Eu costumo dizer, usando um famoso jargão popular, que dou
meu reino por um vinho verde! Acredito que tudo que eu dizer por aqui serei
redundante, tamanho é meu apreço pela região do Minho, pela famosa região
portuguesa dos Vinhos Verdes.
Mas que seja, melhor “pecar” pelo excesso do que qualquer
outra coisa. Não deixo de exaltar a região e seus rótulos não é por conta
apenas de seu terroir especial, mas porque são vinhos que harmonizam muito bem
com as características climáticas do Brasil, bem como as culturais também.
É uma região que definitivamente entrou na rota de nosso
mercado e se tornou um dos mais consumidos de nosso país. Que sorte temos, pelo
menos nesse quesito, de ser um grande exportador de vinhos do Velho Mundo.
De Velho Mundo os verdes nada têm. Eles têm a “cara”, o “DNA”
do Brasil e de muitos outros países tropicais. São frescos, solares, frutados,
cítricos, leves, agradáveis. São tradicionalmente saborosos. Claro que os
produtores e a instituição que rege e regulamentam seus vinhos estão apostando
em rótulos mais complexos e longevos, a Alvarinho tem essa vocação, mas o vinho
verde que conhecemos é aquele que conheço desde sempre: leve, frutado e fresco!
E falando em desde sempre, já tem quase dez anos e falo por
alto que degusto os bons e valoráveis vinhos verdes. Confesso, contudo, que não
me recordo do meu primeiro rótulo, mas aposto firmemente que foi da Adega de
Monção, grande produtor dessa região, com os seus vinhos mais simples, de
entrada e rótulos intermediários.
Em 2019 com alguns anos degustando vinhos verdes, tive a
alegria de participar de um evento em minha cidade voltado a esses rótulos
chamado, com um título muito sugestivo e para lá de verdadeiro, “Vinho Verde Wine Experience”, na edição de 2020, está última em plena pandemia de
Coronavírus.
Foi de fato uma experiência singular, pois tive a alegria de
descobrir um universo vastíssimo de propostas de vinhos verdes, que vai dos
tradicionais leves e frescos com os barricados e longevos.
E hoje é dia de degustação de vinho verde! E hoje é
degustação da minha cepa preferida dessa região: Loureiro. Quando costumamos
falar de Vinhos Verdes torna-se inevitável falar da mais famosa e bem quista
das cepas daquela região, a Alvarinho.
Mas a Loureiro hoje é a artista do espetáculo da degustação e
é de um produtor que aprendi a gostar, graças evidentemente aos seus rótulos
simples, mas que expressa o terroir do Minho, a Vercoope.
O vinho que degustei e gostei veio da região dos Vinhos
Verdes, do Minho, no norte de Portugal e se chama Varanda dos Reis da casta
Loureiro e safra 2021. Como de costume vamos de história, vamos de Minho e
Loureiro.
Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho
Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a
vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e
invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à
viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho,
em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões
Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre
96 e 51 a.C.
Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao
cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das
atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho
entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações
entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da
região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena,
os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos
fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra.
No início do século XX, ultrapassados os problemas das
quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a
colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se
obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos,
assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico.
O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos
I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo
ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis
sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste
é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.
A Região Demarcada dos Vinhos Verdes está dividia em nove
sub-regiões, cada uma com sua característica específica e suas castas de uva
recomendadas:
Sub-região de Monção e Melgaço: utilizam-se apenas as castas
Pedral (tinta) e Alvarinho (branca). É de lá o mais icônico Alvarinho, com
notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e
paladar mineral.
Sub-região de Amarante: as castas brancas são Azal e Avesso e
originam vinhos com aromas frutados e com o maior teor alcoólico da Região. Mas
é dos tintos que vem a fama da sub-região. Elaborados com Amaral, Vinhão e
Espadeiro, são vinhos com cor carregada e muito viva.
Sub-região de Baião: também tem muita notoriedade na produção
dos brancos, a partir da casta Avesso.
