quinta-feira, 25 de março de 2021

Delicato Zinfandel 2013

 

Sabe quando você olha vinhos de determinadas regiões ou castas e percebe ou chega a triste conclusão de que nunca irá degustar? Pois é, foi assim que eu sempre encarei os vinhos da emblemática região da Califórnia nos Estados Unidos. Quando tive os primeiros contatos, lendo sobre os vinhos californianos, primeiramente me surpreendeu. Sempre tive a percepção de que os grandes vinhos repousassem em terras europeias, tais como França, Espanha, Portugal, Itália etc. Uma visão pré-concebida caiu, afinal Estados Unidos tem sim grandes e tradicionais regiões produtoras de vinhos.

Mas com a descoberta surgiu uma desilusão: percebi quer nunca iria degustar um grande rótulo californiano! Os preços disponíveis no mercado eram astronômicos! Há pouco mais de 10 anos não eram muitos rótulos disponíveis, é bem verdade, logo deduzi que os valores altos eram, também, por conta desse panorama, além dos altos tributos impostos nos vinhos em terras brasileiras, mas atualmente, os valores continuam demasiadamente altos e arrisco dizer que mais alto do que há pouco mais de 10 anos atrás! Então a desilusão bateu de forma implacável! Conheço a região, um pouco das suas histórias, mas não terei acesso aos seus rótulos.

Porém sempre procurei um vinho que pudesse ter um ótimo custo X benefício, nunca desisti de procurar, apesar de não alimentar maiores expectativas acerca desse momento. Em mais uma de minhas incursões aos supermercados, como sempre, acabei encontrando um rótulo que me interessou pelo seu curioso nome, mas que, a priori, não sabia de que região era, país ou coisa parecida. Mas quando vi estampado no rótulo a sua casta, logo percebi que se tratava de um vinho norte americano: a Zinfandel. A casta mais emblemática e importante daquele país. Vi também que era californiano. Então me pus a procurar, com certa ansiedade, pois estava difícil de encontrar, mal sinalizado, e quando avistei o preço estava bastante convidativo, pelo menos à época, em torno dos R$ 45,00!

Mas diante da alta média dos valores que via R$ 45,00 era demasiadamente baixo e, confesso que fiquei um tanto quanto receoso quanto a qualidade, mais um preconceito de minha parte, afinal, valor não determina qualidade, mas decidi compra-lo mesmo assim. E decidi degusta-lo o quanto antes, tamanha era a animação de degustar um californiano. A rolha finalmente se desprendeu da sua garrafa, o momento ritualístico foi seguido, a taça foi finalmente inundada pelo Zinfandel e o vinho era maravilhoso! Incrivelmente bom, com excelente drincabilidade! O vinho que degustei e gostei veio da Califórnia, nos Estados Unidos, e se chama Delicato, da casta popular Zinfandel, safra 2013. Não posso, diante desse momento deixar de falar da Califórnia e dos seus grandes rebentos viníferos.

Califórnia, a tradicional região do Novo Mundo

A produção vinícola na Califórnia teve inicio há mais de 240 anos, com as missões da corte espanhola que tinha como objetivo a ocupação territorial. As missões eram formadas por uma capela, um anexo e os vinhedos para produção do vinho da missa. Vinte e uma missões foram fundadas entre San Diego, no sul, e Sonoma, no norte, durante os 60 anos seguintes, originando os nomes de diversas cidades da Califórnia: Santa Bárbara, Santa Lucia, San José, Santa Cruz. Com o tempo muitas missões tornaram-se ruínas, mas a costa californiana tinha sido transformada em um jardim de videiras. Com a chamada Corrida do Ouro, na segunda metade do século XIX, a costa oeste dos Estados Unidos teve um grande crescimento populacional e a demanda por vinho acompanhou esse crescimento. Consequentemente, a área para o plantio e cultivo das uvas aumentou exponencialmente, assim como os investimentos nos vinhedos, fazendo com que a produção de vinhos se estabelecesse definitivamente na região. Em 1870, as principais vinícolas da Califórnia hoje conhecidas mundialmente, já existiam, produzindo vinhos de qualidade.

