e as mais avançadas técnicas de vinificação para produzir vinhos de qualidade excepcional. Ele trabalhou incansavelmente para aperfeiçoar a arte da vinificação, e sua dedicação valeu a pena na forma de vinhos premiados que rapidamente conquistaram seguidores.

Ao longo dos anos, o West Coast Wine Group tornou-se líder no setor, mas o seu compromisso com a qualidade e a paixão pela produção de vinho permaneceram inalterados. Continuam a usar as melhores uvas e técnicas possíveis para criar vinhos incomparáveis ​​em sabor e qualidade.

A obsessão pelo vinho da West Coast Wine Group é o que os diferencia. Acreditam que um bom vinho é mais do que apenas uma bebida; é uma experiência que deve ser saboreada e apreciada. É por isso que se esforçam ao máximo para garantir que cada garrafa de vinho que produzem seja da mais alta qualidade e elaborada com cuidado.

Muitas das marcas de vinho, de seus rótulos, são frutados, fáceis de beber e amigos da comida – perfeitas para as celebrações do dia-a-dia. Oferecem uma ampla variedade de vinhos, cada um possuindo seu próprio caráter e textura únicos.

A vinícola está localizada em Napa, Califórnia, no coração do famoso Napa Valley Wine Country. Os pilares de seu portfólio são as variedades Cabernet Sauvignon, Old Vine Zinfandel e Merlot.

Mais informações acesse:

https://westcoastwinegroup.com/

https://grandnapavineyards.com/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CALIFORNIA

“Blog dos Vinhos”: https://blogdosvinhos.com.br/california-conheca-a-maior-produtora-de-vinho-do-eua/

“Blog Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/california-maior-produtora-vinho-estados-unidos

“Vinho sem Segredo”: https://vinhosemsegredo.com/2012/10/18/napa-valley-parte-i/

  








sexta-feira, 9 de junho de 2023

Las Veletas País (85%) e Carignan (15%) 2018

 

Quando você lembra-se dos vinhos chilenos atualmente quais as castas que vem à mente? Não é difícil pensar e também não leva muito tempo: a primeira colocada é a mais famosa, que eleva marca vitivinícola do Chile, a Carménère.

Porém há outras emblemáticas, importantes e que faz do Chile e suas regiões conhecidas em todo o mundo, como a Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Pinot Noir, Chardonnay, Sauvignon Blanc etc.

Você seguindo uma lógica de mercado, afinal, vários e vários rótulos que estampam essas castas invadem as gôndolas dos nossos supermercados e sites especializados em vendas de vinhos, fazem destes vinhos e cepas as mais importantes hoje e a algum tempo do Chile.

Mas não podemos negligenciar as primeiras uvas que chegaram ao Chile e que desbravaram, junto com aqueles que as trouxeram, a história da vitivinicultura da região edificando-a, sendo responsáveis por esse momento de destaque do país no Cone Sul.

Falo da País, a “Misión”, a uva trazida pelos espanhóis que seria utilizada para as celebrações da missas católicas e que caiu no esquecimento e deixou de ser cultivada, sendo relegada ao ostracismo e a poucas e hoje vinhas velhas. Lamentavelmente são poucos os rótulos que chegam a nossas terras e esses poucos chegam a um valor elevado.

Tive, há algum tempo atrás, a oportunidade de degustar um rótulo 100% País chamado Lote 1936 da safra 2018 e tive ótima impressão da casta que, na versão deste rótulo se mostrou frutado, saboroso, elegante e fresco.

E depois de um bom tempo sem degustar vinhos com essa casta encontrei um rótulo a um ótimo valor que traz, pelo menos em maior proporção, a casta País, com outra muito famosa na França e que geralmente é cultivada no Chile em vinhas velhas, a Carignan. Não hesitei e comprei. Será que irei gostar? Assim espero!

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio da região famosa do Maule, no Chile, e se chama Las Veletas Estate composto predominantemente por País (85%) e Carignan (15%) da safra 2018. Para variar, vamos de histórias, vamos de Maule, onde a País ganha algum destaque, a Carignan e a própria País.

DO Maule

A maior e uma das mais antigas regiões vinícolas do Chile, o Maule é um lugar cheio de charme e com clima propício à vitivinicultura. A região se inicia a menos de 300 quilômetros de Santiago, capital do país. Seus microclimas e solos diversos possibilitam a cultura e produção de uma variedade muito grande de vinhos, já que praticamente todas as castas de uvas cultivadas no Chile são encontradas no Vale do Maule.

Maule DO

A região tradicionalmente sempre esteve associada à quantidade da produção muito mais do que à sua qualidade. Nos últimos anos, porém, isso tem mudado substancialmente.

Castas internacionais e reconhecidas na vitivinicultura mundial vêm suplantando as de baixa qualidade plantadas na região, e, aliada às práticas cada vez mais desenvolvidas no cultivo das frutas e produção dos vinhos por parte dos seus vinicultores, o Maule tem dado vinhos de alta classe ao mercado, especialmente da variedade Carignan.

Banhado pelo famoso rio que lhe dá nome, o Maule tem clima temperado mediterrâneo, com intensidade alta de sol no verão, com temperaturas máximas entre 19º C e 30º C, e chuva anual concentrada no inverno, quando as temperaturas chegam à mínima de 7º C.

Os dias quentes seguidos de noite frias facilitam e prolongam a temporada de cultivo e colheita das uvas, dando-lhes um tempo de amadurecimento total, o que equilibra seus níveis de acidez e doçura. O Rio Maule, que flui do leste para o oeste do Chile, através de um caminho que se inicia nos Andes e termina no Pacífico, ainda propícia à região de solos aluvial diversificados, indo desde o granítico até o arenoso. Férteis, esses solos favorecem o cultivo produtivo nos vinhedos da região.

Região com longa e bem sucedida história na cultura e produção de vinhos, Maule tem na vitivinicultura sua atividade econômica principal; alguns dos mais extensos vinhedos do país estão localizados lá, e alguns deles datam de 1830. Cerca de 50% de todo o vinho exportado do Chile é oriundo do Vale de Maule, que sempre foi conhecida por sua produção em larga escala.

A uva mais cultivada no Vale do Maule é a Cabernet Sauvignon com 8.888 de hectares plantados. Nos anos 1990, essa produção recebeu grandes investimentos que ocasionaram o desenvolvimento técnico em equipamentos e infraestrutura, que em conjunto com mudanças significativas nas formas de manejo dos vinhedos, favoreceu o surgimento de uma produção mais especializada, resultando vinhos de alto padrão de qualidade e elevado valor comercial.

O vale ainda oferece muitos atrativos turísticos relacionados ao mundo dos vinhos. Uma rota composta por um conjunto de 15 vinhas em diferentes cidades da região possibilita ao visitante entrar em contato com o processo de produção, além de degustação de vinhos e pratos.

País

Em meados do século XVI uma uva chamada Listán Prieto vivia na Espanha e é levada ao México por missionários franciscanos que tinham como objetivo cultivá-la para produzir o vinho da missa. Lá, ficou conhecida como Misión.

Depois de um tempo, viajou aos Estados Unidos, depois à Argentina, onde ficou conhecida como Criolla Chica, até que os jesuítas a levaram para o Chile. A princípio, também produzia o vinho da missa, até que ultrapassou as barreiras religiosas e foi desbravar o terroir chileno. 

País

Somente no século XIX que a Criolla Chica ganhou o nome de País. Não se sabe ao certo o motivo, mas ela viveu tempos de rainha no Chile até que a Cabernet Sauvignon e a Carménère chegaram para pedir a coroa. E levaram. Ficou esquecida a um nível onde já nem se falava mais de sua existência. Algum boato, alguma memória aqui ou ali, nos terrenos mais remotos do Chile, mas nada que ainda a permitisse aparecer.

Mas eis que surgiu um francês, nascido na Borgonha, instigado pela América do Sul. Louis-Antoine Luyt planejou uma viagem de férias que virou estadia permanente, mas para isso, precisava de um trabalho. À época, Louis estava no Chile e virou lavador de pratos em um restaurante local, onde começou a aprender sobre vinhos e conheceu ninguém menos que Hector Vergara: o sommelier mais renomado do país e o único Master of Wine da América do Sul naquele tempo.

