sexta-feira, 21 de abril de 2023

Ribeira do Corso Reserva Touriga Nacional e Syrah 2012

 

Costumo dizer, até de forma demasiada, de que Portugal, mesmo que tão pequeno, em dimensões territoriais, é significativo e gigante em seus diversificados terroirs, é um universo inexplorado e maravilhoso, ainda há muito a se degustar, muitas regiões a se descobrir e vinhos nas suas mais propostas. Por isso que é impossível alguém, um digno enófilo que seja que não aprecie os vinhos lusitanos.

E por sorte o Brasil é um grande consumidor dos rótulos portugueses, somos ávidos apreciadores dos vinhos lusitanos. Nosso mercado é repleto de rótulos do Alentejo, da Região dos Vinhos Verdes, do Douro, Do Porto, entre outros. Esses são uma das mais representativas, em termos de quantidade, regiões que encontramos sendo ofertados no Brasil.

Mas temos visto, mesmo que timidamente, algumas regiões, pouco badaladas, dando o ar da graça em nossas terras, mesmo que em seu país de origem gozem de extrema tradição. Falo da região do Trás-os-Montes!

Eu descobri, de forma quase que despretensiosa, em um evento de degustação de vinhos, em minha cidade, Niterói. Era 2017 e o evento, que se chamava “Festival de Vinhos do Supermercado Real”, era promovido por uma famosa rede de supermercados, claro, da cidade e que tinham muitos rótulos, variados, de inúmeros países.

Já no final do evento, todos indo embora e os rótulos disponíveis para degustação, estavam escasseando, eu avistei um pequeno e tímido estande, com poucas garrafas e algo me chamou a atenção para ir até lá, talvez pelo fato da simplicidade do estande e das poucas garrafas disponíveis.

E avistei alguns rótulos que estampavam o “Trás-os-Montes”. Eu não conhecia e o demonstrador, muito atencioso, me disse que os vinhos eram da região portuguesa de Trás-os-Montes. Eu não conhecia a região, mas evidente que conhecia os vinhos portugueses. E bastou para ganhar o meu interesse.

Os vinhos eram da Encostas do Trogão e lá tinha a versão “branco”, tinto de entrada e o reserva. Degustei o branco e foi maravilhoso! Degustei os tintos e o reserva me chamou a atenção pela intensidade, personalidade e robustez, mesmo se tratando de um rótulo da safra 2011, tida como uma das mais emblemáticas em todas as regiões portuguesas.

Pena que no evento os vinhos não estavam à venda, pois aquele seria uma das minhas escolhas para aquisição, sem sombra de dúvida. Mas parte do investimento no ingresso para participar do evento seria revertida para compras de vinhos nos supermercados. Então ainda tinha uma expectativa de encontrar o Encostas do Trogão nas gôndolas e não é que no dia da minha ida eu encontrei? A safra de 2011! Então degustei o Encostas do Trogão Reserva 2011. Que vinho excepcional!

Encostas do Trogão Reserva 2011

Então decidi que degustaria um novo rótulo de Trás-os-Montes! Não poderia parar no Encostas do Trogão de maneira nenhuma! Era preciso, claro, garimpar, buscar avidamente, afinal, não são muitos os rótulos dessa região ofertados por aí. E encontrei! E melhor: encontrei um rótulo da safra 2012! Com 11 anos de garrafa! O que podemos esperar? O valor estava atraente, na faixa dos R$80! Não hesitei e comprei!

Mas decidi que não levaria muito tempo para degusta-lo! A ansiedade era maior e depois de algumas pesquisas que fiz sobre o vinho, para buscar referências sobre, eu descobri um vídeo do “Vinhos de Bicicleta”, um famoso influenciador e vendedor de vinhos que falava sobre a região de Trás-os-Montes e usava, adivinhem, um rótulo para ilustrar a região. Exatamente o mesmo que eu havia comprado.

Então sem mais conversas, vamos ao que interessa, vamos às apresentações do vinho: O vinho que degustei e gostei veio da região portuguesa de Trás-os-Montes e se chama Ribeira do Corso Reserva composto pelas castas Touriga Nacional e Syrah da safra 2012. Antes de detalhar as minhas impressões do vinho falemos de Trás-os-Montes.

Trás-os-Montes

Já durante a ocupação dos romanos se cultivava a vinha e se produzia vinho na região de Trás-os-Montes. Situada no nordeste de Portugal, a província de Trás-os-Montes e Alto Douro é um lugar onde a identidade portuguesa, fruto de tradições culturais enraizadas, sobreviveu como em nenhuma outra região do país lusitano. O seu conhecido isolamento, bem como o alto índice de emigração e despovoamento, são características que acompanham a região há muito tempo.