Depois dos três países mais tradicionais na vitivinicultura internacional, França, Itália e Espanha, a Califórnia é o maior produtor de vinho no mundo, isto é, a quarta potência no que se refere ao cultivo, produção e comercialização da bebida em todo o planeta. Os números são impressionantes: o ensolarado estado da costa oeste norte-americana é responsável por mais de 90% da produção vinícola dos Estados Unidos, e, todo o ano, recebe a visita de cerca de 20 milhões de pessoas em suas principais regiões produtoras, que além de tudo oferecem ótimas alternativas de turismo para os apreciadores do vinho.

Mas nem sempre foi assim. Por volta de 1890, a praga conhecida como Phylloxera Vastatrix, que devastou grande parte dos vinhedos ao redor do mundo, chegou à Califórnia, e freou a indústria vinícola na região. Em 1920 veio a Lei Seca que proibiu as bebidas alcoólicas e interrompeu mais uma vez o processo de crescimento da produção de vinhos e o valor patrimonial das vinícolas pioneiras desabaram. A produção só foi retomada lentamente após a sua abolição, em 1933, com novos empreendedores surgindo e iniciando a uma nova fase da vitivinicultura californiana. Entretanto, só na década de 60 é que os exigentes consumidores de Los Angeles, San Francisco e outras cidades californianas começaram a buscar uma fonte local de vinhos finos, dando um verdadeiro impulso à essa indústria.

Napa Valley e Sonoma Valley são as duas principais regiões de produção vinícola na Califórnia, somente nelas existem mais de 800 vinícolas. A região da Napa concentra o maior numero de vinícola no mundo, e produz vinhos de categoria elevada; a região de Sonoma, por sua vez, é conhecida por fornecer uvas de grande qualidade para a produção de vinhos em outras regiões. Mendocino, Monterey, Paso Robles, Russian River Valley, Dry Creek Valley, Alexander Valley também são regiões vitivinicultoras bastante conhecidas na Califórnia.

Califórnia

O clima na Califórnia pode ser classificado como tipicamente mediterrâneo com dias ensolarados e noites frescas, mas grande parte dessas regiões tem seu micro clima específico, o que facilita o cultivo de uvas ou produção de tipo de vinhos também de forma muito específica e particular; cada região acaba se especializando em uma determinada variedade de uva ou vinho por causa disso. A região de Santa Barabara, por exemplo, é conhecida por suas tintas Pinot Noit e Syrah, apesar de cultivar a branca Chardonnay de forma bem sucedida. Uma das características que fazem da Califórnia um respeitado polo da vitivinicultura no mundo, é a sua grande variedade de uvas e vinhos. Há cerca de cem variedades de uvas plantadas no estado, cada uma com aroma e sabor próprios, que, associados ao tipo de clima e solo onde são cultivadas, produzem vinhos de ótima qualidade. As principais variedades cultivadas nas suas regiões vinícolas são: Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Merlot, Pinot noir, Sauvignon blanc, Syrah e Zinfandel (típica da Califórnia). Os vinhos californianos, por sua vez, variam de características e preço, podendo de ir de sabor simples e frutado a intenso e concentrado, mas sempre com qualidade elevada.

E agora falemos do vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com reflexos violáceos muito brilhantes, límpidos, com uma razoável abundância de formação de lágrimas finas.

No nariz as frutas negras é a tônica, uma verdadeira explosão aromática, as frutas vermelhas também se fazem evidentes, com notas florais agradáveis, de especiarias picantes e destacados toques de chocolate, de baunilha, graças a sua passagem por barricas de carvalho, cujo tempo não foi informado pelo produtor.

Na boca é seco, aveludado e elegante, apesar de mostrar uma boa estrutura, com um ótimo volume de boca, corroborando a sua personalidade. Tem taninos macios, mas presentes, um toque amadeirado, com a presença de um discreto toque de torrefação, uma acidez equilibrada e correta, com um final persistente e retrogosto frutado.

