História, degustações, celebrações, experiências
sensoriais... Sempre enalteço essas palavras quando penso ou falo sobre vinhos.
Não há como dissociar, como falar, de forma isolada, sobre essas questões
quando falamos sobre vinho. Claro que há pessoas que não ligam muito para a
história do vinho, do rótulo que está degustando, tais como as castas, as
regiões etc.
Respeitamos essas decisões, mas penso como enófilo, que ter
acesso a história, por exemplo, de um vinho, pode ser preponderante para a
decisão de compra e melhor: criar uma identidade com o tipo de vinho que gosta,
ajuda a você a chegar ao vinho que gostaria de degustar no momento ou a
construção de suas predileções para com determinadas propostas da poesia
líquida.
Alguns vinhos confesso, me chamam a atenção pelo aspecto
visual, pelo que apresenta nos seus rótulos. Algumas manifestações do marketing
certamente explicam tal fenômeno, mas é deveras cuidadoso levar isso a ferro e
fogo no quesito vinho. Nem todos os vinhos entregam ao degustador qualidade
pelo fato de ostentar um bonito rótulo, pelo que ele necessariamente diz, mas,
por outro lado, pode ser relevante para entendê-lo, daí a importância de se
estudar o que o rótulo quer transmitir.
Quando vi o rótulo de um vinho sul-africano logo me chamou a
atenção, me atraiu pela beleza e pelo nome que me parecia muito peculiar. Mas
não fiquei restrito ao que ele dizia e logo comecei a garimpar o que ele queria
traduzir no rótulo e o que poderia me proporcionar de especial. As informações,
aos poucos, mesmo que limitadas, foram surgindo e isso foi atraindo a minha
atenção.
E de posse de algumas informações, bem como alguns detalhes
do vinho propriamente dito, tais como castas, safra etc, decidi compra-lo,
afinal, nada mais importante e especial celebrar o amor ao vinho por vinhos da
África do Sul tão constantes hoje em nossa realidade, o que era inviável há 20
anos, quando ainda era apenas uma distante possibilidade de tê-los em nossa
adega.
E quando o vinho finalmente foi aberto, mais uma vez, não fui
decepcionado. Então vos apresento o vinho que degustei e gostei e que veio da
toda poderosa região de Western Cape, e se chama Nzinga Cape Red, um excelente
blend composto pelas castas Cabernet Sauvignon (68%), Merlot (18%) e Syrah
(14%) da safra 2018.
Ah e já que falei das “atrações” que podem gerar interesse e que estão contidas nos rótulos dos vinhos, de cara, quando o vi pela primeira vez, o nome “Nzinga” me atraiu, me interessou e o que, após, a compra, no seu contra rótulo o produtor diz que o significado da palavra é:
Mas em uma pesquisa mais aprofundada vi que “Nzinga” era um
nome de uma princesa africana, a Princesa Nzinga, que foi uma forte figura que
fez oposição ao lucrativo comércio de escravos no século XVII. Leia mais em: “Nzinga, a rainha negra que combateu os traficantes portugueses”.
Mas antes de falar desse vinhaço, falemos da região de onde é
oriundo, da toda poderosa Western Cape, uma dos maiores produtores de vinho da
África do Sul.
Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana
Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do
Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do
país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país.
Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país.
Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.
O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a
colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as
uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes
varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande
reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a
Chardonnay e a Sauvignon Blanc.
As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século
XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários
séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de
investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao
próprio país.
Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade.
A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos
visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que
incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além
de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades,
a maioria em estilo europeu.
E agora finalmente o vinho!
Na taça entrega um vermelho rubi intenso, quase escuro, com
brilhantes reflexos violáceos, com uma razoável quantidade de lágrimas finas e
que logo se dissipavam das paredes do copo.
No nariz uma explosão de frutas negras como ameixa e amora e
frutas vermelhas como groselha e cereja, uma compota de frutas que traz
jovialidade, frescor e até personalidade ao vinho, isso graças aos 10 meses em
tanques inox, privilegiando as características de cada cepa sendo evidenciado
também no paladar. Notas de especiarias também são percebidas.
Na boca é saboroso, marcante, por ser muito frutado, com as nuances bem definidas das castas que compõe o blend, onde a personalidade da Cabernet Sauvignon é perceptível, bem como a maciez da Merlot e os agradáveis e discretos toques apimentados e herbáceos garantidos pela Syrah. Têm taninos sedosos, boa acidez e um final cheio e prolongado.
História, celebração, degustações, nomes que pode parecer um tanto quanto deslocado para muitos, mas que pode revelar rótulos especiais para quem tem apreço pelas taças sempre cheias. Nzinga Cape Red traz uma versão sul africana de um vinho fresco, frutado, mas especial por sua simplicidade, por ser direto, jovem, harmonioso e com uma incrível capacidade de harmonização, sendo muito versátil. A incrível capacidade dos vinhos sul africanos onde mesmo sendo jovial, frutado e direto, revela uma marcante personalidade. Personalidade esta, acredito, que já começa no seu interessante blend: A personalidade entregue pela Cabernet Sauvignon, a maciez da Merlot e as especiarias da Syrah. Um vinho que expressa toda a tipicidade da África do Sul, do terroir de Western Cape. Um vinho belo, saboroso, delicado e intenso. Tem 13,5% de teor alcoólico.
Sobre a
Marianne Wine Estate & Guesthouse:
Originário de Bordeaux, a família possui 3 propriedades
vinícolas, se aproximando da África do Sul graças as suas várias viagens pelo
mundo, aportando no sul da África.
O sonho era combinar o Velho e o Novo Mundo para fazer vinhos
próximos da da visão de perfeição dos produtores. Portanto, decidiram comprar a
Marianne Wine Estate & Guesthouse, uma vinícola boutique de 32 hectares
(incluindo 24 em vinhas) localizada no vale Simonsberg em 2004.
A colheita manual, a seleção das melhores uvas, o envelhecimento em carvalho francês e acácia, combinados com um "savoir-faire" francês do enólogo sul-africano Jos Van Wyk, irão levá-lo a explorar alguns dos melhores vinhos produzidos na região.
Mais informações acesse:
Referências:
“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/
“Portal Geledés”: https://www.geledes.org.br/nzinga-a-rainha-negra-que-combateu-os-traficantes-portugueses/
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