Há pouco tempo atrás eu participava de uma dessas “lives”
que, em virtude do caos pandêmico, virou uma moda necessária e urgente, de um
especialista e crítico de vinhos. O tema era as principais castas tintas do
mundo. A Merlot foi escolhida para ser comentada e discutida.
Em algum momento eu comentei que atualmente, no Brasil, a
Merlot está no auge, no ápice da produção e da sua qualidade expressando o
máximo de nosso terroir, com muita tipicidade.
O especialista leu o meu comentário e disse literalmente que
eu era um ufanista fazendo uma defesa cega e ultranacionalista da Merlot
produzida em nossas terras e pediu serenidade para dizer isso, levando em
consideração que há grandes Merlots produzidos na França, no Chile etc.
Em momento algum baseei o meu comentário no devaneio do
ufanismo, de um pensamento sem qualificação técnica ou coisa que o valha, mas
com base em um histórico gradativo de qualidade de degustação de vários Merlots
nacionais e o momento mágico em que a casta e seus rótulos estão vivendo nesse
país. As degustações dizem por si só!
Vamos então aos fatos: Peguei uma fala do enólogo da Casa
Valduga, diretamente do site da renovada “Revista Adega, Daniel Dalla Vale, que
diz: “A Merlot vem se destacando há vários anos e é a variedade mais constante,
especialmente no Vale”. Nos últimos 20 anos em que temos trabalhado aqui, ela é
que tem mais constância. Se você pegar um super ano, vai ter Cabernet que vai
dar um grande vinho, mas, quando falamos de constância nos tintos, é o Merlot”.
Quer ler a matéria completa? Acesse: "Os segredos da Merlot, a cepa mais consistente da Serra Gaúcha".
Então hoje decidi ir à busca de um Merlot nacional e de
preferência com aquele precinho camarada, que não dói ao bolso. Descobri em
minha cidade um local que vende vinhos a preços muito acessíveis e vi um
rótulo, claro, da casta Merlot, bem interessante, com um rótulo descontraído e
modernoso. O preço estava atraente, na casa dos R$30, então resolvi arriscar,
sem contar que, para variar, fiz uma busca, uma pesquisa sobre o rótulo e
descobri que o produtor é pouco conhecido. Tenho me interessando por esses
produtores pouco conhecidos, com seus rótulos “undergrounds”, afinal precisamos
valorizar esses produtores pouco conhecidos e que tem pouco espaço
mercadológico.
Enfim, o abri. Que vinho surpreendente! É muito melhor se surpreender positivamente com vinhos baratos do que aqueles icônicos que a margem de aceitação é enorme! O vinho que degustei e gostei veio (adivinhem?) da emblemática Serra Gaúcha, do Brasil e se chama ELK, a casta é a Merlot e a safra é 2019.
Então hoje decidi ir à busca de um Merlot nacional e de
preferência com aquele precinho camarada, que não dói ao bolso. Descobri em
minha cidade um local que vende vinhos a preços muito acessíveis e vi um
rótulo, claro, da casta Merlot, bem interessante, com um rótulo descontraído e
modernoso. O preço estava atraente, na casa dos R$30, então resolvi arriscar,
sem contar que, para variar, fiz uma busca, uma pesquisa sobre o rótulo e
descobri que o produtor é pouco conhecido. Tenho me interessando por esses
produtores pouco conhecidos, com seus rótulos “undergrounds”, afinal precisamos
valorizar esses produtores pouco conhecidos e que tem pouco espaço
mercadológico.
Enfim, o abri. Que vinho surpreendente! É muito melhor se
surpreender positivamente com vinhos baratos do que aqueles icônicos que a
margem de aceitação é enorme! O vinho que degustei e gostei veio (adivinhem?)
da emblemática Serra Gaúcha, do Brasil e se chama ELK, a casta é a Merlot e a
safra é 2019.
E quando a gente fala de grandes vinhos, em grandes regiões e
a adaptabilidade das castas às regiões, convém e muito saber um pouco da região
para entender e sentir, em seus aromas e paladares, o vinho que estamos
degustando. Então falemos um pouco sobre a Serra Gaúcha.
Serra Gaúcha
Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra
Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo
volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao
Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento
Gonçalves.
A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das
condições geo-climáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas
as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita,
período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem
ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.
A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra
Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados
ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível
de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança
e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.
O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na
Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença
de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira.
Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina
voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada
ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e
o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da
vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do
Vale.
O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a
obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em
vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a
partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos
do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma
Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da
experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.
