domingo, 18 de junho de 2023

Varanda dos Reis Escolha 2021

 

Eu costumo dizer, usando um famoso jargão popular, que dou meu reino por um vinho verde! Acredito que tudo que eu dizer por aqui serei redundante, tamanho é meu apreço pela região do Minho, pela famosa região portuguesa dos Vinhos Verdes.

Mas que seja, melhor “pecar” pelo excesso do que qualquer outra coisa. Não deixo de exaltar a região e seus rótulos e não é por conta apenas de seu terroir especial, mas porque são vinhos que harmonizam muito bem com as características climáticas do Brasil, bem como as culturais também. Trata-se de vinhos solares!

É uma região que definitivamente entrou na rota de nosso mercado consumidor e se tornou um dos mais queridos de nosso país. Que sorte temos, pelo menos nesse quesito, de ser um grande exportador de vinhos do Velho Mundo.

De Velho Mundo os verdes nada têm. Eles têm a “cara”, o “DNA” do Brasil e de muitos outros países tropicais. São frescos, solares, frutados, cítricos, leves, agradáveis. São tradicionalmente saborosos. Claro que os produtores e a instituição que rege e regulamentam seus vinhos estão apostando em rótulos mais complexos e longevos, a Alvarinho tem essa vocação, mas o vinho verde que conhecemos é aquele que conheço desde sempre: leve, frutado e fresco!

Atualmente temos visto, bem timidamente é verdade, alguns produtores, pelo menos os mais famosos, trazer vinhos verdes mais complexos, com passagem por barricas de carvalho, com potencial de guarda, com os Alvarinhos, por exemplo.

Há quem diga que esses rótulos, essas propostas, são uma espécie de desserviço aos populares vinhos mais leves e despretensiosos, mas para outros os vinhos verdes mais estruturados e complexos traria mais credibilidade a região, sobretudo no quesito exportação, pois os mais leves são mais baratos e podem ser associados a vinhos ruins, ordinários, o que, convenhamos, é uma bobagem desmedida!

E o vinho de hoje está na “ala” dos mais simples, dos mais despretensiosos, de uma das belas vinícolas da região do Minho que eu descobri e que tem um acesso grande e variado de rótulos no Brasil. Falo da Vercoope! Tenho degustado bons e interessantes vinho desse belo produtor, ótimo custo X benefício.

O vinho de hoje é de uma linha de rótulos da Vercoope que recentemente entrou em nosso mercado chamada “Varanda dos Reis” e que, inclusive já degustei um 100% Loureiro, a minha casta preferida da região do Minho, e que vale a degustação, marquem o nome: Varanda dos Reis Loureiro 2021!

Sem mais delongas o vinho que degustei veio da Região dos Vinhos Verdes e se chama Varanda dos Reis Escolha, composto pelas castas Arinto (30%), Azal (30%), Loureiro (30%) e Trajadura (10%) da safra 2021. Já anima pelo fato de o blend trazer as castas típicas da região e também pela nomenclatura que traz: “Escolha”! 

Mas o que é, o que significa “Escolha” nos rótulos dos vinhos? Trata-se de uma denominação de qualidade, mas que não é uma denominação de origem, mas se assemelha a um reserva ou grande reserva, por exemplo. Significa que obteve uma qualificação, uns pontos acima do “normal”, dos vinhos regionais, por exemplo, pelo organismo ou instituição que certifica o vinho.

Mais um quesito que poderá tornar esse vinho interessante, um predicado, quem sabe. Mas antes de tecer os comentários, com requinte de detalhes, do vinho, vamos as histórias da famosa Região do Minho, dos Vinhos Verdes.

Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho

Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho, em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre 96 e 51 a.C.

Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena, os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra.

No início do século XX, ultrapassados os problemas das quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos, assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico.

O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.

Região dos Vinhos Verdes

A Região Demarcada dos Vinhos Verdes está dividia em nove sub-regiões, cada uma com sua característica específica e suas castas de uva recomendadas:

Sub-região de Monção e Melgaço: utilizam-se apenas as castas Pedral (tinta) e Alvarinho (branca). É de lá o mais icônico Alvarinho, com notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e paladar mineral.

Sub-região de Amarante: as castas brancas são Azal e Avesso e originam vinhos com aromas frutados e com o maior teor alcoólico da Região. Mas é dos tintos que vem a fama da sub-região. Elaborados com Amaral, Vinhão e Espadeiro, são vinhos com cor carregada e muito viva.

Sub-região de Baião: também tem muita notoriedade na produção dos brancos, a partir da casta Avesso.

Sub-região de Basto: a casta Azal atinge o seu máximo potencial e resultam vinhos com aroma de limão e maçã verde muito frescos, de alta acidez.

Sub-região do Cávado: têm vinhos brancos das castas Arinto, Loureiro e Trajadura com acidez moderada e notas de frutos cítricos e de pomar. Os vinhos tintos são na maioria cortes de Vinhão e Borraçal, cor intensa vermelho granada e aromas de frutos frescos.

Sub-região do Lima: Os vinhos brancos mais famosos são produzidos a partir da casta Loureiro. Os aromas são finos e elegantes e vão desde limão até rosas.

Sub-região de Paiva: produz alguns dos tintos mais prestigiados de toda a região a partir de Amaral e Vinhão.