Situada a Norte de Portugal a Região de Trás-os-Montes revela-se por entre montes e pronunciados vales numa grande área de extensão. Esta é uma Região única com características especiais. Em toda a região o cenário muda rapidamente, entre exuberantes vales verdejantes, ou colinas antigas cobertas por uma colcha de retalhos de bosques, ou olivais verde-cinza, extensas vinhas verdes brilhantes, ou amendoeiras floridas e outras árvores de fruto.

Sua capital é a cidade de Vila Real, e, ao longo da história, sofreu diversas modificações em seu território e nas atribuições administrativas. Desde o século XV, passou de Comarca a Província, e suas fronteiras territoriais, cujos limites foram se adequando com a aquisição ou perda de regiões, já não são as mesmas da época de sua fundação. Atualmente, é formada por três sub-regiões: Chaves, Valpaços e o Planalto Mirandês.

Na sub-região de Chaves a vinha é plantada nas encostas de pequenos vales, onde correm os afluentes do rio Tâmega. A sub-região de Valpaços é rica em recursos hídricos e situa-se numa zona de planalto. No Planalto Mirandês é o rio Douro que influencia a viticultura.

Trás-os-Montes

O cultivo da vinha e a produção de vinho na Região de Trás-os-Montes tem origem secular, estando esta intrinsecamente marcada nas suas rochas, uma vez que por toda a região existem vários lagares cavados na rocha de origem Romana e Pré-Romana. A existência de vinhas velhas com castas centenárias marca também de uma forma muito peculiar a qualidade reconhecida dos vinhos desta região.

As paisagens desta província apresentam uma beleza natural e rural exuberante, sendo suas terras ricas em cerais, legumes e frutos como amêndoas e cerejas, além das oliveiras que produzem azeites. Para completar, ainda existe a cultura vitivinícola, que, com as inúmeras vinhas da região, fazem de Trás-os-Montes e Alto Douro um destino turístico perfeito para os amantes da gastronomia e do vinho de alta qualidade. Montes é uma das regiões mais ricas em descobertas arqueológicas. Destacam-se as estações do paleolítico da serra do Brunheiró e Bóbeda, assim como dólmenes e povoados do período neo-eneolítico.

Trás-os-Montes é uma região montanhosa, caracterizada por sua diversidade de relevo e de clima – altitude, temperatura, pluviosidade, solo, etc, variam conforme cada cidade da província. As diferenças são bastante acentuadas. De maneira geral, seu relevo é formado por uma série de elevadas plataformas onduladas atravessadas por vales e bacias profundas, os solos se apresentam como graníticos, mas com presença importante de xisto.

Trás-os-Montes tem clima com influência mediterrânico-continental, com áreas de muito frio nas partes mais altas e outras mais quentes na região do Douro. A natureza privilegiada é fonte de riqueza para a região: os recursos hídricos, com rios importantes, por exemplo, são utilizados para gerar energia elétrica e produzir água mineral.

Essas diferenças climáticas acentuadas permitiram definir três sub-regiões para a produção de vinhos de qualidade com direito a DO Trás-os-Montes. Os critérios tidos em conta foram essencialmente as altitudes, exposição solar, clima e a constituição dos solos, tendo sido a Denominação de Origem (DO Trás-os-Montes) reconhecida a partir de 9 de Novembro de 2006 (Portaria n.º 1204/2006).

No que se refere aos vinhos com Identificação Geográfica Transmontano, estes podem ser produzidos em toda a Região, sendo que a Indicação Geográfica Transmontano (IG Transmontano), foi reconhecida a partir de 9 de Novembro de 2006 (Portaria n.º 1203/2006).

Outra possibilidade de riqueza retirada da natureza da região são as vinhas dispostas nos vales que circundam o Douro e que originam vinhos excelentes e apreciados no mundo todo. O principal deles: o famoso Vinho do Porto. A vitivinicultura em Trás-os-Montes e Alto Douro tem história e tradição.

Além de ter sido a primeira região regulamentada para produção vinícola do mundo, em 1756, foi reconhecida pela UNESCO, em 2001, como Património da Humanidade por causa da beleza de suas vinhas. Quanto à produção, 50% dos vinhos elaborados nas vinícolas da região são destinadas para o Vinho do Porto, a outra metade se dedica à produção de vinhos que utilizam a denominação de origem controlada (DOC) “Douro”, e que são tão diversos quanto os microclimas e solos da província.

O controle e a defesa da Denominação de Origem e Indicação Geográfica são da responsabilidade da entidade certificadora “Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes” esta tem por objetivo, proteger e garantir a qualidade e genuinidade dos vinhos de qualidade produzidos na região de Trás-os-Montes.

Constituída em 1997 a CVRTM, viria ajudar a impulsionar o desenvolvimento da região, e a levar mais alto, aquém e além-fronteiras, os vinhos Transmontanos. Tendo iniciado a sua atividade com apenas um agente económico, esta entidade conta já com 62 associados, que contribuíram para o renascimento da região e para o incremento de qualidade dos seus vinhos, sendo que a sua atividade resulta num volume anual de litros certificados de aproximadamente 3 milhões.

