quinta-feira, 7 de maio de 2020

Matilda Plains Tinto 2011


Definitivamente os vinhos australianos ganharam seu espaço no mundo. Também não é à toa, são vinhos exuberantes, frescos, de personalidade, complexos e elegantes. São vinhos versáteis, que proporciona harmonizar com pratos leves, simples, condimentados ou pode se degustar sozinho. São informais, frescos, mais complexos e austeros. Porém, no Brasil, apesar de ter uma boa diversidade de rótulos, ainda está um pouco distante da realidade de um simples enófilo, como eu, por exemplo. Explico: os valores são muitos altos para a maioria da população brasileira, assalariada, com pouco poder de compra. Não é uma novidade esse cenário, afinal o custo Brasil é alto, os tributos são altos, a burocracia encarece o produto e continuamos a mercê dessa situação. Enófilo brasileiro e pobre sofre! Mas os rótulos australianos são mais caros ainda! Não quero entrar nos pormenores, mas mencionei isso para falar em um excepcional vinho da terra do canguru com um surpreendente custo X benefício, tendo como comparação outros rótulos que atingem 3 ou até 4 dígitos no seu valor! Lembro-me bem que fui a busca de um vinho australiano, mas não queria gastar tanto. Entrei em uma loja especializada e me foi apresentado um vinho que o vendedor falou maravilhas. Com certo receio, comprei, afinal, pelo menos o valor estava convidativo.

O vinho que degustei e gostei é o Matilda Plains tinto da emblemática região de  Langhorne Creek, que conta com um blend das castas Cabernet Sauvignon (64%), Syrah (24%) e Merlot (12%) da safra 2011. Mencionei a região de Langhorne Creek e gostaria de falar um pouco sobre ela, antes de comentar o vinho.

Langhorne Creek

Esta região, que fica no sul da Austrália, que é simplesmente uma das mais tradicionais regiões produtoras de vinhos australianos da atualidade, também é conhecida pela cultura em torno do vinho, que reina por lá e que dá o tom da atmosfera do local.


Langhorne Creek produz alguns dos melhores rótulos vindos de um país emergente da atualidade e rivaliza com regiões tradicionais de centros importantes, como a França, por exemplo. A maior parte da produção de vinhos australiana se dá no sudeste do país. Cerca de 98% do que é produzido pelo país vem de lá. A região de Langhorne Creek é extremamente propícia ao cultivo de vinhas e à produção de bons vinhos muito por conta de seu solo diferenciado, que é considerado por muitos um solo altamente privilegiado. Isto se dá pelo fato de ser um tipo de solo muito bem drenado, que é rico em compostos minerais, que favorecem o desenvolvimento dos mais variados tipos de vinhas da atualidade. Seu clima é considerado perfeito pelos especialistas, já que privilegia o amadurecimento de uvas, especialmente durante o alto verão, a estação em que incidência de chuvas é muito baixa. Durante o inverno, o famoso rio Bremer, o maior rio que serpenteia pela região, inunda os campos cultivados, dando o suplemento de água altamente valioso para o desenvolvimento das videiras, fazendo com que os produtores tenham condições de fazer uma reversa hídrica. As principais vinhas cultivadas na Austrália são a Cabernet Sauvignon, a Shiraz, a Chardonnay e a Merlot. Estas vinhas correspondem a mais da metade do que é cultivado no país.

Agora o vinho

Na taça mostra um vermelho rubi intenso com tons violáceos brilhantes, lindamente reluzentes, com lágrimas finas e abundantes, desenhando as paredes do copo.

No nariz é uma explosão aromática que remetem a frutas vermelhas maduras, com notas de baunilha, chocolate, diria um toque de especiarias.

Na boca se reproduz as impressões olfativas, tendo certa estrutura, complexidade, personalidade marcante, mas se revelando também, ao mesmo tempo, macio, fácil de degustar. Acredito que essa versatilidade se dá graças ao blend, típico da Austrália que, graças ao Cabernet Sauvignon que dá o corpo e ao Syrah e, sobretudo ao Merlot, que traz a leveza ao vinho. Tem taninos pronunciados, presentes, mas domados, o que se deve a passagem por barricas de carvalho por 10 meses, com uma acidez equilibrada e instigante e final frutado.

O Matilda tinto sintetiza muito bem a proposta dos vinhos australianos para exportação que são flexíveis, versáteis, mostrando equilíbrio, harmonia, frescor e personalidade graças ao corpo estruturado. Um vinho excelente, arrebatador. Tem robustos 14,5% de teor alcoólico, mas muito bem integrados, tornando-o quase que imperceptível.

Sobre a Bremerton Wines:

