O formato longilíneo do Chile se reflete nas características
de seus vinhos. De um extremo a outro, no sentido norte ao sul, o país corta o
trópico de capricórnio e quase alcança o círculo polar ártico, saindo de um
clima de deserto, no Atacama, para o de geleiras, na Patagônia. De leste a
oeste, começa na Cordilheira dos Andes e termina na Cordilheira da Costa,
diante do oceano Pacífico.
As características geográficas, marcadas por intensas
atividades sísmicas e vulcânicas, determinam tipos diferentes de solo. As
melhores áreas para o plantio de vinhedos, que ficam no terço central do país,
contam com solos bem drenados com pedras e solos aluviais com cascalhos
depositados por rios.
Na prática, há variações acentuadas que interferem no desenvolvimento
das dezenas de uvas cultivadas na região, com destaque para a Cabernet
Sauvignon, a mais difundida, e a Carménère, a mais emblemática, além de Merlot,
Syrah, Pinot Noir, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling.
Por características topográficas, cortam o país diversos
rios, que nascem nos Andes e desaguam no Pacífico. Não por acaso o Chile é
famoso por seus vales transversais, que se distribuem em quatro grandes
regiões: Coquimbo, Aconcagua, Vale Central e Região Sul. Os vales estão em
sub-regiões que são divididas em áreas vitivinícolas mais específicas, com
delimitações de leste a oeste, chamadas Costa (Oceano Pacífico), Entre
Cordilheiras (Cordilheira da Costa) e Andes (Cordilheira dos Andes).
Os vales chilenos mais famosos são Maipo, Curicó e Maule, que
compõem, junto com o Curiel, o Vale Central, próximo à capital Santiago.
Relacionamos aqui os principais deles e mostramos suas características,
partindo do norte ao sul do país.
Coquimbo
Vale de Limarí
A Denominação de Origem Coquimbo engloba os vales Elqui,
Limarí e Choapa. Ficam no norte do Chile, uma região seca e quente,
praticamente desértica. A viticultura proliferou ali a partir do rio Limarí,
cuja bacia é aberta para o mar. Com bons ventos e poucas chuvas, planícies e
encostas produzem vinhos bastante minerais, também por causa do solo.
Vale de Elqui
Mais recentemente, ao norte de Limarí, próximo a La Serena,
na área dos Andes, a região de Elqui passou a produzir vinhos, com destaque
para o Syrah.
Vale de Choapa
Já o Vale de Choapa, que fica em uma porção estreita de terra
entre a Cordilheira dos Andes e a Cordilheira da Costa, tem solos rochosos e
produz vinhos em pouca quantidade, principalmente Syrah e Cabernet Sauvignon.
Aconcagua
Vale do Aconcágua
O rio Aconcágua desce dos Andes e forma um vale rodeado de
montanhas. Há vinhedos planos perto do leito e nas encostas de colinas. Com
chuvas apenas no inverno, faz calor na região, o que cria condições para
formação de um clima árido. Os ventos determinados por oscilações térmicas
entre a cordilheira e a costa garantem o amadurecimento das uvas. Destaque no
Vale do Aconcágua para a Syrah, que se adaptou bem aos solos que um dia foram
leitos de rio.
Vale de Casablanca
Apesar das recorrentes geadas e da neblina, que exigem
medidas cautelares dos viticultores, trata-se de uma das principais regiões de
produção de vinhos brancos do mundo, com milhares de plantações. Incrustado no
meio da Cordilheira da Costa, o Vale de Casablanca tem topografia acidentada e
sofre forte influência oceânica na forma de frentes frias e brisas. O terreno
fértil é pródigo na produção principalmente de Chardonnay e Sauvignon Blanc,
além de tintos como os Pinot Noir, em belos vinhedos da região, na zona central
do Chile.
Vale de Santo Antonio
Ao sul do Vale de Casablanca, o Vale de Santo Antonio também
tem terreno demarcado por muitas colinas. É uma região próxima ao mar com muita
influência do Pacífico. Ali germinaram famílias de uvas que se adaptam melhor
ao frio com vinhos brancos e tintos bastante festejados. Próximo dali, na
costa, a poucos quilômetros do mar, há o vale do Leyda, com invernos úmidos e
verões secos.
Vale Central
Vale do Maipo
O mais famoso do Chile. Fica aos pés dos Andes e abriga boa
parte das plantações de Cabernet Sauvignon do país. O resultado são vinhos como
o Albis, feito no coração do Vale do Maipo pela vinícola Haras de Pirque em
parceria com o viticultor italiano Piero Antinori, utilizando também Carménère.