Sub-região do Sousa: utiliza a casta Espadeiro, principalmente para a produção de rosés, sendo alguns dos mais destacados da Região.

Sub-região do Ave: Arinto e Loureiro Trajadura juntas compõem um blend perfeito com frescura viva e notas florais e de frutas cítricas.

Em 1926 foi criada a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), responsável por controlar e certificar os produtos elaborados na região. Quando a amostra apresentada à CVRVV não cumpre com os requisitos legais para ser certificada como DOC, o exemplar recebe o selo IG Minho.

Isso não quer dizer que o vinho é de pior qualidade, apenas que não se enquadra legalmente aos parâmetros pré-definidos. A IG Minho permite a utilização de maior variedade de castas, incluindo uvas internacionais, e regras distintas de vinificação.

Na maioria dos casos, os produtores não estão buscando necessariamente a tipicidade do vinho, mas a produção de vinhos inovadores. É comum encontrar vinhos IG Minho mais caros que os DOC Vinhos Verdes. Alguns produtores optam de forma intencional por rotular seus vinhos como Regional do Minho, até mesmo por questões de marketing e posicionamento de mercado.

A região dos Vinhos Verdes tem influência atlântica, reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. É observada elevada pluviosidade, temperatura amena, pequena amplitude térmica e solo majoritariamente granítico e localmente xistoso. Mas algumas regiões, por conta do microclima, apresentam características de terroir distintas. O que influencia diretamente no vinho.

Por que vinho verde?

Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de acidez, produzindo líquido cujas características lhes dão a aparência de vir de uvas colhidas antes da correta maturação.

A outra explicação diz que "Vinho Verde" significa "vinho de uma região verde", ou seja, a denominação deriva da belíssima paisagem local, onde o verde das terras cultivadas se perde no horizonte.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta linda cor citrina, aquele amarelo palha brilhante, com proeminentes reflexos esverdeados, com boa gaseificação denotando frescor.

No nariz traz aromas pronunciados de frutas de caroço, de polpa branca, de frutas cítricas, com destaque para tangerina, limão, maçã-verde, pera, abacaxi, algo de pêssego também, com um gostoso toque de mineralidade, entregando um incrível frescor e leveza.

Na boca é fresco, leve, saboroso, porém traz alguma untuosidade que o torna marcante, com alguma personalidade. As notas frutadas ganha protagonismo no paladar, como no aspecto olfativo, com uma acidez intensa, que faz salivar, com um final cheio e de discreto dulçor.

Perguntei ao produtor, por email, qual o motivo do nome “Varanda dos Reis”. E o Sr. José Castro, muito gentilmente, me respondeu que a Vercoope é a união de sete cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, das vilas Amarante, Braga, Famalicão, Felgueiras, Guimarães, Paredes e Vale de Cambra. E essa linha de rótulos é uma homenagem à uma das “Varandas dos Reis”, que há também na Vila de Amarante, uma das adegas da Vercoope. Vinhos de excelente custo X benefício que dignificam a região dos Vinhos Verdes, da Região do Minho! Tem 11% de teor alcoólico.

Sobre a Vercoope:

A Vercoope é uma união de sete Cooperativas Vitivinícolas da Região dos Vinhos Verdes: Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra. Foi criada em 1964 com o objetivo de engarrafar, comercializar e distribuir o vinho produzido pelos viticultores destas cooperativas.

A união permitiu juntar a produção de 4.000 viticultores e lança-la no mercado, nacional e internacional, conseguindo mais qualidade, dimensão e competitividade. A qualidade dos vinhos é reconhecida e comprovada pelos consumidores, pelas vendas e pelas centenas de prémios conquistados em competições de vinhos e imprensa especializada.

A Vercoope produz anualmente 8 milhões de garrafas de Vinho Verde, sendo 30% para exportação. A Vercoope – União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, U.C.R.L, está inserida na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, considerada a maior região demarcada de Portugal e uma das maiores do mundo, essencialmente devido à sua extensão e da área dos solos dedicados à cultura da vinha, a que acresce uma significativa percentagem de população diretamente dependente do setor vitivinícola e nomeadamente do Vinho Verde.

A Vercoope é uma entidade vocacionada para o engarrafamento, comercialização e distribuição de Vinho Verde e integra na sua estrutura as adegas cooperativas de Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra que representam no seu conjunto explorações vitícolas de cerca de 5.000 viticultores.

Situada em Agrela, Santo-Tirso, numa estrutura moderna e tecnologicamente avançada, quer com meios técnicos quer com meios humanos, tem potenciado, desde a sua fundação, em 1964, o desenvolvimento da cultura do Vinho Verde, promovendo a sua divulgação, o seu consumo e a valorização do produtor. 

Com mais de meio século de atividade a defender uma política de qualidade e prestígio para os seus vinhos, espumantes e aguardentes, ocupa por direito próprio, um lugar de destaque no setor, sendo muito naturalmente considerada uma instituição de referência no panorama regional e nacional.

Mais informações acesse:

https://vercoope.pt/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-verde-bebida-portuguesa-do-verao_8317.html

https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-paisagem-que-deu-nome-ao-vinho_2744.html

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/regiao-dos-vinhos-verdes/

 

 

 

 

 

 

 




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