Bremerton Wines & Bremerton Vineyards fazem parte da empresa familiar Willson, Bremerton Vintners Pty Ltd, na região geográfica de Langhorne Creek, no sul da Austrália. Langhorne Creek é único, pois fica no solo rico da planície de inundação do rio Bremer e é conhecida como uma região de clima frio, relativamente livre de doenças e produtora de frutas de qualidade excepcionalmente alta e consistente. A brisa fresca e fresca do lago Alexandrina proporciona um microclima de dias de verão ameno a quente e noites frias, perfeitas para o longo amadurecimento das uvas, produzindo sabores de clima intenso e procurado. A área foi estabelecida pela primeira vez na década de 1850, quando Frank Potts, um construtor de navios inglês, pegou uma trilha de terra e plantou uvas. O distrito cresceu para 450 hectares de vinha até 1990, quando a expansão começou, levando-o a aprox. 6000 ha - a segunda maior região de cultivo de uvas do sul da Austrália. Quando compramos a propriedade "Bremerton Lodge", de 40 ha, em 1985, era uma fazenda irrigada de Lucerna (Alf-alfa). Os vinhos Bremerton evoluíram em 1988, quando nosso primeiro vinho, 57 dúzia de um Cabernet Sauvignon foi feito com uvas compradas de um vizinho. Continuamos experimentando pequenos lotes de frutas nos próximos cinco anos, lançando um Shiraz em 1991. Após três anos de vinificação experimental, uma análise da produção agrícola foi realizada e dois blocos foram identificados como adequados para o cultivo de uvas e oferecendo um melhor retorno por hectare. As primeiras uvas foram plantadas em 1991 - 2 hectares de Cabernet Sauvignon e 1,5 ha de Shiraz, seguidos por 2 hectares de Cabernet e 2 ha de Shiraz em 1992. Uma grande inundação ocorreu em 18 de dezembro de 1992, afogando a lucerna e causando grandes danos à fazenda e aos edifícios. Isso exigiu uma revisão do futuro e, portanto, foi aqui que foi tomada a decisão de prosseguir com a indústria da uva para vinho, pois a propriedade estava em uma área vinícola tão renomada. Um plano estruturado foi realizado para transformar a fazenda de lucerna em vinhedos e expandir lentamente a produção de vinho. Em 1992, 1993 e 1994, foram plantados mais 40 hectares de videiras, constituídos por Cabernet Sauvignon, Shiraz, Malbec, Merlot, Verdelho, Chardonnay e Sauvignon Blanc. Em 1993, foi tomada a decisão de se tornar vinicultores comerciais, com a abertura da porta da adega em 1994 e o lançamento de dois vinhos brancos e um terceiro tinto - uma mistura de Cabernet / Shiraz / Merlot. Hoje, a variedade pode variar até 18 vinhos, um terço dos quais são exclusivos da Cellar Door e da Bremerton Wine Society. Agora, com 120 hectares de vinhedos de alta qualidade e uma vinícola moderna, nossa produção de vinho aumentou de 680 dúzias em 1993 para 23.000 dúzias em 2005 e agora varia entre 34-40.000 dúzias. As vendas abrangem todos os principais estados da Austrália, com exportações para o Reino Unido, Hong Kong, Canadá, Suíça, Alemanha, Cingapura, Brasil, Holanda, China, Filipinas e Dubai. A enóloga Rebecca Willson e a gerente de marketing, Lucy Willson, focaram a gama de vinhos da família em vinhos individualizados e de alta qualidade. Eles deram a Bremerton uma posição forte no mercado de vinhos altamente competitivo, com o primeiro rótulo de Rebecca aos anos - o Cabernet Sauvignon de 1997 conquistando um troféu e classificado como o terceiro melhor Cabernet na Austrália pela revista Winestate. Desde então, as Willson Sisters levaram a Bremerton a se tornar uma das marcas mais conhecidas da região vinícola de Langhorne Creek, no sul da Austrália. Nos últimos 11 anos, a Bremerton Wines foi premiada com a vinícola James Halliday 5 estrelas, que nos classifica entre os 5% melhores de todas as vinícolas australianas.

Mais informações acesse:


Degustado em: 2016

quarta-feira, 6 de maio de 2020

D. João I branco


Qual o seu conceito, a sua percepção dos vinhos baratos? O que pesa na sua decisão ao comprar um vinho, quais as suas prioridades na escolha? É claro que, em tempos bicudos, de incerteza econômica, degustar vinhos baratos pode ser a alternativa para continuar degustando, mas o prazer de explorar rótulos desconhecidos, de produtores pouco badalados, de custo baixo, pode, para muitos, parecer um risco desnecessário, comparando valores com qualidade, não nego essa possibilidade, mas não se enganem de que podem trazer surpreendentes e gratas surpresas. Contudo, é deveras essencial você, caso se interesse por esses rótulos, antes fazer uma pesquisa, acessar o site do produtor e conhecer um pouco da história do vinho e da vinícola. Acredite isso pode fortalecer, para mais ou para menos, na sua decisão de compra do vinho, afinal, comprar no escuro é um risco que pode ser mitigado, mas se você não tiver as informações que precisa e estiver interessado em comprar, siga seu coração e não hesite na compra.

E um exemplo de retorno extremamente favorável, agradável, satisfatório e todos os sinônimos enaltecedores possíveis, foi um tinto da região portuguesa de Beira Interior, pouco conhecida por aqui no Brasil, principalmente se levamos em consideração, em termos de popularidade como Alentejo e Douro, por exemplo, de uma vinícola chamada Adega Cooperativa de Pinhel, chamado D. João I branco da casta Síria, conhecida como Roupeiro, no Alentejo e na Península de Setúbal. O mesmo não é safrado, é considerado, em Portugal, como um “vinho de mesa”. Mas não se enganem o conceito de vinho de mesa em Portugal, a título de informação, é diferente daqui do Brasil. Enquanto por aqui vinhos de mesa são produzidos por uvas não vitiviníferas, em Portugal vinho de mesa é considerado como um vinho básico, de cotidiano, que não tem uma classificação DOC ou “Regional” e que são produzidos com castas locais, denotando, mesmo assim um vinho de caráter regional, embora não ostente tais classificações, em minha opinião. Como disse que a região é pouco conhecida, convém fazer um breve histórico da mesma, antes de analisar o vinho.