Tradicionalmente, as vinhas são plantadas de maneiras diferentes em Trás-os-Montes, aproveitando toda a diversidade da região. Essa característica se reflete nos vinhos produzidos, que além do vinho do Porto, pode resultar excelentes vinhos tintos e brancos. As castas brancas dominantes são: Côdega do Larinho, Malvasia Fina, Fernão Pires, Gouveio, Rabigato, Síria e Viosinho, e nas tintas Bastardo, Tinta Roriz, Marufo, Touriga Franca, Touriga Nacional e Trincadeira. Os vinhos brancos são suaves e com aroma floral. Os vinhos tintos são geralmente frutados e levemente adstringentes.

No que se refere à tipicidade dos vinhos da região de Trás-os-Montes, para além da diversidade existente podem ser referidos alguns traços comuns a todos os vinhos, os vinhos brancos apresentam equilíbrio aromático com grande intensidade de aromas frutados e leves florais, na boca revelam uma acidez correta não sendo excessivamente pronunciada.

No caso dos vinhos tintos, são vinhos com uma intensidade corante muito consistente e elevada, aromaticamente muito frutados, na boca relevam-se estruturados, e apesar dos teores alcoólicos normalmente elevados verifica-se uma acidez fixa correta, tornando-se vinhos robustos, mas agradáveis e muito equilibrados.

E agora finalmente o vinho!

Na taça traz um rubi profundo, escuro, com halos granada, já denotando os seus 11 anos de idade, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz revela a sua complexidade com aromas de frutas pretas bem maduras são sentidas, bem como frutas secas, com destaque para ameixa seca e avelãs. Toques vibrantes de rusticidade também são percebidos, tais como couro, tabaco, mentolado, carpete, estrebaria e discretas notas florais.

Na boca é seco apresentando também aquela complexidade, de um vinho equilibrado, que entrega elegância, maciez, mas personalidade, austeridade, afinal o tempo lhe foi gentil. Preenche a boca por ser alcoólico, frutado e um discreto residual de açúcar que lembra mel. Tem taninos marcados, porém domados e redondos, com uma incrível acidez, vívida e salivante, com notas de especiarias picantes, uma leve picância que remete a pimenta preta. Tem um final de média persistência.

O “Barolo Português”! Assim chamou o Rodrigo Ferraz, do “Vinhos de Bicicleta” sobre os tintos de Trás-os-Montes. Se é um exagero de comerciante eu não sei dizer. Mas em seu vídeo, que está disponível nesta resenha, ele faz uma completa e detalhada, sob o aspecto do clima e geologia, correlação das regiões de Barolo, no Piemonte, bem como a de Trás-os-Montes e definitivamente traz uma incrível consistência em sua fala. Consistente é este belíssimo vinho no auge dos seus 11 anos de vida! E que evolução estupenda, ainda vivo, pleno, mas elegante e macio. A complexidade é a tônica deste rótulo. Que venham muitos e muitos trasmontanos para a minha reles e humilde adega. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa Ribadouro:

A Cooperativa Ribadouro situa-se no Nordeste de Portugal, na região de Trás-os-Montes, fazendo fronteira com Espanha e produz vinhos tintos, brancos e rosés encorpados. A região vitivinícola Trás-os-Montes situa-se perto do Vale do Douro e da sua Região Demarcada, onde são produzidos os conhecidos “Vinhos do Porto” e centrada na Vila de Miranda do Douro com três sub-regiões: Chaves, Planalto Mirandês e Valpaços.

A região foi inicialmente considerada “Indicação de Proveniência Regulamentada ” (Região IGP), mas em 2006, passou a ser considerada como região “Denominação de Origem Controlada” (DOC). Os nossos vinhos são produzidos na sub-região do Planalto Mirandês a partir das castas locais: Bastardo, Guveito, Malvasia Fina, Mourisco Tinto, Rabo de Ovelha, Tinta Amarela, Touriga Francesa, Touriga Nacional e Viosinho.

A empresa começou a funcionar a 3 de Fevereiro de 1959. A mensagem principal “para continuar a tradição…” expressa o nosso amor pelo vinho e pelas tradições da região Norte de Portugal.

Produzem quatro rótulos de vinho – Pauliteiros, Mirandum, Lhéngua Mirandesa IGP e Ribeira do Corso D OC. Cada nome de vinho tem sua história e reflete nossas tradições nos nomes e no sabor do vinho.

Mais informações acesse:

http://ribadourowine.blogspot.com/

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/vinhos/regioes/tras-os-montes/doc-tras-os-montes/

“Wine Tourism Portugal”: https://www.winetourismportugal.com/pt/regioes/tras-os-montes/

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/tras-os-montes-e-alto-douro-um-paraiso-vinicola-em-portugal/

“Instituto da Vinha e do Vinho”: https://www.ivv.gov.pt/np4/76/

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3891

 

 













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