Louis Antoine Luyt

Hector estava abrindo a Escola de Sommelier do Chile e Louis já estava entre os seus primeiros alunos. Sabe aquela história de que o conhecimento abre portas? Pois é. Abriu. Ainda bem. Inconformado com a hegemonia da Cabernet Sauvignon e da Carménère nos vinhos chilenos, o francês decidiu que iria explorar as castas e áreas de cultivo do país. Foi então que descobriu que algumas parcelas de outras uvas ainda existiam, mas estavam sendo vendidas ou utilizadas por camponeses para produzir vinho para consumo próprio.

Decisão tomada. Louis-Antoine Luyt ia aprender a fazer vinho. Voltou para a França estudou viticultura e enologia em Beaune e, durante os estudos, fez amizade com Mathieu Lapierre, proprietário da renomada vinícola Villié-Morgon, onde teve a oportunidade de participar de cinco colheitas e ser introduzido ao vinho natural. Munido de conhecimento, sonho e coragem, Louis abriu uma vinícola no Chile e começou a explorar diferentes terroirs e cepas locais para produzir vinhos que seriam exportados, principalmente, à França.

Mas em 2010, o desastroso terremoto resultou na perda de 90% do seu cultivo. Ele não desistiu. Comprou mais oito hectares de vinhas, entre elas, a País. Desde então, a cepa foi voltando aos palcos, retomando os holofotes e mostrando (novamente) toda a sua capacidade para produzir grandes vinhos. De muita textura e ótima acidez, a País origina vinhos rústicos, bastante gastronômicos e corpo médio.

Com o tempo, os taninos ficam tão elegantes e macios que parecem veludo. Em geral, a uva País não recebe muito envelhecimento em madeira, pois os aromas dessa variedade são muito delicados e muita madeira pode interferir demais na tipicidade do vinho. Continuou sendo cultivada, principalmente por pequenas famílias agrícolas, até que, nas últimas décadas, alguns produtores começaram a apostar na sua volta ao mundo dos vinhos.

A Região do Maule é considerada a maior produtora, por hectare, da País atualmente e muitas de suas vinhas, como em todo o Chile, que traz essa cepa, são antigas, com média de 70 a 100 anos de idade! Afinal, foram esquecidas por tanto tempo!

Carignan

Também conhecida por Cariñena no nordeste da Espanha e Carignano na Sardenha, a Carignan é uma casta de uva de origem espanhola, especificamente da região de Aragón, onde seu nome mais comum é Mazuelo. Trata-se de uma casta bastante antiga, que foi se espalhando pela Europa ao longo de muitos anos. A uva possui mais de 60 derivações, sendo conhecida por diferentes nomes em todo o mundo e apresentando características diferenciadas de acordo com a região em que é cultivada.

Na França, onde a uva parece ter chegado em meados do século XII, atravessando os montes Pirineus, ela é chamada também de Monestel, Catalan e Roussillonen. Esse último nome faz referência à região que mais a acolheu, o Languedoc-Roussillon, de onde se tornou a uva tinta mais plantada da França, ocupando (em dados de 2006 da Vitis International Variety Catalogue) mais de 73 mil hectares de vinhedos.

Da França, a Carignan se espalhou por todo o Mediterrâneo, sendo bastante popular no sul da Itália (com o nome de Carignano ou Uva di Spagna). Durante muitas décadas, ela foi muito utilizada para vinhos de baixa qualidade, tanto na França quanto na Itália, o que a fez perder território para outras castas. Felizmente, há poucos anos isso começou a mudar na Europa. Na França ela se tornou grandiosa.

A uva possui resistência a solos com falta de água, amadurecendo e produzindo em larga escala mesmo em condições rigorosas.  A casta Carignan possui casca grossa e profunda cor escura, sendo uma uva com amadurecimento tardio e de produção elevada.

Uva Carignan

A casta da uva é bastante produtiva, demandando que os rendimentos sejam controlados para dar vinhos tintos de qualidade. É uma casta que pede bastante sol para ficar madura.

A uva da casta Carignan (Mazuelo) vem ganhando muitos adeptos e espaço no Novo Mundo do vinho, sendo muito utilizada também no Chile, onde cada vez mais é empregada na produção de vinhos tintos de qualidade e com grande reconhecimento mundial.