Beira Interior

É na Beira Interior, identificada geograficamente como prolongamento do sistema central ibérico e histórico e culturalmente pelas matrizes testemunhadas nas suas aldeias medievais e cidadelas fortificadas que, a Denominação de Origem Beira Interior foi criada a 2 de novembro de 1999, resultado da aglutinação das regiões de Castelo Rodrigo, Cova da Beira e Pinhel, que passaram a sub-regiões desde então. Tem um passado histórico vitivinícola que remonta à fundação da nacionalidade portuguesa, está localizada no interior centro de Portugal, tem cerca de 16 000 hectares de vinhas e uma grande variedade de castas. Situada no interior centro/norte de Portugal é a região vitivinícola mais alta de Portugal, com vinhas plantadas entre os 300 e os 700 metros de altitude.


Os vinhos são muito influenciados pela montanha e a orologia da região é dominada pelas serras da Estrela, Gardunha, Açor, Marofa e Malcata. Os solos são de origem granítica (80%), na sua maioria, sendo os restantes essencialmente de origem xistosa, existindo entre o granito e o xisto alguns filões de quartzo. O clima da região é muito agreste, com temperaturas negativas no Inverno e Verões muito quentes e secos. Os encepamentos mais tradicionais são nas brancas a Síria, Fonte Cal, Malvasia, Arinto e Rabo de Ovelha, e Malvasia e nas Tintas, a Rufete, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, Trincadeira, Mourisco, Jaen e alfrocheiro.

O vinho:

No aspecto visual mostra um amarelo palha com reflexos esverdeados.

No nariz é fresco, leve, trazendo frutas brancas como abacaxi, maçã verde, maracujá.

Na boca confirma as impressões olfativas sendo muito fresco, leve, equilibrado, é incrivelmente saboroso, com final persistente e frutado.

Vinho honesto, bem feito, correto, com tipicidade e que sintetiza o caráter regional e que, independente dos valores, entregam muito mais do que valem. Com 13% de teor alcoólico. É claro que são diferentes dos vinhos mais emblemáticos, mais caros, com passagem por madeira etc Mas seria injusto comparar tais vinhos com a linha D. João I, pois, antes de qualquer coisa, são vinhos com propostas totalmente distintas.

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.

Maiores informações acesse:



D. João I tinto


Qual o seu conceito, a sua percepção dos vinhos baratos? O que pesa na sua decisão ao comprar um vinho, quais as suas prioridades na escolha? É claro que, em tempos bicudos, de incerteza econômica, degustar vinhos baratos pode ser a alternativa para continuar degustando, mas o prazer de explorar rótulos desconhecidos, de produtores pouco badalados, de custo baixo, pode, para muitos, parecer um risco desnecessário, comparando valores com qualidade, não nego essa possibilidade, mas não se enganem de que podem trazer surpreendentes e gratas surpresas. Contudo, é deveras essencial você, caso se interesse por esses rótulos, antes fazer uma pesquisa, acessar o site do produtor e conhecer um pouco da história do vinho e da vinícola. Acredite isso pode fortalecer, para mais ou para menos, na sua decisão de compra do vinho, afinal, comprar no escuro é um risco que pode ser mitigado, mas se você não tiver as informações que precisa e estiver interessado em comprar, siga seu coração e não hesite na compra.

E um exemplo de retorno extremamente favorável, agradável, satisfatório e todos os sinônimos enaltecedores possíveis, foi um tinto da região portuguesa de Beira Interior, pouco conhecida por aqui no Brasil, principalmente se levamos em consideração, em termos de popularidade como Alentejo e Douro, por exemplo, de uma vinícola chamada Adega Cooperativa de Pinhel, chamado D. João I tinto das castas Tinta Roriz, Touriga Francesa, Rufete e Marufo. O mesmo não é safrado, é considerado, em Portugal, como um “vinho de mesa”. Mas não se enganem o conceito de vinho de mesa em Portugal, a título de informação, é diferente daqui do Brasil. Enquanto por aqui vinhos de mesa são produzidos por uvas não vitiviníferas, em Portugal vinho de mesa é considerado como um vinho básico, de cotidiano, que não tem uma classificação DOC ou “Regional” e que são produzidos com castas locais, denotando, mesmo assim um vinho de caráter regional, embora não ostente tais classificações, em minha opinião. Como disse que a região é pouco conhecida, convém fazer um breve histórico da mesma, antes de analisar o vinho.

Beira Interior

É na Beira Interior, identificada geograficamente como prolongamento do sistema central ibérico e histórico e culturalmente pelas matrizes testemunhadas nas suas aldeias mediavais e cidadelas fortificadas que, a Denominação de Origem Beira Interior foi criada a 2 de novembro de 1999, resultado da aglutinação das regiões de Castelo Rodrigo, Cova da Beira e Pinhel, que passaram a sub-regiões desde então. Tem um passado histórico vitivinícola que remonta à fundação da nacionalidade portuguesa, está localizada no interior centro de Portugal, tem cerca de 16 000 hectares de vinhas e uma grande variedade de castas. Situada no interior centro/norte de Portugal é a região vitivinícola mais alta de Portugal, com vinhas plantadas entre os 300 e os 700 metros de altitude.


