Além de ser a maior, mais antiga e mais prestigiada região
vitivinícola do país, Bordeaux tem um dos terroirs mais reconhecidos do mundo
dos vinhos, principalmente para os clássicos cortes do Velho Mundo.
Um pouco de história
Não é de hoje que Bordeaux é referência no mundo do vinho.
Desde a Idade Média, a região tem atraído olhares de outras partes do mundo,
principalmente da Inglaterra, que a incorporou à rota mercantilista – isso num
tempo em que a maioria das denominações francesas eram praticamente
desconhecidas fora do país.
Vamos começar pensando na fama que Bordeaux tem: vinhos
elegantes, estruturados, bem feitos. Talvez os mais “franceses” da França.
Comprar um Bordeaux é, na maioria das vezes, a certeza de um vinho correto, de
um vinho que vai evoluir na guarda, de um vinho complexo, a cara do Velho Mundo.
Isso não quer dizer que não dá para se decepcionar com um
Bordeaux. Tampouco quer dizer que não existam rótulos mais simples e baratos.
Como saber? Como escolher? Não se preocupe até o final deste guia você vai
saber tudo isso de cor!
Onde está?
Posicionada no litoral sudoeste da França, Bordeaux é uma
região entremeada pelos rios Dordogne e Garone, que, ao se encontrarem, dão
origem ao Gironde (maior e mais influente que os demais). Seu próprio nome faz
referência aos rios (Bordeaux deriva da expressão francesa “au bord de l’eau”,
que significa “ao longo das águas”).
Talvez a abundância de águas, tanto dos rios quanto do mar
adjacente, seja um dos maiores atributos de Bordeaux. Além de amenizar o clima
da região, as águas provêm o melhor ambiente para o desenvolvimento das
videiras.
De tão extensa que é Bordeaux, a denominação está mais para
um conjunto de várias denominações e terroirs. Um antigo ditado de Bordeaux diz
que os melhores vinhedos “podem ver o rio”, regiões onde o solo é formado por
cascalho e pedras, perfeito para a drenagem da água. A maioria dos principais
produtores bordaleses está exatamente nessas localidades.
É exatamente por isso que Bordeaux deu tão certo no mundo dos
vinhos – ali, as uvas crescem no clima, no solo… No terroir ideal. Existem
outras denominações até melhores? Claro que sim, mas Bordeaux ainda é vista
como um modelo a ser seguido para que tudo dê certo no final.
Mas nem sempre é igual
Na verdade, é sempre diferente. Mesmo com os rios, o clima da
localidade ainda é extremamente delicado, chegando a ponto de ser instável. É
justamente por isso que cada safra se diferencia das demais, algo que não se vê
na maior parte do Novo Mundo, onde os climas são estáveis.
Em Bordeaux, é possível saber se um vinho é bom única e
exclusivamente pela safra. Para os críticos, os anos de 2001 e 2002, por
exemplo, foram ruins – seus vinhos, então, mais baratos e menos complexos; Já
2005 e 2009 foram algumas das melhores deste milênio, o que resulta em vinhos
que ficam na memória (seja pelos sabores gostosos e persistentes ou pelos altos
preços).
Quando a safra é tão boa, fica até difícil encontrar os
vinhos no mercado. Os grandes apreciadores compram garrafas e mais garrafas,
pois são vinhos que podem evoluir na guarda por muitos anos (10, 20, 50!),
característica de Bordeaux que nenhum outro canto do mundo consegue imitar.
Sabe onde estão esses vinhos tão “tops”? Eles estão em
leilões, em adegas pouco acessíveis, nas mãos dos colecionadores ou na China…
Negócios da China
Como assim estão na China?! Desde 2011, o consumo dos
chineses tem sido de cerca de 1,3 milhão de litros por ano. O país já se tornou
o primeiro importador mundial de vinhos de Bordeaux. Além disso, cerca de 30
vinhedos de Bordeaux foram comprados por chineses, e mais dezenas estão sendo
negociados.
Pois é, o dragão tem sede de vinho, e encontrou seu pote de
ouro justamente em Bordeaux (e ao pé da letra!). Isso porque os vinhos
bordaleses, com o passar dos anos, tem índices de rendimento bem maior que
outros investimentos tradicionais, como ouro, ações, antiguidades e até diamantes.
Dez anos de guarda e o vinho valerá 500% o valor pago na garrafa!
