Quando você lembra-se dos vinhos
chilenos atualmente quais as castas que vem à mente? Não é difícil pensar e
também não leva muito tempo: a primeira colocada é a mais famosa, que eleva
marca vitivinícola do Chile, a Carménère.
Porém há outras emblemáticas, importantes e que faz do Chile
e suas regiões conhecidas em todo o mundo, como a Cabernet Sauvignon, Merlot,
Syrah, Pinot Noir, Chardonnay, Sauvignon Blanc etc.
Você seguindo uma lógica de mercado, afinal, vários e vários
rótulos que estampam essas castas invadem as gôndolas dos nossos supermercados
e sites especializados em vendas de vinhos, fazem destes vinhos e cepas as mais
importantes hoje e a algum tempo do Chile.
Mas não podemos negligenciar as primeiras uvas que chegaram ao
Chile e que desbravaram, junto com aqueles que as trouxeram, a história da
vitivinicultura da região edificando-a, sendo responsáveis por esse momento de
destaque do país no Cone Sul.
Falo da País, a “Misión”, a uva trazida pelos espanhóis que
seria utilizada para as celebrações da missas católicas e que caiu no
esquecimento e deixou de ser cultivada, sendo relegada ao ostracismo e a poucas
e hoje vinhas velhas. Lamentavelmente são poucos os rótulos que chegam a nossas
terras e esses poucos chegam a um valor elevado.
Tive, há algum tempo atrás, a oportunidade de degustar um
rótulo 100% País chamado Lote 1936 da safra 2018 e tive ótima impressão da
casta que, na versão deste rótulo se mostrou frutado, saboroso, elegante e
fresco.
E depois de um bom tempo sem degustar vinhos com essa casta
encontrei um rótulo a um ótimo valor que traz, pelo menos em maior proporção, a
casta País, com outra muito famosa na França e que geralmente é cultivada no
Chile em vinhas velhas, a Carignan. Não hesitei e comprei. Será que irei
gostar? Assim espero!
Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O
vinho que degustei e gostei veio da região famosa do Maule, no Chile, e se
chama Las Veletas Estate composto predominantemente por País (85%) e Carignan
(15%) da safra 2018. Para variar, vamos de histórias, vamos de Maule, onde a
País ganha algum destaque, a Carignan e a própria País.
DO Maule
A maior e uma das mais antigas regiões vinícolas do Chile, o Maule é um lugar cheio de charme e com clima propício à vitivinicultura. A região se inicia a menos de 300 quilômetros de Santiago, capital do país. Seus microclimas e solos diversos possibilitam a cultura e produção de uma variedade muito grande de vinhos, já que praticamente todas as castas de uvas cultivadas no Chile são encontradas no Vale do Maule.
A região tradicionalmente sempre esteve associada à
quantidade da produção muito mais do que à sua qualidade. Nos últimos anos,
porém, isso tem mudado substancialmente.
Castas internacionais e reconhecidas na vitivinicultura
mundial vêm suplantando as de baixa qualidade plantadas na região, e, aliada às
práticas cada vez mais desenvolvidas no cultivo das frutas e produção dos
vinhos por parte dos seus vinicultores, o Maule tem dado vinhos de alta classe
ao mercado, especialmente da variedade Carignan.
Banhado pelo famoso rio que lhe dá nome, o Maule tem clima temperado mediterrâneo, com intensidade alta de sol no verão, com temperaturas máximas entre 19º C e 30º C, e chuva anual concentrada no inverno, quando as temperaturas chegam à mínima de 7º C.
Os dias quentes seguidos de noite frias facilitam e prolongam
a temporada de cultivo e colheita das uvas, dando-lhes um tempo de
amadurecimento total, o que equilibra seus níveis de acidez e doçura. O Rio
Maule, que flui do leste para o oeste do Chile, através de um caminho que se
inicia nos Andes e termina no Pacífico, ainda propícia à região de solos
aluvial diversificados, indo desde o granítico até o arenoso. Férteis, esses
solos favorecem o cultivo produtivo nos vinhedos da região.
Região com longa e bem sucedida história na cultura e
produção de vinhos, Maule tem na vitivinicultura sua atividade econômica
principal; alguns dos mais extensos vinhedos do país estão localizados lá, e
alguns deles datam de 1830. Cerca de 50% de todo o vinho exportado do Chile é
oriundo do Vale de Maule, que sempre foi conhecida por sua produção em larga
escala.
A uva mais cultivada no Vale do Maule é a Cabernet Sauvignon com 8.888 de hectares plantados. Nos anos 1990, essa produção recebeu grandes investimentos que ocasionaram o desenvolvimento técnico em equipamentos e infraestrutura, que em conjunto com mudanças significativas nas formas de manejo dos vinhedos, favoreceu o surgimento de uma produção mais especializada, resultando vinhos de alto padrão de qualidade e elevado valor comercial.
O vale ainda oferece muitos atrativos turísticos relacionados ao mundo dos vinhos. Uma rota composta por um conjunto de 15 vinhas em diferentes cidades da região possibilita ao visitante entrar em contato com o processo de produção, além de degustação de vinhos e pratos.
