sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Quinta Don Bonifácio Tannat Reserva 2007

 

Sempre ao término do ano, na transição para o ano novo algumas metas são renovadas: sucesso profissional, emagrecer, ser mais tolerante e legal etc. Ano novo, intenções velhas. Velhos obstáculos, projetos... O ser humano é movido por metas e projeções para dar o mínimo de sentido a vida ou uma espécie de farol para ter um norte na vida.

Como um homem sistemático sempre serei a favor de método na vida, mas nunca se escravizar a eles. A vida precisa ser leve, principalmente transparente, respeitando a elas, buscando novidades para que ela siga dessa forma. Mas algumas tradições, por mais austeras que ela aparenta, podem trazer alguns prazeres.

E claro falo do vinho, do universo do vinho, o que nós tratamos por aqui, linhas de auto ajuda à parte. Decidimos por alguns anos consecutivos promover um churrasco em família para, dentro do possível, comemorarmos um novo ano.

E com ele veio também a decisão de um novo rótulo e como mencionei o quesito tradição veio à tona. Quando falamos em churrasco o que vem à mente? Vinhos encorpados, estruturados e com alguma complexidade.

Mas vinhos tintos com essa proposta em pleno verão de dezembro no Brasil? Será que há uma espécie de “incoerência” nessa escolha? Não sou um especialista, apenas um relés enófilo, mas penso que temos de ser regidos por nossa vontade, pelo que o coração nos diz. Talvez um espumante mais seco e com boa acidez possa ser uma escolha mais “decente”, mas dessa vez decidi pela tradição, pelo óbvio.

Mas o rótulo não é nem um pouco óbvio, mas uma escolha pouco ortodoxa e incomum e logo direi o motivo: Um vinho com 14 anos de vida! Sim! Um rótulo com seus longos 14 anos de vida, no auge de sua evolução. Bem se está no auge de sua evolução eu não sei ainda, mas eu sei que a decisão da escolha foi óbvia, mas o rótulo é sem dúvida arrojado.

Quando degustamos um vinho com algum tempo de safra sempre tem aquela dose de incerteza. Como ele estará? O que ele nos reservará? Pode estar no ápice de seu momento evolutivo, pode estar em declínio, é sempre um momento de apreensão, com um misto de privilégio, pelo fato de degustar um vinho com esse tempo de vida, mas de preocupação também, pelo fato do que irá encontrar.

Mas decidi ser o mais positivo possível projetando (olha a palavra aí novamente) as possibilidades que possibilitam que esse vinho possa estar em seu grande momento, mesmo que esteja quase debutando. Trata-se de um Tannat que, genuinamente, traz muitos taninos, o que viabiliza sua longevidade. A passagem por barricas de carvalho, que traz complexidade, estrutura ao rótulo.

O tempo poderá ser um mero detalhe a este vinho. O momento é chegado! A rolha, delicadamente se desprendeu da garrafa, parecia que ele nascia para o nosso deleite. A taça foi inundada de expectativas, os aromas timidamente se mostrando. Um buquê aromático aos poucos foi mostrando a que veio os famosos aromas terciários: toques balsâmicos, de café torrado mesmo, com frutas secas, couro, tabaco, especiarias. Uma loucura! Na boca ainda trazia a plenitude, a vivacidade das frutas, apesar de discreta, se fazia presente. Personalidade é o seu nome! Não vou entrar, pelo menos ainda, em detalhes sobre o vinho, mas não preciso dizer que o vinho é especial.

Mas de qualquer forma vou evocar a frase que dá nome a este humilde diário virtual. O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e necessária Serra Gaúcha, no Brasil e se chama Quinta Don Bonifácio Reserva da casta Tannat, da safra 2007. Nada como a austeridade da harmonização para te entregar alegria e deleite, a ode ao prazer. E para trazer um pouco de história e curiosidade, para não perder o costume, falemos um pouco da grande Serra Gaúcha e um pouco da história dele, do churrasco, tão importante e tradicional nas tradições gaúchas, argentinas, tendo a Malbec como protagonista e no Uruguai tendo o Tannat como carro chefe.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

As origens da Parilla: o famoso churrasco

Não existe referência exata sobre a origem do churrasco, mas presume-se que a partir do domínio do fogo na pré-história, o homem passou a assar a carne de caça quando percebeu que o processo a deixava mais macia.

Na América do Sul a primeira grande área de criação de gado foi o pampa, uma extensa região de pastagem natural que compreende parte do território do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, além da Argentina e Uruguai. Foi ali que os vaqueiros, conhecidos como gaúchos tornaram o prato famoso e típico.

A carne assada era a refeição mais fácil de preparar quando se passava dias fora de casa, bastando uma estaca de madeira, uma faca afiada, um bom fogo e sal grosso, ingrediente abundante e que é utilizado também como complemento alimentar do gado. A partir dali o costume cruzou as regiões e se tornou um prato nacional, multiplicando-se as formas de preparo, o que gera entre os adeptos muita discussão sobre o verdadeiro churrasco, como por exemplo, a utilização de lenha ou carvão, de espeto ou grelha, temperado ou não, com sal grosso ou refinado, de gado, suíno, aves ou frutos do mar. O correto é afirmar que não existe fórmula exata, uma vez que cada região desenvolveu um tipo diferente de carne assada, mas, sem dúvidas, a imagem mais famosa no Brasil é o churrasco preparado pelos vaqueiros, conhecidos pelo termo latino gaúcho, que se transformou na denominação dos cidadãos nascidos no estado do Rio Grande do Sul.

Na Argentina e no Uruguai o churrasco típico é chamado asado, e é o prato nacional de ambos os países. Tradicionalmente é feito na grelha com uso de lenha, mas também se usa carvão pela praticidade.