Foi um momento de felicidade! Há quem diga que não somos felizes e que temos “surtos” ou momentos de alegria. Não quero agora entrar em pormenores quanto a essa frase, mas naquelas horas em que degustei o Delicato foi especial! Me senti feliz, alegre naquelas horas. Um vinho de ótimo custo X benefício que me mostrou que degustar um bom californiano, um bom Zinfandel, não precisa sacrificar o seu curto orçamento com valores tão altos. Um vinho versátil, saboroso, redondo, muito equilibrado, mas de marcante personalidade e ótima vocação gastronômica. Esse foi o californiano Delicato! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Delicato Family Wines:

Delicato Family Wines é uma das empresas de vinho de crescimento mais rápido nos Estados Unidos e uma vinícola familiar com quase um século de história de cultivo de uvas na Califórnia e de elaboração de vinhos de qualidade superior. Ancorada por um foco de longo prazo, a família Indelicato infundiu sua cultura de integridade, trabalho árduo e altos padrões na estrutura da empresa de vinhos dinâmica que construíram.  Três gerações da família Indelicato conduziram a vinícola à posição que ocupa hoje, começando com Gaspare Indelicato. Emigrante da Sicília, Itália, Gaspare Indelicato plantou o primeiro vinhedo Delicato em Manteca, Califórnia, em 1924 - uma área que o lembrava de sua terra natal. Com os três filhos fundou uma adega, construindo uma sólida reputação na produção de vinhos de qualidade.

Hoje, a 3ª geração da família está envolvida na produção de vinho. Hoje, os vinhedos cobrem 100 hectares de videiras em Napa, Lodi, Monterey e Sonoma, Califórnia. Muitos vinhos brancos e tintos são produzidos sob o rótulo Delicato - Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Pinot Grigio, Shiraz, White Zinfandel e Merlot, que atendem à demanda dos consumidores por vinhos agradáveis ​​e modernos adequados para qualquer ocasião.

Mais informações acesse:

https://www.delicato.com/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/california-o-paraiso-dos-vinhos-no-novo-mundo/#:~:text=Hist%C3%B3ria,serem%20utilizados%20em%20seus%20ritos.

“Buono Vino”: https://buonovino.com/historia-do-vinho/vinhos-californianos-o-coracao-da-viticultura-norteamericana/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CALIFORNIA

Degustado em: 2017

 

 





sábado, 20 de março de 2021

Carte Noire Malbec e Merlot 2013

 

A Malbec é da Argentina! É inegável! Podem parar! Engana-se quem pensa isso! Claro que os grandes rótulos dessa importante cepa são argentinos, atualmente são os melhores e maiores produtores de vinhos da casta Malbec do mundo. E já vem de algum tempo, diga-se de passagem. Mas a França tem a paternidade da Malbec e guarda, em suas terras, histórias emblemáticas que envolvem os extremos de momentos de glória e tragédia, tendo a própria Argentina exercendo um protagonismo no caminho da Malbec que culminou com o sucesso dos dias contemporâneos. Porém, admito que, em um passado razoavelmente distante, eu também desconhecia essa história e atribuía, diante ápice da minha insegurança, que a Malbec era dos hermanos.

A Malbec tem as suas origens em uma região chamada Cahors, no sudoeste francês e que fica muito próximo a mais conhecida das regiões vitivinícolas daquele país, Bourdeaux. Não me recordo quando descobri que a casta pertencia a região francesa de Cahors, sequer conhecia a existência desse local na França. Provavelmente foi uma descoberta de forma mais despretensiosa do mundo, garimpando outras informações. Quando descobri foi muito relevante, levando em consideração a importância que a história do vinho tem para mim e me pus a ler, a descobrir rótulos disponíveis para venda aqui no Brasil.

Depois da intensa leitura sobre Cahors, decidi buscar vinhos da casta Malbec dessa região, como um bom enófilo ávido por novidades e experiências sensoriais agradáveis comecei a procurar e percebi que a oferta não é muito grande e os poucos rótulos disponíveis são muito caros para a minha realidade econômica. Pensei, um tanto quanto frustrado: Jamais terei a alegria, o prazer de degustar um Malbec de Cahors! Parecia muito distante das minhas possibilidades. Após essa triste constatação decidi esquecer e não procurar mais rótulos e tão pouco ler sobre a região francesa de Cahors. Queria abstrair de minha mente.

Porém a vida parece lhe conceder oportunidades e navegando o site de uma conhecida loja virtual de venda de vinhos, mais uma vez despretensiosamente, procurando vinhos aleatoriamente, eis que, diante de meus olhos que, incrédulos, testemunhou um vinho da região de Cahors, um corte de Malbec e Merlot, a um preço extremamente competitivo, atraente, em comparação aos valores que tinha pesquisado quando havia conhecido a região francesa. Na realidade foi um misto de animação e receio: como um vinho dessa região custar tão pouco em comparação com os outros vinhos da região disponíveis para venda no Brasil? Muita coisa passou pela minha cabeça, as perguntas ecoavam de forma insistente, mas necessária: seria bom esse vinho? Por que é tão barato? Fiz como sempre algumas pesquisas sobre o rótulo, não tinham muitas referências sobre o mesmo, além do próprio site da loja virtual e, diante da situação que se descortinava diante dos meus olhos, resolvi arriscar e comprar o vinho que estava na faixa dos R$ 49,90!

Decidi, quando da chegada do vinho, não levar muito tempo para degusta-lo até porque a safra do mesmo é ano de 2013, com 8 anos de vida! Outro fator admito, que me chamou atenção, o tempo de safra do vinho. Adoro esses vinhos evoluídos! Eis então que o momento tão esperado chegou! Estou radiante, inspirado, a começar pelas linhas que constroem essa resenha. Finalmente degustarei um vinho do berço da Malbec, Cahors. O ritual foi fielmente seguido para dar um ar de celebração ao momento tão especial. A rolha se desprende da garrafa e a bebida inunda a taça e...voilá! Inacreditável! Soberbo! Que vinho especial, quanta diferença, a Malbec em sua diferente percepção em relação a fama que adquiriu do outro lado do oceano, nas terras argentinas. O vinho que degustei e gostei veio da região de Cahors, na França e se chama Carte Noire, um AOC (Appellation d'origine contrôlée) que é o equivalente ao DOC (Denominação de Origem Controlada), com o corte das castas Malbec (80%) e Merlot (20%) da safra 2013. E como a história não pode faltar e foi com ela que cheguei a este rótula, vamos falar um pouco de Cahors.

Cahors, o berço da Malbec

De Cahors na França vem a famosa uva Malbec muito plantada na Argentina e hoje uva símbolo de lá.  Mas ela não é argentina. A uva Malbec é alóctone da Argentina e autóctone de Cahors. Sim Cahors é o seu verdadeiro berço, onde ela nasceu e recebeu o nome de Côt. Pelo que contam os registros de época, as primeiras plantações de Malbec, uva conhecida na região como “Côt” datam de 92 d.C. O vinho é frequentemente citado como o mais antigo da Europa e foi conhecido devido a sua cor intensa como o vinho “negro” de Cahors. Os vinhos de Cahors desde a idade média são longevos e escuros com forte personalidade. As plantações ocupam atualmente cerca de 4.300 hectares, sendo a produção máxima permitida de 50 hectolitros por hectare.

Na região, a uvas permitidas para vinhos tintos são a Côt (Malbec), a Tannat, a Cabernet Franc e a Gamay em Coteaux du Quercy. Cahors permanece com a marca da antiga Côt que se revela em personalidade forte insistente, arrojada e com expressão mais rústica, compensando em longevidade. Oferece assim, robustez, estrutura e boa guarda. A uva é liberada para os cortes de Bordeaux, mas pouco utilizada por lá, hoje em dia.A região de Cahors fica a cerca de 230 KM de Bordeaux no departamento de Lot, na região Sud-Est da França fazendo fronteira com o departamento da Dordogne.

