domingo, 24 de maio de 2020

Como ler um rótulo de vinho?


O rótulo é como o documento de identificação de um vinho e a forma mais fácil de conhecê-lo antes da degustação. Assim, para minimizar as chances de comprar um vinho que não corresponda às suas expectativas, é importante entender as principais informações contidas em seu rótulo. A quantidade de informações e o formato delas varia bastante entre os rótulos, que podem conquistar sua atenção também por suas cores e design, e assim gerar alguma confusão na hora da escolha.

Os elementos de um rótulo

Nem todos os rótulos apresentam a mesma qualidade de informação. Alguns são mais detalhados, outros mais genéricos. Mas existem algumas informações básicas, presentes em quase todos os vinhos finos. Via de regra, os elementos de um rótulo são sempre os mesmos: produtor e/ou nome do vinho, região de cultivo das uvas, país, classificação quanto à denominação de origem, variedade, safra, graduação alcoólica e volume. Claro que existem diferenças entre Novo e Velho mundo, países, regiões, denominações e até mesmo produtores.

São dois os tipos básicos de rótulo de vinho:

Rótulos de vinhos do novo mundo

Destacam principalmente o nome do vinho e a(s) uvas(s) que o compõem (Merlot, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, entre outras). É comum em vinhos de países como o Brasil, Argentina, Chile, África do Sul, Estados Unidos, Austrália, entre outros.

Rótulos de vinhos do velho mundo

Destacam o produtor e a região onde as uvas foram cultivadas (Bordeaux, Champagne, Rioja, Chianti, entre outras). É comum em vinhos de países como a França, Itália, Espanha, Portugal, entre outros.

Nome do vinho

O nome geralmente ganha grande destaque no rótulo, principalmente em vinhos do novo mundo. Muitas vinícolas possuem diversas linhas de vinhos e, para melhor identifica-las, cada linha recebe seu próprio nome. A vinícola chilena Concha y Toro, por exemplo, possui os vinhos Don Melchor, Marques de Casa Concha, Casillero del Diablo, entre outros.


Produtor

O nome do produtor muitas vezes aparece com destaque. Ele pode ser uma grande empresa ou uma pequena vinícola familiar. Alguns produtores não dão um nome específico aos seus vinhos, utilizando apenas o nome da própria vinícola, muitas vezes seguido pelo nome da uva e safra.


Uva(s)

Muitos vinhos (principalmente do novo mundo) apresentam no rótulo uma ou mais uvas que foram utilizadas em sua produção. Isto ajuda o consumidor a ter uma noção do estilo e sabor do vinho que está comprando, além, é claro, dos pratos que podem harmonizar com ele. Quando o vinho é produzido com apenas uma variedade de uva (ou uma grande porcentagem dela) é chamado de vinho varietal. Se produzido com duas ou mais uvas, é nomeado como vinho de corte ou assemblage.


Vinhos varietais

Exemplos:

Um vinho nacional feito com 100% da uva merlot. Um vinho argentino feito com 95% da uva malbec e 5% da uva bonarda. Repare que neste segundo exemplo, a quantidade da uva bonarda é bem inferior à malbec. Por que o enólogo utiliza uma quantidade tão pequena de outra uva para completar a bebida?

Se a intenção do enólogo é produzir um vinho varietal com duas ou mais uvas, ele deve, antes de qualquer coisa, atentar-se à legislação do seu país ou região. Alguns países e regiões determinam que seja utilizado um percentual mínimo da uva predominante para rotular um vinho como varietal.

Por exemplo:

No Brasil, Chile e Nova Zelândia, a legislação determina que um vinho varietal tenha, no mínimo, 75% da uva predominante.

Na Austrália e África do Sul, a predominância deve ser de 85% no mínimo.

Em algumas regiões dos Estados Unidos, a predominância deve ser de 90% no mínimo.

Mesmo variando de região para região, a predominância da principal uva sempre estará entre 75% e 90%.

Vinhos varietais ficaram famosos a partir dos anos 60 nos chamados países de novo mundo (Austrália, Nova Zelândia, Africa do Sul, Estados Unidos e nos países sul-americanos). O objetivo de destacar o nome da uva no rótulo era entrar em concorrência com vinhos das principais regiões vinícolas europeias, que ostentam o nome da região onde o vinho é produzido. Mesmo sendo um pequeno acréscimo, uma segunda variedade pode fornecer ao vinho maior estrutura, acidez e aromas, atingindo o resultado que o enólogo deseja.

Vinhos de corte, blend ou assemblage

Os vinhos produzidos com duas ou mais uvas são os chamados vinhos de corte, blend ou assemblage.
Exemplos:

O vinho Bordeaux tinto é um corte geralmente feito com as uvas Cabernet Sauvignon e Merlot, podendo também entrar na mistura as uvas Cabernet Franc, Petit Verdot, Carménère e Malbec.

Um vinho tinto elaborado com determinada variedade de uva, porém, de safras diferentes, também é considerado um vinho de corte. Os vinhos de corte são geralmente encontrados na Europa, onde o objetivo dos produtores é conseguir um vinho mais equilibrado e completo, somando as características e qualidades individuais de cada uva. Desta forma, misturam-se, além de diferentes variedades, uvas de diferentes safras, vinhedos e condições de maturação.

Região de origem

A região onde o vinho foi produzido ganha mais destaque em rótulos de vinhos do velho mundo, onde indica, muitas vezes, a qualidade superior de um vinho. Algumas regiões são conhecidas por terem o clima e solos propícios para o cultivo de determinadas uvas, como no caso da região de Chablis, na França, famosa pela produção de brancos da uva Chardonnay, ou Bordeaux, conhecida pelos seus tintos a base de Cabernet Sauvignon e Merlot.

Além da região de origem, muitos vinhos dão destaque às subregiões – áreas menores com solos e micro-climas de características particulares que encontram-se dentro de regiões maiores. Um exemplo é a comuna de Saint-Émilion, em Bordeaux, na França.