Os gaúchos alimentavam-se, sobretudo de churrasco no pão, que está na origem do asado rio-platense. Na Argentina o asado tradicional dos Pampas estendeu-se a toda a população, e hoje, devido á qualidade e ao preço baixo, é consumido por todas as classes sociais.

Aos finais de semana, as famílias se juntam nos pátios das casas para desfrutar um asado mais sofisticado que inclui, além de famoso bife, todo o tipo de achuras – órgãos menores como os rins, intestinos, estômago e ainda morcelas e vários tipos de embutidos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro com bordas de cor atijoladas, acastanhadas, mostrando evolução, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz explodem os aromas terciários, um envolvente bouquet que traduz em complexidade com frutas secas, frutas negras maduras, notas amadeiradas, couro, tabaco, um toque intrigante de terra molhada, floresta.

Na boca é estruturado, complexo, mas elegante graças aos seus 14 anos de vida, mostrando uma evolução correta e vagarosa, com taninos presentes, maduros, mas polidos e pelo tempo, o que lhe confere um bom volume de boca, com acidez vivaz, mas na medida, com as notas amadeiradas em evidência graças aos seus 16 meses de passagem por barricas de carvalho, com aquele toque de café, tostado e especiarias doce que o torna ainda mais atraente. Tem um final curto, de média persistência.

Eu resumiria, mesmo que óbvia em uma palavra esse momento de degustação: privilégio. Para mim, um humilde enófilo, degustar um rótulo brasileiro de 2007, com 14 anos de vida e se revelando vivo, pleno na taça não é todo dia e fazê-lo em um momento de alegria com os seus, de celebração, de transição de um novo ano sem a preocupação de se cobrar, mas com a alegria de novos tempos, é de suma importância. Degustar, pela primeira vez, um rótulo de um produtor, a sua primeira vindima, a sua primeira colheita, também é motivo de muita alegria e respeito à terra, ao terroir, a cultura daquele povo, é ímpar. O vinho que degustei e gostei foi a primeira colheita da Don Bonifácio, uma vinícola jovem, fundada em 2000, mas que respeita as tradições da Serra Gaúcha. E como está a harmonização com o churrasco? Maravilhoso! Especial! Nunca foi tão óbvio, nunca foi tão delicioso! Um vinho supreendente, que evoluiu muito bem e que entregou elegância, delicadeza, mas complexidade e a estrutura ou melhor a personalidade marcante do Tannat, com a assinatura do produtor brasileiro que, a cada ano, vem fazendo emblemáticos Tannats para o nosso deleite! Um viva a 2022 e que o vinho seja a nossa razão de ser! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta Don Bonifácio:

A Quinta Don Bonifácio está situada a 800 metros de altitude em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Todos os produtos são elaborados através de vinhedos próprios, os quais se encontram localizados em Santa Lúcia do Piaí, e em São Francisco em Galópolis.

Os vinhedos foram planejados no início do ano de 2000, com o objetivo de produzir as melhores variedades de uvas da região, com a primeira colheita em 2007.

A vinícola tem uma estrutura projetada para a elaboração de vinhos finos e espumantes de excelente qualidade, visando atender consumidores exigentes e diferenciados.

É uma vinícola que projetou a sua criação na elaboração de excelentes produtos, no bom atendimento e na satisfação do consumidor.

Mais informações acesse:

https://www.quintadonbonifacio.com.br/site/#home

Referências:

“Cabana Monte Fusco”: http://www.cabanamontefusco.com.br/a-origem-da-parrilla/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

 




quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

El Miracle by Mariscal Garnacha Tintorera 2015

 

Repletos de estreias marcam essa degustação de hoje. Novas experiências sensoriais têm sido primordial para as minhas degustações ultimamente. E tenho feito isso de forma meticulosa, bem cuidadosa. Não são somente as estreias, as novidades, mas a busca incessante e urgente de fazer com que a adega seja tenha um leque de opções variado, grande, diversificado.

O risco da “zona de conforto” pode trazer a tranquilidade das suas predileções, mas podemos, por outro lado, nos tornar escravos de nossas preferências. Então nada mais prudente do que buscar novas regiões, novas castas, aquelas menos conhecidas, mais raras ou aquelas que eu simplesmente não degustei ainda, independente de sua popularidade e temos também o contato com novos produtores e isso tem me estimulado também.

E a degustação de hoje me traz o contato com uma casta que degustei em blends, geralmente para trazer cor e alguma potência ao vinho, mas terei a oportunidade e o privilégio de degusta-la em varietal. Terei também meu primeiro contato com um produtor que, após a aquisição desse rótulo, li sobre e observei que se trata de uma vinícola muito importante e tradicional que tem atuações em várias regiões emblemáticas espanholas.

Então a expectativa e ansiedade estavam na estratosfera! Não é muito comum encontrar por aí varietais de Garnacha Tintorera ou a famosa Alicante Bouschet. Garnacha Tintorera é como a cepa é conhecida em terras espanholas. O produtor, Vicente Gandia, quem produziu o rótulo e a região é Valência. Já degustei uns poucos valencianos, então será também especial degustar, depois de algum tempo, um vinho dessa região.

Sem mais delongas apresentemos o vinho! O vinho que degustei e gostei é oriundo de Valência, na Espanha, e se chama El Miracle By Mariscal e a casta, é claro, é a Garnacha Tintorera ou a mundialmente Alicante Bouschet da safra 2015. E para não perder o costume vamos de história! Falemos da Garnacha Tintorera ou Alicante Bouschet e falemos também um pouco da pouco badalada, mas importante região espanhola de Valência.