País
Em meados do século XVI uma uva chamada Listán Prieto vivia
na Espanha e é levada ao México por missionários franciscanos que tinham como
objetivo cultivá-la para produzir o vinho da missa. Lá, ficou conhecida como
Misión.
Depois de um tempo, viajou aos Estados Unidos, depois à
Argentina, onde ficou conhecida como Criolla Chica, até que os jesuítas a
levaram para o Chile. A princípio, também produzia o vinho da missa, até que
ultrapassou as barreiras religiosas e foi desbravar o terroir chileno.
Somente no século XIX que a Criolla Chica ganhou o nome de
País. Não se sabe ao certo o motivo, mas ela viveu tempos de rainha no Chile
até que a Cabernet Sauvignon e a Carménère chegaram para pedir a coroa. E
levaram. Ficou esquecida a um nível onde já nem se falava mais de sua
existência. Algum boato, alguma memória aqui ou ali, nos terrenos mais remotos
do Chile, mas nada que ainda a permitisse aparecer.
Mas eis que surgiu um francês, nascido na Borgonha, instigado
pela América do Sul. Louis-Antoine Luyt planejou uma viagem de férias que virou
estadia permanente, mas para isso, precisava de um trabalho. À época, Louis
estava no Chile e virou lavador de pratos em um restaurante local, onde começou
a aprender sobre vinhos e conheceu ninguém menos que Hector Vergara: o
sommelier mais renomado do país e o único Master of Wine da América do Sul
naquele tempo.
Hector estava abrindo a Escola de Sommelier do Chile e Louis
já estava entre os seus primeiros alunos. Sabe aquela história de que o
conhecimento abre portas? Pois é. Abriu. Ainda bem. Inconformado com a
hegemonia da Cabernet Sauvignon e da Carménère nos vinhos chilenos, o francês
decidiu que iria explorar as castas e áreas de cultivo do país. Foi então que
descobriu que algumas parcelas de outras uvas ainda existiam, mas estavam sendo
vendidas ou utilizadas por camponeses para produzir vinho para consumo próprio.
Decisão tomada. Louis-Antoine Luyt ia aprender a fazer vinho. Voltou para a França estudou viticultura e enologia em Beaune e, durante os estudos, fez amizade com Mathieu Lapierre, proprietário da renomada vinícola Villié-Morgon, onde teve a oportunidade de participar de cinco colheitas e ser introduzido ao vinho natural. Munido de conhecimento, sonho e coragem, Louis abriu uma vinícola no Chile e começou a explorar diferentes terroirs e cepas locais para produzir vinhos que seriam exportados, principalmente, à França.
Mas em 2010, o desastroso terremoto resultou na perda de 90%
do seu cultivo. Ele não desistiu. Comprou mais oito hectares de vinhas, entre
elas, a País. Desde então, a cepa foi voltando aos palcos, retomando os
holofotes e mostrando (novamente) toda a sua capacidade para produzir grandes
vinhos. De muita textura e ótima acidez, a País origina vinhos rústicos,
bastante gastronômicos e corpo médio.
Com o tempo, os taninos ficam tão elegantes e macios que
parecem veludo. Em geral, a uva País não recebe muito envelhecimento em
madeira, pois os aromas dessa variedade são muito delicados e muita madeira
pode interferir demais na tipicidade do vinho. Continuou sendo cultivada,
principalmente por pequenas famílias agrícolas, até que, nas últimas décadas,
alguns produtores começaram a apostar na sua volta ao mundo dos vinhos.
A Região do Maule é considerada a maior produtora, por hectare, da País atualmente e muitas de suas vinhas, como em todo o Chile, que traz essa cepa, são antigas, com média de 70 a 100 anos de idade! Afinal, foram esquecidas por tanto tempo!
Carignan
Também conhecida por Cariñena no nordeste da Espanha e
Carignano na Sardenha, a Carignan é uma casta de uva de origem espanhola,
especificamente da região de Aragón, onde seu nome mais comum é Mazuelo.
Trata-se de uma casta bastante antiga, que foi se espalhando pela Europa ao
longo de muitos anos. A uva possui mais de 60 derivações, sendo conhecida por
diferentes nomes em todo o mundo e apresentando características diferenciadas
de acordo com a região em que é cultivada.
Na França, onde a uva parece ter chegado em meados do século
XII, atravessando os montes Pirineus, ela é chamada também de Monestel, Catalan
e Roussillonen. Esse último nome faz referência à região que mais a acolheu, o
Languedoc-Roussillon, de onde se tornou a uva tinta mais plantada da França,
ocupando (em dados de 2006 da Vitis International Variety Catalogue) mais de 73
mil hectares de vinhedos.
Da França, a Carignan se espalhou por todo o Mediterrâneo,
sendo bastante popular no sul da Itália (com o nome de Carignano ou Uva di
Spagna). Durante muitas décadas, ela foi muito utilizada para vinhos de baixa
qualidade, tanto na França quanto na Itália, o que a fez perder território para
outras castas. Felizmente, há poucos anos isso começou a mudar na Europa. Na
França ela se tornou grandiosa.
