quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Dory tinto 2015

 

Quando falamos de vinhos portugueses nos lembramos, associamos imediatamente à tradição, a famílias antigas que estão no ramo vitivinícola há séculos. Mas o vinho que degustei e gostei pertence a uma vinícola que começou do zero, sem heranças, sem o prolongamento de gerações ou quaisquer coisas do tipo. Um projeto ousado, moderno que vislumbra novas percepções de propostas de vinhos, de rótulos arrojados, mas, por outro lado, privilegia o terroir, a tipicidade do atlântico da emblemática região de Lisboa. Mas isso é papo para o fim dessa resenha, pois agora eu vou falar de como eu conheci a vinícola. Estava assistindo ao programa que é transmitido pelo canal Globosat, de nome “Um brinde ao vinho”, apresentado pela somellier Cecília Aldaz. Foi uma temporada viajando por Portugal pelas suas mais importantes regiões produtoras de vinho. E um desses episódios aterrissou na região de Lisboa. Algumas vinícolas foram apresentadas e a AdegaMãe, situada em uma região chamada  em Ventosa, Torres Vedras, foi visitada pelo programa de TV. O seu representante contou a história da vinícola, ainda jovem, fundada em 2009, teve a sua primeira safra, há apenas 10 anos, em 2010. Esses detalhes da história desse produtor me chamaram e muito a atenção. Eu decidi: preciso comprar um vinho ou vários vinhos dessa vinícola! E eu achei!

O vinho que degustei e gostei veio, como já disse e com veemência, de uma das minhas regiões lusitanas preferidas, Lisboa, e se chama Dory, um tinto composto pelas castas Touriga Nacional, Syrah, Tinta Roriz e Merlot, da safra 2015. Outro detalhe muito interessante e que é bem peculiar dos vinhos lisboetas: essa interessante mescla de castas autóctones e as famosas e tradicionais castas francesas. Isso traz certa complexidade e caráter aos vinhos lisboetas que, mesmo se tratando de vinhos básicos entregam personalidade que logo falarei também com riqueza de detalhes. Mas antes de entrar nos detalhes organolépticos do belíssimo e surpreendente Dory, falemos um pouco da origem desse nome.

Dóri

Ao entrar na vinícola, que é um exuberante projeto de arquitetura, uma edificação muito bonita e moderna, e foi construída de forma gravitacional e com acessibilidade em todas as áreas (cadeiras de rodas e carrinhos de bebê, portanto, são bem-vindos), com equipamentos e tecnologia de ponta, tem de cara uma embarcação de pesca de bacalhau chamada “Dóri” (pertencente ao bacalhoeiro NTM Creoula, hoje navio escola da Marinha Portuguesa, e outrora pertencente à família Bensaúde) que deu nome aos principais rótulos da vinícola, Dory. 

Dóri

A AdegaMãe tem essa relação com o mar e com a pesca, produzindo, vinificando seus produtos, seus vinhos com o intuito de harmonizar com o bacalhau que é uma iguaria típica e tradicional, em todas as suas propostas, com o povo português.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi intenso, quase escuro, com entornos violáceos, diria em tons granada, muito bonitos e brilhantes, reluzente aos olhos. Lágrimas com alguma proeminência, finas e que demoravam um pouco a se dissipar das paredes do copo fazendo lindos desenhos.

No nariz tem uma intensidade aromática maravilhosa que me remete a frutas vermelhas maduras, como cereja, frutos silvestres e toques de especiarias, que lembra pimentão. Sem contar com as notas florais, tais como violetas e leve e discreto amadeirado que, pelo que pude pesquisar a respeito desse rótulo no site do produtor, o mesmo teve uma breve passagem por barricas de carvalho por cerca de 4 meses.

Na boca as notas frutadas reaparecem, um vinho de média estrutura, mas fresco, equilibrado e harmonioso, certamente pelas suas características atlânticas. Um vinho suculento, de bom volume de boca, com taninos gulosos, mas polidos e uma boa acidez que se faz com alguma presença, mas que não é tão evidente assim. Além do toque discreto da madeira.

Um senhor vinho! Um vinho surpreendente que também surpreendeu pelo preço e aqui vale mais uma história. Estava eu no supermercado e avistei o Dory tinto meio que negligenciado na gôndola do supermercado mais baixa que tinha quase próxima ao chão. Como estava atrás de um vinho da AdegaMãe o peguei e, mesmo que um tanto quanto receoso pela safra, em tese já “antiga” para um vinho básico, comprei. Quando fui efetuar o pagamento e fiquei sabendo do valor, pasmem: 10 reais! Não acreditei que um vinho estava tão barato e que entregou muito, mas muito além do que valeu! Um vinho elegante, fino, de presença marcante e que harmoniza com carnes grelhadas, massas e queijos mais leves. Tem 13% de teor alcoólico muito bem integrados.

Sobre a AdegaMãe:

A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem da família à sua matriarca, Manuela AlvesEm 2009, investindo na paixão pelo vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa.  A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com acidez marcante. A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.

A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe potencia um terroir  fortemente influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus vinhos de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados a nível nacional e internacional. Referida pela arquitetura exclusiva, e pela forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.