É uma área extensa, subdividida por sua altitude. O Maipo Andes fica próximo à
Cordilheira e sofre influência do frio. Este elegante Gran Reserva Hussonet,
nome dado em homenagem a um garanhão da vinícola da Haras de Pirque, expressa
como poucos o terroir de lá com Cabernet Sauvignon e Syrah. O Maipo Entre
Cordilheiras, em área mais plana e bem irrigada, tem solo que um dia foi leito,
pedregoso, produzindo ótimos tintos. Por fim, o Maipo Costa, pouco povoado e
com muitas influências do Pacífico.
Vale do Cachapoal (Rapel)
O rio Cachapoal, que nasce nos Andes, deságua no grande lago
Rapel e forma um vale onde se encontram muitos vinhedos. A maior parte das
plantações pertence às próprias vinícolas. Na parte mais fria, aos pés da
cordilheira, a Cabernet Sauvignon tem boa fama. A oeste, nas redondezas de Peumo,
local mais quente e sujeito a influências do mar, estão algumas das zonas onde
a mais emblemática uva chilena, a Carménère, melhor amadurece. A Anakena é uma
das vinícolas da região que se beneficia das brisas oceânicas, produzindo entre
outros vinhos este Ona Special Reserve Andes, elaborado com Syrah, Cabernet
Sauvignon e Carménère plantadas em Las Cabras.
Vale de Colchagua (Rapel)
Na língua indígena mapuche, Colchagua significa “vale de
pequenas lagoas”. Era o limite sul do Império Inca, que construiu as primeiras
estruturas de irrigação na região. Com belas colinas forradas por extensas
plantações, algumas com videiras centenárias, o Vale de Colchagua é um dos
principais destinos turísticos do Chile. É também uma região com sol e calor
suficientes para garantir o amadurecimento de uvas como Carménère e Syrah, como
mostra este outro Anakena, o Ona Special Reserve Red Blend, que ainda conta com
Cabernet Sauvignon.
Vale de Curicó
Um complexo hidrográfico composto por quatro rios garante a
irrigação das planícies do Vale de Curicó de onde saem excelentes vinhos. São
quase 20 mil hectares de plantações partindo dos pés dos Andes, com destaque
para Cabernet Sauvignon e também Sauvignon Blanc cuja produção supera a de
Chardonnay.
Vale do Maule
Apesar de ostentar a maior área vitivinícola do Chile e ter
seus primeiros vinhedos plantados no século 18, o Vale do Maule ainda tem muito
a se desenvolver. Uvas menos conhecidas como a tinta espanhola Pais e a Carignan
despontam ali, que seguem a transição climática dos Andes para o Pacífico.
Região Sul
Vale do Itata
O rio Itata forma um vale com características diferentes da
maioria dos outros do Chile, uma vez que a Cordilheira da Costa perde altitude
nesta latitude. As uvas brancas superam as tintas nessa região vitivinícola do
país, lideradas pela Moscatel Alexandria.
Vale do Biobío
Mais ao sul do Chile e com menor proteção da Cordilheira da
Costa em relação a outras regiões, por causa da baixa altitude, o Vale do
Biobío é uma região fria, o que significa colheitas mais tardias. Com chuvas em
maior volume e distribuídas ao longo do ano, as plantações exigem mais dos
viticultores, principalmente quando as temperaturas sobem.
Vale de Malleco
Área altamente complexa para se cultivar videiras, sobretudo
diante das chuvas na região, o Vale de Malleco, ainda mais ao sul do Chile, tem
história recente. As primeiras plantações datam dos anos 1990. Apesar da chuva,
a influência das brisas oceânicas favorece o frescor das uvas.
Extremos
Existem outros vales com plantações de vinhas no Chile, tanto
ao norte, no Atacama, caso do Vale do Huasco, como mais ao sul (região
Austral), com destaque para o Vale do Osorno.
Com tanta diversidade, o Chile se tornou o quarto maior
exportador de vinho do mundo. São centenas de milhões de litros degustados
todos os anos mundo afora. Um patrimônio sul-americano ao alcance de sua taça,
nas suas mais diferentes manifestações. Um brinde aos chilenos.
Fonte: Portal Wine Not, em: https://www.winenot.com.br/post_vinhos/os-principais-vales-do-chile/
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