Cahors

Cahors sofreu forte influência de seu poderoso vizinho, Bordeaux, em sua dramática história. O vinhedo foi criado pelos romanos e, durante a Idade Média, seu prestígio teve expressivo crescimento. O casamento de Eleanor de Aquitânia com Henrique II, rei da Inglaterra, abriu as portas do grande mercado consumidor inglês, antes dominado pelos vinhos de Bordeaux. No entanto, os poderosos produtores e comerciantes bordaleses, sentindo-se ameaçados, mobilizaram-se para pressionar Londres e conseguiram arrancar do rei da Inglaterra alguns privilégios exorbitantes, o que resultou num duro golpe para os produtores gascões. Além de sofrerem pesada taxação, os vinhos do sudoeste só podiam chegar à capital inglesa depois que toda a produção bordalesa estivesse vendida. Tal regra durou cinco séculos (foi interrompida apenas em três curtos períodos) e o vinho da região sentiu o golpe. Esta conduta só foi abolida em 1776, pelo liberal ministro de finanças de Luís XVI, Jacques Turgot, quando se iniciou um novo ciclo dourado dos fermentados de Cahors. Apesar da Revolução Francesa e das guerras do Império já no século XIX, 75% do vinho da região era exportado e um terço das terras agriculturáveis eram dedicadas à vinha, que cobria a impressionante área de 40 mil hectares. A região enfrentou bem a praga do oídio (de 1852 a 1860) e a superfície plantada subiu ainda mais, chegando a 58 mil ha. Para se ter uma ideia da queda que viria mais tarde, a área do vinhedo de Cahors hoje é de apenas 4.200 ha. Mas o território teve pior sorte ao enfrentar a filoxera no final do século XIX. Como se sabe, todos os vinhedos atacados no mundo tiveram de ser replantados, desta vez, de forma enxertada. Então, as vinhas de Malbec reagiram muito mal a esta nova situação, dando origem a fermentados medíocres, com qualidade muito abaixo da que tinha anteriormente. Apenas no final dos anos 1940, depois de muita pesquisa, chegou-se ao clone 587 da Malbec, que teve muito boa adaptação. Assim se retomou, então, sua marcha ascendente até chegarmos a 1971, quando Cahors é declarada região AOC (Appellation d'Origine Contrôlée, denominação de origem controlada).

As normas dessa denominação determina que o vinho deve ser composto de, pelo menos, 70% de Malbec, sendo o restante feito com a tânica Tannat e a macia Merlot. A Cabernet Sauvignon e a Cabernet Franc não são permitidas. O vinho é bastante escuro e encorpado, com boa fruta e mais austero e seco do que o Malbec argentino. Dependendo da sub-região, pode ser mais leve e para consumo mais precoce, ou mais estruturado e passível de longa guarda.

Malbec de Cahors X Malbec de Mendoza

E agora finalmente o vinho!

Na taça um lindo e envolvente vermelho rubi intenso, quase escuro, com alguns reflexos violáceos, além de lágrimas grossas e abundantes, desenhando as paredes do copo.

No nariz traz notas de frutas negras, tais como cereja e groselha negra, com algum toque terroso e de tabaco, couro revelando alguma rusticidade.

Na boca é seco, as frutas se fazem presentes, mas não em evidência, com alguma estrutura graças a Malbec, mas macio e fácil de degustar certamente pelo tempo de safra bem como o percentual da Merlot que o torna versátil. Apresenta taninos presentes e pronunciados, mas domados, com acidez média, percebendo também o couro com um final de média persistência.

Mais uma página da minha história de um simples enófilo foi escrita de forma singular. Degustar um vinho a base da casta Malbec de Cahors, o berço da Malbec, foi uma experiência sensorial relevante e especial. Uma página foi escrita, mas tenho a avidez, a necessidade de que novos capítulos sejam escritos e que venham novos rótulos da emblemática e tradicional Cahors para que possamos desbravá-la por intermédio de sua bebida, do líquido nobre e poético, que inspira, que nos traz o prazer sensorial que proporciona o mais puro e genuíno deleite. Carte Noire trouxe para mim uma nova percepção, uma nova personificação da Malbec que não conhecia, com a estrutura, as notas de frutas maduras, a rusticidade e a plenitude de um vinho que, mesmo com seus 8 anos de vida, se revelou pleno e vivo, como a história de sua região, que, embora não tenha a fama da Malbec argentina, onde ganhou um novo lar e uma nova concepção, mostra ainda que tradição e modernidade está, a cada dia, fazendo Cahors renascer e mostrar toda a sua força e importância, com vinhos de muita tipicidade. Tem 12% de teor alcoólico.