Mais informações acesse:

https://adegamae.pt/



Degustado em: 2019





sábado, 19 de setembro de 2020

Dal Pizzol Cabernet Franc 2016

 

Melhor do que participar de festivais de degustação de vinhos é participar de festivais que valorizam o vinho nacional. O vinho nacional tão taxado, sobrecarregado com o tal Custo Brasil que, vilipendiado pelo poder público, é encarado com vilão, aquela bebida alcoólica que vicia e não como alimento que, cientificamente comprovado, traz benesses à saúde. Mas discussões comportamentais, políticas e econômicas à parte falemos do vinho ou melhor dos vinhos que degustei no já conhecido Festival Vinho na Vila, evento importante no cenário enogastronômico, me proporcionou algumas das melhores degustações de vinhos nacionais corroborando o que eu já estava percebendo há alguns anos: o vinho brasileiro está crescendo em tipicidade, qualidade, sendo valorizado pelo seu DNA, com a sua terra, criando de fato, finalmente, uma identidade própria. Muitos degustei e gostei e o intuito era levar muitos, mas o entrave, o valor (voltei com o inevitável assunto), me impedia de fazer as tão esperadas aquisições. Pois é, um evento que privilegia os rótulos tupiniquins deveria ao menos ter valores mais amigáveis para um ávido público que estava com uma surpreendente audiência. E, quando estava andando de um estande a outro, avistei um que não conhecia, talvez ouvido falar de uma forma bem distante em algumas leituras. Essa vinícola se chamava Dal Pizzol. Claro, atraído pela curiosidade, fui até o local. Não tinha tantas opções de rótulos, mas ainda assim decidi degustar os disponíveis. Me surpreendi de cara com um Dal Pizzol da emblemática casta oriunda de Portugal, a Touriga Nacional. Degustei e achei maravilhoso: encorpado, com alguma complexidade, com notas de frutas vermelhas maduras, mas equilibrado e harmonioso, pois trazia certo frescor. Mas, mais uma vez, o entrave do valor fez com que eu não o levasse. Vi o outro, um Cabernet Franc, casta que pouco degustei em minha vida e não me perguntem o motivo, não sei dizer. O degustei e era maravilhoso também! Que vinho! E este estava com um preço mais competitivo, atrativo. Pois é, degustar vinho no Brasil e tentar abrir mão de muitos rótulos para degustar outros e continuar seguindo com as nossas experiências.

Então, acho que já apresentei o vinho que degustei e gostei que veio da tradicional região da Serra Gaúcha, o Dal Pizzol da casta Cabernet Franc (100%) da safra 2016. E como disse que pouco degustei vinhos com a Cabernet Franc acho mais do que conveniente e para manter a proposta dos meus textos aqui neste diário virtual, que preza pela cultura da informação, falemos um pouco dessa casta.

Cabernet Franc

A Cabernet Franc é ainda um pouco anônima e fica nos bastidores em comparação a rainha das uvas tintas, a Cabernet Sauvignon, que ajudou a criar. Esta é um cruzamento da Cabernet Franc com  a Sauvignon Blanc. A Franc ficou na sombra de sua filha, mas isso não significa que seja pouco importante, apenas, digamos, colocou o seu lugar nos bastidores, deixando a sua criatura brilhar. Mas ainda assim a Cabernet Franc é uma das mais ilustres uvas viníferas do mundo, fazendo parte da badalada tríade que forma o corte clássico de Bordeaux (junto com a Cabernet Sauvignon e Merlot). Inclusive, em alguns lugares da França, é a principal casta cultivada, aparecendo frequentemente como monovarietal (como no Vale do Loire). Quando usada em corte, muitas vezes ela representa a menor proporção, mas é justamente essa pequena parcela que faz toda a diferença, assim como um tempero faz toda a diferença num prato. Inclusive, o tempero não é só metafórico, pois a uva se caracteriza pelo seu toque apimentado, notas de tabaco, além de perfumes de violeta e cassis. Ela confere ao vinho mais frescor, mais finesse, mais elegância, sendo definida por muitos como o lado feminino da Cabernet Sauvignon. Normalmente ela é tão frutada quanto a Cabernet Sauvignon, mas de cor mais pálida e corpo mais leve, menos tânica e mais suave, e com uma nota herbácea mais viva. Vale lembrar que, muitas vezes, se torna a “salvadora” dos tintos de Bordeaux: como ela matura mais cedo e, portanto, é colhida antes da Cabernet Sauvignon, seu papel se torna fundamental quando, nas semanas seguintes, chuvas e granizo podem acabar estragando a safra. Chamada também de Bordó, Bouchet, Cabernet Gris, Breton, Bidure, Achéria (entre outros nomes), ela se dá bem em climas continentais e frios e é plantada em várias regiões vinícolas do planeta. Nem todo mundo sabe, por exemplo, que foi a principal casta do Brasil até a década de 1980, quando o foco se mudou para Merlot (e sucessivamente para Cabernet Sauvignon). Tem boa difusão também na Itália, basta lembrar dos supertoscanos que empregam corte bordalês, mas é, sobretudo no nordeste do país, particularmente no Friuli, onde se torna destaque em belíssimos tintos. Ainda no Velho Mundo, tem um bom desempenho na Hungria, Croácia e Romênia. Já no Novo Mundo, encontramos alguns válidos exemplares no norte dos Estados Unidos (especialmente no estado de Washington), e também no Canadá. Mas em ambos os casos ela é mais utilizada para “Ice Wine”, o famoso vinho de sobremesa local (onde a uva é submissa a um processo de congelamento natural). No Chile, a casta está sendo explorada com bons resultados, e na Argentina, talvez esteja dando êxitos ainda melhores, com alguns Cabernet Francs mais expressivos do que muitos Malbecs.

E agora o vinho, o tão esperado vinho!

Na taça tem um belo vermelho rubi intenso com entornos violáceos, bem brilhantes. Tem lágrimas finas e em média intensidade que logo se dissipam das paredes do copo.

No nariz traz aromas intensos e agradáveis de frutas vermelhas em compota, lembrando amoras e framboesas, talvez morango com um delicado toque floral, como violetas, por exemplo.

Na boca é seco, fresco, leve, como todo bom Cabernet Franc brasileiro, delicado, equilibrado, pois, mesmo leve, tem personalidade e um bom volume de boca, sendo frutado, saboroso, com um final de média persistência com um retrogosto frutado.

