Quando nos lembramos de espumante é impossível não
referenciá-los aos nossos rótulos brasileiros! Inegavelmente os nossos
espumantes está em um patamar altíssimo, sem discussões ufanistas.
E além da qualidade, da tipicidade dos nossos espumantes, a
melhor harmonização com os espumantes é o nosso clima, quente, tropical, é o
clima de calor humano que somente o povo brasileiro possui.
Assim é o espumante brasileiro! Um dos melhores borbulhas do
mundo, extremamente solar e descontraído, mesmo que, alguns rótulos, algumas
propostas descortinem vinhos complexos e de grande longevidade.
E falo com todo o devido respeito aos nossos “concorrentes”,
tais como o Prosecco italiano, os cavas espanhóis, o famosíssimo Champagne etc.
Coloco, sem medo de errar, que os nossos espumantes podem figurar entre esses
ícones aqui mencionados.
Mas já que falei dos grandes borbulhantes espalhados pelo
globo terrestre, hoje, pelo que denuncia, não degustarei um espumante
brasileiro, falei deles apenas por uma referência, por serem tão especiais, mas
de um espumante lusitano! Sim, um espumante português!
Não podemos nos deixar enganar e pensar que não tenha grandes
espumantes produzidos na terrinha, pois tem sim, e os grandiosos vêm da bela e
necessária Bairrada, que fica no coração de Portugal.
A terra da casta Baga, que também desfila em protagonismos em
alguns espumantes feitos por lá, fazem bebidas borbulhantes extremamente
vibrantes, de grande acidez e de marcante personalidade. Lembro-me do meu
primeiro espumante bairradino que degustei com 7 anos de garrafa, sim, 7 anos!
E estava vivo, pleno e intenso em seus aromas e sabores. Falo
do Bom Caminho Baga 2013 e que, depois de algum tempo, de um longo tempo,
finalmente irei degustar o meu segundo espumante português, mas dessa vez,
oriundo do Beira Atlântico, região muito próxima à Bairrada.
E não é apenas isso que será especial na minha degustação,
mas também pelo fato de ser um rótulo da maravilhosa Adega de Cantanhede que
dispensa comentários, pois foi com ela que descobri os rótulos da Bairrada e do
Beira Atlântico a valores justos e acessíveis.
Então vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei
veio, claro, do Beira Atlântico e se chama Colinas de Ançã, um espumante brut,
feito no método champenoise ou tradicional, composto pelas castas, tipicamente
regionais, Bical (60%) e Arinto (40%).
Antes de falar, com requintes de detalhes, do vinho, para não
perder o costume falemos um pouco de história e de alguns conceitos que, de
alguma forma, pode nos descortinar algumas propostas e percepções do vinho
degustado em questão. Falemos do método tradicional e da região do Beira
Atlântico.
O método natural do espumante ou champenoise
O método tradicional consiste principalmente em uma dupla
fermentação do mosto, a primeira em grandes recipientes, e a segunda em
garrafas, dentro das caves ou adegas, fazendo o processo de remuage (rotação
das garrafas) regularmente.
A primeira fermentação, chamada fermentação alcoólica, é
idêntica à que ocorre com os vinhos comuns, ou seja, os “não efervescentes”,
ditos tranquilos. O vinho básico costuma ser vinificado em tanques de concreto,
aço inoxidável ou madeira, mas alguns produtores preferem fazer a vinificação
em barricas de carvalho (com muitos anos de uso).
No momento de engarrafar, a esse vinho básico, é acrescentado
um composto denominado liqueur de tirage, uma solução de vinho adoçado com
açúcar (de cana ou beterraba) ou suco de uva concentrado (aproximada 24 g/l de
açúcar) e leveduras selecionadas, para iniciar a segunda fermentação.
Esse composto, dentro garrafa, provoca o início da segunda
fermentação. É ela que gera as bolhas de dióxido de carbono, fruto da
transformação química dos açúcares em álcool mais gás carbônico.
A garrafa então é tapada com uma cápsula metálica parecida
com as de cerveja. Contudo, nessa segunda fermentação, ocorre o surgimento de
borras que deverão ser retiradas do vinho. Assim, o próximo passo é conduzir o
vinho para o período de descanso em garrafa, que pode ser de pouco mais de um
ano chegando até 10 anos, ou mais. Normalmente os Champagne safrados, ou
millésimes, permanecem mais tempo em garrafa antes de serem lançados ao
mercado.
Para retirar as borras, faz-se a remuage. O processo consiste
em dispor as garrafas em cavaletes especiais, ditos pupitres, com o gargalo
para baixo. A cada dia, as garrafas são giradas em um quarto de volta. Isso tem
como objetivo descolar as borras (resíduos) da parede da garrafa e fazê-las
descer para o gargalo. Em muitos lugares, essa prática é feita ainda
manualmente, enquanto os grandes produtores já o fazem com equipamentos
automatizados, como os giropalets.
Finalmente, para retirar o depósito de borra, é realizada a
degola (dégorgement, em francês). Para tal, congela-se o gargalo em um
preparado de salmoura a 25ºC negativos. Nesse momento, a cápsula é retirada e a
borra é expulsa pelo gás sob pressão. A pequena perda de volume de vinho é
substituída por uma mistura de vinho e açúcar, chamado licor ou vinho de
dosagem, também conhecido, principalmente na França, como liqueur d’expédition.
Normalmente, esse licor é um composto de vinho (de reserva),
açúcar e SO2, como antioxidante e antimicrobiano. Sua função, além de recompor
o volume da garrafa, é definir o estilo do espumante conforme a concentração de
açúcar. Essa quantidade de açúcar presente no licor vai determinar se o
espumante de método champenoise será Brut Nature (menos de 3 g/l), Extra-Brut
(até 6 g/l), Brut (menos de 12 g/l), Extra-Sec (entre 12 e 17 g/l), Sec (entre
17 e 32 g/l), Demi Sec (entre 32 e 50 g/l) ou Doux (mais de 50 g/l). E há
também alguns produtores que não utilizam o licor de expedição.
Nos últimos anos, muitas vinícolas passaram a produzir espumantes
do tipo Nature. Essa bebida nobre extrai o sabor mais puro das uvas e do
processo de fermentação, criando um resultado surpreendente.
Nature
O Nature passa pelo
método tradicional de produção, conhecido como champenoise. Contudo, a
diferença é que a categoria não passa pela etapa de correção de sabor – momento
em que um licor de expedição, feito a partir do próprio vinho e do açúcar, é adicionado
na bebida.
O interessante desse espumante é que ele geralmente vai ter
uma qualidade maior de ingredientes. Como não passa pela correção de sabor, é
importante que seja feito com perfeição.
Para ganhar o título de Nature, a bebida precisa conter até 3
gramas de açúcar por litro, enquanto o Brut pode conter entre 6 e 15 gramas por
litro. Por isso, o sabor do espumante é mais seco. O tempo de maturação do
vinho também é maior, o que resulta em um volume de boca considerável. Ou seja:
é mais cremoso do que os outros estilos. Normalmente as variedades utilizadas
para esse tipo de espumante é a Chardonnay e a Pinot Noir.
Beira Atlântico
A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos,
fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares
antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D.
João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção
para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e
econômica.
A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso
Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de
ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a
Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural,
de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade
dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".
Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os
terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com
frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de
natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os
Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior
frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.
A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra,
delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras
do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia
maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de
altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima
temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e
temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os
terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem
diversos consoantes à predominância de cada elemento.
Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima
densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de
pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam
um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de
grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores
engarrafadores que muito dignificam a região.
As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em
1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais
a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima
fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração,
oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável
para a elaboração dos vinhos espumantes.
Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima
densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de
pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam
um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de
grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores
engarrafadores que muito dignificam a região.
As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em
1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais
a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima
fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração,
oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável
para a elaboração dos vinhos espumantes.
E agora finalmente o vinho!
Na taça tem um amarelo palha, bem claro e brilhante com
reflexos esverdeados, com perlages finas, abundantes e constantes.
No nariz aromas pronunciados, intensos de frutas frescas com
destaque para maçã, limão, pêssego, tangerina, além de frutos secos como
amêndoas e avelãs, com um discreto, mas intrigante, tostado, algo de pão, de
panificação, com toques minerais e um floral que denuncia o frescor e a
jovialidade do vinho.
Na boca é seco, fresco, untuoso, com as notas de brioche, de
pão tostado, graças aos nove meses que ficou na cave, protagonizando juntamente
com o mineral dominando todo o palato, além, é claro, do frutado, as frutas de
cítricas e de polpa branca, com uma acidez vibrante, intensa e suculenta que
saliva a boca, com um final cheio e persistente.
Aqui vale uma curiosidade, mesclada a história das regiões da
Bairrada e do Beira Atlântico que a Adega de Cantanhede faz questão de estampar
nos seus rótulos. Por que o nome do espumante é “Colinas de Ançã”?
Ançã é uma Vila Histórica da Bairrada - Região Demarcada de
Viticultura no centro de Portugal, perto do Oceano Atlântico. A sua história
tem uma forte relação a alguns dos mais antigos e icónicos monumentos em
Portugal, uma vez que a maioria foi construída com um tipo especial de calcário
proveniente das terras de Ançã. Este calcário faz parte do solo que, misturado
com barros, é um dos elementos mais distintivos do terroir da Bairrada, terra
de vinhos de vincado carácter.
E com esse apelo regional que é muito vívido nos rótulos
portugueses enalteço também a tipicidade desse espumante que entrega
vivacidade, frescor, mas personalidade, notas frutadas, juntamente com uma
acidez envolvente, instigante, com um corte delicioso de Bical e Arinto
mostrando que os lusitanos produzem bons espumantes. Ponto para a Adega de
Cantanhede! Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Adega de Cantanhede:
Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega
de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção
anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal
produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da
produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo
líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.
Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado
nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado
da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega
Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.),
mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua
estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga,
Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas.
Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição,
como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no
inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património
confere aos seus vinhos.
O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto,
branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a
que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método
Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que,
graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes
segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que
resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.
A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos
e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos
prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750
distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e
internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de
Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde –
França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por
diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses
concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em
2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ –
Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas.
Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3
vezes pela imprensa especializada.
Mais informações acesse:
Referências:
Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/champenoise-tradicional-ou-classico-os-metodos-de-fazer-champagne_11987.html
“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/
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