O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado
somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais
para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos
para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O
trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da
potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação
de Origem Controlada) na região.
O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos
imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma
agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do
Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto,
logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local.
Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos
vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de
vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.
Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou
em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores
passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo
diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.
Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da
Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a
Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não
produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de
produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos
Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e
processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.
E agora o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi com lindos e brilhantes
reflexos violáceos com finas lágrimas de média persistência e em pequena
quantidade.
No nariz destaca-se os aromas frutados, extremamente frutado,
frutas vermelhas maduras, como groselha, cereja e morango com notas discretas
de madeira, graças aos 3 meses de passagem por barricas de carvalho e 3 meses
em garrafa antes de sair da vinícola, com toques de baunilha.
Na boca é seco, mostrou-se alcoólico, mas não desequilibrado,
pelo contrário, é um vinho harmonioso e equilibrado, além de jovem, frutado,
com alguma expressividade, taninos sedosos, mas um tanto quanto presentes,
acidez na medida, que denuncia a sua jovialidade, com um discreto tostado e
arriscaria dizer com um toque de chocolate. Um final persistente.
Claro que a intenção sempre é expor, de forma civilizada e
respeitando as diversidades de opinião, os assuntos mais inquietantes e
complexos do universo do vinho, mas não podemos e nem devemos negligenciar o
auge em que os nossos rótulos, feitos com a casta Merlot, estão. Há muito a se
caminhar, a cultura vitivinícola brasileira é jovem, temos muito problemas e
entraves de toda a ordem a resolver, a superar, mas não podemos negar que a
Merlot encontrou nas terras gaúchas o seu lugar. O ELK Merlot, da Casa Motter,
é um vinho simples, despretensioso, informal, mas mostra com fidelidade a cara,
o DNA do Merlot brasileiro, um vinho frutado, leve, fácil de degustar, ainda
jovem, na sua plenitude, com todas as características de um bom Merlot,
mostrando-se, nesse sentido, toda a sua expressividade, sim, um vinho de alguma
personalidade. Então brindemos o Merlot brasileiro! Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Casa Motter:
Fundada em 1974 por Guerino Motter, a Casa Motter é uma
vinícola familiar apaixonada pela vitivinicultura que preza pela elaboração de
vinhos, sucos e espumantes de alta qualidade. O cuidado começa no vinhedo,
passa pela vinificação e vai até o amadurecimento do vinho. Durante todo o
processo, o enólogo Michel Motter com formação internacional, acompanha cada
detalhe para garantir o máximo de expressão em cada vinho elaborado.
Uma bela e imponente casa, na cidade de Tenna, Itália, com
vista para o lago Caldonazzo e para seus vinhedos. Por causa da guerra e da
crise do governo italiano, Valentino e Giudita Motter e seus 4 filhos deixam
tudo para traz e emigram para o Brasil em busca da ¨Cucagna¨. Falava-se de um
país de clima quente, onde não se pagavam impostos, cujas terras medidas em cm
na pequena cidade de Tenna, no Brasil seriam em Km, onde haveria muita fartura.
Em 1879, de trem, saíram de Trento até Genova onde embarcaram
em um navio aborrotado de imigrantes. À bordo, pais, filhos, com poucos
pertences, mas grandes sonhos. No navio nasce o 5º filho de Valentino e
Giudita, Luigi, pai de Guerino. Merica, Merica, Merica, Cosa Sarala Sta Merica,
esta era uma parte da música que cantavam. Não sabiam ao certo o que era a América,
mas almejavam construí-la.
Ao desembarcarem no dia 17 de janeiro de 1880, viram seus
sonhos transformados numa dura realidade. O que encontraram não foi um ¨Bel
Mazzolino Di Fior¨. A Terra acidentada que lhes foi destinada foi regada com
suor e lágrimas. Mas com muito trabalho, fé e determinação, logo surgem os
primeiros parreirais. A uva era amassada com os pés e com isso faziam o vinho
para o consumo. Esse amor pelo cultivo da uva e elaboração dos vinhos foi
passando de geração em geração. Guerino Motter, neto de Valentino, juntamente
com a esposa e seus nove filhos, vinificavam no porão de sua casa toda a
produção de uva e comercializavam, para uma cooperativa. Em 1974 fundou a
vinícola Casa Motter. Atualmente o proprietário é Roque Motter, filho de
Guerino.
Mais informações acesse:
http://casamotter.com.br/vinhos-finos-e-espumantes/
Referência:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-segredos-da-merlot-cepa-mais-consistente-da-serra-gaucha_10653.html
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA
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