Um vinho diria inspirador, capaz não apenas de proporcionar experiências agradáveis no quesito degustação, mas também suscitar discussões culturais, políticas e econômicas que abriu esse humilde texto. Pois é são alguns devaneios mais do que lúcidos, embora fuja um pouco da proposta da discussão das características do vinho, mas quem disse que sou linear, padrão? Mas já que as características foram mencionadas estendo as inspirações também ao vinho propriamente dito: fresco, mas vivaz, com personalidade marcante. Aromas intensos de frutas vermelhas, notas florais, a valorização da cepa, de sua expressividade, das suas mais fiéis características graças a sua passagem por tanques de aço inoxidável por 12 meses. Que possamos valorizar os vinhos nacionais e entregar o nosso produto a quem de direito: aos brasileiros, sem distinção de cor, raça, credo e poder monetário. Apesar de ser um discurso romântico e, para alguns, utópico, precisamos criar uma cultura de degustação no Brasil e não associar o vinho a status social e aristocratas que tem apenas a intenção de distanciar o vinho brasileiro do brasileiro. Tem 13% de teor alcoólico e harmoniza bem com massas, carnes grelhadas e queijos mais gordurosos e estruturados, como o provolone, por exemplo, o que estou fazendo neste momento.


Sobre a Vinícola Dal Pizzol:

Criada em 1974, a Vinícola Monte Lemos, mais conhecida por Dal Pizzol, surgiu a partir de uma proposta diferenciada que privilegia a produção controlada. Comandada pelos irmãos Antônio e Rinaldo Dal Pizzol, a vinícola elabora anualmente 300 mil garrafas (225 mil litros) e tem como enólogo responsável Dirceu Scottá. O controle de qualidade tem início no cultivo da videira e, para isso, mantém parceria com produtores por meio de acompanhamento técnico realizado por dois enólogos e um engenheiro agrônomo da vinícola. A assessoria ocorre durante todo o processo, desde a variedade de uva a ser implantada até a colheita. Cada produtor recebe uma cartilha de procedimentos e práticas para o cultivo da videira. O material dá instruções, inclusive, sobre o limite de produção por área, variedade e sistema de condução da parreira. Essa parceria também contempla uma tabela de benefícios conforme a qualidade e tratos culturais implementados no vinhedo para cada safra. A Dal Pizzol traz consigo uma tradição na vitivinicultura que remonta ao Século XIX (1878), quando os primeiros imigrantes da família chegaram ao Brasil. Sua história expressa um talento natural e cheio de experiências, sabedoria e sensibilidade, que lhe permitiu alcançar a qualidade dos vinhos que elabora, através do amor no cultivo de castas nobres, do trato cuidadoso na arte do vinho e de um atendimento personalizado a todos que se relacionam com a Dal Pizzol. A vinícola faz parte da Rota Cantinas Históricas, distante 11 quilômetros do centro de Bento Gonçalves/RS. O projeto é composto por propriedades rurais que retratam a vida cotidiana dos imigrantes italianos que se instalaram nas encostas de Faria Lemos e lá cultivam a videira e seus costumes há mais de 130 anos. O passeio possibilita vasto contato com moradores locais que adoram partilhar dos seus saberes e fazeres, visita às cantinas com degustação de vinhos, espumantes e sucos de uva. Os vinhos da Dal Pizzol podem ser encontrados no mercado nacional em lojas, delicatessens, hotéis, bares, restaurantes e no próprio varejo da vinícola, localizada no km 5,3 da ERS 431, distrito de Faria Lemos, em Bento Gonçalves.

Mais informações acesse:

https://www.dalpizzol.com.br/home

Fonte de pesquisa sobre a Cabernet Franc

Portal “Clube dos Vinhos”, em: https://www.clubedosvinhos.com.br/a-cabernet-franc-ainda-dita-lei/

 






quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Marquês de Casa Concha Carmènére 2011


Já ouviu alguém dizer que o vinho é emblemático, icônico? Emblemático pelo seu terroir e proposta e icônico pela sua história e simbiose com a cultura de onde foi produzido. Esse sim é o vinho arrebatador! Aquele que te deixa nas nuvens! Quem é enófilo entenderá perfeitamente o que estou textualizando aqui e agora. E quando você degusta um vinho com essas características aliado à castas importantes de uma região, de um país. Sempre quis unir essas possibilidades e convenhamos que não é uma tarefa fácil escolher um rótulo assim, escolher um vinho nunca é uma tarefa fácil, sobretudo quando se faz no escuro, sem minimamente saber o que quer para o momento ou criar um vínculo com um estilo, uma proposta de vinho, levando em conta fatores como região, safras, castas, é claro, corpo, entre outros fatores. Eu queria, alguns anos atrás e lembro-me bem disso, mesmo tendo passado alguns anos, degustar um Carménère chileno com potência, robustez, estrutura e complexidade. Antes desse rótulo que logo direi qual é, já havia degustado alguns vinhos dessa casta, com outras propostas, dos mais básicos aos intermediários e as experiências foram gratificantes e até surpreendentes para alguns rótulos, mas eu precisava de um vinho icônico e emblemático e eis que surgiu um, embora o mesmo leve 5% de Cabernet Sauvignon, mas ainda assim tinha a magnânima presença dela, da Carménère.

Então o vinho que degustei e gostei é da gigante Concha Y Toro, do Chile, do Vale do Cachapoal, em uma região, com DO (Denominação de Origem) chamada Peumo, tida como a casa do Carménère, e se chama nada mais nada menos que Marques de Casa Concha, com 95% Carménère e 5% Cabernet Sauvignon, da safra 2011. Antes de falar sobre o vinho, como de costume, falemos sobre a região de Peumo.