A uva possui resistência a solos com falta de água, amadurecendo e produzindo em larga escala mesmo em condições rigorosas. A casta Carignan possui casca grossa e profunda cor escura, sendo uma uva com amadurecimento tardio e de produção elevada.
A casta da uva é bastante produtiva, demandando que os
rendimentos sejam controlados para dar vinhos tintos de qualidade. É uma casta
que pede bastante sol para ficar madura.
A uva da casta Carignan (Mazuelo) vem ganhando muitos adeptos
e espaço no Novo Mundo do vinho, sendo muito utilizada também no Chile, onde
cada vez mais é empregada na produção de vinhos tintos de qualidade e com
grande reconhecimento mundial.
Os vinhos tintos elaborados com a casta Carignan mostram boa
acidez e taninos potentes, que podem conferir um leve e característico amargor,
além de um toque de rusticidade, típico de alguns vinhos do
Languedoc-Roussillon. Os melhores exemplos de vinhos tintos, geralmente
elaborados com uvas de vinhas antigas, plantadas em arbustos (goglet), podem
ser complexos e longevos.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um rubi quase translúcido, com um lindo e
brilhante violáceo, com discretas lágrimas, finas e rápidas, que desenham a
borda do copo.
No nariz é incrivelmente complexo, mas que traz frescor e
leveza, ao mesmo tempo, graças as suas notas frutadas, com destaque para
morango, framboesas, cerejas, talvez algo de amora. Têm notas herbáceas, um toque
vegetal, de ervas, que harmoniza com a fruta, com um toque floral e de terra
molhada, mas não tão evidente.
Na boca é seco, elegante, leve, fresco, que surpreende, pelo
fato de já ter cinco anos de garrafa, mas com presença. Os tons frutados ganham
protagonismo no paladar, como no aspecto olfativo, a madeira figura com mais
destaque na boca, graças aos doze meses que a Carignan, apenas, estagiou em
barricas de carvalho, entregando uma leve tosta, um café moído, torrado, com
taninos finos e boa acidez. Final de média persistência.
“A País é uma uva que pode ser terrosa demais, mas Las Veletas conseguiu criar um exemplo de vinho mais frutado e fresco com os aromas herbáceos em harmonia com a fruta. Um belo vinho para começar um jantar ou ainda melhor, almoço.”
Paul Tudgay
Um vinho especial, delicioso, complexo, mas muito elegante,
macio e fácil de degustar. O Las Veletas Estate País e Carignan é oriundo de
vinhas velhas, que variam de 8 a 103 anos de idade! São elaborados com fermentação
espontânea (sem adição de leveduras). O Las Veletas, a sua linha de rótulos,
vieram de uma tradicional e antiga propriedade na zona seca de San Javier onde
há muitos vinhedos apresentam exatamente as castas País e Carignan, dentre
outras cepas mais famosas. Todo o trabalho conta com a parceria do enólogo
conceituado chamado Rafael Tirado, juntamente com o proprietário da vinícola
Las Veletas, Raúl Dell’Oro. O projeto começou como algo para família e amigos,
movidos apenas pelo prazer de fazer um bom vinho. A total liberdade para errar
e experimentar foi o berço perfeito para dar asas à imaginação e obter um
resultado totalmente diferente, pois estes vinhos nasceram com o único objetivo
de serem degustados em casa, fazendo um brinde e partilhando, com lotes de
produção de baixas quantidades, mas qualidade superior. Tem 12,5% de teor
alcoólico.
Sobre a Vinícola Las Veletas:
Las Veletas corresponde a uma propriedade tradicional e
antiga, localizada na zona seca de San Javier, onde, durante muitos anos, as
vinhas foram País, Carignan e misturas de outras castas tintas. Com esta
premissa, tem-se trabalhado na recuperação das vinhas velhas e no
desenvolvimento de novas vinhas com vinhas mais tradicionais. Todo este trabalho,
promovido pelo seu proprietário Raúl Dell'Oro, que depois de vários anos a
trabalhar na área junta-se ao conceituado enólogo Rafael Tirado para
desenvolver o projeto do vinho Las Veletas.
O projeto começou como algo muito familiar, de amizade, e
motivado unicamente pelo prazer de fazer um bom vinho. A máxima liberdade para
errar e experimentar foi o berço perfeito para dar largas à imaginação e obter
um resultado verdadeiramente diferente, pois estes vinhos nasceram com o único
objetivo de desfrutar em casa para brindar e partilhar, com lotes de produção
reduzidos em quantidade e elevados em qualidade.
Mais informações acesse:
Referências:
Clube dos Vinhos: https://www.clubedosvinhos.com.br/uva-pais-chile-curiosidade-harmonizacao-caracteristicas/
Tintos & Tantos: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/604-pais
“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vale-do-maule-fertilidade-e-diversidade-de-uvas-e-vinhos/
“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-de-maule
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/carignan
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/uva-carignan-e-seus-mundos_3212.html
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