Garnacha Tintorera ou Alicante Bouschet

O palco da uva tinta Alicante Bouschet é, sem dúvidas, a região de Alentejo, em Portugal, onde esse tipo de uva faz grande sucesso. A variedade é utilizada para adicionar corpo e estrutura aos rótulos produzidos na região, bem como dar mais volume aos vinhos.

Criada em laboratório pelo Francês Henri Bouschet, no final de 1800, na região de Languedoc-Roussillon, a uva Alicante Bouschet é a união das castas Petit Bouschet e Grenache. Apesar de ter sido criada na França, esse tipo de uva é majoritariamente cultivado em Portugal, e os vinhos tintos que usam a Alicante Bouchet são rótulos frutados de bom equilíbrio.

E essa prática de cruzamento de castas vitiviníferas parecia ser rotineira na família Bouschet. Antes do filho Henri, o pai Louis Bouschet em 1824 havia criado a Petit Bouschet, uma casta que se destaca em locais quentes, tanto que um dos principais terroirs da uva é a Argélia.

Mas o nome da família na vitivinicultura mundial seria marcado pelo filho de Louis, Henri Bouschet em 1866 pegou a criação do seu pai e fez um cruzamento com a Grenache. Nascia ali a Alicante Bouschet.

Batizada com o sobrenome da família Bouschet e Alicante por ser uma das formas que a Grenache era conhecida, a uva se espalhou e chegou a ser uma das mais plantadas do mundo.

Apesar de ter sido criada na França, esse tipo de uva é majoritariamente cultivado em Portugal, e os vinhos tintos que usam a Alicante Bouchet são rótulos frutados de bom equilíbrio. A casta proporciona enorme capacidade de envelhecimento para os exemplares, de forma que os vinhos se tornem profundos, aromáticos e que se assemelhem a canela e pimenta.

O principal fator que levou a Alicante Bouschet a cair no gosto dos produtores é que se trata de uma casta tinturada. Ou seja, além da casca, a polpa também tem cor. Os vinhos assim são mais estruturados e encorpados mesmo com tempo menor de maceração.

Esse fato levou a uva a ser uma das mais utilizadas durante a Lei Seca nos Estados Unidos. Imagine que com a proibição de fabricação, transporte e vendas de bebidas alcóolicas um punhado de uvas poderia facilmente e rapidamente se transformar em vinho. E era isso o que acontecia. Os comerciantes vendiam “tijolos de Alicante Bouschet” que os “enólogos”, que eram os próprios compradores, colocavam em banheiras cheias de água e pronto, vinho. Ou quase isso...

Fato é que em meados do século 20 a Alicante Bouschet começou a ser deixada de lado. O estilo de vinho encorpado poderia ser feito com outras uvas e ali começou um declínio da casta. É aí que entra Paulo Laureano. O enólogo português é conhecido por transformar a francesa Alicante Bouschet na portuguesa Alicante Bouschet. Ou como ele gosta de dizer “a naturalizei portuguesa. E digo ainda mais, a naturalizei como alentejana”.

Muito utilizada em vinhos de corte, a Alicante Bouchet dá origem a vinhos excelentes que harmonizam de forma notável com pratos que levam carnes vermelhas. Isso se deve à sua tanicidade, que contrasta muito bem com a gordura, criando sensações memoráveis no paladar.

A uva Alicante Bouchet também é bastante utilizada na elaboração de vinhos na Espanha e Croácia, regiões nas quais recebe diferentes nomes. Na Croácia, por exemplo, a uva é conhecida como Dalmatinka ou Kambusa, enquanto na Espanha é popularmente nomeada como Garnacha Tintorera, ainda que a Organização da Vinha e do Vinho (OIV) não reconheça o sinônimo espanhol.

A primeira referência ao cultivo desta variedade na Espanha é de García de los Salmones (1914), que cita a sua presença em todas as províncias da Comunidade Valenciana, Castilla-La Mancha e Galiza, em Murcia, em várias províncias de Castilla y León e em Vizcaya, Granada e Jaén. Da mesma forma, García de los Salmones (1940) indica que Garnacha Tintorera não deve ser confundido com Tinto Fino ou Cencibel, nem com Tinto Basto ou Borrachón da região de La Mancha. Nem com o comum Tinto de Madrid. Salienta que não está claro que variedade e com que nome é cultivado, uma vez que as variedades que lhe dão muita cor tentam levar o nome do tubarão azul mais famoso: Alicante Henri Bouschet.

A dúvida se Alicante Bouschet é sinônimo de Garnacha Tintorera estendeu-se até 2003, quando foram realizados estudos em El Encín e recentemente confirmados por marcadores moleculares. Antes desses estudos, Galet e Hidalgo em 1988 disseram que "há uma variedade intimamente relacionada com Alicante Bouschet e conhecida como Garnacha Tintorera, Moratón, Alicante, Tintorera ou Tinto Velasco, é uma variedade de uva vermelha, cuja casca contém muito coloração", duvidando de que ambas as variedades fossem sinônimos. Chirivella em 1995, indicou que na França eles chamam Garnacha Tintorera como Alicante Bouschet, tentando confirmar esta sinonímia, e posteriormente Peñín, em 1997, disse que Garnacha Tintorera é uma variedade espanhola com características muito semelhantes a Alicante Bouschet . Há autores que os consideram iguais e outros não. Indica que “sua origem seria Alicante ou Albacete, e posteriormente teria passado ao noroeste da Península”. A equipe do IMIDRA confirmou em 2003, estudando o DNA, que existem três variedades de tintorera presentes na Espanha (com polpa pigmentada): Petit Bouschet, com o sinônimo Negrón de Aldán; Morrastel-Bouschet, cruzamento de Morrastel (= Graciano) x Petit Bouschet, com a sinonímia Garnacho; e Alicante Henri Bouschet, cruzamento de Alicante (= Garnacha) x Petit Bouschet. Esta última variedade é a que mais se difundiu das três e é a que conhecemos na Espanha Garnacha Tintorera.

Portanto, Garnacha Tintorera é a variedade Alicante Henri Bouschet. Henri Bouschet deu a este cruzamento o nome de Alicante Henri Bouschet por tê-lo feito usando Garnacha como mãe, na França sendo um sinônimo de Garnacha o nome Alicante. 

Valência

A produção de vinho no norte da região de Valencia – escrito València na língua local, e também conhecida pelos espanhóis como Levante ou Valenciano – é dominada por antigas áreas de plantações ao redor de Valencia, a terceira maior cidade da Espanha.

Seus vinhos incluem os tintos, rosés, brancos e os famosos vinhos para sobremesa de uvas plantadas em quatro subzonas. Para cada tipo de vinho se utiliza sua própria tradição na elaboração. Graças às exportações que duram séculos (através do porto da cidade), a produção está mais focada no mercado internacional do que no mercado interno. Um acordo formal permite que as bodegas de Valencia comprem vinho da região vizinha Utiel-Requena.

Valencia não é somente um lugar na costa do Mediterrâneo. Seu interior alberga surpresas que fazem com que suas praias sejam esquecidas. Lá se pode desfrutar de centenas de hectares de vinhedos. Zonas rurais e de uma gastronomia rica. Ideal para deixar para trás a cidade, desconectar-se totalmente e relaxar. 


Valência

O vinho, as bodegas e os viticultores converteram-se em um motor para a conservação das paisagens e para a sustentabilidade desta comarca. A viticultura é o eixo econômico, social e cultural de Fontanar dels Alforins, La Font de la Figuera e Moixent, por exemplo. Com mais de dois mil anos de história na elaboração do vinho, que hoje em dia continua sendo produzido com muito respeito e esforço. Seguindo os princípios da agricultura sustentável.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo vermelho rubi intenso, com discretas bordas violáceas, diria com tons acastanhados talvez mostrando alguma evolução, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz entrega um aroma intenso e perfumado de frutas vermelhas maduras e pretas e se destacam a ameixa, cereja e amoras. Notam-se as notas amadeiradas, graças aos 8 meses em barricas de carvalho, e também um toque floral que potencializa a expressividade aromática.

Na boca é intenso, estruturado e envolvente, é cheio em boca, com um bom volume, mas fácil de degustar, elegante, redondo e saboroso. Tem taninos presentes, diria carnudos, porém domados, polidos, graças à madeira e os seus seis anos de safra. Acidez correta, álcool imperceptível, muito bem integrado ao vinho, com notas amadeiradas, de tabaco, tosta e chocolate. Tem final prolongado, persistente.

Um clássico! Ou diria um “novo clássico” em minha trajetória enófila! Um vinho, uma casta que carrega história e tradição que passeou e passeia por terras espanholas, portuguesas, francesas e chegou a minha mesa, que inundou a minha humilde taça e que arrebataram, de forma definitiva, as minhas humildes percepções sensoriais. A experiência foi singular, essencial e maravilhosa! Redondo, equilibrado, elegante, mas carnudo, estruturado e complexo como pede a casta, com toda a sua característica mais marcante. Sim, um vinho marcante, de personalidade, mas que com o tempo, cerca de seis anos de safra, ganhou elegância e maciez. Tem 13% de teor alcoólico.

No tocante a elaboração, que me chamou a atenção, diz o produtor em seu portal na internet:

“El Miracle By Mariscal é produzido a partir de uma seleção de uvas Grenache Tintorera colhidas manualmente e cultivadas em vinhas de 35 anos de idade treinada em gobelet, localizadas na área de produção de vinho “Valentino”. O vinho é produzido com maceração muito lenta e fermentação alcoólica até ao fim da fermentação maloláctica, altura em que o vinho é despejado em cascos de carvalho francês de segundo enchimento. Isso garante a combinação perfeita entre o caráter frutado do varietal Grenache Tintorera e a madeira”.

Sobre a Bodega Vicente Gandia:

A bodega tem mais de cem anos - viticultores desde 1885 - e agora tem um caráter decididamente mediterrâneo. No início estavam exclusivamente empenhados na produção e comercialização / distribuição dos vinhos, que ainda assim tinham algo de especial.

Pelo espírito inovador que sempre caracterizou a adega, e depois de muitos anos no setor da exportação de vinhos, deram um passo mais longe: em 1971 foram a primeira adega valenciana a comercializar vinho engarrafado da marca Castillo de Liria , que quase cinquenta anos depois ainda é uma de suas marcas icônicas.

O crescimento continuou então em 1990 a família Gandía decidiu investir na Fazenda Hoya de Cadenas. Um paraíso vitivinícola localizado em Las Cuevas de Utiel, este local idílico tem as características perfeitas para produzir as melhores uvas e assim puderam produzir excelentes vinhos na mesma propriedade. Isto significou um salto quântico na qualidade dos vinhos e desde então a procura da excelência tem sido a imagem de marca da adega.

A vinícola é atualmente administrada pela 4ª geração da família Gandía, mantendo-se fiéis aos valores dos fundadores e contribuem para o progresso e a prosperidade do negócio apostando na qualidade e na inovação, sem esquecer a tradição vitivinícola.