Sub-região de Basto: a casta Azal atinge o seu máximo
potencial e resultam vinhos com aroma de limão e maçã verde muito frescos, de
alta acidez.
Sub-região do Cávado: têm vinhos brancos das castas Arinto,
Loureiro e Trajadura com acidez moderada e notas de frutos cítricos e de pomar.
Os vinhos tintos são na maioria cortes de Vinhão e Borraçal, cor intensa
vermelho granada e aromas de frutos frescos.
Sub-região do Lima: Os vinhos brancos mais famosos são
produzidos a partir da casta Loureiro. Os aromas são finos e elegantes e vão
desde limão até rosas.
Sub-região de Paiva: produz alguns dos tintos mais
prestigiados de toda a região a partir de Amaral e Vinhão.
Sub-região do Sousa: utiliza a casta Espadeiro,
principalmente para a produção de rosés, sendo alguns dos mais destacados da
Região.
Sub-região do Ave: Arinto e Loureiro Trajadura juntas compõem
um blend perfeito com frescura viva e notas florais e de frutas cítricas.
Em 1926 foi criada a Comissão de Viticultura da Região dos
Vinhos Verdes (CVRVV), responsável por controlar e certificar os produtos
elaborados na região. Quando a amostra apresentada à CVRVV não cumpre com os
requisitos legais para ser certificada como DOC, o exemplar recebe o selo IG
Minho.
Isso não quer dizer que o vinho é de pior qualidade, apenas
que não se enquadra legalmente aos parâmetros pré-definidos. A IG Minho permite
a utilização de maior variedade de castas, incluindo uvas internacionais, e regras
distintas de vinificação.
Na maioria dos casos, os produtores não estão buscando
necessariamente a tipicidade do vinho, mas a produção de vinhos inovadores. É
comum encontrar vinhos IG Minho mais caros que os DOC Vinhos Verdes. Alguns
produtores optam de forma intencional por rotular seus vinhos como Regional do
Minho, até mesmo por questões de marketing e posicionamento de mercado.
A região dos Vinhos Verdes tem influência atlântica,
reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de nascente
para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. É observada elevada
pluviosidade, temperatura amena, pequena amplitude térmica e solo
majoritariamente granítico e localmente xistoso. Mas algumas regiões, por conta
do microclima, apresentam características de terroir distintas. O que
influencia diretamente no vinho.
Por que vinho verde?
Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por
que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse
nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de
acidez, produzindo líquido cujas características lhes dão a aparência de vir de
uvas colhidas antes da correta maturação.
A outra explicação diz que "Vinho Verde" significa "vinho de uma região verde", ou seja, a denominação deriva da belíssima paisagem local, onde o verde das terras cultivadas se perde no horizonte.
Loureiro
A uva Loureiro é uma variedade branca amplamente cultivada no
norte de Portugal, famosa por fazer parte na composição do tradicional Vinho
Verde, elaborado na região do Minho. Além disso, a Loureiro também é cultivada
em pequenas quantidades na Galícia, comunidade autônoma espanhola, ao noroeste
da península ibérica.
Originária do Vale do rio Lima, a uva Loureiro é uma
variedade extremamente fértil e com rendimentos generosos e que, apenas
recentemente, assumiu o papel de uma casta nobre. Em regiões espanholas, essa
variedade é conhecida também como Loureira, dando origem a excelentes vinhos
brancos em Rías Baijas e, muitas vezes, sendo misturada com a casta mais
tradicional e emblemática do país, a uva Albariño.
O nome Loureiro vem de “louros” que, no dialeto espanhol, é
como eram chamadas às folhas da vinha por causa do seu perfume muito
característico. Além das folhas, a flor da uva Loureiro tem também qualidades
aromáticas marcantes por conta da sua personalidade floral, com ênfase nos
aromas de flor de acácia, tília e laranjeira.