Peumo, Vale do Cachapoal

É no Vale del Cachapoal, especialmente na região de Peumo, que a Carménère encontra condições ideais para prosperar e mostrar todo seu potencial. Essa condição ideal para o cultivo da Carménère está relacionada diretamente ao solo de argila profundo – por volta de 1,5 metros – e fértil encontrado na zona de Peumo, bem como à ausência de chuvas até o período da colheita, aos dias ensolarados e à grande amplitude térmica – diferença entre as temperaturas mínimas e máximas de um mesmo dia – que chega a atingir picos de 18oC. A comuna de Peumo, localizada por volta de 100 quilômetros ao sul de Santiago, está inserida na parte norte do Vale del Cachapoal, mais precisamente às margens do rio que leva o mesmo nome. Foi nesse lugar de paisagens bucólicas e de próspera produção agrícola que a Carménère encontrou as condições climáticas e de solo desejadas para se desenvolver plenamente e se tornar uma das uvas emblemáticas do Chile.

Vale do Cachapoal

Tais fatores são primordiais para que a Carménère atinja sua plena maturação, tanto fenológica quanto da própria fruta. De fato, por ser uma uva de maturação muito tardia – mais longa, por exemplo, que a Cabernet Sauvignon – ela necessita de solos que retenham a umidade de forma constante durante todo período de amadurecimento, bem como de dias secos, ensolarados, naturalmente frescos e mais úmidos, oriundos da considerável amplitude térmica, e ao relevo de baixa altitude (170 m) da zona de Peumo. Ou seja, essa uva, devido à maturação longa e tardia, tem nos solos férteis da região a possibilidade de manter as condições ideais para desenvolver seu pleno potencial. Além disso, o relevo do Vale del Cachapoal, principalmente na zona Peumo – onde as cadeias de montanhas se estendem de leste a oeste e o rio Cachapoal corre para o mesmo lado –, possibilita uma orientação de plantio dos vinhedos de norte para sul, propiciando uma insolação constante durante todo o dia, o que contribui, também, de forma decisiva para a maturação gradual e constante da uva. De modo geral, pode-se concluir que as condições da zona de Peumo são desejadas e necessárias para se cultivar quaisquer uvas, porém os resultados obtidos com a Carménère mostram que essa zona é das melhores, senão a melhor para o seu plantio em todo Chile.

E agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi muito escuro e profundo, mas brilhante e muito bonito. As lágrimas, finas e abundantes, já anunciam a potência e complexidade do vinho que teimavam em sumir, desenhando as paredes do copo.

No nariz traz notas intensas e agradáveis de frutas vermelhas maduras, como ameixa, especiarias, aquele típico toque de “carpete” da Carménère, com toquees generosos de tabaco e baunilha.

Na boca é estruturado, intenso, com um bom volume de boca, mas redondo, harmonioso e diria até fácil de degustar, com taninos de textura firme e presente, mas amaciados e uma boa acidez, com um toque amadeirado, mas bem integrado ao conjunto do vinho e um chocolate amargo delicioso, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho. Final frutado e persistente.

O Marques de Casa concha, icônico e emblemático vinho da tradicional Concha Y Toro, realizou meu sonho de degustar um legítimo Carménère, da região onde a cepa se dá bem, tem tipicidade, o terroir se deleitando em minha boca de uma forma intensa e visceral. Um vinho que, como se costuma dizer por aí, é digno de se degustar de joelhos, reverenciando e celebrando o que há de melhor na cultura vitícola chilena. Harmoniza muito bem com carnes corpulentas, massas e pizzas. Tem 14,7% de teor alcoólico muito bem integrado.

Sobre o Marques de Casa Concha

Em 1718 o Rei Filipe V de Espanha concedeu o nobre título “Marques de Casa Concha” a José de Santiago Concha y Salvatierra pelo seu meritório trabalho como Governador do Chile e Cavaleiro de Calatrava. Nasce o fundador da vinícola, Don Melchor de Santiago Concha y Toro, o sétimo Marques de Casa Concha.

Don Melchior de Santiago Concha y Toro

Em homenagem ao título hereditário e refletindo tais valores nobres e tradicionais, um Cabernet Sauvignon de 1972 de Puente Alto foi lançado em 1976. Carregava o distinto rótulo Marques de Casa Concha e era o principal vinho da Viña Concha y Toro na época. Em 1990 os avanços no vinhedo, nas práticas de produção de vinho e nos melhores equipamentos levaram a uma melhora na qualidade do vinho e tornaram o rótulo Marques de Casa Concha procurado em todo o mundo. Marques de Casa Concha é a linha de vinhos chilena que abrange a completa diversidade do Chile, com vinhedos onde a complexa relação entre as condições naturais, a planificação do vinhedo, e os anos que as parreiras demoraram a crescer, proporcionam um caráter único para a linha inteira.

Sobre a Concha Y Toro

Em 1883 Don Melchior Concha y Toro, importante político e empresário chileno, funda a Viña Concha y Toro. A empresa se torna uma empresa pública limitada e expande se nome comercial para a produção geral de vinho, isso em 1922. Em 1933 começam a ser negociadas na Bolsa de Valores e a primeira exportação é feita. No ano de 1957 se estabelece as bases produtivas para a expansão da vinícola, com a produção do vinho Casillero del Diablo, em 1966, onde começaram a investir em vinhos mais complexos, lançando em 1987, o seu principal rótulo, “Don Melchior”, homenageando o seu fundador. A década de 1990 veio com as criações de várias vinícolas nos principais países produtores de vinhos da América Latina, tais como Cono Sur, no Chile, Trivento, na Argentina entre outras.