Os vinhos tintos elaborados com a casta Carignan mostram boa acidez e taninos potentes, que podem conferir um leve e característico amargor, além de um toque de rusticidade, típico de alguns vinhos do Languedoc-Roussillon. Os melhores exemplos de vinhos tintos, geralmente elaborados com uvas de vinhas antigas, plantadas em arbustos (goglet), podem ser complexos e longevos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi quase translúcido, com um lindo e brilhante violáceo, com discretas lágrimas, finas e rápidas, que desenham a borda do copo.

No nariz é incrivelmente complexo, mas que traz frescor e leveza, ao mesmo tempo, graças as suas notas frutadas, com destaque para morango, framboesas, cerejas, talvez algo de amora. Têm notas herbáceas, um toque vegetal, de ervas, que harmoniza com a fruta, com um toque floral e de terra molhada, mas não tão evidente.

Na boca é seco, elegante, leve, fresco, que surpreende, pelo fato de já ter cinco anos de garrafa, mas com presença. Os tons frutados ganham protagonismo no paladar, como no aspecto olfativo, a madeira figura com mais destaque na boca, graças aos doze meses que a Carignan, apenas, estagiou em barricas de carvalho, entregando uma leve tosta, um café moído, torrado, com taninos finos e boa acidez. Final de média persistência.

“A País é uma uva que pode ser terrosa demais, mas Las Veletas conseguiu criar um exemplo de vinho mais frutado e fresco com os aromas herbáceos em harmonia com a fruta. Um belo vinho para começar um jantar ou ainda melhor, almoço.”

Paul Tudgay

Um vinho especial, delicioso, complexo, mas muito elegante, macio e fácil de degustar. O Las Veletas Estate País e Carignan é oriundo de vinhas velhas, que variam de 8 a 103 anos de idade! São elaborados com fermentação espontânea (sem adição de leveduras). O Las Veletas, a sua linha de rótulos, vieram de uma tradicional e antiga propriedade na zona seca de San Javier onde há muitos vinhedos apresentam exatamente as castas País e Carignan, dentre outras cepas mais famosas. Todo o trabalho conta com a parceria do enólogo conceituado chamado Rafael Tirado, juntamente com o proprietário da vinícola Las Veletas, Raúl Dell’Oro. O projeto começou como algo para família e amigos, movidos apenas pelo prazer de fazer um bom vinho. A total liberdade para errar e experimentar foi o berço perfeito para dar asas à imaginação e obter um resultado totalmente diferente, pois estes vinhos nasceram com o único objetivo de serem degustados em casa, fazendo um brinde e partilhando, com lotes de produção de baixas quantidades, mas qualidade superior. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Las Veletas:

Las Veletas corresponde a uma propriedade tradicional e antiga, localizada na zona seca de San Javier, onde, durante muitos anos, as vinhas foram País, Carignan e misturas de outras castas tintas. Com esta premissa, tem-se trabalhado na recuperação das vinhas velhas e no desenvolvimento de novas vinhas com vinhas mais tradicionais. Todo este trabalho, promovido pelo seu proprietário Raúl Dell'Oro, que depois de vários anos a trabalhar na área junta-se ao conceituado enólogo Rafael Tirado para desenvolver o projeto do vinho Las Veletas.

O projeto começou como algo muito familiar, de amizade, e motivado unicamente pelo prazer de fazer um bom vinho. A máxima liberdade para errar e experimentar foi o berço perfeito para dar largas à imaginação e obter um resultado verdadeiramente diferente, pois estes vinhos nasceram com o único objetivo de desfrutar em casa para brindar e partilhar, com lotes de produção reduzidos em quantidade e elevados em qualidade.

Mais informações acesse:

https://www.lasveletas.cl/

Referências:

Clube dos Vinhos: https://www.clubedosvinhos.com.br/uva-pais-chile-curiosidade-harmonizacao-caracteristicas/

Tintos & Tantos: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/604-pais

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vale-do-maule-fertilidade-e-diversidade-de-uvas-e-vinhos/

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-de-maule

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/carignan

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/uva-carignan-e-seus-mundos_3212.html