Os vinhos são muito influenciados pela montanha e a orologia da região é dominada pelas serras da Estrela, Gardunha, Açor, Marofa e Malcata. Os solos são de origem granítica (80%), na sua maioria, sendo os restantes essencialmente de origem xistosa, existindo entre o granito e o xisto alguns filões de quartzo. O clima da região é muito agreste, com temperaturas negativas no Inverno e Verões muito quentes e secos. Os encepamentos mais tradicionais são nas brancas a Síria, Fonte Cal, Malvasia, Arinto e Rabo de Ovelha, e Malvasia e nas Tintas, a Rufete, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, Trincadeira, Mourisco, Jaen e alfrocheiro.

O vinho:

No aspecto visual mostra um incrível vermelho rubi escuro, profundo, quase que caudaloso ao depositá-lo na taça, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz traz muita fruta, frutas vermelhas maduras, um toque de especiarias e de estrebaria.

Na boca é seco, muito frutado, com alguma estrutura e corpo, mas fácil de degustar, com taninos presentes, mas comportados com acidez razoável e percebi um discreto amadeirado, mas acredito ser oriundo do vinho e não um estágio em barricas de carvalho. Tem um final de média intensidade.

Vinho honesto, bem feito, correto, com tipicidade e que sintetiza o caráter regional e que, independente dos valores, entregam muito mais do que valem. Com 13% de teor alcoólico. É claro que são diferentes dos vinhos mais emblemáticos, mais caros, com passagem por madeira etc Mas seria injusto comparar tais vinhos com a linha D. João I, pois, antes de qualquer coisa, são vinhos com propostas totalmente distintas.

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.

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Degustado em: 2018


Os principais vales do Chile


O formato longilíneo do Chile se reflete nas características de seus vinhos. De um extremo a outro, no sentido norte ao sul, o país corta o trópico de capricórnio e quase alcança o círculo polar ártico, saindo de um clima de deserto, no Atacama, para o de geleiras, na Patagônia. De leste a oeste, começa na Cordilheira dos Andes e termina na Cordilheira da Costa, diante do oceano Pacífico.

As características geográficas, marcadas por intensas atividades sísmicas e vulcânicas, determinam tipos diferentes de solo. As melhores áreas para o plantio de vinhedos, que ficam no terço central do país, contam com solos bem drenados com pedras e solos aluviais com cascalhos depositados por rios.

Na prática, há variações acentuadas que interferem no desenvolvimento das dezenas de uvas cultivadas na região, com destaque para a Cabernet Sauvignon, a mais difundida, e a Carménère, a mais emblemática, além de Merlot, Syrah, Pinot Noir, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling.

Por características topográficas, cortam o país diversos rios, que nascem nos Andes e desaguam no Pacífico. Não por acaso o Chile é famoso por seus vales transversais, que se distribuem em quatro grandes regiões: Coquimbo, Aconcagua, Vale Central e Região Sul. Os vales estão em sub-regiões que são divididas em áreas vitivinícolas mais específicas, com delimitações de leste a oeste, chamadas Costa (Oceano Pacífico), Entre Cordilheiras (Cordilheira da Costa) e Andes (Cordilheira dos Andes).

Os vales chilenos mais famosos são Maipo, Curicó e Maule, que compõem, junto com o Curiel, o Vale Central, próximo à capital Santiago. Relacionamos aqui os principais deles e mostramos suas características, partindo do norte ao sul do país.



Coquimbo

Vale de Limarí
A Denominação de Origem Coquimbo engloba os vales Elqui, Limarí e Choapa. Ficam no norte do Chile, uma região seca e quente, praticamente desértica. A viticultura proliferou ali a partir do rio Limarí, cuja bacia é aberta para o mar. Com bons ventos e poucas chuvas, planícies e encostas produzem vinhos bastante minerais, também por causa do solo.

Vale de Elqui

Mais recentemente, ao norte de Limarí, próximo a La Serena, na área dos Andes, a região de Elqui passou a produzir vinhos, com destaque para o Syrah.

Vale de Choapa

Já o Vale de Choapa, que fica em uma porção estreita de terra entre a Cordilheira dos Andes e a Cordilheira da Costa, tem solos rochosos e produz vinhos em pouca quantidade, principalmente Syrah e Cabernet Sauvignon.

Aconcagua

Vale do Aconcágua

O rio Aconcágua desce dos Andes e forma um vale rodeado de montanhas. Há vinhedos planos perto do leito e nas encostas de colinas. Com chuvas apenas no inverno, faz calor na região, o que cria condições para formação de um clima árido. Os ventos determinados por oscilações térmicas entre a cordilheira e a costa garantem o amadurecimento das uvas. Destaque no Vale do Aconcágua para a Syrah, que se adaptou bem aos solos que um dia foram leitos de rio.

Vale de Casablanca

Apesar das recorrentes geadas e da neblina, que exigem medidas cautelares dos viticultores, trata-se de uma das principais regiões de produção de vinhos brancos do mundo, com milhares de plantações. Incrustado no meio da Cordilheira da Costa, o Vale de Casablanca tem topografia acidentada e sofre forte influência oceânica na forma de frentes frias e brisas. O terreno fértil é pródigo na produção principalmente de Chardonnay e Sauvignon Blanc, além de tintos como os Pinot Noir, em belos vinhedos da região, na zona central do Chile.

Vale de Santo Antonio

Ao sul do Vale de Casablanca, o Vale de Santo Antonio também tem terreno demarcado por muitas colinas. É uma região próxima ao mar com muita influência do Pacífico. Ali germinaram famílias de uvas que se adaptam melhor ao frio com vinhos brancos e tintos bastante festejados. Próximo dali, na costa, a poucos quilômetros do mar, há o vale do Leyda, com invernos úmidos e verões secos.