Sobre a Vinovalie:

A Vinovalie Les Vignerons foi criada em 2006 e é formada por quatro cooperativas de vinhos dentro da França: Vignerons Rabastens, Cave de Técou (Tarn), Cave de Fronton (Haute-Garonne) e Côtes D’Olt (Lot) e alguns Châteaux como o Les Bouysses. Cada etapa do processo de criação dos vinhos é baseada na paixão e no know-how complementares dos homens: viticultores, adegas e enólogos.

O consumidor está no centro das áreas de inovação. Cientes do papel a desempenhar, a vinícola está empenhada numa abordagem típica de I&D, desde o trabalho na vinha à distribuição dos vinhos.

Mais informações acesse:

https://www.vinovalie.com/

Referências de pesquisa:

Portal “Enoestilo”: https://www.enoestilo.com.br/cahors-o-berco-malbec-2000-anos-de-historia/ e https://www.enoestilo.com.br/mapas-vinho-dicas-regiao-de-cahors/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/cahors-outra-terra-da-malbec_439.html

 

 






quarta-feira, 17 de março de 2021

Estancia Mendoza Chardonnay 2017

 

Uma coisa é óbvia no universo dos vinhos: você precisa, deve seguir a sua intuição quando vai escolher um rótulo, seguir seu coração! É um leve, admitamos, para a vida em todos os seus aspectos. Claro que você deve se abastecer de todas as informações necessárias para “construir” as suas predileções, tais como: região produtora, proposta do vinho, casta etc. Tudo isso ajuda na sua construção sensorial. Mas há aqueles casos, digamos raro, em que você absorve, recebe dicas de outras pessoas ou aqueles famosos “reviews”, as resenhas de vinhos que explodem na grande rede, inclusive esta que você lê agora.

Pode se considerar um risco? Sim, e dos grandes! Mas como escolher um vinho é um risco constante e como somos enófilos e como tal, buscamos avidamente novas experiências, precisamos as vezes, assumir certos riscos para espantar de vez a temível zona de conforto que nos limita e muito. E o vinho que escrevo eu busquei a informação, as referências de onde menos se deveria esperar: desses famigerados aplicativos de vinhos, com aquelas médias, aquelas notas que faz de um vinho ser ou não cotado. Mas o que é isso? Um vinho ser ou não cotado por frias notas? Sim! E eu fiz parte disso por algum tempo, até me “libertar” disso para sempre!

Mas esse rótulo argentino admito, me chamou a atenção! Os comentários, sejam eles bem elaborados ou pobres de informação, enaltecia de forma surpreendente a sua qualidade X custo. Surpreendente pelo fato de ter visto esse vinho em um supermercado perto de minha casa por um valor arrebatador e atraente: R$ 22,90!

E claro o fator preço também exerce uma forte influência de compra! Diante dos elogiosos comentários, embora oriundos de aplicativos não muito confiáveis, precisava conferir e logo me pus pronto para ir ao supermercado para compra-lo. Não demorou muito para tê-lo em minhas mãos e na minha adega. E não demorou muito também para degusta-lo, a ansiedade salutar da degustação tomava conta dos meus pensamentos.

O dia tão esperado chegou enfim. A rolha escapou da garrafa e logo inundei de expectativa a minha taça e, diante de sua simplicidade, o vinho explodiu em qualidade. Era surpreendente o que o vinho entregou! Porém antes de entrar nos pormenores do vinho, nada mais apropriado, evidente, é apresenta-lo. O vinho que degustei e gostei veio da região emblemática de Mendoza, na Argentina, um Chardonnay, a rainha das uvas brancas, e se chama Estancia Mendoza Chardonnay da safra 2017.