Mais informações acesse:



Fonte de pesquisa para a Região de Peumo:


Degustado em: 2016



sábado, 12 de setembro de 2020

Roche Mazet Cabernet Sauvignon 2017


A França sempre foi conhecida pela sua vinicultura, sobretudo em regiões como Bordeaux, por exemplo. Sempre foi considerada pelos seus vinhos austeros, sisudos e caros, muito caros! O valor alto era a certeza, embora essa questão seja subjetiva, de que o vinho tinha qualidade. Pelo menos aqueles com “três dígitos”. Ao longo do tempo, talvez por conta desses absurdos quesitos, tive dificuldade de escolher e degustar os vinhos franceses, afinal não tinha condições de me adequar a preços com três dígitos, a valores altos. E por muito tempo minha expectativa de degustar os franceses ficava cada vez mais distante e isso perdurou por um longo tempo. Mas quando passei a ler um pouco mais sobre vinhos, pesquisando novas ou desconhecidas regiões, aquelas ditas “alternativas” e principalmente diversifiquei meus pontos de compra de vinhos comecei a perceber que há sim vinhos franceses mais acessíveis, monetariamente falando, bem como regiões, embora pouco mencionadas, que pudessem entregar surpreendentes vinhos. Foi mais ou menos assim que descobri a região de Languedoc-Roussillon. E quando degustei o meu primeiro rótulo dessa região, o Le Petit Cochonet da casta Sauvignon Blanc eu não o escolhi por ser necessariamente desta região, embora eu soubesse de onde este vinho tenha vindo. Lembro-me o que me chamou a atenção neste vinho foram alguns comentários elogiosos acerca do mesmo e o consequente valor bem atrativo. Quando o degustei foi como um mundo novo surgindo diante dos meus olhos. É possível degustar vinhos franceses a um preço baixo! E assim o foi também com este rótulo, agora um tinto. Eu precisava degustar outro novo vinho do Languedoc-Roussillon.

O vinho que degustei e gostei, como já não é novidade, vem do Languedoc-Rousillon e se chama Roche Mazet da casta Cabernet Sauvignon (100%), da safra 2017. Trata-se de um IGP (Indication Géographique Protégée que em tradução literal significa: Indicação Geográfica Protegida) e também um “Pays D’Oc”. Mas, antes de falar sobre o vinho, seria interessante falar sobre esses termos: “IGP” e “Pays D’Oc”. O que significam e o que isso influencia no vinho que nós degustamos?

IGP (Indication Géographique Protégée), o antigo “Vin de Pays”

O Vin de Pays significa “Vinho Regional”. Para nós brasileiros seria algo como “vinho do interior” ou “country wine” para os americanos. O Vin de Pays tem uma liberdade maior na hora da produção, ainda que submetidos a rigorosas regras. Esses vinhos não foram produzidas conforme a classificação AOC, que veremos adiante. Nessa categoria, podemos ter vinhos com nome do tipo de uva, como acontece no Brasil, Argentina e Chile. O Vin de Pays pode ter no rótulo “Cabernet Sauvignon”, já um AOC, não. É uma chance de o mercado francês competir melhor com os vinhos do “Novo Mundo”. É importante frisar que nem sempre o Vin de Pays indica qualidade inferior ao AOC. Muitas vezes o Vin de Pays é caro e de qualidade extrema, inclusive, pode ser produzido com o resto da produção de uvas que irão para o AOC. O Vin de Pays, a partir de 2009, foi substituído pelo IGP – Indication Géographique Protégée. O mesmo acontece aqui. Por motivos estratégicos, as vinícolas não usarão o IGP por um bom tempo. Essa mudança será introduzida aos poucos. Mas se você encontrar um IGP saiba que significa o mesmo que Vin de Pays.

“Pays D’Oc” ou simplesmente os vinhos do Languedoc-Roussillon

Com vinhedos cultivados desde o ano 125 a.C., Languedoc-Roussillon é uma das regiões vinícolas mais importantes da França, responsável por ¼ de todo o vinho produzido no país. Na opinião de vários autores, como a inglesa Jancis Robinson, a região origina algumas das melhores relações qualidade e preço de toda a França. Boa parte da produção é dedicada aos famosos e saborosos “Vin de Pays d’Oc”, contando ainda com importantes AOC (Apelação de Origem Controlada) como Minervois, Fitou, Corbières e Coteaux du Langedoc. Quando elaborados pelos melhores produtores, são vinhos cheios de fruta e sabor, com boa complexidade, corpo e um delicioso acento regional, perfeitos para acompanhar as refeições. Languedoc-Roussillon é uma vasta área vitivinícola, que traz um acentuado toque mediterrâneo e um rico histórico de cultivo de vinhas e produção de vinhos, um ciclo que teve início há mais de 2.000 anos com as colônias gregas e romanas.

Languedoc-Roussillon

Um cauteloso processo de subdivisão de Languedoc-Roussillon em terroirs reconhecidamente distintos está em andamento há alguns anos, originando as apelações Clairette du Languedoc, La Clape, Picpoul de Pinet, entre outras. Algumas encontram-se bem estabelecidas, com anos de certificação, outras estão conquistando aos poucos seu espaço perante o mundo do vinho. Com um solo bastante fértil, as uvas tintas encontradas com maior facilidade na região francesa são a Syrah, Grenache, Cinsault, Carignan, Merlot e Cabernet Sauvignon. Entre as variedades brancas, encontram-se Rolle, Clairette, Terret, Boubolenc, Muscat, Maccabéo, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Picpoul, Marsanne e Viognier. A diversidade de vinhos encontrada na região francesa é imensa. Os exemplares tintos vãos desde os frutados até os encorpados, e estão sendo cada vez mais produzidos com sucesso. Os vinhos brancos podem ser mais complexos ou nítidos, variando entre os doces e oxidados até leves e secos. Languedoc-Roussillon produz também magníficos vinhos de sobremesa e espumantes de muito prestígio; seus rosés são intensos, pálidos e muito perfumados. A tradição de Languedoc-Roussillon estende-se por anos, e a região é dona de constante evolução e muita variedade. A região tornou-se uma respeitada produtora, dando origem a vinhos de qualidade e prestígio perante todo o mundo. Atualmente o Languedoc vem se tornando tão excitantes para vinhos tintos robustos e frutados a preços convidativos. De trinta anos para cá vinicultores pioneiros ajudaram a elevar a qualidade para novos níveis. As uvas Syrah, Grenache e Mourvèdre ocuparam o lugar da Carignan e a procura pela qualidade reduziu a primazia dos vinhos populares. No período de 1982 a 1993, sub-regiões como Faugères, Minervois e Limoux enquadram-se como Denominação de Origem Controlada. Corbières, o vinhedo mais amplo da França Meridional, corre atrás com tintos apimentados da Grenache.

E agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi intenso, com bordas violáceas e lágrimas finas e em profusão, que teimam em desenhar as paredes do copo.

No nariz traz notas de frutas vermelhas que explodem nas narinas de forma exuberante, como amora, cereja, além de um discreto e agradável toque de baunilha e especiarias, algo como pimentão.

Na boca é sedoso, elegante, de corpo leve para médio, fácil de degustar, mas complexo, ao mesmo tempo, com a presença marcante das frutas vermelhas e especiarias, com o toque da madeira na medida ideal privilegiando as características da cepa. O produtor não informa o tempo de passagem por barrica de carvalho, mas acredito que tenha em torno de 4 a 6 meses de passagem por madeira. Tem taninos domados e acidez correta, na medida e um final frutado e levemente amadeirado.

Um vinho moderno, com uma nova cara, sem virar as costas para a essência dos vinhos franceses. É assim que defino o Roche Mazet Cabernet Sauvignon. Termos como elegância, equilíbrio e harmonia sintetizam esse vinho, aliada a personalidade marcante típica da Cabernet Sauvignon. Maciez, elegância e personalidade, se entrelaçam em uma sinergia maravilhosa que se traduz nesse belíssimo Cabernet Sauvignon. Notas de frutas trazem o frescor e a descontração e a passagem por madeira te convida para viajar em uma grata complexidade deste vinho que expressa o que há de melhor no Languedoc-Roussillon. A propósito o nome “Roche Mazet” é uma homenagem às características e a tipicidade da região: “Roche” é a palavra francesa para “rocha” em referência aos solos calcários argilosos da região de Pays d'Oc. “Mazet” é um abrigo de pedra para agricultores, viticultores e criadores, simbolizando uma pessoa no meio das vinhas. O vinho tem 12,5% de teor alcoólico.


Sobre a Roche Mazet:

Fundada em 1998 dentro da Société des Vins de France, a única ambição da Roche Mazet é comercializar um vinho Pays d'Oc bem feito e acessível. A marca foi lançada em 1998 com uma pequena gama de duas variedades: Cabernet Sauvignon e Sauvignon. A gama cresceu, acrescentando novas castas e diferentes formatos. Hoje, a Roche Mazet oferece 7 variedades de vinhos tranquilos e 3 espumantes.

Sobre a Maison Castel:

O Grupo Castel, que é proprietário da vinícola Roche Mazet, foi fundado no ano de 1949 pela família que sempre teve o objetivo de satisfazer os seus clientes e consumidores, oferecendo qualidade a preços bons. Com entusiasmo, paixão, vontade e pragmatismo, a propriedade desde o início aprecia os valores histórico, geográfico e cultural que estão relacionados ao vinho. Com algumas dezenas de hectares repletos de vinhedos de castas autóctones, como Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, a vinícola sempre escolheu o caminho da aliança entre a tradição e a modernidade. Atualmente o Grupo Castel é um dos mais importantes produtores de vinhos franceses e exporta seus exemplares para diversos países de todo o mundo.

Mais informações acesse:



Fontes de pesquisa sobre a região do Languedoc-Roussillon e IGP (Indication Géographique Protégée):






sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Baía dos Golfinhos branco 2019


Que os vinhos da região de Setúbal já fazem parte da minha simples vida de enófilo e, claro, do meu paladar, eu não tenho mais dúvidas. Eu não degustei muitos vinhos dessa estimada região lusitana, mas os poucos que degustei até o momento, fez com que eu me apaixonasse plenamente por essa região a ponto de ter pelo menos um rótulo da Península de Setúbal em minha humilde adega. E por não ter degustado tantos vinhos dessa região ainda, tenho tido algumas novas experiências muito agradáveis e dessa vez não foi diferente. Hoje será a minha primeira degustação de um vinho branco de Setúbal. Mas não se enganem pois apesar do vinho ser da Península de Setúbal este se mostra com a cara do Brasil, oriundo de regiões tropicais que traz as similaridades dos recursos naturais do Brasil e, claro que essas características refletem decisivamente na proposta do vinho: leve, fresco, despretensioso e muito saboroso e melhor: um custo baixo, um valor muito atrativo.

O vinho que degustei e gostei veio como disse, da Península de Setúbal e se chama Baía dos Golfinhos, da tradicional Casa Ermelinda Freitas, com o tradicional corte das castas Fernão Pires (85%) e Arinto (15%), da jovem safra de 2019. Antes eu havia dito das similaridades da região a qual o vinho foi produzido com a natureza tropical do Brasil. Falarei da Baía dos Golfinhos.

Baía de Golfinhos, Setúbal

A área envolvente à Baía de Setúbal é conhecida pela variedade e qualidade das suas áreas vínicas. A Península de Setúbal é rodeada pelo oceano Atlântico e pelos rios Tejo e Sado. A região, situada a sul de Lisboa, é essencialmente marcada pelo turismo e pelas grandes explorações vitícolas. Desde as grandes explorações dominadas pela casta Castelão até ao Moscatel, um dos vinhos generosos nacionais, esta região sempre teve um lugar cimeiro na história dos vinhos portugueses. A Baía de Setúbal é o centro geográfico de um ecossistema rico e variado. Este é o local onde reside permanentemente uma comunidade de cerca de 30 golfinhos (uma das 3 comunidades permanentes de golfinhos na Europa), mas a baía abraça também, a cidade de Setúbal, a península de Tróia, o Parque Natural da Arrábida e ainda a Reserva Natural do Estuário do Sado. O Parque Natural da Arrábida ocupa uma superfície de 17 mil hectares, dos quais 5 mil hectares pertencem ao Parque Marinho Prof. Luiz Saldanha, oferecendo assim uma miríade de cenários ideais para os seus momentos de lazer. A Reserva Natural do Estuário do Sado é uma fonte riquíssima de património natural, cultural e o local ideal para atividades de lazer. Entre a observação de aves e golfinhos, não pode perder uma visita aos marcos arqueológicos do neolítico, dos fenícios e dos romanos. As águas calmas da Baía dos Golfinhos e áreas envolventes proporcionam o cenário ideal para todo o tipo de atividades náuticas, que vão desde o mergulho, canoagem, vela, até ao kite surfing. É como essa exuberância natural que o vinho Baía dos Golfinhos foi concebido.

