domingo, 7 de março de 2021

Terra Boa tinto 2018

Definitivamente Portugal é um celeiro de grandes vinhos! Um universo inexplorado de propostas, das mais diversas, de vários e vários rótulos e que personifica o universo do vinho, gigante e muito ainda a ser desbravado. E em virtude de tudo isso, tenho, claro, como um cavaleiro errante, a andar, a garimpar, por intermédio dos vinhos que enchem generosamente as minhas taças, vários rótulos lusitanos, dando prioridade as regiões desconhecidas para mim, blends inusitados, rótulos especiais, castas pouco populares etc. Enfim, novas percepções, novas experiências para diversificar o nosso leque sensorial.

E já que falei de Portugal, um país, geograficamente, tão pequeno, mas tão gigantesco em terroirs tão singulares, não posso deixar de falar de uma região, em especial que descobri, quase que uma forma despretensiosa, que são as Terras da Beira. O nome pode não soar muito familiar a alguns enófilos brasileiros, haja vista que, diante dos badalados Alentejo, Douro e Porto, por exemplo, Beiras se resume a condição de coadjuvante, em termos comerciais, mas só sob o aspecto comercial. Trata-se de uma região especial, peculiar e com vinhos muito bons. Claro que, com os poucos rótulos que degustei, uma afirmação de sua qualidade, de forma tão veemente, pode parecer leviano, mas, os poucos que degustei, me arrebatou por inteiro!

Quando falei que os descobri despretensiosamente, foi em uma das minhas visitas as redes sociais e vi um especialista e crítico de vinhos muito conhecido, de nome Didu Russo, que, em sua página na referida rede social, publicou um vinho, da Adega Cooperativa de Pinhel chamado D. João I, um branco da sub-região de Pinhel. Ele disse, eufórico, que o vinho ficou em segundo lugar em uma degustação às cegas com vários outros rótulos brancos portugueses, inclusive à frente de muitos vinhos caros! Claro que a curiosidade prevaleceu e o comprei! De fato, um vinho surpreendente! E depois desse, sempre quando vejo um vinho das Terras da Beira, não hesito em comprar.

A minha última aquisição dessas terras, veio de um produtor gigante, em todos os sentidos e que atua em todo o Portugal, a Bacalhôa, e seu vinho vem do alto, literalmente do alto, os chamados “vinhos de altitude” e se chama Terra Boa, composto pelas castas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon, da safra 2018. E sem mais delongas, falemos um pouco dos “vinhos de altitude” e da minha nova queridinha: Terras da Beira.

Vinhos que vem do alto: “Vinhos de altitude”:

A dificuldade mais comum é apontar uma cota a partir da qual estamos em presença de um vinho de altitude. Bastará uma colina ou apenas poderão ser consideradas aqueles cujas cepas se encontram a mais de 2000 ou 3000 metros de altitude, tal como as que existem em Colomé na zona de Salta, Argentina ou no Monte Etna na Sicília?

Ao longo dos anos, os enólogos que produziam vinhos em regiões mais altas apercebeu-se que tinham sido confrontadas com condições muito particulares de luz (maior intensidade e radiação ultravioleta), temperatura (grandes amplitudes térmicas), ar (menor percentagem de oxigénio e de dióxido de carbono) e de maturação (níveis mais elevados de taninos e antocianos). Essas diferenças, conjugadas com as caraterísticas geológicas, originariam vinhos mais frescos e com uma acidez mais elevada.

A temática revestiu-se de tanto interesse que no início do milénio foi organizado, na Califórnia, o primeiro simpósio internacional dedicado ao tema da viticultura em altitude. Neste evento, o climatologista, Greg Jones, explicou a diferença entre relevo relativo (as diferenças de altitude num ponto baixo e num ponto alto de uma colina) e relevo absoluto (diferença de altitude desde o nível das aguas do mar). Para Jones, o relevo relativo tem influência real sobre o clima e condições meteorológicas, assim para as vinhas também terá. No entanto, os encepamentos que se encontram a uma maior altitude, quando comparadas com outras ao nível do mar, apresentam diferenças significativas no clima e nas condições meteorológicas.

As Terras da Beira

No interior da região atualmente delimitada com a designação Terras da Beira está inserida a DO (Denominação de Origem) Beira Interior e estas áreas faziam parte de uma região vitivinícola bastante extensa, então designada como IG (Indicação Geográfica) Beiras. Foi a sede do povo Lusitano, onde o seu rei Viriato foi assassinado em 139 a. C. pelos Romanos que depois tomaram posse desta terra. Cerca de 600 anos depois, surgiram os Visigodos, últimos dois povos com grande ligação à viticultura. Os monges de Cister, a partir do séc. XII revitalizaram a viticultura após a Reconquista. Os árabes muçulmanos dedicaramse menos a esta cultura. Situada no coração do interior Norte, perto da fronteira com Espanha, na região mais escarpada e montanhosa de Portugal Continental, abarca no seu interior a Serra da Marofa, a Serra da Gardunha e parte da Serra da Estrela.

Terras da Beira

No que diz respeito à DO Beira Interior, as suas subregiões são: Castelo Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira, que sempre se notabilizaram por vinhos de elevado valor enológico, expresso num aroma mais rico e distinto das outras regiões. A elevada altitude das vinhas, acima de 400 até 700 m, num total de 16.000 hectares, lembra a situação do país vizinho com as grandes regiões vitivinícolas de Castela. Noites frescas no Verão, e mesmo frias na fase da vindima e da fermentação, já antes da introdução das novas tecnologias de fermentação controlada permitiam a produção de vinhos maduros frescos e aromáticos. O vinho rosado, na época das grandes exportações deste tipo de vinho, em meados do séc. XX, especialmente para os EUA e o norte de Europa, sempre foi considerado o melhor e trouxe alguma prosperidade a esta região.