Além disso, para os chineses, toda reunião de negócios que se
preze precisa ser finalizada com um brinde de um grande Bordeaux. Do contrário,
os convidados levarão como ofensa. Os chineses estão a cada dia mais exigentes,
querendo vinhos diferentes e mais especiais.
Por melhor que seja a situação (para os produtores e
chineses, claro), ela traz algumas complicações. A começar pelas falsificações.
Houve um ano que a China vendeu mais garrafas do Lafite Rothschild que foi
produzido no próprio château, nada mais nada menos que o tinto avaliado como o
mais caro de todo o mundo.
Corte bordalês
Apesar de vasta, Bordeaux cultiva poucas uvas. São elas
Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Malbec, Petit Verdot, Sauvignon
Blanc, Sémillon, Muscadelle e Ugni Blanc. Houve um tempo em que a Carménère
também brotava na região, porém foi extinta pela praga da filoxera que devastou
parte de Bordeaux (e da Europa inteira).
Não existe uma regra específica quanto às proporções usadas
no corte, e também nem todas as cepas precisam estar presentes. Cada uma delas
desempenha um papel no corte e contribui de alguma maneira para deixar o vinho
redondo, correto. Para se ter uma ideia, a maioria dos rótulos de Bordeaux nem
mencionam as uvas que levam.
Como descobrir, então, o que estamos bebendo? Pela região de
onde a garrafa vem…
As sub-regiões de
Bordeaux
Quanto menor a denominação, melhor o vinho. É por isso que os
melhores vinhos de Bordeaux não estampam seu nome no rótulo, mas o da
sub-região. E por ser tão grande, a região francesa possui dezenas delas.
Difícil seria conhecer todas…
Vamos falar das principais regiões e te ajudar a escolher as
que mais gosta de acordo com o estilo de vinho, as uvas, os preços…
Tem a ver com o rio…
Extensa, Bordeaux é formada por diversas comunas. E adivinhe
só? Cada uma se tornou uma denominação de origem (ou apelação, como chamam os
franceses). Pode parecer frescura, mas não é. Para conseguirem estampar o nome
da denominação de onde saíram, os vinhos passam por longas e rigorosas
avaliações.
Podemos dizer, de modo geral, que Bordeaux se divide em três
partes ao longo do rio Gironde: margem esquerda, margem direita e
Entre-Deux-Mers (“entre dois mares”, em francês). Daí, então, já dá para tirar
algumas conclusões: à direita do rio, predomina a Merlot, enquanto que à
esquerda, Cabernet Sauvignon; já Entre-Deux-Mers é conhecida por seus brancos.
Ah, e é bom ter isso sempre em mente, afinal, os vinhos de Bordeaux não
costumam estampar a uva no rótulo, mas pela denominação já dá para saber!
Obviamente é muito mais complicado do que parece! Mas vamos
simplificando…
Margem esquerda
O que sabe sobre a margem esquerda, tirando o fato de nela
predominar o cultivo da Cabernet Sauvignon? É onde estão alguns dos maiores
nomes de Bordeaux. São grandes as chances de já ter ouvido falar em alguns dos
rótulos e vinícolas de peso que de lá emergiram.
Médoc
Talvez seja essa a sub-região de Bordeaux de maior
importância. Ao menos é a primeira a ser lembrada (e a mais cara também…).
Formada por seis comunas, das quais quatro são extremamente famosas, Médoc
começa na cidade de Bordeaux e se estende por 50 quilômetros ao longo do
Gironde.
Saint-Estèphe, Pauillac, Saint-Julien e Margaux são tão
prestigiadas justamente por terem o que muitos consideram o melhor terroir de
Bordeaux (e estão todas em Médoc!). Não à toa, estão em peso na lista dos primeiros
classificados de 1885.
Saint-Estèphe
O estilo mais rústico dos vinhos de Saint-Estèphe nasce junto
à foz do Gironde. Para contrariar a maioria dos châteaux de Médoc, os daqui
preferem Merlot à Cabernet Sauvignon. Mas não espere um Merlot macio,
característica tão tradicional uva. Estes são densos e poderosos. É o Château
Cos d’Estournel, com seus vinhos ricos e expressivos, que se destaca na região.
Pauillac
Château Latife-Rothschild,
Château Mouton-Rothschield e Château Latour. Precisa de mais? É em Pauillac que estão 18 dos 61
maiores vinhos de Bordeaux (lembra da classificação de 1885 que mencionamos?
Aguarde e descobrirás…). Encorpados e luxuosos, com distintos toques de
groselhas negras e oxicoco (cramberry!).
De lá, saem vinhos com potencial de guarda incomparável – de
20, 30, 40, 50 anos! É exatamente por isso que esses vinhos fazem a base do
mercado de vinho de investimento. Um leilão de vinhos pelo Sotheby’s? Pode ter
certeza que Paulliac será a estrela. E, como já deve estar imaginando, se a
escolha for um Pauillac, é bom preparar o bolso com muitos dígitos (mais do que
está pensando)!
Saint-Julien
Precisos e refinados, certinho, corretos… É assim que são os principais
vinhos de Saint-Julien. Destacam-se por lá o Château Ducru-Beaucaillou, Château
Gruaud-Larose e Château Gloria (o Bordeaux perfeito para os amantes da região
que procuram vinhos a preços um pouco mais acessíveis do que nas outras
regiões).
Margaux
Além de, obviamente, o Château Margaux (um dos principais do
mundo), a região abriga ao menos outras 20 propriedades bem conceituadas. Com
um dos solos mais favoráveis de Médoc, composto principalmente de cascalho, é
de lá que saem os melhores vinhos das melhores safras. A denominação é
conhecida pela elegância, refinamento e generosos aromas de frutas vermelhas,
tostado, café e até trufa. Procure vinhos do Château Margaux, Château Palmer,
Château Rausan-Ségla e Château Angludet e não se arrependerá!
Graves
Assustado com os preços? Não se preocupe, seu lugar existe e
é em Graves, lar dos vinhos mais em conta de Bordeaux.
É da mistura entre cascalho e quartzo que o solo dos melhores
châteaux de Graves são compostos. O próprio nome da apelação deriva da palavra
francesa “gravier”, que significa cascalho.
Além da Cabernet Sauvignon, variedade que domina a região,
Merlot e Cabernet Franc são usadas com bastante frequência. E preste atenção,
pois estamos falando de uma das únicas partes de Bordeaux que fazem tanto
vinhos tintos como brancos. Em se tratando destes, a maioria resulta do corte
de Sémillon e Sauvignon Blanc.
Vinhos de algumas das mais antigas vinícolas de Graves
chegavam na Inglaterra antes mesmo do século 12. Sendo assim, no século 16,
alguns châteaux já eram conhecidos e tinham sua boa reputação conhecida, como é
o caso do Château Haut-Brion, um dos mais tradicionais da região. Tão grande
era a fama da propriedade, que é a única representada nos classificados de
1885.
Acontece que, alguns daqueles considerados melhores vinhos de
Graves, agora pertencem a uma importante denominação que a região congrega,
Pessac-Leógnan. É especificamente de lá que saem os mais conceituados brancos e
tintos de Graves.
Sauternes e Barsac
Ao sul de Graves, ainda ao longo das margens do Gironde,
estão situadas as comunas mais doces de Bordeaux. É de Sauternes e Barsac que
estamos falando, provavelmente as mais devotas aos vinhos de sobremesa. Mais do
que simplesmente doces, com deliciosas notas de mel e damasco, equilibram como
nenhum outro acidez e álcool. Além de Sémillon, cepa que reina na região,
alguns vinhos também contém Sauvignon Blanc, ambas atingidas com a dita
“podridão nobre”… “Podridão nobre?!” Isso mesmo, clique e saiba mais sobre ela
(não se preocupe, ela é do bem!).
O clima é um fator tão determinante para que as uvas sejam
naturalmente atingidas pelo fungo, que os melhores châteaux simplesmente se
recusam a vinificá-las nos anos em que umidade e calor não foram ideais. Para
se ter uma ideia, um dos mais renomados, o Château d’Yquem, não chega a
produzir uma garrafa sequer ao menos duas vezes numa década. Parece loucura,
mas preferem lidar com os prejuízos de um ano sem produção a abaixar o padrão
de qualidade de seus vinhos.
Margem direita
Cruzar a margem do Gironde é como viajar para outra região.
As comunas à direita em nada lembram as da margem esquerda, com luxuosos
châteaux e vinhedos enormes. São mais modestas, menos conhecidas (com uma
exceção) e, além disso, quem domina a região é a Merlot, e não a Cabernet.
Saint-Émilion
Quanto menor o vinhedo, menos mão de obra necessária, certo?
É isso mesmo que acontece em Saint-Emilion, e justamente por essa razão que os
vinhos são, em sua maioria, feitos pela própria família dona da propriedade. Um
dado curioso sobre a região apenas confirma o fato: para cada três habitantes
existe um château.
Diferente das outras, Saint-Emilion é toda distribuída em
colinas de calcário, as chamadas côtes. Além disso, é a comuna mais medieval de
Bordeaux, chegando até a lembrar uma fortaleza. Os melhores vinhos da
denominação saem do Château Cheval Blanc, Château Magdelaine ou Château Ausone.
Pomerol
A menor das sub-regiões de Bordeaux é também uma das que mais
atraem olhares dos apreciadores da região. O mais curioso é que, até o início
do século vinte, passava despercebida. O motivo da reviravolta? Simplesmente
por ser a casa de um dos mais prestigiados châteaux do mundo, o Pétrus. É lá,
portanto, que estão os vinhos mais caros de toda Bordeaux.
Mais de 70% da região é coberta por Merlot e o restante é
praticamente exclusivo de Cabernet Franc. Isso porque seu solo resulta da
mistura entre argila e carvalho, perfeito para ambas.
Nas melhores regiões de Pomerol nascem vinhos aveludados e
ricos em notas de ameixa, cacau e violetas. Vinhos que combinam intensidade e
elegância. É por essas características que é mais fácil encontrar Bordeaux de
Pomerol num restaurante a um vinho de outras sub-regiões. Eles são fáceis de
beber e não precisam de tantas anos de guarda para chegarem ao auge.
Entre-Deux-Mers
Como o próprio nome já diz, a região se encontra entre os
rios Dordogne e Garonne. Nunca ouviu falar nela? Pois é… É um tanto quanto
marginalizada mesmo, principalmente quando comparada às demais denominações de
Bordeaux. Nunca seus vinhos foram classificados e a maioria dos tintos,
inclusive, não segue as regras da denominação Entre-Deux-Mers, se enquadrando
apenas como Bordeaux ou Bordeaux Superiéur.
Lá, os brancos é que dominam. Feitos principalmente de blends
de Semillón, mas também de Sauvignon Blanc e Muscadelle, são florais com um
toque picante. E por não estagiarem em barrica, ganham leveza e frescor como
nenhum outro.
Escrito em grego?
Afinal, como ler um rótulo de Bordeaux? Bordeaux
Superiéur, Cru, Grand Cru… O que é tudo isso? Que classificações são essas? Não está entendendo
nada? Calma, calma, vamos te ajudar!
Saber ler o rótulo de um Bordeaux não parece tarefa difícil.
Basta conhecer as leis estabelecidas pelo conselho francês e “voilà”! Qual é a
dificuldade, então?
Bom… Tudo começou em 1855 (antes mesmo da criação do conselho
regulador), quando Napoleão III resolveu organizar o Julgamento de Paris, que
classificou os melhores vinhos à época.
O problema disso? Esta classificação não considerou toda
Bordeaux, então algumas denominações, sentindo-se inferiorizadas, criaram
posteriormente as suas próprias classificações.
Premier Grand
Cru, Grand Cru Classé, Grand Cru… E por aí vai! Acredite, são várias delas, todas com nomes
muito parecidos. Mas três, as mais importantes, são usadas até hoje.
Classificação de 1855
(o tal Julgamento aí de cima)
Para o evento, os principais châteaux deveriam classificar
seus vinhos do melhor para o pior e, então, seriam degustados, avaliados e
distribuídos em cinco categorias.
Com apenas um vinho classificado, a vinícola já ganha um
título vitalício! Funciona como um atestado garantia de qualidade, e até os
vinhos mais simples que da propriedade saem têm preços astronômicos.
Ao todo, 61 produtores foram classificados… E adivinhe só? A
maioria deles está justamente em Médoc – fora isso, os outros que entram estão
em Sauternes, Barsac e Graves.
Voltando ao julgamento…
Na ocasião, as categorias foram estabelecidas por faixas de
preços dos vinhos. As mais caras, cujos vinhos são considerados Premier Cru,
são seguidas pelos Deuxièmes Cru, e assim em diante até a quinta categoria.
Os mais conhecidos são os Premier Cru – Château Margaux,
Château Latour, Château Haut-Brion, Château Lafite-Rothschild e Château
Mouton-Rothschield.
Classificação de Graves
(1953)
Quase um século se passou e Graves conseguiu classificar seus
vinhos. Apenas 21 vinhos receberam tal honra, dentre eles, 13 tintos e oito
brancos. Diferentemente da classificação anterior, todos estes são chamados de Grand
Cru Classé.