A abordagem mediterrânea permeia a filosofia de vinificação da bodega e espalha a sua cultura do vinho por todo o mundo é a chave para a sua identidade. Produzem vinhos de diferentes Denominações de Origem através de um cultivo sustentável, criaram safras modernas e elegantes, além de proteger e desenvolver as variedades autóctones. Contam com a mais moderna e avançada tecnologia que permite produzir vinhos de acordo com métodos tradicionais com a máxima segurança, contribuindo para a poupança de energia e cuidando do meio ambiente.

Hoje, estão em 90 países nos 5 continentes, e são a maior vinícola da Comunidade Valenciana . Além disso, em 2014 ganharam o prêmio de melhor vinícola espanhola no prestigioso concurso internacional AWC Viena. Nesse mesmo ano, a Associação Mundial de Escritores e Jornalistas de Vinhos e Bebidas espirituosas a incluiu em seu ranking das 50 melhores vinícolas do mundo. Em 2018, o Congresso Europeu das Confrarias Enogastronômicas (CEUCO) atribuiu o Prémio “Aurum Europa Excellente” a Vicente Gandía como “Melhor Adega Europeia”.

Mais informações acesse:

https://www.vicentegandia.es/en/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/portuguesa-com-certeza-francesa-porem-alentejana-alicante-bouschet_13332.html

“Vinho Virtual”: https://vinhovirtual.com.br/regioes-123-Valencia

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/08/valencia-espanha/

https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/02/uva-garnacha-tintorera/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/alicante-bouchet

“Vinos Alicante DOP”: https://vinosalicantedop.org/sobre-la-alicante-bouschet/

 

 

 

 

 

 










segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Praça dos Marqueses Escolha 2018

 

É possível ser fã de um produtor de vinhos? A resposta é tão objetiva quanto a pergunta: Sim! E quando você degusta os rótulos de todas as propostas, de toda a linha e chega a essa conclusão é a prova contundente da idoneidade e qualidade da vinícola.

Foi por intermédio da Adega de Cantanhede que descobri os vinhos da Bairrada e do Beira Atlântico que, quando chega em nossas terras, em pouca quantidade, em comparação, por exemplo, aos alentejanos, do Porto e por aí vai, com um preço justo é melhor ainda. Degustar rótulos, degustar vinhos de qualidade a um preço acessível a vários bolsos, o famoso custo X benefício.

E que me chama a atenção na Adega de Cantanhede, além, claro, dos seus vinhos e rótulos, são as histórias e culturas do seu povo estampado nos seus rótulos que muita explica a qualidade do vinho, o seu terroir.

E o vinho de hoje entrega todo esse “combo” de que falei e revela aquela surpresa grata de um vinho de excelente custo, mas que entrega muito mais do que valeu. O que era a assinatura de um vinho produzido por uma vinícola de que sou fã, passou a ser também um belo rótulo, como disse, surpreendente!

O vinho que degustei e gostei veio do Beira Atlântico, região lusitana próxima à da emblemática Bairrada e se chama Praça dos Marqueses Escolha composto por um interessante blend capitaneado pela casta tradicional da região Baga (60%), Touriga Nacional (20%), Jaen (10%) e Castelão (10%) da safra 2018.

E aí vem aquela dúvida: Mas o que significa a palavra “Escolha” que vem junto com o nome do vinho. Eu confesso que, até pouco tempo atrás, eu não sabia o significado e consegui buscar a definição por intermédio de algum produtor que não me recordo cujo vinho comprei e que carregava essa nomenclatura no seu rótulo. “Escolha” é uma denominação de qualidade, tal como reserva. Significa que obteve uma qualificação uns pontos acima do “normal” regional, pelo organismo que certifica o vinho.

Bem depois dessa entrada e que já, previamente, define a percepção positiva que tive do vinho o degusta-lo, sigamos com um pouco mais de história e falemos um pouco sobre a região do Beira Atlântico, ainda um pouco conhecida entre nós, enófilos brasileiros.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, mas com bordas, entornos violáceos brilhantes com algumas lágrimas finas de média persistência.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas maduras, frutas negras e frutas silvestres, algo de floresta, talvez um pouco de rusticidade conferido pela Baga, com notas agradáveis florais.

Na boca é frutado, redondo, macio, tem estrutura leve para média, é saboroso, com alguma elegância, um pouco alcoólico, mas que não incomoda, não é algo desequilibrado, tem taninos macios e acidez correta, com um final frutado e prolongado.

E falando em curiosidades e história, por que o nome do vinho é “Praça dos Marqueses”? Lá vai a resposta: Em homenagem à Família Meneses, Senhores de Cantanhede e titulares dos títulos nobiliárquicos de Cantanhede e Marquês de Marialva, que aqui residiram ao longo de várias gerações, contribuindo para o desenvolvimento da região, deixando património edificado de grande relevo, nomeadamente a residência familiar Palácio dos Meneses, um edifício quinhentista, hoje Paços do Concelho, localizado na principal Praça da Cidade.

Esse mesmo palácio quinhentista que estampa o rótulo do vinho. Degustemos história, cultura, a degustação traz o intercâmbio cultural, o prazer da bebida, o terroir de uma região, o apelo regionalista evidenciado pelas suas castas mais famosas, autóctones. Um vinho que não passa por barricas de carvalho, que entrega as características mais genuínas de cada casta, traz o vinho na sua gênese sem o mínimo de intervenção. Como diz o grande Didu Russo: “Quer mensurar a qualidade de uma vinícola, deguste os seus vinhos mais básicos”. Esse vinho entregou muito mais do que eu esperava e do que eu investi. Excelente! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. Sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Soul Wines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

 





sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Ernst Loosen Pinot Noir 2017

 

Os períodos de festas de fim de ano vêm chegando. As pessoas decidem ficarem legais e boazinhas talvez “contaminadas” pelo natal e ano novo, o cidadão fica meio maleável às coisas da vida. Eu nunca me importei com essas festas de fim de ano, não tem nenhuma relevância no que tange as quaisquer mensagens edificadoras, apenas um viés mercadológico, de consumo exacerbado e nada mais.

Não vou entrar na complexidade da questão, contudo não posso negligenciar que as iguarias gastronômicas são excelentes! Come-se maravilhosamente e demasiadamente nesses dias e para nós, enófilos de plantão, torna-se um desafio harmonizar um rótulo com essa grande demanda de pratos, com a diversidade de sabores e aromas.

E para quem não é um especialista em harmonizações como eu, ao longo desses anos, tem sido complicado escolher um vinho, uma casta, uma região, que seja, que pudesse ser uma espécie de “coringa” que harmonize muito bem com os diversos pratos sem ter que escolher diversos rótulos para cada tipo de comida.

Levou algum tempo escolher aquele vinho legal que tivesse esse “perfil” mais versátil. Mas sem querer eu consegui chegar a um rótulo, ou melhor, uma casta que sintetizasse o meu propósito. Eis que surgiu a já conhecida e maravilhosa Pinot Noir. Sim! Pinot é delicada, frutada, leve, na maior parte das propostas, e ideal para o período de clima quente como em dezembro, por exemplo.

Acho que cheguei a degustação “perfeita” para o natal e, claro que para este difícil e complicado ano de 2021 a Pinot Noir figuraria na minha degustação do dia do famigerado Papai Noel comercial. E já estou no terceiro ano seguido, tornando-se uma “nova tradição”. Os dois anos anteriores os vinhos Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2017 e o francês do Languedoc, Domaine de la Motte 2018, foram os contemplados e o rótulo de hoje é especial também.

Esse rótulo vem da Alemanha! A minha segunda experiência com a Spätburgunder, como é chamada a Pinot Noir naquelas bandas. O primeiro que degustei fora com um grande amigo Paulo Roberto e se chama J. Meyer Pinot Noir da safra 2018. Então precisava ter uma nova experiência sensorial. Na realidade esse vinho já estava na minha adega há algum tempo, já estava quando o meu bom amigo Paulo trouxe esse rótulo germânico em minha casa, somente aguardava para abri-lo em um momento especial, conveniente, diria.

E eis que o dia chegou e na temperatura mais do que adequada, apesar da dificuldade de manter resfriado em dias quentes em Niterói, Rio de Janeiro, ele estava no ponto para ser degustado, deleitado. A rolha anunciou sua liberdade da garrafa, a bebida inundou a minha taça e... voilá! O vinho que degustei e gostei veio da icônica região de Pfalz, na Alemanha e se chama Ernst Loosen, da casta Pinot Noir, da safra 2017. E como a Alemanha tem sido desbravada, vagarosamente por mim, ao longo desse curto período de tempo, nada mais do que pertinente falar sobre a região que veio o vinho e das classificações dos vinhos alemães que ainda é um assunto muito novo em nossas terras. Ah surgiu também o nome Ernst Loosen, de um viticultor alemão que vem ganhando notoriedade ao longo dos anos e convém claro falar sobre ele também e falarei no desfecho dessa resenha. Chegarei lá!

Pfalz

Localizada no sudoeste da Alemanha e fazendo fronteira com a Alsácia, na França, Pfalz é famosa por seus vinhos. É a segunda maior das 13 regiões vinícolas do país, com mais de três mil famílias de vinicultores dedicadas à produção de vinho. Região estreita de 22.000ha, o Platinado se estende a oeste do Reno, por cerca de 80 km seguindo um eixo norte-sul. Divide-se em três setores: Mittelhaardt (Haardt média), Deutschen Weinstraße (Rota Alemã do Vinho) e Südliche Weinstrasse (Rota Sul do Vinho).

Os melhores vinhedos ladeiam as encostas a leste da Floresta do Platinado. A região é famosa pela qualidade de seus vinhos brancos, particularmente por seus Rieslings, vinhos de caráter, minerais, geralmente encorpados, mas também muito finos. A produção dos vinhos tintos é muito limitada, mas sua qualidade é geralmente excelente.

Pfalz

A região vinícola do Palatinado, denominada oficialmente de Pfalz, pode ser descoberta da melhor maneira pela Rota Alemã do Vinho (Deutschen Weinstraße). Essa rota turística de vinhos, a mais antiga do gênero no mundo, liga diversas cidades produtores de vinho, de Bockenheim, ao norte, a Schweigen, na fronteira com a França. A rota permite conhecer de maneira agradável a região vinícola entre a floresta Pfälzerwald e o Reno.

Pfalz possui uma grande variedade de solos: arenito (na maior parte da região), calcário erodido, ardósia, rocha basáltica e loess (sedimento fértil de cor amarela que só existe em algumas partes da Europa e da China), entre outros - o que permite o cultivo de amplo sortimento de castas de uvas tintas e brancas. Comparado a outras regiões alemãs, o clima de Pfalz é mais quente, porém ameno. Não há invernos rigorosos e verões de altíssimas temperaturas. A chuva acontece na medida certa e tudo isto beneficia o cultivo das uvas, influenciando diretamente na qualidade destas.

Em Pfalz são cultivadas 45 castas de uva branca e 22 de uva tinta. Aproximadamente 25% dos vinhedos do local são cultivados com a variedade Riesling, por isso, Pfalz é considerada a maior produtora destas uvas em todo o mundo. Entretanto, 40% dos vinhedos são de frutas tintas, e a região é a maior produtora de vinhos tintos do país. Além da Riesling, as uvas brancas Gewürztraminer e Scheurebe são destaque na região. Entre as tintas cultivadas em Pfalz temos Dornfelder, Portugieser, Spätburgunder (Pinot Noir) e Regent, além das mundialmente conhecidas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo e Syrah. Em Pfalz a Pinot Noir dá os melhores resultados dentre as regiões alemãs.

O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade, tipo e estilo do vinho. Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e outros que são apenas opcionais.

O vinho alemão passa por um rigoroso teste de controle de qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de Agricultura (DLG). Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de qualidade. Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e qualidade das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de qualidade podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por também conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas autorizadas, entre outros.

Nomenclatura dos vinhos alemães

Deutscher Wein: São os vinhos mais simples de todas as categorias. Os vinhos podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de todo o território alemão.

Landwein: Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.

Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA): É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:

Trocken: vinho seco.

Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.

Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes ao Halbtrocken.

Liebliche: vinho doce.

Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.

Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein

As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de colheita:

Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras. Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.

Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.

Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no paladar. A doçura no paladar não é uma regra.

Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta concentração.

Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.

Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta o típico e lindo vermelho rubi, claro, com reflexos violáceos, em tons vivazes e brilhantes, com lágrimas finas e em profusão.

No nariz explodem em aromas de frutas vermelhas frescas, mesmo com seus quatro anos de vida, de safra, tais como amora, cereja, framboesa e morango, em plena sinergia com a madeira, além de toques terrosos, que lembra floresta, florais e de especiarias.

Na boca ressalta-se a fruta vermelha mesclando, de forma equilibrada, com as notas discretas da madeira e baunilha, graças aos 50% do lote que passou por longos 15 meses em barricas de carvalho e a outra metade em tanque de inox pelo mesmo período. Revela-se um vinho harmonioso, fresco, saboroso, com estrutura média, complexo, de bom volume de boca, com taninos vivos, presentes, mas delicados, com grande acidez e um final prolongado e frutado.

Um cantinho desse planeta fértil em produção vitivinícola vem, aos poucos, com paciência e deleite, sendo explorado. Cada rótulo, cada casta, cada região vem demonstrando, de forma significativa seu potencial, sua magnífica história. É um grande prazer degustar, sentir os aromas, a experiência sensorial a toda prova, adicionando, claro, o fator histórico, da cultura dessas regiões que são definitivas para as degustações e todas as impressões. Ah e as harmonizações com as iguarias gastronômicas natalinas? Digo que, mais uma vez, foi uma acertada escolha. Trata-se de um vinho com longos 15 meses por barricas de carvalho, cerca de 50% do lote, que trouxe complexidade e até estrutura ao vinho, mas que se equilibrou maravilhosamente com a delicadeza, enaltecendo a fruta e a elegância tão comum e típica da Pinot Noir. Então celebre a vida, as pessoas que ama e pratique boas ações em todos os dias do ano e tenha sempre ao lado um bom e digno vinho! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Ernst Loosen:

Ernst Loosen nasceu em uma grande tradição de vinificação alemã e, dessa forma, a propriedade no rio Mosel é familiar há mais de 200 anos. Em 1988, sendo assim, Ernst assumiu a frente dos negócios. Ele concluiu os estudos na renomada escola de vinificação da Alemanha em Geisenheim e, em seguida, lançou uma revisão autodirigida dos grandes vinhos do mundo.

Ele viajou para a Áustria, Borgonha e Alsácia, até a Califórnia. O que ele descobriu, portanto foi que todos compartilham uma dedicação à produção de vinhos intensos e concentrados que proclamam corajosamente sua herança.

Eles também têm uma visão mundana que lhes permite manter o respeito pela tradição, enquanto a temperam com a razão. Isso lhes dá a liberdade de reconhecer então que nem todas as tradições merecem ser observadas obstinadamente e permitem o uso criterioso das técnicas modernas de vinificação quando isso melhora a qualidade.

É essa visão de mercado global à qual Ernst atribui com entusiasmo, uma filosofia que equilibra enfim o antigo com o novo. É uma maneira de pensar que lhe permitiu ir além do fácil e familiar, do experimentado e não necessariamente tão verdadeiro, para assim fazer vinhos que se destacam como verdadeiramente distintos e de classe mundial.

Desde que Ernst Loosen assumiu o controle da propriedade, reconheceu muito potencial que não estava sendo utilizado. Seu pai e seu avô estavam mais envolvidos na política do que na produção de vinho, então nada havia sido feito para manter as vinhas ou atualizar o porão.

Ironicamente, Ernst viu que o desinteresse de seus antepassados ​​havia lhe dado exatamente o que ele precisava para produzir o tipo de vinho rico e corajoso que ele prefere.

Como seus antecessores não estavam dispostos a investir em novas vinhas para o que era essencialmente um hobby em família, Ernst herdou pois um bom número de vinhas com mais de 100 anos – vinhas perfeitamente adequadas ao estilo de baixo rendimento e altamente concentrado que ele queria produzir.

E a propriedade não sucumbiu às tendências dos anos 60 e 70, no momento em que muitos produtores estavam replantando suas vinhas Riesling com variedades de menor qualidade e alto rendimento. A negligência de seu pai na adega também acabou trabalhando sem dúvida alguma a favor de Ernst.

Sem nenhum equipamento de alta tecnologia para tentá-los, Ernst e seu mestre de adega não tiveram escolha a não ser fazer vinhos de maneira minimalista, com muito pouco manuseio e fermentações longas e lentas.

Desde que Ernst assumiu, os seus vinhos receberam inúmeros prêmios e críticas brilhantes na imprensa. Assim sendo, a propriedade tornou-se membro da prestigiada VDP, a associação alemã das melhores vinícolas do país, e foi nomeada uma das 10 melhores propriedades da Alemanha por quase todas as publicações de vinhos do mundo.

Ernst foi nomeado então o enólogo do ano na Alemanha na edição de 2001 do Weinguide Deutschland da Gault Millau e homem do ano da revista Decanter em 2005. Assim como foi o enólogo branco do ano do International WINE Challenge em 2005.

Anteriormente, em 1995, Ernst e seu irmão mais novo, Thomas, lançaram um segundo rótulo, Riesling, chamado “Dr. L”. Contratando produtores locais, eles podem obter frutas de alta qualidade para fazer um vinho não-embalado e com sabor muito característico da região.

Dr. L Riesling exibe os sabores de ardósia limpas e limonadas do Mosel Médio a um preço muito acessível. É uma introdução maravilhosa ao alemão Riesling e aos vinhos da propriedade Dr. Loosen.

“Ernst Loosen inseriu o vinho alemão no cenário mundial do século XXI” (Jancis Robinson).

Mais informações acesse:





quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Cantanhede Selecção 2016

 

Pode parecer demasiadamente desagradável falarmos sempre da questão do valor, do valor monetário do vinho e suas implicações na qualidade do rótulo. Mas sempre que compramos um vinho, principalmente os mais baratos, o assunto vem à tona.

E o conceito de “vinho barato” também é muito relativo, diga-se de passagem. O que é caro para mim, pode ser a entrada para outros. E por ser o assunto complexo, muitos tentam evita-lo, porém, embora seja difícil falar sobre ele, podemos sim mensurar, tornar tangível o conceito de qualidade no universo do vinho.

Um produtor idôneo, que produz grandes vinhos, em todas as suas escalas de propostas, uma região proeminente, os prêmios que determinados vinhos ganham (embora não seja determinante), pode caracterizar a qualidade de um rótulo, em especial.

É claro que quando você compra um vinho na faixa dos R$ 25,00 você não pode esperar complexidade, grande estrutura, longevidade ou coisa que o valha, é preciso entender a sua escala de proposta e isso também é preponderante para a qualidade de um vinho. Afinal em todas as suas escalas de propostas o vinho pode ser especial, não precisa ser aquele mais caro ou de grande complexidade para entregar satisfação ao enófilo.

E o exemplo dessas questões levantadas é o vinho que degustei e gostei que veio de uma região portuguesa chamada Beira Atlântico, próximo a clássica Bairrada. É um vinho que encontrei na faixa dos R$ 25,00, é um vinho de uma região que gosto, que venho gostando a cada rótulo degustado, de um produtor que admiro, que respeito. É um “combo” de satisfações que faz com que se arrisque em comprar o vinho e que, ao abri-lo, você confirma as suas expectativas. O nome do vinho é o Cantanhede Seleção da safra 2016 composto pelas castas Baga (50%), Aragonez (30%) e Touriga Nacional (20%).

E não podemos falar dos vinhos dessa região sem falar da sua autóctone casta Baga e quão longeva é, mesmo que em vinhos não tão complexos. Falar de Baga é falar da Bairrada, do Beira Atlântico, é uma questão de terroir, de história. E por falar em história, vamos textualiza-los aqui, pois são dignos de merecimento.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. Joao I e de D. Joao III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

Baga

A uva Baga, conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Fina ou Tinta Poeirinha, é uma das principais uvas nativas de Portugal e capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação.

Presente em alguns dos melhores vinhos tintos portugueses, a uva Baga é conhecida pela sua complexidade e peculiaridade, dando origem a vinhos interessantes, únicos e intensos. Encontrada, sobretudo na região da Bairrada, a uva Baga produz excelentes vinhos em uma das mais prestigiadas regiões produtoras de Portugal.

Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

Luis Patto

Luís Pato foi o responsável por fazer com que a fruta desse origem a alguns dos melhores vinhos tintos da região da Bairrada. Produzindo grandes exemplares de tintos, finos, estruturados e complexos, a variedade é, sem dúvida, uma ótima referência de Portugal.

O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.

A casta Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita personalidade, altamente interessantes e únicos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi de média intensidade e brilhante, graças aos reflexos violáceos, com razoável proliferação de lágrimas finas e de média persistência.

No nariz prevalecem os aromas de frutas vermelhas maduras, tais como cereja, framboesa, ameixa, morango, frutas secas, bem como um discreto toque de especiarias.

Na boca tem média estrutura, sendo equilibrado, frutado e elegante, com um volume de boca pronunciado, taninos comportados, acidez na medida e um final agradável e muito sedoso.

O exemplo cabal de que vinho bom é aquele com que você se identifica, com que você gosta, fundamentado no produtor que você aprecia, na região que você gosta. E convenhamos, quando compramos um vinho de 3 ou 4 dígitos de valor, por exemplo, é neste que esperamos que sempre será ótimo e não os mais baratos, lembrando, mais uma vez, que valores são relativos. Como sempre a Adega de Cantanhede sempre entregando o melhor da Bairrada e do Beira Atlântico e graças a esse produtor, podemos degustar grandes e especiais vinhos com valores um pouco mais justos, acessíveis ao máximo possível de pessoas em um país como o nosso onde o salário mínimo infelizmente perde, a olhos vistos, o seu poder de compra. E apesar da discussão do vinho caro e vinho barato pareça ser interminável, algo não pode fugir de nossas percepções: não podemos nos esconder em uma bolha social e achar que sempre os vinhos caros são os melhores, é um desserviço a difusão da cultura do vinho. Tem 13% de teor alcoólico.

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. Sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Soul Wines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/


Degustado em: 2019