Vale Central

Vale do Maipo

O mais famoso do Chile. Fica aos pés dos Andes e abriga boa parte das plantações de Cabernet Sauvignon do país. O resultado são vinhos como o Albis, feito no coração do Vale do Maipo pela vinícola Haras de Pirque em parceria com o viticultor italiano Piero Antinori, utilizando também Carménère. É uma área extensa, subdividida por sua altitude. O Maipo Andes fica próximo à Cordilheira e sofre influência do frio. Este elegante Gran Reserva Hussonet, nome dado em homenagem a um garanhão da vinícola da Haras de Pirque, expressa como poucos o terroir de lá com Cabernet Sauvignon e Syrah. O Maipo Entre Cordilheiras, em área mais plana e bem irrigada, tem solo que um dia foi leito, pedregoso, produzindo ótimos tintos. Por fim, o Maipo Costa, pouco povoado e com muitas influências do Pacífico.

Vale do Cachapoal (Rapel)

O rio Cachapoal, que nasce nos Andes, deságua no grande lago Rapel e forma um vale onde se encontram muitos vinhedos. A maior parte das plantações pertence às próprias vinícolas. Na parte mais fria, aos pés da cordilheira, a Cabernet Sauvignon tem boa fama. A oeste, nas redondezas de Peumo, local mais quente e sujeito a influências do mar, estão algumas das zonas onde a mais emblemática uva chilena, a Carménère, melhor amadurece. A Anakena é uma das vinícolas da região que se beneficia das brisas oceânicas, produzindo entre outros vinhos este Ona Special Reserve Andes, elaborado com Syrah, Cabernet Sauvignon e Carménère plantadas em Las Cabras.

Vale de Colchagua (Rapel)

Na língua indígena mapuche, Colchagua significa “vale de pequenas lagoas”. Era o limite sul do Império Inca, que construiu as primeiras estruturas de irrigação na região. Com belas colinas forradas por extensas plantações, algumas com videiras centenárias, o Vale de Colchagua é um dos principais destinos turísticos do Chile. É também uma região com sol e calor suficientes para garantir o amadurecimento de uvas como Carménère e Syrah, como mostra este outro Anakena, o Ona Special Reserve Red Blend, que ainda conta com Cabernet Sauvignon.

Vale de Curicó

Um complexo hidrográfico composto por quatro rios garante a irrigação das planícies do Vale de Curicó de onde saem excelentes vinhos. São quase 20 mil hectares de plantações partindo dos pés dos Andes, com destaque para Cabernet Sauvignon e também Sauvignon Blanc cuja produção supera a de Chardonnay.

Vale do Maule

Apesar de ostentar a maior área vitivinícola do Chile e ter seus primeiros vinhedos plantados no século 18, o Vale do Maule ainda tem muito a se desenvolver. Uvas menos conhecidas como a tinta espanhola Pais e a Carignan despontam ali, que seguem a transição climática dos Andes para o Pacífico.

Região Sul

Vale do Itata

O rio Itata forma um vale com características diferentes da maioria dos outros do Chile, uma vez que a Cordilheira da Costa perde altitude nesta latitude. As uvas brancas superam as tintas nessa região vitivinícola do país, lideradas pela Moscatel Alexandria.

Vale do Biobío

Mais ao sul do Chile e com menor proteção da Cordilheira da Costa em relação a outras regiões, por causa da baixa altitude, o Vale do Biobío é uma região fria, o que significa colheitas mais tardias. Com chuvas em maior volume e distribuídas ao longo do ano, as plantações exigem mais dos viticultores, principalmente quando as temperaturas sobem.

Vale de Malleco

Área altamente complexa para se cultivar videiras, sobretudo diante das chuvas na região, o Vale de Malleco, ainda mais ao sul do Chile, tem história recente. As primeiras plantações datam dos anos 1990. Apesar da chuva, a influência das brisas oceânicas favorece o frescor das uvas.

Extremos

Existem outros vales com plantações de vinhas no Chile, tanto ao norte, no Atacama, caso do Vale do Huasco, como mais ao sul (região Austral), com destaque para o Vale do Osorno.

Com tanta diversidade, o Chile se tornou o quarto maior exportador de vinho do mundo. São centenas de milhões de litros degustados todos os anos mundo afora. Um patrimônio sul-americano ao alcance de sua taça, nas suas mais diferentes manifestações. Um brinde aos chilenos.

Tripantu Grand Reserve Pinot Noir 2011


Existe certo receio por parte dos enófilos e que não deixa de ser endossado por alguns críticos especializados de vinhos que produtores ou vinícolas pouco conhecidas, independente do seu tamanho e participação de mercado, é deveras arriscado comprar um rótulo que seja. Costumo dizer e confesso não saber se a nomenclatura cabe a situação, que gosto desses vinhos “undergrounds”, pouco conhecidos, badalados e consagrados. Muitas vinícolas, bem como algumas castas, ainda são muito novas para nós, brasileiros, embora populares nos seus países de origem. E ainda temos o agravante do fator “moda”. Explico: aqui no Brasil, principalmente, por uma questão dos anseios da demanda, chega os vinhos e castas mais consumidas, tais como: Merlot, Cabernet Sauvignon, Carmenere etc. Claro que há o fator “hectare” também, afinal, castas como as mencionadas são de fácil produção, mas não é de minha intenção, pelo menos por enquanto, entrar nesses pormenores. Mesmo que com todo o risco que admito que exista, tenho mergulhado fundo na procura desses vinhos alternativos, poucos conhecidos e badalados e olha que tenho encontrados gratas surpresas positivas.