Classificação de
Saint-Émilion (1954)
No ano seguinte, foi a vez de Saint-Émilion classificar seus
vinhos mais “tops”. E esta é considerada a mais diferente das classificações,
pois, além de dividir nas categorias Premier Grand Cru Classé, Grand Cru Classé
e Grand Cru (em ordem diminutiva), ela passa por uma revisão a cada década.
Só isso?
Não! Não basta entender de Cru e Grand Cru para ler
facilmente os rótulos. Tem outros nomes e termos que é preciso conhecer.
Bordeaux Superiéur
Eis o típico nome que induz ao erro… Há quem pense se tratar
de um vinho superior (afinal, é isso o que sugere o rótulo, não?), porém esta é
uma das categorias mais genéricas da região.
Assim como a denominação Bordeaux, ainda mais simples que
Bordeaux Superiéur, as uvas podem ter sido cultivadas em qualquer sub-região. O
resultado? Um vinho com características mais genéricas da região, mas ainda sim
uma excelente aposta para vinhos mais simples.
Château-o-quê?
Difícil mesmo é encontrar sequer um rótulo de Bordeaux sem a
palavra “château”. O que parece ser uma mania local, na verdade, tem uma explicação
pra lá de plausível.
Como a maioria dos vinhedos estava localizada no entorno de
castelos (châteaux, em francês), as vinícolas acabaram sendo batizadas com seus
nomes. Hoje, nem todas as vinícolas tem castelos próprios, mas mesmo assim são
denominadas châteaux!
Mis en Bouteille au Château
Procure pela frase num rótulo e tenha a certeza de que as
uvas do vinho que vai beber foram cultivadas e vinificadas no próprio château.
Ao pé da letra, “Mis en Bouteille au Château” significa “engarrafado no
château”, ou seja, é quando todas as etapas de produção de um vinho passaram
aos cuidados do próprio vinicultor.
Por que preferir estes? Para conhecer a tipicidade de um
terroir específico (pode acreditar que cada um deles tem características
completamente únicas!).
Cadê as uvas?!
Percebeu que não falamos em uvas? Mais do que isso: percebeu
ao manusear uma ou outra garrafa que elas não dão as caras por ali? Isso porque
cada região de Bordeaux usa suas combinações de uvas, e só conhecendo a região,
dá para descobrir que uvas o vinho leva.
Como escolher seu vinho
Bordeaux ideal?
São tantas as denominações, características e cortes que até
ficamos confusos… Mas, depois que você já leu tudo o que precisava sobre
Bordeaux, já sabe como comprar um Bordeaux?
Ainda é um pouco difícil, dá para entender. Bordeaux é mesmo
grande e complexo. Vamos acabar logo com as dúvidas. Qual tipo de vinhos você
quer?
Prefiro os encorpados
Pensou em Cabernet Sauvignon? Vá direto para a margem
esquerda, onde o solo quente favorece o cultivo da casta (nem precisa dizer que
é a mais plantada, né?). É em Médoc que se concentram os vinhos mais encorpados
de Bordeaux. Outras boas regiões são Saint-Estèphe, Saint-Julien e Pauillac. Os
famosos Margaux são de lá e seguem a mesma linha.
Nada disso, quero algo
refrescante e fácil de beber (e que não pese no bolso!)
Quando cada gole mata a sede, mas não é suficiente, é seguido
por outro e outro. Claro que Bordeaux também tem deles. Acidez e frescor têm a
ver com tudo isso. São cheios de aromas que lembram pedras e o mar. Se prefere
um tinto, opte por cortes com Petit Verdot.
Falando de brancos
Algo que não se encontra com facilidade em Bordeaux são bons
vinhos brancos. Mas eles existem, e seu lugar é Entre-Deux-Mers, região
abraçada pelos rios (os dois “mares”) Dordogne e Garone. Sauvignon Blanc,
Sémillon e Muscadelle deixam seus vinhos frescos, vivos e frutados, com bom
corpo. Só não se esqueça de beber quando ainda são jovens, pois como a maioria
dos vinhos brancos, são feitos para beber até três anos após o engarrafamento.