Baía dos Golfinhos, Setúbal

E agora finalmente falemos do vinho!

Na taça tem um lindo amarelo palha com reflexos esverdeados já tendendo para ao dourado, muito brilhante e se observa também que o vinho é gaseificado, com pequenos gases, “bolinhas” que já denuncia o caráter fresco do vinho.

No nariz explode uma explosão de frutas brancas, cítricas, como pêssegos, maracujá, pera, maça verde e que, ao girar a taça, irrompe sem perdão nas narinas. Sem falar das notas florais, flores brancas.

Na boca é fresco, jovem, elegante, com um bom volume de boca, preenche a boca, mostrando personalidade, com uma acidez vivaz e equilibrada e um toque mentolado e adocicado, diria, mas sem ser enjoativo. Sem falar da explosão frutada que é o destaque deste vinho. Com um final de média persistência.

Mais uma vez o terroir fala mais alto em Portugal. Um branco estupendo! Essa é a palavra que define bem o Baía dos Golfinhos. Frutas, notas florais, frescor, jovialidade, características essas que permeiam a estrutura natural de onde veio. Como costumamos dizer, diria de forma eloquente: cultura e tipicidade dentro de uma garrafa. Assim é o Baía de Golfinhos branco. Um vinho que harmoniza muito bem com carnes brancas, comidas de entrada, frios, queijos leves ou, diante de sua nobre simplicidade pode ser degustado sozinho. Um senhor vinho que me surpreendeu positivamente, me arrebatou pelo seu custo X beneficio insuperável. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Ermelinda Freitas:

A empresa, iniciada em 1920 por Deonilde Freitas, continuada por Germana Freitas e mais tarde por Ermelinda Freitas, sempre dedicou especial atenção ao vinho. Pelo desaparecimento precoce do seu marido, Manuel João de Freitas, Ermelinda deu continuidade à empresa com colaboração da sua filha única, Leonor, que embora com formação fora da área vitivinícola, tomou a liderança da empresa reforçando assim a presença feminina na sua gestão. Desde a primeira geração que esta casa aposta na qualidade das vinhas e dos vinhos, que inicialmente eram produzidos e vendidos a granel sem marca própria. Foi com a atual gestão que se deu a grande mudança de se  criar marcas próprias. Assim, em 1997, iniciou-se um novo ciclo com o “Terras do Pó” tinto, primeiro vinho produzido e engarrafado da Casa Ermelinda Freitas. elo trabalho desenvolvido, Leonor Freitas foi agraciada a 10 de Junho de 2009 com a comenda de Ordem do Mérito Agrícola, Comercial e Industrial Classe do Mérito Agrícola Comendador por Sua Excelência o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.

As vinhas

Herdando 60 ha de vinhas de apenas duas castas: Castelão e Fernão Pires, situadas em Fernando Pó na região de Palmela, Leonor Freitas com o seu espírito inovador e diferenciador introduziu uma diversidade de castas como a Trincadeira, Touriga Nacional, Aragonês, Syrah, Alicante Bouschet, entre outras. Sendo a Casa Ermelinda Freitas proprietária neste momento de 440 hectares de vinha, onde 60% são de Castelão, 30% de variedades tintas como Touriga Nacional, Trincadeira, Syrah, Aragonês, Alicante Bouschet, Touriga Franca, Merlot and Petit Verdot, e 10% de uvas brancas como Fernão Pires, Chardonnay, Arinto, Verdelho, Sauvignon Blanc e Moscatel de Setúbal. Dada a localização privilegiada da exploração, nela são produzidos alguns dos melhores vinhos da região.

Mais informações acesse:


Fonte de pesquisa sobre a Baía dos Golfinhos

Site “Baía dos Golfinhos”: http://abaiadosgolfinhos.pt/

domingo, 6 de setembro de 2020

Rebgarten Riesling 2018


Sempre tive a impressão de que os vinhos alemães estavam distantes de mim, ou seja, nunca tive a expectativa de degustar os vinhos germânicos. Confesso não saber exatamente o motivo: talvez pela baixa oferta de rótulos disponíveis no mercado brasileiro ou ainda pelo fato dos poucos vinhos disponíveis por aqui serem de um custo demasiadamente alto. Sempre li ou ouvi dizer que os Rieslings alemães eram os melhores e de que todo bom enófilo deveria, ao menos uma vez na vida, degustar um Riesling alemão. Ao longo dos anos alimentei esse sonho para mim: degustar um Riesling alemão, eu precisava ter essa oportunidade em minha vida e, cada vez que eu lia e conhecia um pouco sobre a história da vitivinicultura alemã e as características marcantes do Riesling eu nutria essa necessidade de degustar, ao menos um rótulo dessa casta, desse país. Foi quando meu grande amigo Paulo me diz que ganhara um Riesling alemão e me convidou para degusta-lo junto com ele a referia garrafa, fiquei animado, primeiramente, é claro, com o nosso reencontro e também em degustar o tão esperado Riesling alemão.

O vinho que degustei e gostei veio da região de Mosel, Alemanha e se chama Rebgarten da casta Riesling (100%), da safra 2018. Pronto! O momento chegou, o vinho estava diante de mim! O tão desejado Riesling alemão iria povoar a minha taça! Tudo me parecia, é de fato era tão novo! País, castas, regiões vinícolas, tudo era novidade. E como tal, precisamos contar um pouco a história de tudo e todos. Comecemos então pela região de Mosel, depois falemos sobre as definições dos vinhos alemães que sempre me pareceu algo distante.

Mosel, a terra do Riesling

Os rios Mosela, Sarre e Ruwer deslizam por curvas estreitas e tortuosas através de um território no qual os celtas e os romanos já cultivavam vinho 2.000 anos atrás. A região do Mosela, que leva a denominação alemã Mosel, é a mais antiga região vinícola da Alemanha e a maior região de cultivo de vinho em encostas. As encostas e terraços voltados para o sul ou sudoeste proporcionam um microclima excelente para as uvas, como também para plantas e animais raros. Por isso, os vinhos minerais e elegantes do Riesling das encostas, produzidos na região do Mosela, Sarre e Ruwer, estão entre os melhores vinhos brancos do mundo. 

Mosel

Com 8.800 hectares de vinhedos, Mosel é a quinta maior região vinícola da Alemanha. A uva Riesling é a número 1 nas encostas de vinhedos: 5.273 hectares (60%) estão cultivados com a rainha das uvas brancas. Uma especialidade da região Mosel é a antiga casta Elbling, que só é cultivada em maiores quantidades na região do Alto Mosela (Obermosel). Outras variedades importantes de vinho branco são Müller-Thurgau, também chamada de Rivaner, além da Weißer e Grauer Burgunder. 90% de todos os vinhos são brancos, as castas de tintos, como Blauer Spätburgunder, Dornfelder, Regent e outras, ocupam apenas 10% do território cultivado. Os atuais vinhedos estão sobre terrenos que antes ficavam no fundo do mar, em praias ou áreas de maré: sedimentos de oceanos pré-históricos tornaram-se montanhas e sofreram erosão ao longo de milhões de anos. As encostas do Sarre do Ruwer e do Médio Mosela são compostas de ardósia devoniana com mais de 400 milhões de anos. No Baixo Mosela, entre Zell e Kobelnz, há arenito de quatzito e cal com ardósia. O Alto Mosela pertence à Bacia Parisiense. Ali as videiras estão sobre rochas de dolomita, com solos de coquina, Keuper e marga. Uma especialidade é a chamada "Rotliegend" em Ürzig/Médio Mosela, uma rocha vermelha de origem vulcânica. O Mosela e seus afluentes causaram uma profunda erosão nas montanhas conhecidas Rheinische Schiefergebirge, criando com isso as condições geológicas e climáticas necessárias para a vinicultura. Devido à localização protegida dos vales, a região é uma das zonas climáticas mais quentes da Alemanha, e o acúmulo de calor dos rios impede geadas. Invernos pouco rigorosos e verões amenos são comuns. A temperatura média anual fica entre 9,1 e 10,5 graus Celsius, a quantidade anual de chuvas tem uma média de 800 mm. A duração média de luz do sol por ano é de 1.370 Stunden.

Nomenclatura e definições dos vinhos alemães

O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade, tipo e estilo do vinho. Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e outros que são apenas opcionais. O vinho alemão passa por um rigoroso teste de controle de qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de Agricultura (DLG). Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de qualidade. Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e qualidade das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de qualidade podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por também conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas autorizadas, entre outros.


Deutscher Wein

São os vinhos mais simples de todas as categorias. Os vinhos podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de todo o território alemão.

Landwein

Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.

Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA)

É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:

Trocken: vinho seco.

Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.

Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes ao Halbtrocken.

Liebliche: vinho doce.

Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.

Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein

As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de colheita:

Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras. Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.

Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.

Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no paladar. A doçura no paladar não é uma regra.

Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta concentração.

Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.
Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.

E agora o vinho!

Na taça o vinho apresenta um amarelo palha com reflexos esverdeados, muito brilhantes e de aspecto límpido.

No nariz é muito delicado, com aromas de frutas brancas e tropicais como pera, maça verde, abacaxi, com notas florais.

Na boca traz um discreto e agradável toque adocicado, sem soar enjoativo, lembra mel, sendo frutado, com uma bela acidez, alguma cremosidade e um final mineral bem persistente.

Um belo Riesling alemão, um Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA), da região de Mosel que é digno de reverências. Pronto! Graças a esse belo Riesling aprendi um pouco sobre o vinho alemão e suas definições de qualidade. Mas melhor do que isso, foi degustar esse vinho fresco, leve, graças a sua bela acidez. Um vinho maiúsculo, saboroso e que vai ficar na minha história. Ah ela vai continuar a ser escrita pois em minha adega já tem outro rótulo alemão da casta Riesling, o que já é outra história que em breve será escrita. Tem 10,5% de teor alcoólico.

Sobre a Moselland eG:

Dificuldades econômicas como uma história de sucesso

Às vezes, é a necessidade que torna as pessoas criativas e, portanto, se torna a base de uma história de sucesso específica. Foram as dificuldades econômicas que levaram os viticultores de Moselle há mais de cem anos, inicialmente em associações menores e depois em cooperativas de viticultores.

Associação de cooperativas regionais

Em 1968, as cooperativas de viticultores regionais de Ernst e Wehlen e a vinícola principal de Koblenz se fundiram para se comprometerem conjuntamente com vinhos e vinicultores regionais no futuro e para combinar suas próprias tradições com as inovações necessárias. Em 1969, o Saar Winzerverein de Wiltingen seguiu a fusão e o Moselland eG foi criado, com sede em Bernkastel-Kues - uma garantia de alta qualidade consistente por décadas. Motivo suficiente para muitos vinicultores do Nahe aderirem ao conceito de sucesso em 2000.

Colaborações voltadas para o futuro

Desde 2004, Moselland eG tem cooperado com a cooperativa vinícola de Nierstein (Rheinhessen) e a cooperativa vinícola regional de Rietburg. Este último resultou na fusão com a cooperativa Palatinate em 2011.

Mais informações acesse:


Fontes de pesquisa: