Dizem por aí que os espumantes brasileiros são certeiros para
quem quer degustar vinhos frescos, leves, frutados e descompromissados. E é
verdade! Hoje considero, sem medo de errar, que os nossos espumantes pode
rivalizar, hoje, em iguais condições com o champanhe, o original francês, os
cavas espanhóis, os proseccos italianos. Mas nem sempre foi assim para mim.
Digo isso pois nunca tive uma ligação muito forte e intensa, no que tange, é
claro, nas degustações com os espumantes brasileiros, quando comecei a degustar
os vinhos finos. Como muitos no Brasil ainda, eu nutria certa rejeição com os
brancos tranquilos e espumantes. Achava que eram vinhos sem expressão e vida e
que não iria me satisfazer, me entregar o que eu esperava nas percepções
olfativas e do paladar. Demorei um pouco a ter um contato com tais vinhos. Mas
decidi arriscar e comecei a juntar estímulos para degustar espumantes. O fiz,
mas não me recordo, devo confessar, qual foi o meu primeiro rótulo exatamente
que me desvirginou para o mundo dos vinhos das borbulhas, mas foi com algum
rótulo da Salton. Lembro-me, pois fui abordado em um supermercado por uma
pessoa que me via criar ânimo e coragem para escolher um espumante e estava
demorando para isso, acredito que foi por esse motivo que o bom enófilo tenha
intercedido por mim, me recomendando um rótulo. Degustei e gostei muito e
prometi: a partir daqui seguirei a degustar mais e mais espumantes. E falando
na minha saga com os espumantes, anos depois, em minhas excursões nos
supermercados avistei um espumante, que estava com um valor bem convidativo, da
Salton que logo me animou para comprar.
E esse vinho, ou melhor, o vinho que degustei e gostei e que
arrebatou por inteiro, foi o Salton Reserva Ouro brut, da Serra Gaúcha, com um
blend das castas Chardonnay (70%), Pinot Noir (20%) e Riesling (10%), produzido
pelo método Charmat (Caso queira saber um pouco mais sobre esse e outros
métodos clique aqui: Diferenças entre os métodos Champenoise e Charmat), mas esse é feito pelo “método Charmat Longo”. Mas o que
significa esse bendito “Charmat Longo”? O bom da degustação é que ela estimula o
aprendizado, para quem quer, é claro, absorvê-lo. Aprendi e faço questão de
aqui compartilhar o significado. Quando se quer um espumante mais estruturado,
com um corpo mais presente, cor mais intensa, menores perfumes frutados, porém
maior complexidade aromática se utiliza o método Charmat longo, inventando em
1970 pelo enólogo italiano Nereo Cavezzani, onde o processo de fermentação é
mais demorado (de 6 à 12 meses) e aonde os tanques de aços inox pressurizados
são munidos de um agitador em hélice para colocar em suspensão os sedimentos da
fermentação (lias), favorecendo a estrutura do vinho e criando um perfil
sensorial mais complexo, prerrogativa típica dos espumantes produzidos com o
método clássico ou tradicional.
Então vamos ao que interessa: O vinho!
Na taça apresenta um amarelo palha e não tinha detalhes tão
dourados assim, diria até um tanto quanto transparente, com perlages bem finos,
não em abundância, mas persistentes.
No nariz é floral, traz algumas notas frutadas, mas não em
grande evidência. Percebi notas de abacaxi, toques cítricos discretos, com
aquele toque, também discreto, mas agradável de fermento, pão torrado, certa
cremosidade, devido, é claro, a sua proposta do método do Charmat Longo e
também pelo contato por 12 meses com as leveduras.
Na boca é seco, claro, é um brut, baixo residual de açúcar,
as percepções frutadas também, como no olfato, é bem discreto, mas é muito
fresco, leve, descompromissado, mas que revela certa personalidade, marcante
diria, cremoso e com um final persistente.
Um vinho delicioso e que definitivamente colocou, foi
responsável, os espumantes em meus caminhos na estrada das experiências de
rótulos. A Salton, e seus espumantes, faz parte da minha história no que tange
aos vinhos de borbulhas em todas as suas personificações e propostas. Harmoniza
bem com pratos de entrada como frios, com comidas leves e mais simples ou
sozinho. Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Salton:
A história começa na Itália, em 1878, quando Antonio Domenico
Salton partiu da cidade de Cison di Valmarino, na região do Vêneto, à procura
de oportunidades melhores no Brasil. Ele se instalou na colônia italiana de
Vila Isabel, hoje conhecida como a cidade de Bento Gonçalves, no Rio Grande do
Sul. A empresa foi formalmente constituída em 1910, quando os irmãos Paulo,
Angelo, João, José, Cesar, Luis e Antonio deram cunho empresarial aos negócios
do pai, o imigrante Antonio Domenico Salton, que vinificava informalmente, como
a maioria dos imigrantes italianos. Os irmãos passaram a se dedicar à cultura
de uvas e à elaboração de vinhos, espumantes e vermutes, com a denominação
"Paulo Salton & Irmãos", no centro de Bento Gonçalves. Um século
depois, a Salton é reconhecida como uma das principais vinícolas brasileiras,
líder na comercialização de espumantes nacionais no Brasil. Hoje, à frente da
vinícola, membros da quarta geração da família preservam o legado de seu
fundador, Paulo Salton, amparado nos valores construídos ao longo dos mais de
cem anos de história e inspirados pela simplicidade e pelo trabalho árduo das
primeiras gerações.
Mais informações acesse:
História da Vinícola Salton
Degustado em: 2017
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