Às
vezes a escolha de um vinho pode assumir contornos dramáticos. O processo de
escolha pode ser difícil e complicada e não se enganem que essa etapa é
irrelevante ou mera frescura, onde o importante é comprar o que “estiver na mão”
ou aquele mais em conta e pronto. Não! Aos enófilos que se preocupam com um
momento agradável e importante na hora da degustação, o processo de compra pode
e é providencial. Neste vinho que degustei eu passei por esse momento, diria,
crítico. Estava em um supermercado e logo estava no setor dos vinhos e logo
também estava diante de um dilema: Avistei um vinho, sem muito destaque ou
evidencia, o rótulo, nesse sentido, também não ajudava, era bem discreto. O
valor foi o que me chamou a atenção! Claro que é sedutor um vinho que custa na
faixa dos R$ 25,90, um branco, português, da região do Tejo. Tomei o mesmo em
minhas mãos e passei a analisa-lo. Decidi, para ajudar, acessar o site do
produtor, que levava o nome do vinho também. Vi e li as informações e decidi
arriscar, afinal o risco pode ser recompensado também, mas com o mínimo de
cálculo e cautela, ajuda. Decidi leva-lo, afinal, a proposta do vinho “harmonizava”
com os dias quentes de verão que imperava no auge do mês de janeiro.
Mas
ainda levou algum tempo na adega antes de abrí-lo, por isso que na foto, o rótulo está um pouco
enrugado, mas, após ler um “review” na internet sobre o vinho e muito positivo, diga-se de passagem, me estimulou a degustar o meu.
Aproveitei uma noite quente e abafada e abri o meu Quinta do Casal Monteiro, um
DOC da região do Tejo, branco, da safra 2016, com um corte que, depois descobri
ser bem típico de Portugal e, claro, do Tejo, das castas Arinto (50%) e Fernão
Pires (50%). Sei que ainda não está na etapa das análises organolépticas, mas
preciso dizer: Que vinhaço! Surpreendentemente bom! Logo se revelou no aroma
que, ao desarrolhá-lo, explodiu, invadindo impiedosamente as minhas narinas,
mas, espera! Agora não falarei! Falarei, brevemente, da região do Tejo,
emblemática em Portugal.
Tejo
Nesta
região vitivinícola, situada no Centro de Portugal, a arte de produzir vinho
remonta a 2000 a.C., quando os Tartessos iniciaram a plantação da vinha junto
às margens do rio que lhe dá o nome. Reza a História que já Afonso Henriques
fez referência aos vinhos da região no Foral de Santarém, datado de 1170, e que
o Cartaxo terá exportado 500 navios com tonéis de vinho que, em apenas um ano,
terão atingido o valor de 12.000 reis. As histórias continuam pela cronologia
fora, com o ano de 1765 a destacar-se pelo desaparecimento da vinha nos campos
do Tejo, como consequência de uma ordem imposta por Marquês de Pombal.
Em
1989, são fundadas seis Indicações de Proveniência Regulamentada para vinhos da
região do Ribatejo e, em 1997, é criada a Comissão Vitivinícola Regional do
Ribatejo, à qual se sucede a constituição por lei da Comissão Vitivinícola
Regional do Tejo, em 2008, seguindo-se a Rota dos Vinhos do Tejo.
E
agora o vinho:
Na
taça apresenta um amarelo palha, com detalhes em verde cítrico, muito
brilhante.
No
nariz é uma verdadeira explosão aromática, com notas evidentes de frutas
brancas, como pera, maça-verde e frutas cítricas como limão, abacaxi, além de
um agradável toque floral, com muito frescor e jovialidade.
Na
boca repetem-se as impressões olfativas, sendo frutado, fresco, mostrando um
bom corpo, um bom volume de boca, com ótima acidez que entrega um vinho fresco,
direto, refrescante e saboroso. Com um final frutado, leve, mas de muito boa
persistência.
Um
vinho que te surpreendente pelo ótimo custo x benefício e que, sem sombra de
dúvida, entrega muito mais do que vale. Um vinho fresco, harmonioso, fácil de
degustar, de personalidade e que te convida a mais um gole, de forma frenética.
Um vinho direto, correto e muito bem feito. Apesar do drama da escolha, quando
constatamos que o vinho é maravilhoso, todo aquele processo faz valer a pena e
nos ensina que vinho barato nem sempre é sinônimo de vinho ruim. Permita-se
experimentar, sem visões pré-concebidas. Com 13% de teor alcoólico.
Sobre
a Quinta do Casal Monteiro:
Fundada
em 1979, a Quinta do Casal Monteiro engarrafa safras limitadas de produção
exclusivamente a partir de sua propriedade de 80 hectares. Com idade média de
35 anos, as vinhas estão localizadas em solo arenoso aluvial fértil,
enraizando-se em uma combinação incomum e resultando em uma produção de baixo
rendimento de vinho de alta qualidade. Além disso, a característica do clima
temperado sub-mediterrânico e a sua proximidade ao rio Tejo conferem aos vinhos
uma identidade singular, revelada tanto nos aromas exuberantes como no paladar
complexo, revestido por uma excelente acidez - são excelentes companheiros de
comida. Em 2009, a nova geração / família assumiu a empresa e, desde então, uma
reestruturação da vinícola e da vinha vem ocorrendo. Foram feitos investimentos
consideráveis em equipamentos modernos e a reabilitação das vinhas tem sido
uma tarefa contínua. Como tal, todos os anos nossa qualidade tem aumentado e
esperamos fazê-lo continuamente ao longo da década atual. O crescente número de
prêmios internacionais e análises da imprensa internacional são uma prova da
nossa qualidade contínua de produção.
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informações acesse:
Degustado em: 2018