O vinho que degustei e gostei veio do Chile, da região de Valle Leyda e se chama Tripantu Grand Reserve da casta Pinot Noir safra 2011. Lembro-me de que ao observar alguns rótulos nas gôndolas, mirei os olhos nesse rótulo que, sem muito destaque o tomei pelas mãos e sem muita informação resolvi arriscar, comprando-o. Mas antes de falar do Tripantu Grand Reserve Pinot Noir, é conveniente falar um pouco dessa região chilena chamada Vale de Leyda que vem crescendo em importância no Chile, mas que ainda não é tão conhecida no Brasil.

Valle Leyda

Valle de Leyda é uma região vinícola do Chile, situada a menos de 100 quilômetros da capital Santiago. Esta região é privilegiada pela corrente fria de Humboldt proveniente do Oceano Pacífico e, por consequência, dá origem a vinhos excelentes a partir das uvas Chardonnay e Pinot Noir. Associada à produção de cevada e trigo, a região chilena rapidamente está conquistando seu espaço perante o mundo dos vinhos de alta qualidade. Os primeiros produtores apareceram na região em 1990, atraídos por um terroir ideal para a elaboração de uvas premiadas. Com o investimento de uma família produtora de vinhos, obteve-se a construção de um gasoduto de 8 quilômetros para canalizar a água do rio Maipo – potencializando o cultivo das vinhas.



A região de Valle de Leyda está localizada em um conjunto de colinas ao lado da faixa costeira que protege a faixa central do país de influências oceânicas. Trata-se de uma região vinícola localizada ao sul da fria região de Valle de Casablanca. As brisas frias do oceano e a névoa da manhã moderam as temperaturas da área, mais baixas do que sua altitude indica. Estas temperaturas frescas são complementadas pela elevada incidência solar durante o período de crescimento das vinhas, proporcionando que as uvas amadureçam completamente e desenvolvam excelente complexidade, mantendo seus níveis de acidez equilibrados.

Vamos ao vinho:

Na taça apresenta uma bela cor púrpura com reflexos violáceos muito brilhantes, límpido, típico da Pinot Noir. Poucas lágrimas já denunciando um frescor e leveza.

No nariz uma explosão aromática de frutas vermelhas em compota e notas vegetais, talvez um pouco de especiarias e baunilha.

Na boca se repete as impressões olfativas, sendo harmônico, delicado, fácil e convidativo para beber, mas ainda sim, revelou-se com muita personalidade e diria com alguma complexidade e estrutura com bom volume de boca. Tem taninos presentes, mas domados, com um discreto amadeirado muito bem integrado ao conjunto do vinho, devido a sua passagem por barricas de carvalho (o produtor não informa o tempo de passagem) com acidez equilibrada e um final persistente, com retrogosto frutado.

Um vinho surpreendentemente maravilhoso com um excelente custo X benefício! E, com a história da região de Vale de Leyda em produzir grandes Pinot Noir, corroborando, certificando a qualidade deste rótulo mesmo no auge de sua impopularidade. Pesquisar é sempre necessário em se tratar de vinhos cujas vinícolas não sejam conhecidas, mas se permita ousar, ouça seu coração sempre. Teor alcoólico de 13,5% muito bem integrados.

Sobre a TerrAustral Wines:

Nossa história começa em 1938, José Crispi Junior decide plantar uvas e maçãs no Vale do Curicó, no Chile. A agricultura no sangue da família Crispi há pelo menos três gerações. Durante anos venderam frutas no mercado interno. Até que José decide que era hora da marca ser desfrutada por outras pessoas. Terraustral é o legado da família Crispi que continua até os dias de hoje. Uma operação de propriedade familiar comprometida com a produção de vinhos de alta qualidade por um ótimo valor. Por trás dos vinhos estão os valores pela terra. Os vinhos da TerrAustral refletem todos os cantos mágicos da terra chilena.

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 Degustado em: 2015


domingo, 3 de maio de 2020

Woodbridge Robert Mondavi Zinfandel 2012


Muitos torcem o nariz quando se fala em vinhos básicos, despretensiosos, de consumo diário. Ainda existe, sobretudo no Brasil, uma soberba fomentada por uma cultura preconceituosa de que degustar esses tipos de vinhos é certeza de que terá experiências desagradáveis, de vinhos ruins. Sempre defenderei de que há variadas propostas de vinhos e a de vinhos básicos sendo impossível comparar, por exemplo, com os vinhos complexos e barricados. Em alguns países, como os Estados Unidos, essas propostas de vinhos para o consumo cotidiano e frescos são levados a sério e representa um mercado proeminente naquele país. 

O vinho que degustei e gostei foi o Woodbridge Robert Mondavi da casta Zinfandel safra 2012 da emblemática região de Napa Valley, na Califórnia. Zinfandel que é conhecida como Primitivo na Itália, principalmente na conhecida região de Puglia.

Um pouco sobre Napa Valley

Pense no Napa Valley, e as maiorias dos amantes de vinho lembram-se de Cabernet Sauvignon e Chardonnay. Na verdade, o Napa Valley é uma denominação de origem só, ou American Viticultural Area (AVA) — em português, Área Americana de Viticultura. No entanto, dentro de suas fronteiras existem 16 sub-denominações, cada uma com o próprio microclima e, muitas vezes, com uvas que sua marca registrada.


Considerado há muito tempo como a região vinícola mais famosa da Califórnia, Napa Valley tornou-se destaque mundial depois do Julgamento de Paris, em 1976, quando um Chardonnay Chateau Montelena de Calistoga derrotou nove Chardonnays em uma degustação às cegas em Paris, que incluiu garrafas extremamente prestigiadas da França. Na época, a França era considerada a região vitivinícola do mundo, mas este triunfo mudou para sempre a percepção internacional dos vinhos do norte da Califórnia.

O vinho:

Na taça tem um vermelho rubi intenso com tons violáceos, lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz apresenta um exuberante aroma de frutas vermelhas como ameixa, amora com toques de especiarias.

Na boca tem corpo médio, com certa estrutura, mas que se revela muito frutado, fresco, macio e fácil de beber, com taninos finos, aveludados, baixa acidez e um retrogosto agradável e frutado.

Gosto muito da proposta de vinhos frescos e básicos dos EUA e a dedicação e importância que os produtores dão a esses vinhos, mostrando que há sim como aliar simplicidade e qualidade. O Woodbridge Zinfandel sintetiza bem essas características sendo equilibrado, jovem, fresco, mas com uma personalidade. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Robert Mondavi Winery e a Woodbridge Winery:

No início de 1900, Cesare e Rosa Mondavi, recém-casados ​​de Sassoferrato, no norte da Itália, estabeleceram-se em Minnesota. Em 1919, a Lei Nacional de Proibição foi aprovada, proibindo a venda de álcool. Isso parecia incompreensível para as famílias italianas, para quem o vinho era um elemento básico da vida cotidiana. Felizmente, uma brecha na lei permitia que as pessoas fizessem 200 galões de vinho por ano para consumo familiar. Cesare se envolveu no envio de uvas da Califórnia para vinificação em casa e percebeu que a maioria das uvas vinha de um local chamado “Lodi” na Califórnia. Sentindo uma oportunidade, ele mudou sua família, que agora incluía um jovem Robert Mondavi e começou seu próprio negócio enviando uvas de volta para o leste, para famílias ítalo-americanas. O primeiro trabalho de Robert foi pregar caixas para segurar as uvas. Os pais de Robert incutiram nele as virtudes do trabalho duro e o encorajaram a explorar a crescente indústria do vinho. Depois de estudar administração e química na Universidade de Stanford e fazer um curso intensivo de viticultura e enologia na Universidade da Califórnia em Berkeley, Robert Mondavi mergulhou em todos os aspectos da indústria do vinho. Robert Mondavi sentiu-se confiante de que o Vale do Napa e a Califórnia poderiam criar vinhos que ficariam lado a lado com os grandes vinhos do mundo. Ele fundou a icônica Robert Mondavi Winery em 1966, perto de Oakville, Califórnia; a primeira grande vinícola a ser construída no vale de Napa desde a proibição. Após o notável sucesso de sua vinícola em Napa Valley, Robert Mondavi seguiu sua segunda visão de criação de deliciosos vinhos para a diversão diária. Tendo crescido em Lodi, Robert sabia que a região era ideal para o cultivo de uvas para vinho a partir das quais ele podia produzir vinhos de qualidade a preços acessíveis. Em 1979, ele adquiriu uma cooperativa local de produtores de uvas, nomeando a vinícola em homenagem a uma cidade vizinha - a Woodbridge Winery nasceu.

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Degustado em: 2017

Conte di Monforte Primitivo de Manduria 2012


Quem é enófilo sabe. Sabe do sentimento e as sensações mais do que reais de se degustar um vinho com o DNA de um país com forte tradição vitivinícola. Pode não ter conhecimento de causa ou riqueza de detalhes sobre o tão complexo conceito de tipicidade, terroir da região daquele rótulo, afinal é um universo tão vasto, mas, com o mínimo discernimento, já te desperta o prazer e a alegria de se degustar um vinho de determinadas regiões. Algumas são como marcas registradas, dada, sobretudo a sua notoriedade e qualidade de seus vinhos, a tal da tipicidade. O rótulo da qual me refiro, além de ser um representante de uma emblemática região, fora o meu primeiro! Ainda tem o momento especial de uma estreia, debutar alguns vinhos só fomenta os grandes rituais da degustação do vinho.

O vinho que degustei e gostei veio da comuna de Manduria, da excepcional região de Puglia ou Apúlia e se chama Conte di Monforte by Leoni de Castris, um DOC da casta Primitivo da safra 2012. Mas já que falei da importância de uma região vitivinícola nada mais adequado do que pincelar sobre a sua história, então eis um pouco sobre Manduria e Puglia e também da sua principal casta: a Primitivo que também é conhecida como Zinfandel, nome este usado nos EUA.

Manduria e Puglia

Manduria é uma pequena comuna italiana, localizada na região da Puglia, ao sul do país, também descrito constantemente como o “calcanhar da bota” da Itália. As belas praias de Puglia, fruto dos mares Jônico e Adriático, atraem diversos turistas de todo o mundo. A grande produção de vinhos e a alta qualidade das garrafas rendeu à Manduria o título de principal região vinícola do sul do país, dentro do território considerado o berço dos vinhos italianos.