Os vinhos produzidos a partir da uva Loureiro apresentam
excelentes aromas, notável acidez e baixos índices alcoólicos, visto que os
varietais estão se tornando cada vez mais populares entre consumidores e
críticos. No entanto, os famosos Vinhos Verdes, sempre foram historicamente
elaborados com as uvas Trajadura e Arinto – conhecida também como Perdenã na
região do Minho.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um lindo amarelo palha brilhante, reluzente
com discretos tons esverdeados, uma efervescência, a famosa concentração de
bolhas, que denotam acidez e consequentemente frescor ao vinho.
No nariz traz abundância de aromas de frutas tropicais, de polpas
brancas e cítricas como abacaxi, maracujá, pera, maçã-verde, limão, lichia e
algo de pêssego também. Entrega um floral bem delicado, algo de flor de laranjeira
e a sensação de grama cortada.
Na boca é saboroso, leve, fresco, com o protagonismo das
notas frutadas, como no aspecto olfativo, com aquela agulha que pinica a ponta
da língua, mas discreto, sem incomodar, trazendo ainda uma exuberante acidez
que definitivamente nos faz salivar a boca, estimulando uma taça cheia atrás da
outra. Entrega, apesar da frescura, como dizem os portugueses, alguma
untuosidade que se prolonga no final da boca, sendo persistente.
Perguntei ao produtor, por email, qual o motivo do nome
“Varanda dos Reis”. E o Sr. José Castro, muito gentilmente, me respondeu que a
Vercoope é a união de sete cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, das vilas
Amarabnte, Braga, Famalicão, Felgueiras, Guimarães, Paredes e Vale de Cambra. E
essa linha de rótulos é uma homenagem à uma das “Varandas dos Reis”, que há
também na Vila de Amarante, uma das adegas da Vercoope. Vinhos de excelente
custo X benefício que dignificam a região dos Vinhos Verdes, da Região do
Minho! Tem 11% de teor alcoólico.
Sobre a Vercoope:
A Vercoope é uma união de sete Cooperativas Vitivinícolas da
Região dos Vinhos Verdes: Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras,
Paredes e Vale de Cambra. Foi criada em 1964 com o objetivo de engarrafar,
comercializar e distribuir o vinho produzido pelos viticultores destas
cooperativas.
A união permitiu juntar a produção de 4 000 viticultores e
lança-la no mercado, nacional e internacional, conseguindo mais qualidade,
dimensão e competitividade. A qualidade dos vinhos é reconhecida e comprovada
pelos consumidores, pelas vendas e pelas centenas de prémios conquistados em
competições de vinhos e imprensa especializada.
A Vercoope produz anualmente 8 milhões de garrafas de Vinho
Verde, sendo 30% para exportação. A Vercoope – União das Adegas Cooperativas da
Região dos Vinhos Verdes, U.C.R.L, está inserida na Região Demarcada dos Vinhos
Verdes, considerada a maior região demarcada de Portugal e uma das maiores do
mundo, essencialmente devido à sua extensão e da área dos solos dedicados à
cultura da vinha, a que acresce uma significativa percentagem de população
diretamente dependente do setor vitivinícola e nomeadamente do Vinho Verde.
A Vercoope é uma entidade vocacionada para o engarrafamento,
comercialização e distribuição de Vinho Verde e integra na sua estrutura as
adegas cooperativas de Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras,
Paredes e Vale de Cambra que representam no seu conjunto explorações vitícolas
de cerca de 5000 viticultores.
Situada em Agrela, Santo-Tirso, numa estrutura moderna e
tecnologicamente avançada, quer com meios técnicos quer com meios humanos, tem
potenciado, desde a sua fundação, em 1964, o desenvolvimento da cultura do
Vinho Verde, promovendo a sua divulgação, o seu consumo e a valorização do
produtor.
Com mais de meio século de atividade a defender uma política
de qualidade e prestígio para os seus vinhos, espumantes e aguardentes, ocupa
por direito próprio, um lugar de destaque no sector, sendo muito naturalmente
considerada uma instituição de referência no panorama regional e nacional.
Mais informações acesse:
Referências:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-verde-bebida-portuguesa-do-verao_8317.html
https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-paisagem-que-deu-nome-ao-vinho_2744.html
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/loureiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário