Eu costumo dizer, usando um famoso jargão popular, que dou
meu reino por um vinho verde! Acredito que tudo que eu dizer por aqui serei
redundante, tamanho é meu apreço pela região do Minho, pela famosa região
portuguesa dos Vinhos Verdes.
Mas que seja, melhor “pecar” pelo excesso do que qualquer
outra coisa. Não deixo de exaltar a região e seus rótulos e não é por conta
apenas de seu terroir especial, mas porque são vinhos que harmonizam muito bem
com as características climáticas do Brasil, bem como as culturais também.
Trata-se de vinhos solares!
É uma região que definitivamente entrou na rota de nosso
mercado consumidor e se tornou um dos mais queridos de nosso país. Que sorte
temos, pelo menos nesse quesito, de ser um grande exportador de vinhos do Velho
Mundo.
De Velho Mundo os verdes nada têm. Eles têm a “cara”, o “DNA”
do Brasil e de muitos outros países tropicais. São frescos, solares, frutados,
cítricos, leves, agradáveis. São tradicionalmente saborosos. Claro que os
produtores e a instituição que rege e regulamentam seus vinhos estão apostando
em rótulos mais complexos e longevos, a Alvarinho tem essa vocação, mas o vinho
verde que conhecemos é aquele que conheço desde sempre: leve, frutado e fresco!
Atualmente temos visto, bem timidamente é verdade, alguns produtores, pelo menos os mais famosos, trazer vinhos verdes mais complexos, com passagem por barricas de carvalho, com potencial de guarda, com os Alvarinhos, por exemplo.
Há quem diga que esses rótulos, essas propostas, são uma espécie
de desserviço aos populares vinhos mais leves e despretensiosos, mas para
outros os vinhos verdes mais estruturados e complexos traria mais credibilidade
a região, sobretudo no quesito exportação, pois os mais leves são mais baratos
e podem ser associados a vinhos ruins, ordinários, o que, convenhamos, é uma
bobagem desmedida!
E o vinho de hoje está na “ala” dos mais simples, dos mais despretensiosos,
de uma das belas vinícolas da região do Minho que eu descobri e que tem um
acesso grande e variado de rótulos no Brasil. Falo da Vercoope! Tenho degustado
bons e interessantes vinho desse belo produtor, ótimo custo X benefício.
O vinho de hoje é de uma linha de rótulos da Vercoope que
recentemente entrou em nosso mercado chamada “Varanda dos Reis” e que,
inclusive já degustei um 100% Loureiro, a minha casta preferida da região do
Minho, e que vale a degustação, marquem o nome: Varanda dos Reis Loureiro 2021!
Sem mais delongas o vinho que degustei veio da Região dos
Vinhos Verdes e se chama Varanda dos Reis Escolha, composto pelas castas Arinto
(30%), Azal (30%), Loureiro (30%) e Trajadura (10%) da safra 2021. Já anima
pelo fato de o blend trazer as castas típicas da região e também pela
nomenclatura que traz: “Escolha”!
Mas o que é, o que significa “Escolha” nos rótulos dos
vinhos? Trata-se de uma denominação de qualidade, mas que não é uma denominação
de origem, mas se assemelha a um reserva ou grande reserva, por exemplo.
Significa que obteve uma
qualificação, uns pontos acima do “normal”, dos vinhos regionais, por exemplo,
pelo organismo ou instituição que certifica o vinho.
Mais um quesito que poderá tornar esse vinho interessante, um
predicado, quem sabe. Mas antes de tecer os comentários, com requinte de
detalhes, do vinho, vamos as histórias da famosa Região do Minho, dos Vinhos
Verdes.
Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho
Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a
vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e
invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à
viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho,
em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões
Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre 96
e 51 a.C.
Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao
cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das
atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho
entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações
entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da
região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena,
os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos
fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra.
No início do século XX, ultrapassados os problemas das
quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a
colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se
obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos,
assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico.
O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos
I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo
ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis
sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste
é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.
A Região Demarcada dos Vinhos Verdes está dividia em nove
sub-regiões, cada uma com sua característica específica e suas castas de uva
recomendadas:
Sub-região de Monção e Melgaço: utilizam-se apenas as castas
Pedral (tinta) e Alvarinho (branca). É de lá o mais icônico Alvarinho, com
notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e
paladar mineral.
Sub-região de Amarante: as castas brancas são Azal e Avesso e
originam vinhos com aromas frutados e com o maior teor alcoólico da Região. Mas
é dos tintos que vem a fama da sub-região. Elaborados com Amaral, Vinhão e
Espadeiro, são vinhos com cor carregada e muito viva.
Sub-região de Baião: também tem muita notoriedade na produção
dos brancos, a partir da casta Avesso.
Sub-região de Basto: a casta Azal atinge o seu máximo
potencial e resultam vinhos com aroma de limão e maçã verde muito frescos, de
alta acidez.
Sub-região do Cávado: têm vinhos brancos das castas Arinto,
Loureiro e Trajadura com acidez moderada e notas de frutos cítricos e de pomar.
Os vinhos tintos são na maioria cortes de Vinhão e Borraçal, cor intensa
vermelho granada e aromas de frutos frescos.
Sub-região do Lima: Os vinhos brancos mais famosos são
produzidos a partir da casta Loureiro. Os aromas são finos e elegantes e vão
desde limão até rosas.
Sub-região de Paiva: produz alguns dos tintos mais
prestigiados de toda a região a partir de Amaral e Vinhão.