Geralmente, quanto mais específica a origem das uvas, podendo ser uma subregião ou até mesmo um determinado vinhedo, mais refinado o vinho e maior o seu preço.


Safra

A safra indica o ano em que as uvas foram colhidas. É uma informação muito importante, já que alguns vinhos podem melhorar com o tempo, enquanto outros perdem suas melhores características. 

De modo geral, a maioria dos vinhos brancos e rosés devem ser consumidos dentro de 2 ou 3 anos, enquanto a maioria dos tintos em até 5 anos. Existem também os vinhos de guarda, aqueles que podem evoluir por muitos anos e até mesmo décadas. Os vinhos que não apresentam a safra no rótulo, como a maioria dos vinhos espumantes e vinhos do Porto, são aqueles produzidos com uvas colhidas em diferentes anos.


Vinhos sem safra

Alguns vinhos, como são comuns nas garrafas produzidas na região do Douro (vinho do Porto), em Portugal, e em Champagne, na França, não apresentam ano da safra no rótulo. Isso acontece porque eles são produzidos a partir da mistura de uvas colhidas em anos diferentes.


Denominação de Origem

É uma espécie de selo de qualidade concedido por instituições governamentais de diversos países, principalmente do velho mundo. A certificação garante que o vinho foi elaborado dentro de uma região delimitada, respeitando todas as regras de produção impostas à esta região. Vinícolas que adquirem o selo têm sua reputação elevada e o consumidor ganha, pelo menos em teoria, a garantia de aquisição de um produto de qualidade.

Algumas Denominações de Origem mais comuns em rótulos de vinho são:

AOC – Appellation d’Origine Contrôlée (França)

DO – Denominación de Origen (Espanha) e Denominação de Origem (Brasil)

DOC – Denominação de Origem Controlada (Portugal) e Denominazione di Origine Controllata (Itália)

DOCG – Denominazione di Origine Controllata e Garantita (Itália)

QBA – Qualitätswein Bestimmter Anbaugebiete (Alemanha)


Região ou país de Origem

Algumas regiões são conhecidas por terem o clima e solos propícios para o cultivo de determinadas uvas, indicando vinhos de alta qualidade. Na dúvida, escolha um vinho pelas uvas mais conhecidas de cada país ou região:

Argentina – 5º maior produtor mundial e maior consumidor e produtor da América do Sul, a Argentina fabrica vinhos tintos feitos principalmente com uvas Malbec, Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot, além de brancos com Chardonnay e a local Torrontés.

Alemanha – O forte da Alemanha são os vinhos brancos e de sobremesa, e as estrelas do país são as uvas Riesling e Gewurztraminer. Procure garrafas com a sigla “A.P.” no rótulo, que indicam vinhos produzidos segundo critérios nacionais de qualidade.

Austrália – Com destaque para os tintos produzidos com Pinot Noir, Merlot, Cabernet Sauvignon e a nacional Shiraz, a Austrália tem crescido no cenário mundial de produção de vinhos, sendo hoje a 6ª maior produtora do mundo.

Brasil – Apesar de ainda não ser estrela global, o Brasil também produz vinhos de boa qualidade. Os espumantes são os mais conceituados, mas tintos feitos com Merlot, Cabernet Sauvignon e Pinot Noir, assim como brancos de Riesling, Gewuztraminer, Sauvignon Blanc e Chardonnay também têm apresentado boas safras.

Espanha – No ranking como o 3º maior produtor do mundo, a Espanha brilha com uvas nacionais como as brancas Palomino e Maccabeo e as tintas Trempanillo e Garnacha.

Estados Unidos – Crescendo muito em produção, hoje o 4º maior produtor do mundo, as principais safras estadunidenses vêm da Califórnia e se inspiraram na região de Bordeaux, na França, produzindo uvas como Pinot Noir, Syrah, Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Riesling.

França – Em 2º lugar no ranking de produção mundial, esse é o país que mais bebe vinho por habitante adulto no planeta. Por essas e outras é que a França é simplesmente sinônimo de tradição e qualidade quando o assunto são suas vinícolas. Os vinhos fabricados por lá são classificados por região, e não por uva, sendo as principais Alsácia; Bordeaux; Bourgonha; Champanhe; Loire; Rhônes; Languedoc-Roussillon ou Provença.

Itália – Campeã mundial de produção, a Itália conta com 5 regiões produtoras diferentes, controles de qualidade rigorosos e diversas uvas nativas, como Prosecco, Barbera, Trebbiano, Sangiovese e Nero d’Avol.

Portugal – Com o Vinho do Porto como carro-chefe, Portugal também oferece a excelente uva Touringa Nacional.

Maturação e envelhecimento

Vinhos que tiveram algum cuidado especial durante a colheita, seleção de uvas, vinificação e que passaram por algum período de amadurecimento em barris de carvalho e envelhecimento na própria garrafa, geralmente estampam em seus rótulos os termos Riserva, Reserva e Gran Reserva. Entretanto, a utilização dos termos não é igual em todos os países, já que apenas regiões vinícolas da Espanha e Itália possuem regras específicas para utilização das nomenclaturas. Leia "Classificação dos vinhos espanhóis" aqui: Classificação dos Vinhos Espanhóis

Os demais países vinícolas não estão proibidos de utilizar os termos, porém, como não existe nenhuma regulamentação fora da Espanha e Itália, muitos produtores os utilizam sem muito critério.

Já o termo Reservado não quer dizer absolutamente nada. Os vinhos que carregam este título são, na maioria das vezes, vinhos de entrada de muitas vinícolas, isto é, os vinhos mais simples que o produtor elabora.


Graduação alcoólica

O álcool contribui para a longevidade do vinho. Quanto mais álcool tiver, mais tende a durar, seja fechado ou mesmo depois de aberto. Os vinhos com maior teor alcoólico se mostrarão mais quentes e pesados ao paladar. Vinhos fortificados são os que mais álcool possui, podendo chegar até 22% vol.