Puglia é uma enorme região predominantemente agrícola no calcanhar da bota banhada por dois mares no Mediterrâneo, uma parte do sul que sofre o preconceito de local pobre na Itália. Mas a Puglia é muito mais do que isso. A beleza natural é marcada pelo calor e pelo sol intensos, com pouca chuva e com solo seco embora cercado por água. As condições que restringem muitas atividades agrícolas são ideais para o cultivo de frutas, entre elas a uva e, sobretudo vastas e lindas “florestas” de oliveiras.

Primitivo

A uva do tipo Primitivo recebeu este nome pelo amadurecimento precoce das suas vinhas. E por conta deste amadurecimento precoce, esta uva tem grande quantidade de açúcar residual, o que resulta em vinhos com alto teor alcoólico. Com origem incerta, a Primitivo é a base do sucesso dos vinhos de Manduria. Curiosamente, ela foi levada por imigrantes americanos para os Estados Unidos, onde é conhecida como zinfandel.

Finalmente o vinho:

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com bordas violáceas com intenso e marcante brilho com lágrimas em abundância e que vagarosamente escorre e se dissipa das paredes do copo.

No nariz é muito perfumado, talvez toques florais, traz aromas de frutas maduras, mas diria que, ao mesmo tempo, muito frescas, com toque discreto de especiarias, tabaco.

Na boca se reproduz as percepções olfativas sendo estruturado, encorpado, com certa complexidade, com taninos presentes que enche a boca, um bom volume de boca, mas sedosos, domados, com uma razoável acidez, um toque discreto da madeira, muito bem integrada (não tem informações no site do produtor o tempo de passagem por barricas de carvalho, mas é perceptível a sua passagem) e um final longo e gordo.

Um vinhaço que se revelou com muita personalidade, tipicidade, equilíbrio entre potência e frescor. Com 14,5% de teor alcoólico. Ideal para harmonizar com massas condimentadas, como foi no meu caso, ou carnes vermelhas e queijos curados.

Sobre a vinícola Leoni Di Castris:

A noroeste da península de Salento, uma área de tradição vinícola antiga, fica SALICE SALENTINO, uma pequena cidade rural que abriga uma adega antiga por mais de três séculos: a Leone de Castris. É o ano de 1665. Entre as vinhas férteis da época, Oronzo Arcangelo Maria Francesco dos Contos de Lemos deu à luz a adega. O fundador é apaixonado por uma terra tão fértil e rica e entende seu valor; portanto, após os primeiros anos de processamento e transformação do produto, ele volta para a Espanha, vende alguns bens, retorna e investe o produto nas terras de Salento. Em torno de Salice, Guagnano, Veglie, Villa Baldassarri, Novoli e San Pancrazio, ele se torna proprietário de vários milhares de hectares, nos quais não apenas planta novas vinhas, mas também plantas de oliveira e trigo. No início do século XIX, a vinícola começou a exportar vinho cru para os Estados Unidos, Alemanha e França. A vinícola começou a engarrafar seus produtos com Piero e Lisetta Leone de Castris, em 1925. Five Roses nasceu em 1943, o produto mais conhecido da empresa e o primeiro vinho rosé a ser engarrafado e comercializado na Itália e imediatamente exportado nos Estados Unidos. A história deste vinho ainda hoje é lembrada na empresa como um dos eventos mais significativos em sua jornada secular. De fato, há um distrito no feudo de Salice Salentino chamado "Cinque Rose", um nome devido ao fato de que por gerações o Leone de Castris teve cada um, com incrível constância, cinco filhos. No final da guerra, o general Charles Poletti, comissário de suprimentos das forças aliadas, pediu um grande suprimento de vinho rosé, cujas uvas vieram do feudo de Cinque Rose. Mas o general queria um vinho com nome americano, e não demorou muito para encontrá-lo: "Five Roses" nasceu. Com a safra de 1954, nasceu Salice Leone de Castris e, graças ao marketing na Itália e no exterior por cerca de 20 anos, Salice Salentino Doc foi obtido no início dos anos 70. Portanto, com DOC, outras empresas também entraram no mercado. A história desta família e da vinícola continua. Cav. del Lavoro Salvatore Leone de Castris, filho de Piero e Lisetta, contribuiu para um notável desenvolvimento - também internacionalmente - da empresa. Por vinte anos, seu filho, Dr. Piernicola, dirigiu. Prêmios cada vez mais prestigiados são constantemente atribuídos a toda a gama de empresas. Hoje, a rede de vendas externas vê os produtos presentes e também nos mercados europeus, nos Estados Unidos, Cingapura, Canadá, Brasil, Autralia, Japão, China, Hong Kong, etc. Novas vinhas foram plantadas nas fazendas da família: Chardonnay, Sauvignon, Montepulciano, que flanqueiam as vinhas tradicionais: Negroamaro, Malvasia nera, Verdeca, branco d'Alessano, Moscato, Aleatico, Primitivo, Susumaniello, Ottavianello. A Adega apresenta uma gama variada de produtos: vinhos DOC tintos, brancos e rosados ​​(Salice Salentino, Locorotondo, Copertino, Primitivo di Manduria), interessantes vinhos IGT Salento e Puglia, vinhos espumantes rosados ​​e brancos; um conhaque e um óleo particularmente valioso. Também possui um hotel "Villa Donna Lisa" de primeira classe, com instalações esportivas; atua como apoio às visitas diárias de delegações italianas e estrangeiras. A produção média anual é de cerca de 2,5 milhões de garrafas. A Leone de Castris é uma empresa que há séculos trabalha na Apúlia e apenas nos produtos da Apúlia.

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