Esse não foi o meu primeiro Chardonnay argentino, porém mais um que me chamou e muito a atenção. E quando tive o meu primeiro contato com um Chardonnay dos hermanos eu não sabia, jamais esperaria que a Argentina produzisse Chardonnays de tamanha qualidade e excelência, é a “síndrome de Malbec”, afinal a Argentina tem muito a oferecer na viticultura. E a Chardonnay é a segunda entre as tradicionais variedades brancas da Argentina. É muito apreciado pela sua capacidade de amadurecer bem e produzir uma vasta gama de vinhos, desde as bases para os espumantes aos corpulentos varietais fermentados em barricas de carvalho, passando por vinhos frescos e elegantes sem envelhecimento em carvalho. Seus descritores primários mais frequentes são frutas tropicais e maçãs. E Mendoza se destaca entre as regiões argentinas na produção de Chardonnay com cerca de incríveis 82% de produção desta cepa no país. Diante disso cheguei a óbvia conclusão de que temos muito a explorar na Argentina no que tange a rainha das uvas brancas.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha com discretos reflexos violáceos, de um brilho intenso e vívido.

No nariz explode um aroma frutado com destaque para frutas brancas e tropicais, tais como melão, abacaxi, maça verde bem como frutas cítricas que lhe conferiu um frescor e jovialidade incríveis, além de notais florais que contribuiu para essa percepção de frescura.

Na boca é seco, vivaz, descontraído, a fruta é percebida como no aspecto olfativo, com um surpreendente volume de boca, com uma baixa acidez, como é de costume da Chardonnay, mas que não afasta o frescor do vinho, com um final alegre, persistente e um retrogosto frutado.

Um vinho que está longe daquele Chardonnay chileno, por exemplo, que é mais encorpado, pesadão em alguns casos, sendo muito despretensioso, mas saboroso e diria com alguma personalidade. Aquele vinho que harmoniza com frituras e quitutes mais simples, uma refeição, carnes brancas leves ou simplesmente com um dia de calor, na beira da piscina ou simplesmente com uma informal conversa com bons amigos ou simplesmente sozinho em um simples dia que, com esse belo vinho, se torna em um especial dia de celebração e ode a nossa poesia líquida. A personalidade tem que ser parte integrante do enófilo na escolha do vinho, mas se permitir ouvir ou ler o que o outro tem a dizer sobre determinados vinhos também pode trazer boas e agradáveis surpresas e o Estancia Mendoza Chardonnay, no auge da sua simplicidade, entrega o que há de melhor do terroir de um dos países mais emblemáticos na produção de vinhos: a Argentina, sendo contundente prova de que não é apenas o país da Malbec. Teor alcoólico de 12,5%.

Sobre a Bodega Estancia Mendoza:

A Bodega Estância Mendoza é a divisão premium de um dos principais grupos de vinhos na Argentina, o grupo Fecovita. Estancia Mendoza S.A. é um estabelecimento vitivinícola localizado no Município de Tupungato, nas terras altas de Mendoza. Nesta região, conhecida como o Vale do Uco e reconhecida como uma das melhores vinhas do mundo é um local privilegiado para o cultivo de vinhas e a elaboração de vinhos de alta qualidade. Localizado a 1.100 metros acima do nível do mar, possui solos pedregosos de boa drenagem, onde as lavouras são rústicas devido ao verão rigoroso e invernos com muita neve, e recebem a irrigação do degelo mineralizado da grande cordilheira dos Andes.

Os dias quentes e as noites frias criam condições para que a amplitude térmica atinja os 20ºC num dia, o que combinado com a constante irradiação solar na primavera e verão austral, proporcionam as condições ideais para a obtenção de excelentes uvas, matriz indiscutível para um ótimo vinho. Com uma adega muito moderna a vinícola consegue produzir ótimos vinhos com um custo muito competitivo. A gama de vinhos possui cinco níveis: Bivarietais, Varietais, Roble, Reserva, Single Vineyard e a linha Los Helechos. A vinícola também possui experiências de enoturismo com um hotel de alto luxo localizado no meio dos vinhedos.