Sub-região do Sousa: utiliza a casta Espadeiro,
principalmente para a produção de rosés, sendo alguns dos mais destacados da
Região.
Sub-região do Ave: Arinto e Loureiro Trajadura juntas compõem
um blend perfeito com frescura viva e notas florais e de frutas cítricas.
Em 1926 foi criada a Comissão de Viticultura da Região dos
Vinhos Verdes (CVRVV), responsável por controlar e certificar os produtos
elaborados na região. Quando a amostra apresentada à CVRVV não cumpre com os
requisitos legais para ser certificada como DOC, o exemplar recebe o selo IG
Minho.
Isso não quer dizer que o vinho é de pior qualidade, apenas que
não se enquadra legalmente aos parâmetros pré-definidos. A IG Minho permite a
utilização de maior variedade de castas, incluindo uvas internacionais, e regras
distintas de vinificação.
Na maioria dos casos, os produtores não estão buscando
necessariamente a tipicidade do vinho, mas a produção de vinhos inovadores. É
comum encontrar vinhos IG Minho mais caros que os DOC Vinhos Verdes. Alguns
produtores optam de forma intencional por rotular seus vinhos como Regional do
Minho, até mesmo por questões de marketing e posicionamento de mercado.
A região dos Vinhos Verdes tem influência atlântica,
reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de
nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. É observada
elevada pluviosidade, temperatura amena, pequena amplitude térmica e solo
majoritariamente granítico e localmente xistoso. Mas algumas regiões, por conta
do microclima, apresentam características de terroir distintas. O que
influencia diretamente no vinho.
Por que vinho verde?
Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por
que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse
nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de
acidez, produzindo líquido cujas características lhes dão a aparência de vir de
uvas colhidas antes da correta maturação.
A outra explicação diz que "Vinho Verde" significa
"vinho de uma região verde", ou seja, a denominação deriva da
belíssima paisagem local, onde o verde das terras cultivadas se perde no
horizonte.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta linda cor citrina, aquele amarelo palha
brilhante, com proeminentes reflexos esverdeados, com boa gaseificação
denotando frescor.
No nariz traz aromas pronunciados de frutas de caroço, de
polpa branca, de frutas cítricas, com destaque para tangerina, limão,
maçã-verde, pera, abacaxi, algo de pêssego também, com um gostoso toque de
mineralidade, entregando um incrível frescor e leveza.
Na boca é fresco, leve, saboroso, porém traz alguma
untuosidade que o torna marcante, com alguma personalidade. As notas frutadas
ganha protagonismo no paladar, como no aspecto olfativo, com uma acidez
intensa, que faz salivar, com um final cheio e de discreto dulçor.
Perguntei ao produtor, por email, qual o motivo do nome
“Varanda dos Reis”. E o Sr. José Castro, muito gentilmente, me respondeu que a
Vercoope é a união de sete cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, das vilas
Amarante, Braga, Famalicão, Felgueiras, Guimarães, Paredes e Vale de Cambra. E
essa linha de rótulos é uma homenagem à uma das “Varandas dos Reis”, que há
também na Vila de Amarante, uma das adegas da Vercoope. Vinhos de excelente
custo X benefício que dignificam a região dos Vinhos Verdes, da Região do
Minho! Tem 11% de teor alcoólico.
Sobre a Vercoope:
A Vercoope é uma união de sete Cooperativas Vitivinícolas da
Região dos Vinhos Verdes: Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras,
Paredes e Vale de Cambra. Foi criada em 1964 com o objetivo de engarrafar,
comercializar e distribuir o vinho produzido pelos viticultores destas
cooperativas.
A união permitiu juntar a produção de 4.000 viticultores e
lança-la no mercado, nacional e internacional, conseguindo mais qualidade,
dimensão e competitividade. A qualidade dos vinhos é reconhecida e comprovada
pelos consumidores, pelas vendas e pelas centenas de prémios conquistados em
competições de vinhos e imprensa especializada.
A Vercoope produz anualmente 8 milhões de garrafas de Vinho
Verde, sendo 30% para exportação. A Vercoope – União das Adegas Cooperativas da
Região dos Vinhos Verdes, U.C.R.L, está inserida na Região Demarcada dos Vinhos
Verdes, considerada a maior região demarcada de Portugal e uma das maiores do
mundo, essencialmente devido à sua extensão e da área dos solos dedicados à
cultura da vinha, a que acresce uma significativa percentagem de população
diretamente dependente do setor vitivinícola e nomeadamente do Vinho Verde.
A Vercoope é uma entidade vocacionada para o engarrafamento,
comercialização e distribuição de Vinho Verde e integra na sua estrutura as
adegas cooperativas de Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras,
Paredes e Vale de Cambra que representam no seu conjunto explorações vitícolas
de cerca de 5.000 viticultores.
Situada em Agrela, Santo-Tirso, numa estrutura moderna e tecnologicamente avançada, quer com meios técnicos quer com meios humanos, tem potenciado, desde a sua fundação, em 1964, o desenvolvimento da cultura do Vinho Verde, promovendo a sua divulgação, o seu consumo e a valorização do produtor.
Com mais de meio século de atividade a defender uma política
de qualidade e prestígio para os seus vinhos, espumantes e aguardentes, ocupa
por direito próprio, um lugar de destaque no setor, sendo muito naturalmente
considerada uma instituição de referência no panorama regional e nacional.
Mais informações acesse:
Referências:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-verde-bebida-portuguesa-do-verao_8317.html
https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-paisagem-que-deu-nome-ao-vinho_2744.html
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