Vinhos complexos para
bons conhecedores
Já experimentou de tudo e não se contenta com pouco. É normal
– quanto mais aprendemos sobre vinho, mais queremos aprender. Uma boa aposta é
a região da Saint-Émillion. Os vinhos mais legais de lá são feitos pelas mãos
das próprias famílias em produções pequenas (até por isso são mais caros). Os
vinhos de Saint-Émilion são tão elegantes que o rei Luis XIV os descreveu como
“néctar dos deuses” (não são pouca coisa, não!). São vinhos de guarda, que
aguentam anos envelhecendo e evoluindo – eles vão perdendo a cor e ganhando
aquilo que chamamos de buquê, uma enxurrada de aromas terciários, complexos.
Vinhos exóticos?
Desconhecidos?
Para você, vinho bom é aquele que rende boas histórias para
contar? Então aí vai: procure por um autêntico Saint-Macaire, cuja uva homônima
está quase em extinção, mas ainda é resguardada por alguns produtores locais.
Saint-Foy-Bordeaux também vale a pena conhecer, é uma região pouquíssimo falada
de Entre-Deux-Mers (pode ser tinto seco ou de sobremesa!).
E vinho doce, tem?
Uau, e como! É nas regiões de Sauternes e Barsac que estão os
mais apaixonados (e apaixonantes) vinhos de Bordeaux (ao menos para aqueles que
não abrem mão de um docinho, não importa a hora do dia). Sauternes é
considerada a melhor região do mundo para vinhos de sobremesa, igualada apenas
pelos Tokajis, da Hungria. São vinhos dourados e doces, mas elegantes, bem
estruturados e complexos. Vale muito a pena provar.
Além disso, Entre-Deux-Mers possui boas denominações para
vinhos de sobremesa: Loupiac, Saint-Croix-du-Mont e Cadillac. Guarde esses
nomes – apesar de mais simples e menos populares, são encantadores e mais em
conta (muito mais!).
Bordeaux para o
churrasco?
Carnes que saem amaciadas pela brasa pedem por vinhos mais
encorpados. Como já falamos, a Cabernet Sauvignon e a margem esquerda são
ideias. Mas busque também os vinhos que levam Merlot, cujos toques terrosos
combinam muito bem com o assado da brasa. As regiões são as mesmas que
mencionamos, vá pela ordem: Saint-Estèphe, Pauillac e Médoc.
E naquele jantar
especial?
Das duas uma: ou escolhe um vinho jovem, mas no ponto para
beber, ou tira aquele que está há anos na adega. Caso não tenha um vinho na
guarda, vá para Pomerol. É a terra do Château Petrus (o mais caro e famoso da
França), mas também de onde saem Merlots que já nascem prontos para beber –
fáceis, aveludados e não precisam de décadas para evoluir. São também mais fáceis
de encontrar em restaurantes. Mas lembre-se, é um jantar especial, e se a ideia
é brindá-lo com Bordeaux, não será barato (mas, acredite, vale muito a pena!).
Presentear também é
impressionar
Um presente para seu pai, ou alguém que realmente vai
apreciar um incrível vinho de qualidade? O nome Margaux é famoso, não só pelo
mundialmente conhecido Chatêau Margaux, mas também pelos outros vinhos da
região (dá para encontrar boas opções na média dos R$ 100). Elegância,
refinamento, frutas, tostado, café e às vezes até trufas! Procure por vinhos de
2000, 2002, 2005 e 2009 e veja você mesmo.
Quer impressionar, mas não pode investir tanto assim? Graves
é uma bela opção para tintos e brancos. Os Bordeaux que levam a denominação
“Bordeaux Superiéur” costumam ser mais baratos, pois suas uvas podem ter sido
cultivadas em qualquer sub-região. São mais simples, mas ainda assim uma
excelente aposta.
Para esquecer na adega
por décadas
Não é novidade… Bordeaux é um dos referênciais no mundo dos
vinhos quando o assunto é guarda. Os vinhos das melhores safras podem durar 10,
20, 30… 50 anos! É até difícil de acreditar, mas é verdade. Nesse caso, não dá
para apostar em qualquer vinho, não.
Aliás, longe disso. Estes vinhos não estão à venda em
mercados comuns… Os mais famosos, Châteaux Petrus, Margaux, Lafite-Rothschild,
Latour estão em apenas leilões, e custam 8 mil, 12 mil, 20 mil reais.
Ainda não sei do que
gosto
Como lidar? Experimentando! Claro, precisa ir aos poucos.
Comece pelos frutados (tintos ou brancos) de Graves, pois são mais leves, e
seus sabores agradam a qualquer um. Depois disso, passa para os que levam a uva
Merlot, a mais macia de todas, fácil de beber. Depois, parta para os cortes com
Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, os clássicos dos clássicos de Bordeaux.