Demais informações encontradas em rótulos de vinho

A seguir você verá outras informações que podem ser encontradas em rótulos de vinho. Estas, não são tão comuns quanto as anteriores, mas merecem ser mencionadas.

Origem de engarrafamento

Esta informação atesta que o vinho foi produzido e engarrafado na própria vinícola ou château. Algumas empresas negociantes de vinhos compram uvas ou o próprio vinho de algumas vinícolas e fazem seu próprio engarrafamento e rotulagem.

Antigamente esta prática não era bem vista, já que não havia muito controle do que estas empresas faziam com o vinho após comprá-lo para revenda.

Como alguns destes vinhos chegavam aos consumidores com qualidade bem abaixo do esperado, muitas vinícolas começaram a destacar em seus rótulos que os vinhos eram produzidos em engarrafados na origem, isto é, na própria vinícola.

As menções sobre a origem do vinho mais comuns em rótulos são:

Mis en Bouteille au Château (França)

Mis em Bouteille à la Propriete (França)

Mis em Bouteille au domaine (França)

Embotellat a la Propietat (Espanha)

Imbottigliato all’origine (Itália)

Erzeugerabfüllung (Alemanha)


Idade das vinhas

Videiras antigas tendem a produzir frutos de sabores mais concentrados originando vinhos consideradas superiores. Para agregar maior valor ao vinho, alguns produtores evidenciam esta informação em seus rótulos, geralmente utilizando frases como:

Vinhas Velhas

Vieilles Vignes

Old Vines


Qualidade do terreno ou Reputação da vinícola (CRU)

O termo Cru foi criado na França, mais especificamente na Borgonha, de modo a identificar parte de um vinhedo cujo vinho apresenta determinadas características específicas, safra após safra. Os terrenos considerados de melhor qualidade, ganharam os nomes Grand Cru e Premier Cru.
Diferente da Borgonha, em Bordeaux o termo Cru é utilizado para identificar os Châteaux de maior reputação.


Como aparecem os métodos de cultivo das uvas no rótulo?

Orgânico/ Biológico

Método de cultivo das uvas livre do uso de defensivos agrícolas como pesticidades, herbicidas e fungicidas.

Biodinâmico

Diferencia-se do orgânico por ser um método de cultivo das uvas com base na antroposofia, ciência que estuda o conhecimento ancestral da humanidade. Além de não contar com defensivos agrícolas, os biodinâmicos orientam a fase do cultivo pelo sistema lunar.

Como aparecem os métodos de vinificação e filtração do vinho no rótulo?

Natural

Não existe uma classificação oficial para os vinhos naturais. Os poucos que estampam no rótulo indicam vinhos fermentados com as leveduras naturais da própria uva e, por vezes, que não contém conservadores como sulfito.

Sem clarificação/ sem filtração

O nome já diz tudo – são vinhos que não passam por processo de clarificação e/ou filtração. Estes processos consistem na retirada de partículas naturais do vinho que deixam a bebida com certa turbidez.

Sur lie

A palavra francesa significa que o vinho foi engarrafado com as borras (leveduras mortas que restaram da fermentação).

Como aparece o nome do produtor do vinho no rótulo?

Château

Traduzida do francês, a palavra significa castelo, que em Bordeaux é sinônimo de propriedade vinícola.

Domaine

A palavra francesa significa domínio, mas sobretudo na Borgonha refere-se a vinícola.

Weingut

Do alemão, significa produtor.



Fonte:






sábado, 23 de maio de 2020

Dom Cândido Reserva Chardonnay 2017


Eu tenho defendido, de forma incessante, da tipicidade dos vinhos brasileiros. E quando falamos nisso vem à mente os nossos espumantes. É mais do que natural, mas precisamos abrir um parêntese aos nossos vinhos brancos tranquilos. Estão cada vez mais com o nosso DNA, com a cara do nosso país. Vinhos frescos, jovens, com uma plena sinergia com o nosso clima e isso não significa que estejam descaracterizados ou coisa que o valha, pelo contrário: os vinhos brasileiros estão coma cara do Brasil, sintetizando as características do nosso terroir. Afinal, o que há de pior, a meu ver, é ouvir os enófilos brasileiros, sejam eles experientes ou não, dizerem que o vinho brasileiro está como o chileno, australiano e por aí vai. E não se enganem, não é discurso ufanista. Esse discurso todo é para exaltar um Chardonnay excelente que já havia degustado em um festival de degustação de vinhos, em 2018, quando o conheci, bem como o seu produtor. Que grata descoberta! Nada como participar desses eventos, quando te propicia conhecer novos rótulos e produtores. São momentos de engrandecimento cultural.

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, Brasil, e é o Dom Cândido Reserva da casta Chardonnay, da safra 2017.

Na taça apresenta um amarelo dourado, reluzente e brilhante.

No nariz é maravilhosa a expressão aromática deste vinho e acredito que os três meses de passagem por barricas de carvalho colaborou significativamente para esse aporte no aroma, com uma explosão de frutas como pera, maça-verde, melão, abacaxi.

Na boca se reproduz as impressões olfativas sendo ainda macio, leve, fresco, jovial, mas com uma marcante personalidade, com generosas notas cítricas, baixa acidez, típica da casta, com um agradável toque de baunilha e tostado no seu retrogosto, um final persistente.

Ah como os Chardonnays brasileiros estão dando um show de tipicidade, de personalidade, com a cara e o DNA do Brasil! Um vinho jovem, fresco, equilibrado, mas de grande personalidade. Um vinho que, apesar da curta passagem por barricas de carvalho, preserva sua frescura, sua leveza, mostrando que a madeira não “domina” o vinho, sendo um complemento e preservando as características da cepa. Aproveitando a semana do “Chardonnay Day”, celebrado em 21 de maio, essa é a minha homenagem. Para quem quiser saber um pouco mais sobre o “Chardonnay Day”, leia aqui: Chardonnay day. Belo vinho! 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Dom Cândido:

A Vinícola Dom Cândido tem sua origem em 1875, quando Luigi e Leonor, avós de Cândido Valduga chegam em território brasileiro, vindos da região do Tirol Italiano, e se instalam em uma colônia na região hoje conhecida como o Vale dos Vinhedos. Logo se inicia o plantio das primeiras videiras para elaboração dos vinhos para consumo da família. Porém, com o passar do tempo, a produção excedente passa a ser comercializada. E, desde a sua infância, Cândido Valduga convive com a rotina da vitivinicultura, acompanhando e auxiliando seus pais, Marco e Maria, nas tarefas no campo, o que acabou aflorando a sua paixão pela uva e vinho, nascendo, assim, uma história de amor que continua passando de geração para geração. Ainda na juventude, Cândido conhece Lourdes e juntos constituem uma família que sempre se manteve unida em torno dos valores do trabalho, da união e do amor pelo vinho. Atualmente, os filhos estão à frente do negócio. Localizada no coração do Vale dos Vinhedos, o complexo da Dom Cândido é um verdadeiro convite à vivência de experiências únicas, reunindo belezas naturais exuberantes, vinhos e espumantes de excelente qualidade, farta gastronomia e receptividade familiar. A família Dom Cândido se orgulha de sua história de trabalho, dedicação e amor por esta terra, cultivando uvas nobres, em vinhedos próprios, que resultam na elaboração de quantidades limitadas de garrafas de vinhos e espumantes de sabores e aromas incomparáveis.

Mais informações acesse:



sexta-feira, 22 de maio de 2020

Chardonnay day


A Chardonnay, a “rainha das uvas brancas” é a casta vinífera branca de maior prestígio no mundo, cultivada em todas as regiões produtoras, degustada por todos. Durante muito tempo, acreditava-se que existia uma ligação entre ela, Pinot Blanc e Pinot Noir, e esse pensamento não era por acaso: as plantas de todas as três possuem estrutura e formato muito parecidos, diferindo apenas na cor de seu fruto. Mas ela é o resultado do cruzamento entre as castas Pinot Noir e Gouais Blanc, dela saindo um excelente vinho branco.

História da Chardonnay

Sua origem está associada à região francesa da Borgonha. Acredita-se que os romanos foram os responsáveis por trazer a Gouais e que suas cepas foram cultivadas no leste francês junto com as uvas Pinot Blanc — o que tornou seu cruzamento muito mais propenso. Com isso, em meados do século XVIII, o fruto desse cruzamento, a Chardonnay, foi reconhecida como uma nova espécie de uva e não mais como uma variedade.

Originária da região da Borgonha, na França, durante muito tempo foi a única variedade responsável pelos mais finos vinhos da região. O que chardonnay fez com que essa percepção mudasse, foi o advento da moda dos vinhos varietais a partir do século XX. É a variedade branca mais dispersa pelo mundo, sendo cultivada na grande maioria das regiões produtoras do mundo e conhecida como a rainha da uvas brancas. Dependendo da maneira como é tratada, pode gerar desde vinhos longevos e complexos até brancos simples para consumo diário. Entre as uvas brancas, é uma das variedades mais passiveis de amadurecimento ou fermentação em barricas, desenvolvendo complexidade aromática e, mais que tudo, estrutura em boca, com untuosidade e estrutura especiais.

É uma casta capaz de expressar o desejo do viticultor e a expressão do terroir. Somente em sua região de origem, Borgonha, é que produz um estilo de vinho que até os dias de hoje não conseguiu ser reproduzido em outro lugar, talvez pela composição do solo da região, o conhecido, caro e muito apreciado, Chablis. O Clima, grande influenciador direto de qualquer vinho, é determinante no caso desta cepa. Quando cultivada em regiões mais frias, gera vinho mais frescos e leves, se em regiões mais quentes, o vinho ganha estrutura, untuosidade e notas de frutas tropicais maduras.

Características da Chardonnay


Essa uva de pele verde, utilizada na produção de espumantes e vinhos brancos é, provavelmente, a mais “maleável” que existe no mundo, e grande parte disso se deve ao fato de ser possível produzi-la em praticamente todo lugar do planeta. É possível utilizá-la na produção de vinhos que apresentam desde a expressão máxima da fruta — ou seja, vinhos que não passam por madeira — como aqueles que variam de notas mais suaves até os mais amadeirados — que apresentam características de baunilha e amanteigados. A Chardonnay dá origem a vinhos ricos em aromas e sabores, de forma que evidencia as frutas cítricas quando submetida a climas frios, e frutas tropicais a climas quentes. Para atingir essa gama variada de vinhos que vão de estruturados e encorpados até leves e delicados, sua grande aliada é a Terroir.

Principais regiões produtoras da Chardonnay

Cultivada em quase todos os lugares do mundo, a Chardonnay tende a se apresentar pouco marcada e, muitas vezes, descaracterizada. Dessa forma, as principais regiões são:

França, Borgonha (Côte de Beaune) – É a sua terra natal, nenhuma outra casta branca pode ser cultivada nesta região. Seus vinhos estão entre os melhores do mundo. Cada sub-região apresenta características particulares: Montrachet (intensos, longevos, apaixonantes), Puligny-Montrachet (estruturado, saboroso e fresco), Chassagne-Montrachet (mais noturno), Meursault (amanteigado e frutas secas), Corton-Charlemagne (mais mineral);

França, Borgonha (Chablis) – Nesta parte da Borgonha tudo é muito diferente, o clima é mais frio e o solo calcário já foi leito de mar. O resultado só poderia ser um, vinhos espetaculares, soberbos. Chablis não se copia, aqui a Chardonnay tem outra personalidade. Mineral, rochoso, feno verde, imortal. Sem dúvida alguma, tudo que um vinho branco gostaria de ser;

França, Borgonha (Pouilly-Fuissé) – Vinhos diferentes, encorpados por longa maturação. Muito interessantes e robustos;

França, Champagne – Aqui a Chardonnay é responsável pelo frescor, cremosidade e elegância do espumante. Pode se apresentar varietal (Blanc de Blancs) ou em corte com a Pinot Noir e Pinot Meunier;

Itália – Talvez, devido ao fato de ser um país que não tem uma grande casta branca, a Chardonnay foi adotada com sucesso em quase todas as regiões: Piemonte, Lombardia, Alto Adige, Toscana, Abruzzo e Sicilia. Produz desde espumantes até vinhos de sobremesa deliciosos;

Espanha – Pelos mesmos motivos da Itália, aqui a Chardonnay também vem ganhando espaço com muita competência. As melhores regiões são: Penedès (Cavas), Somontano, Navarra e Rioja;

Califórnia – Produz milhões de garrafas por ano (45 milhões de caixas em 2001). Em geral, seus vinhos são extremamente aromáticos, alcoólicos, amadeirados e com baixa acidez. Algumas vezes percebe-se algum açúcar residual. Os melhores exemplares podem ser espetaculares e rivalizar com os melhores da Borgonha. As melhores sub-regiões são Napa e Sonoma Valleys com destaque para as sub-regiões de Carneros, Russian River e Alexander Valley;

Austrália – Outra excelente região. Já viveu o momento dos vinhos super maduros e amadeirados na década de 1980 e 1990, quase enjoativos (Hunter Valley). Agora vive uma nova realidade, com vinhos mais elegantes, complexos, frescos e provenientes de áreas mais frias. As melhores sub-regiões são: Margaret River, Yarra Valley, Eden Valley, Padthaway e Tasmânia (para espumantes);

Nova Zelândia – Sem dúvida, este país tem vocação para os vinhos brancos. Aqui a Chardonnay pode alcançar patamares insuperáveis para o Novo Mundo. Seus vinhos são intensos, potentes e muito bem equilibrados. As melhores sub-regiões são: Hawke’s Bay, Marlborough e Wairarapa;

Chile – Assim como a Cabernet Sauvignon, aqui a Chardonnay encontrou um terreno fértil para se desenvolver. É a casta branca mais cultivada no país. Seus aromas, além das frutas típicas tropicais, apresentam uma pegada mais tostada e amanteigada. Seus vinhos podem ser espetaculares. As melhores sub-regiões são: Valle de Casablanca, Valle de Leyda, Valle del Maule, Valle de Bío Bío e Malleco;

Argentina – Apesar do predomínio das castas tintas, existem alguns bons (excelentes) vinhos feitos com Chardonnay. Mas não são muitos. A região de Mendoza é a mais indicada.

Chardonnay day

O Chardonnay Day é comemorado desde 2010, na quinta-feira que antecede o feriado de Memorial Day nos EUA.

Não se sabe exatamente quando e como surgiu o Chardonnay Day. Possivelmente, foi em 2009, quando um grupo de enólogos se reuniu para comemorar o sucesso e a premiação de um vinho canadense, que superou rótulos franceses e californianos, no Wine Awards Cellier, em Montreal. Para eles, o significado dessa conquista foi tão grande, que concluíram que a Chardonnay, uma variedade amplamente cultivada em Ontario, merecia destaque. Então, começaram a convidar vinícolas de todo o mundo, que possuem vinhos dessa uva, para celebrá-la todos os anos, no fim de maio.

Há quem diga que a origem do Chardonnay day é parte de uma criação midiática do especialista em marcas, branding e mídias sociais, o americano Rick Bakas. Tudo parte de uma grande estratégia da indústria do vinho!

A Chardonnay é hoje a mais utilizada e produzida no mundo, por isso, você provavelmente vai sempre esbarrar em um rótulo que a contém. Assim, é importante ficar muito atento ao local de produção da uva para que você não acabe levando algo com expectativas erradas. E viva a Chardonnay day!



Fontes:









quarta-feira, 20 de maio de 2020

Tons de Duorum tinto 2014


Costumo dizer e defender, com unhas e dentes, o enófilo a participar, mesmo que ao menos uma vez na vida, de eventos e festivais de degustação de vinhos. A gama de informação que você absorve é fantástica, ainda tendo, é claro, o prazer e a alegria de degustar vários rótulos e conhecendo outros tantos. Você conversa com participantes, com representantes dos produtores, conhecem, por intermédio dos rótulos, novas regiões, propostas de vinhos, castas etc. O meu primeiro evento dessa natureza há quatro ou cinco anos atrás, tive a oportunidade de conhecer um rótulo excelente e de surpreendente custo x benefício à época que foi muito bem posicionado, na realidade foi o primeiro colocado, em uma degustação às cegas realizada pela organização do evento e que contou com especialistas, críticos e jornalistas ligados ao vinho.

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região portuguesa do Douro e se chama Tons de Duorum, da vinícola João Portugal Ramos, composta pelas típicas castas da região: Touriga Franca (50%), Touriga Nacional (30%) e Tinta Roriz (20%), da safra 2014.

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e brilhante com tonalidades violáceas, com lágrimas em abundância que teimavam em desenhar as paredes do copo.

No nariz tem uma explosão aromática de frutas vermelhas frescas, como o morango e a framboesa, com um agradável toque floral denotando muito frescor e jovialidade.

Na boca se reproduz as notas olfativas com muito frescor, um vinho jovem, elegante, mas com a característica personalidade dos vinhos do Douro, com taninos sedosos e presentes, com boa acidez com um final frutado, suave, fresco e persistente.

Um vinho que realça a tipicidade da região tradicional do Douro, mas que não tem aquela típica estrutura, corpo médio, sendo muito frutado, harmonioso e equilibrado, graças também a sua passagem por 6 meses por barricas de carvalho, muito bem integrados. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a linha “Duorum”:

Dois enólogos que marcam a história do vinho em Portugal nas últimas décadas, em duas regiões que o mundo reconhece como de elevada qualidade e personalidade, o Douro e o Alentejo, reencontram-se num projeto sonhado e realizado nos vinhedos milenares do Douro. A “Duorum" (expressão latina que significa “de dois”), nasce em janeiro de 2007 e exprime a vontade de João Portugal Ramos e de José Maria Soares Franco de juntarem as suas atividades profissionais de enólogos num projeto de produção de vinhos do Douro com características únicas e de dimensão internacional. As vinhas, localizadas nas regiões de Cima Corgo e Douro Superior, dois terroirs excecionais e protegidos, estão erguidas em socalcos com diferentes altitudes, entre 150-500 metros, e apenas com castas autóctones. No Cima Corgo, existe baixa pluviosidade com cerca de 600 mm, temperaturas e amplitudes térmicas elevadas durante o ciclo da videira. Por sua vez, o Douro Superior é menos acidentado, com  encostas geralmente mais suaves e vales menos profundos. O clima é tipicamente mediterrânico, com as temperaturas estivais mais elevadas, e precipitações anuais próximas dos 400mm. Tanto a adega como as vinhas encontram-se inseridas na Região Demarcada do Douro, uma das mais antigas do Mundo e cujo valor paisagístico e cultural foi reconhecido pela UNESCO como Património da Humanidade. Adicionalmente, as propriedades da Duorum encontra-se em dois locais que integram a Rede Europeia de Conservação da Natureza (Rede Natura 2000), a Zona de Proteção Especial para Aves do Douro Internacional e Vale do Águeda e o Sítio de Importância Comunitária do Douro Internacional. A conduta ambiental e vitícola assumida pela DUORUM levou ao reconhecimento do ICNB (Instituto para a Conservação da Natureza e Biodiversidade) e à sua consequente adesão à iniciativa europeia Business & Biodiversity, uma rede internacional de empresas que integra na sua atividade preocupações com a natureza e a biodiversidade. Este compromisso tornou-se uma ferramenta imprescindível para atingir os elevados padrões de exigência ambiental estabelecidos pela DUORUM.

 Sobre a vinícola João Portugal Ramos:

Nascido de uma longa linhagem de produtores, João Portugal Ramos licenciou-se em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Estagiou no Centro de Estudos da Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos, após o que inicia, em 1980, no Alentejo, a sua atividade de enólogo. A partir da experiência acumulada, João Portugal Ramos constituiu a Consulvinus no final da década de 80, com o objetivo de dar resposta às inúmeras solicitações de vários produtores um pouco por todo o país. Assim, a Consulvinus alarga a sua atividade para além do Alentejo, chegando ao Tejo, Península de Setúbal, Dão, Beiras e Lisboa, participando no desenvolvimento de marcantes vinhos portugueses e revitalizando regiões que até então começavam a cair no esquecimento dos enófilos e dos consumidores. João Portugal Ramos planta os primeiros 5 hectares de vinha em Estremoz, onde vive desde 1988, dando início ao seu projeto pessoal. Estremoz é o primeiro local eleito por João Portugal Ramos para fazer os seus próprios vinhos, após a longa carreira como enólogo consultor na criação de vinhos nas principais regiões vitivinícolas de Portugal. A primeira vindima realiza-se em 1992 e nos anos que se seguem o vinho é elaborado em instalações arrendadas, sendo 1997 o primeiro ano em que é vinificado nas novas instalações. Desta primeira vindima, nasce o primeiro vinho próprio de João Portugal Ramos – Vila Santa. Inicia-se a construção da Adega Vila Santa, em Estremoz. Em 1997 é também a primeira colheita do Marquês de Borba Reserva e no ano seguinte nasce o Colheita, que até hoje se mantém como a marca mais forte do grupo revelando uma consistência inabalável ano após ano. Embora João Portugal Ramos já fosse há muitos anos o enólogo responsável pela produção e distribuição dos vinhos dos seus sogros, os Condes de Foz de Arouce, só em 2005 é que a Quinta de Foz de Arouce na Lousã, Beira Baixa, passa a fazer oficialmente parte do grupo. No ano em que o Grupo João Portugal Ramos comemora 25 anos, o seu fundador, em 2017, recebe o Prémio Senhor do Vinho de uma das mais importantes publicações nacionais no setor – a Revista de Vinhos. Neste mesmo ano há a necessidade de ampliar a Adega Vila Santa pela terceira vez, recebendo seis novos lagares de mármore para permitir "pisa a pé" de um maior número de vinhos tintos, passando também a centralizar os processos de engarrafamento de todos os vinhos do Grupo em Estremoz, e aumentando ainda a capacidade de armazenagem de vinhos engarrafados. Os vinhos do Grupo João Portugal Ramos estão presentes por todo o mundo, sendo líderes de vendas de vinhos portugueses em alguns países. Hoje, o enólogo tem a seu lado dois dos seus cinco filhos, João Maria no departamento de enologia e Filipa no departamento de marketing, dando continuidade ao negócio de família.

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Degustado em: 2017








terça-feira, 19 de maio de 2020

LAB tinto 2015


Sou um grande apreciador da simplicidade direta dos vinhos regionais de Lisboa. É claro que gozam de personalidade, mesmo sendo vinhos básicos, de entrada, cuja proposta é a maioria que temos disponíveis no mercado brasileiro, mas muito bem feitos, corretos e que expressão com fidelidade o terroir da capital lusitana, são efetivamente vinhos peculiares, de tipicidade. Sempre os degustei e gostei. E a minha porta de entrada para os vinhos lisboetas e, acredito que para muitos que apreciam rótulos dessa emblemática região, foi com a tradicional Casa Santos Lima que goza de um imenso e diversificado portfólio que conta, não apenas com vinhos de Lisboa, mas com vários rótulos de outras importantes regiões de Portugal. Apesar disso, não são muitos os vinhos disponíveis por aqui em terras brasileiras, mas com os poucos que tive a oportunidade de degustar me propiciaram grandes e surpreendentes experiências. E o rótulo escolhido para abordar teve a motivação da tradição da Casa Santos Lima, foi o fator preponderante para a minha escolha. Porém outra coisa me surpreendeu. Antes de efetivar a sua compra decidi acessar o site do referido produtor para ler um pouco mais sobre o rótulo e eis que veio a grande surpresa: o vinho foi ostentado com uma grande quantidade de premiações! Incrível que, com tantos prêmios, um preço tão baixo, na faixa dos R$ 29,90! Mais um fator estimulador para efetivar a aquisição. Arrisquei!

E não é que os seus prêmios corroboram a sua qualidade? Surpreendente vinho, um belíssimo vinho lisboeta, da Casa Santos Lima que é o LAB tinto, um blend das castas Castelão (35%), Tinta Roriz (25%), Syrah (25%) e Touriga Nacional (15%) da safra 2015. E como sou um apreciador dos vinhos de Lisboa, nada mais conveniente uma breve e substanciosa história dos vinhos regionais de Lisboa.

Vinhos Regionais de Lisboa

Na região de Lisboa, região com longa história na viticultura nacional, a área de vinha é constituída pelas tradicionais castas portuguesas e pelas mais famosas castas internacionais. Aqui é produzida uma enorme variedade de vinhos, possível pela diversidade de relevos e microclimas concentrados em pequenas zonas da região. A região de Lisboa, anteriormente conhecida por Estremadura, situa-se a noroeste de Lisboa numa área de cerca de 40 km. O clima é temperado em virtude da influência atlântica. Os Verões são frescos e os Invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias. Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço. A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).


1| Encostas de Aire
2| Lourinhã
3| Óbidos
4| Torres Vedras
5| Alenquer
6| Arruda
7| Colares
8| Carcavelos
9| Bucelas

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem. A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos. Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas. A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas. A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino. A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade. Fonte: Infovini, em: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

Agora o vinho:

Na taça um lindo vermelho rubi com entornos violáceos brilhantes com poucas e rápidas lágrimas.

No nariz tem um aroma rico e proeminente de frutos vermelhos maduros, frutos silvestres, como ameixas e amoras, por exemplo, com notas generosas de especiarias.

Na boca é seco, com alguma estrutura e bom volume de boca, mas macio, fácil de degustar, com taninos presentes, mas sedosos, baixa acidez, com um final de boca frutado, agradável e persistente.

Um vinho que sintetiza com fidelidade o terroir lisboeta, sendo muito versátil, harmonioso e equilibrado, onde mesmo com o seu corpo médio, mostra toda a sua maciez, diria até por ter tido um estágio parcial por 4 meses por barricas de carvalho. O percentual do vinho que estagiou em madeira não foi especificado no site da vinícola. Tem 13% de teor alcoólico.

Prêmios conquistados pelo rótulo (safra 2015):

1- China Wine & Spirits Awards Best Value 2017 - Duplo Ouro
2- Austrian Wine Challenge 2017 - Ouro
3- Portugal Wine Trophy 2016 - Ouro
4- Sélections Mondiales des Vins 2016 - Ouro

Sobre a Casa Santos Lima:

Casa Santos Lima foi constituída para dar seguimento à atividade desenvolvida pela família Santos Lima há várias gerações. Esta atividade foi iniciada por Joaquim Santos Lima, que, no final do século XIX, era já um grande produtor e exportador de vinhos. Maria João Santos Lima e José Luís Santos Lima Oliveira da Silva, neta e bisneto do fundador, relançaram a empresa em 1990, tendo procedido à replantação de grande parte das vinhas, melhorado o encepamento das vinhas e modernizando toda a estrutura produtiva. No âmbito da atividade de engarrafamento de vinho de qualidade, a empresa desenvolveu desde cedo uma estratégia multi-marca, privilegiando produtos de excelente relação qualidade/preço. Em 1996 iniciou-se a comercialização dos primeiros vinhos engarrafados – Quinta da Espiga, Quinta das Setencostas, Palha-Canas e alguns varietais, que imediatamente tiveram grande sucesso nos mercados nacional e internacional. Atualmente, cerca de 90% da produção total é exportada para perto de 50 países nos 5 continentes. Esta grande vocação exportadora deve-se fundamentalmente à excelente relação qualidade-preço dos seus vinhos, parte integrante da atitude e filosofia da empresa. Tal facto tem sido confirmado de forma sistemática pela atribuição de inúmeros prémios e críticas favoráveis por parte da imprensa especializada e a atribuição de referências “Best Buy”. Num passado mais recente a empresa cumpriu um plano de alargamento para outras regiões como o Douro, Vinhos Verdes, Alentejo e Algarve com aquisições de novas propriedades e sociedades ou parcerias com produtores locais. A Casa Santos Lima tem agora uma oferta ainda mais completa e diversificada pronta para responder às exigências dos mercados. A Casa Santos Lima trabalha diretamente ou indiretamente nas regiões de Lisboa, Algarve, Alentejo, Douro e Vinhos Verdes. Desta forma e a partir de cerca de 400 hectares de vinha, a empresa produz vinhos conhecidos pela sua excelente relação qualidade/preço e exporta cerca de 90% da sua produção total para perto de 50 países nos 5 continentes. A Casa Santos Lima é também o maior produtor de “Vinho Regional Lisboa” e “DOC Alenquer” e nos últimos anos tem sido um dos mais premiados produtores portugueses nas principais competições nacionais e internacionais de vinhos. Atualmente as principais instalações da empresa (escritórios, loja e as adegas de maiores dimensões) estão situadas na Quinta da Boavista em Alenquer, apenas a 45 km a Norte da cidade de Lisboa. Esta Quinta pertence à família Santos Lima há mais de 4 gerações e oferece condições ideais para a produção de vinho de qualidade. A Casa Santos Lima tem também vinhas e adega própria situadas em Tavira no Algarve e ainda através de acordos e parcerias com outras sociedades e produtores, explora também vinhas e adegas nas regiões do Alentejo, Douro e Vinhos Verdes. A Casa Santos Lima conta com um portefólio muito alargado de vinho, produzindo todos os anos e em 5 regiões diferentes vinhos tintos, brancos, rosés, espumantes, frisantes, leves e colheitas tardias. Este variado leque de opções permite à empresa grande dinamismo no mercado nacional e internacional e tem permitido um crescimento constante ano após ano. Neste momento a Casa Santos Lima é responsável pela produção de cerca de 40% de todo o vinho certificado da Região de Lisboa e é um dos principais exportadores de vinho português.

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Degustado em: 2019

Avelium Rosso 2013


Confesso que é um risco, diria desnecessário, buscar, como suporte para escolha de seus vinhos, esses aplicativos temáticos cujos usuários deixam as suas análises e média de pontuações, dos rótulos que degustou. Estamos nos tempos dos aplicativos onde tudo o que fazemos e do que necessitamos tem nesses recursos exclusivos para os aparelhos de celular, mas a percepção de um vinho é pessoal e, basear-se na análise de terceiros, pode ser frustrante para quem utilizou desse recurso para decidir a compra de um rótulo, mas também não é proibido lê-los. É claro que precisamos de informação, de suporte para fomentar a nossa escolha acerca de um vinho, alheio, é claro, a uma ideia inicial de que rótulo precisa comprar, tais como: região, safra, proposta do vinho, entre outros quesitos. Utilizei, por alguns anos, esses aplicativos, quase uma rede social direcionada para os vinhos e já escolhi alguns rótulos com base em altas médias de seus usuários. E um, em especial, me chamara a atenção pela alta média para o valor extremamente atrativo, mas também, o que pesou na minha decisão, foi a região, a qual gosto muito e o seu corte (blend) bem atípico para mim, envolvendo casta autóctone e internacional.

Um belo vinho, uma grata surpresa! O vinho que degustei e gostei veio da região tradicional da Itália, Puglia, da Província de Barletta-Andria-Trani, chamado Avelium, um rosso (tinto), das castas Nero di Troia (85%) e Cabernet Sauvignon (15%), da safra 2013, um IGP (Indicação Geográfica Protegida).
A região de Puglia ou Apúlia, é extremamente conhecida, emblemática na produção de vinhos da Itália, mas e a Província de Barletta-Andria-Trani? Essa província, situada em Puglia, composta por 10 municípios e com uma população (senso de 2001) de 383.018 teve seu estabelecimento entrando em vigor em julho de 2009 e Andria sendo nomeada sede do governo em 21 de maio de 2010. Fonte: Wikipedia.



Como a região de Barletta-Andria-Trani, a casta Nero di Troia não é muito popular no Brasil e convém textualizar a sua história e características. Considerada uma cepa nativa da Itália, oriunda de uma comuna pequena, também da região de Puglia, com cerca de 7.000 habitantes, chamada Troia e não tem relação direta com a emblemática Troia, que deu origem a história que contou a Guerra de Tróia. Há quem diga que exista sim, uma relação com a mítica cidade, pois há algumas afirmações dizendo que a cepa teria chegado à Itália levada por Diomedes, herói exilado após a guerra. Como boa lenda, talvez tenha um fundo de verdade. Histórias á parte, a Nero di Troia é uma casta bastante resistente a uma ampla variedade de pragas comuns nos vinhedos, e muito adaptada ao clima quente e seco da Puglia. Mesmo assim, cada vez menos cultivada. Muitos produtores, nos últimos anos, têm substituído seus vinhedos, plantando Negroamaro e Primitivo, consideradas mais rentáveis comercialmente. Os aromas mais frequentemente relatados, na degustação de vinhos produzidos com a Nero di Troia, são violetas, cereja preta madura, amora, couro, tabaco, cacau, cassis e anis. O vinho à base de Nero di Troia costuma ser profundo, complexo, fascinante, de cor viva, e bastante rico em polifenóis, principalmente taninos. A adstringência típica dos taninos da Nero di Troia é, muitas vezes, atenuada pelo corte com outras uvas, como Montepulciano. Inclusive, é comum encontrar, em vinhas velhas, fileiras intercaladas de Montepulciano com Nero di Troia, na proporção de 1 para 3. fonte: Tintos & Tantos, em: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/761-nero-di-troia

Agora o vinho!

Na taça apresenta um belo vermelho rubi escuro com reflexos violáceos brilhantes e reluzentes. Com lágrimas em abundância e finas, demoravam a dissipar das paredes do copo, desenhando-os.

No nariz traz um aroma fresco, ainda jovem, apesar dos seis anos de safra, à época degustado, com frutas vermelhas frescas, com um toque floral agradável e notas de especiarias.

Na boca é igualmente fresco, frutado, redondo, equilibrado, de corpo médio, alguma estrutura, mas macio e fácil de degustar, com taninos delicados, boa acidez, com um final persistente.

Um vinho muito bom, versátil, mostrando uma excelente drincabilidade, com um grande potencial enogastronômico, ótimo para harmonizar com massas e uma boa carne suculenta. O vinho não passou por barricas de carvalho, apenas repousou por 6 meses na garrafa antes de ser disponibilizado para o mercado. Com 13% de teor alcoólico.

Não há informações sobre a vinícola. A mesma é um pequeno produtor e tem os seus rótulos distribuídos por empresas que representam as suas marcas em várias partes do mundo. Pequeno produtores que produzem grandes vinhos com um forte apelo regional e que entrega vinhos com grande tipicidade, expressando o máximo de seu terroir.

Degustado em: 2019