Os verões são curtos, mas muito quentes e secos, os invernos prolongados e gélidos. Os solos são maioritariamente graníticos, com alguma presença de xistos e, embora menos comum, alguma componente arenosa. As três subregiões partilham sensivelmente as mesmas especificidades materiais, apesar de se encontrarem separadas por cadeias montanhosas com picos de mais de mil metros de altitude, onde a combinação de solos pobres, acidez elevada e maturações robustas garante um futuro promissor para toda a região. A Cova da Beira apresenta características divergentes e alternativas, espraiandose desde os contrafortes orientais da Serra da Estrela até ao vale do Tejo, a sul de Castelo Branco. As adegas cooperativas produzem grande parte do vinho da região, apesar de, cada vez mais, surgirem no mercado vinhos de pequenos e médios produtores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um lindo vermelho rubi com reflexos violeta e muito brilhante dando-lhe vivacidade, com uma boa concentração de lágrimas finas e de certa persistência.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas vermelhas como groselha, cereja, framboesa, com um toque floral, lembrando flores vermelhas, trazendo a impressão de frescor e leveza.

Na boca é seco, ainda jovem, expressando todas as sua notas frutadas como percebida no aspecto olfativo, além de fresco, macio, mas com a personalidade que as castas que compõe o blend é capaz de entregar. Tem taninos macios e delicados, acidez correta e muito versátil e equilibrado.

O nome faz jus ao vinho! A terra definitivamente é boa! Tudo nesse básico, mas especial vinho, é soberbo! Versátil te entrega um vinho frutado, saboroso, aromático, floral, flores vermelhas, mas com a personalidade que vem do alto, das vinhas velhas, amansadas pelo tempo, bem marcante, mas tudo em um contexto harmônico e muito equilibrado, com um excelente potencial gastronômico, pode ser harmonizado com simples refeições ou pratos mais complexos e condimentados. A pseudo condição de coadjuvante na região, revela um vinho especial, básico sim, mas que entrega além do que valeu, além de sua proposta. Que venham mais vinhos da emblemática Terras da Beira! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta da Bacalhôa:

Bacalhôa Vinhos de Portugal foi  fundada em 1922, sob a denominação João Pires & Filhos, daí o nome do vinho “JP Azeitão”. Em 1998 o controle da empresa foi comprado por José Berardo, que adquiriu novas propriedades e celebrou um acordo de parceria com o grupo Lafitte Rothschild. No ano de 2008 o grupo Lafitte Rothschild adquiriu uma participação na empresa, que adquiriu mais propriedades e uma participação maioritária na vinícola Aliança. Sua sede está localizada na histórica. O Comendador José Berardo, sendo o principal acionista, prosseguiu com a missão da empresa, investindo no plantio de novas vinhas, na modernização das adegas e na aquisição de novas propriedades, junto com a imprescindível parceria com o Grupo Lafitte Rothschild na Quinta do Carmo. Em 2007 a Bacalhôa tornou-se a maior acionista na Aliança, um dos produtores mais prestigiados nas categorias de espumantes de alta qualidade, aguardentes e vinhos de mesa. No ano seguinte, a empresa comprou a Quinta do Carmo, aumentando assim para 1200ha de vinhas a sua exploração agrícola. A Bacalhôa dispõe de adegas nas regiões mais importantes de Portugal: Alentejo, Península de Setúbal (Azeitão), Lisboa, Bairrada, Dão e Douro. O projeto implementado nas diversas quintas sob o tema “Arte, Vinho, Paixão” visa surpreender as expectativas mais exigentes. Das vinhas ao vinho, todo o processo vitivinícola é envolvido em vários cenários que incluem a tradição e modernidade, com exposições artísticas diversas, da pintura à escultura, nunca esquecendo as magníficas obras naturais. Com uma capacidade total de 20 milhões de litros, 15.000 barricas de carvalho e uma área de vinhas em produção de cerca de 1.200 hectares, a Bacalhôa Vinhos de Portugal prossegue a sua aposta na inovação no sector, tendo em vista a criação de vinhos que proporcionem experiências únicas e surpreendentes, com uma elevada qualidade e consistência. A Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A., uma das maiores e mais inovadoras empresas vinícolas em Portugal, desenvolveu ao longo dos anos uma vasta gama de vinhos que lhe granjeou uma sólida reputação e a preferência de consumidores nacionais e internacionais. Presente em 7 regiões vitícolas portuguesas, com um total de 1200ha de vinhas, 40 quintas, 40 castas diferentes e 4 centros vínicos (adegas), a empresa distingue-se no mercado pela sua dimensão e pela autonomia em 70% na produção própria. A cada uma das entidades que constituem a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. - Aliança Vinhos de Portugal, Quinta do Carmo e Quinta dos Loridos - corresponde um centro de produção com características próprias e um património com intrínseco valor cultural. É à dinâmica gerada pelo cruzamento destas várias identidades, explorada com recurso à tecnologia mais atual e aos conhecimentos de uma equipa de renome, que a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. deve a sua capacidade única no competitivo mercado português de oferecer o vinho perfeito para qualquer ocasião.

Mais informações acesse:

https://www.bacalhoa.pt/

Referências para pesquisa:

“Wine to Wine Circle”: https://www.vinetowinecircle.com/regioes/terras-da-beira/#:~:text=Regi%C3%A3o%20vitivin%C3%ADcola%3A%20TERRAS%20DA%20BEIRA&text=Foi%20a%20sede%20do%20povo,foi%20assassinado%20em%20139%20a.&text=Cerca%20de%20600%20anos%20depois,a%20viticultura%20ap%C3%B3s%20a%20Reconquista

 




 

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