Mais informações acesse:

https://estanciamendoza.com.ar/pt/



Referências para pesquisa:

“Wines of Argentina”: https://www.winesofargentina.org/en/varieties/chardonnay


Degustado em: 2019




sábado, 13 de março de 2021

Cantine Castelvecchio Barbera D'Asti 2016

 

Ainda sigo o meu caminho, o meu garimpo pelas castas e regiões pouco conhecidas, pouco populares em terras brasileiras, afinal precisamos nos proporcionar novas experiências sensoriais e sair um pouco do óbvio, da temida e anestesiante zona de conforto daquelas castas muito famosas e conhecidas. E a minha degustação de hoje, apesar de nunca ter degustado essa casta na sua versão varietal, ela é extremamente popular e conhecida em seu país. Talvez seja uma confirmação de que ainda estou engatinhando em minha caminhada no universo do vinho ou porque esse universo é tão vasto e inexplorado ou talvez um seja consequência do outro.

O fato é que criar uma expectativa acerca de uma nova degustação, de uma cepa pouco corriqueira para mim é motivo de muita alegria e de uma uva extremamente popular e aceita em seu país de origem: Falo da emblemática Itália. Degusto vinhos da “Velha Bota” desde que me conheço por enófilo e sempre ouvi falar da casta Barbera, mas nunca a degustei em uma versão varietal. Infelizmente o mercado brasileiro ainda é incipiente em algumas ofertas de rótulos por aqui e é inconcebível, pelo menos para mim, não ter opções da Barbera em nossos pontos de venda e os poucos que tem, são oferecidos a altíssimos valores pelo fato, além do custo Brasil e impostos altos, da escassez de opções.

Mas o estímulo ao garimpo dessas castas pouco usuais em terras “brasilis” confesso ser grande e as nossas sensações, mais do que evidentes, sensoriais, claro, é que agradecem”. Lembro-me ter feito a aquisição de meu rótulo em uma despretensiosa ida ao supermercado. A avistei, com um olhar clínico e interessado, jogado em uma gôndola praticamente no chão sem nenhum destaque, mas achei, por se tratar de um rótulo cuja casta não é popular por aqui, o valor bem atrativo, em torno de R$ 40,00!

Então sem mais delongas apresento o vinho que degustei e gostei da tradicional e excepcional região italiana no Piemonte, da comuna de Asti, o Cantine Castelvecchio da casta Barbera da safra 2016, um DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida). E, diante desse dia especial de degustação, celebremos também com um pouco de história da região do Piemonte, sua comuna conhecida, Asti, que carrega seu nome nos rótulos dos vinhos produzidos com a casta Barbera e um pouco da história da história desta casta tão importante para a cultura vinícola da Itália. 

Piemonte, a filha pródiga dos vinhos italianos

Piemonte disputa com Toscana a primazia de produzir os melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da Itália, fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início à produção de vinhos. Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do norte da Europa. A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou ao clarete, que era a moda na Europa de então. Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha. plantada de vinhedos.


Piemonte

Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram cerca de 26% de terras planas. Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara, dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos aluviais. O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo, vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália), Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas francesas, como a Cabernet Sauvignon. As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG (Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D' Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di Origine Controllata) e vários Vini da Tavola de boa qualidade.

Barbera, o “vinho do povo”.

Uma das maiores uvas italianas, ficando atrás apenas da Sangiovese, a uva Barbera, conhecida anteriormente por produzir vinhos de menor qualidade, hoje é responsável por vinhos nobres e notáveis. Esta casta passou, pelos últimos anos, uma verdadeira história de superação. Trata-se da uva que é responsável pelo vinho que os piemonteses consomem no dia a dia, daí o nome que foi concedido pelas pessoas da região: “o vinho do povo”.

Acredita-se que a uva Barbera tem origem nas montanhas de Monferrato, na região central de Piemonte, na Itália. Alguns documentos, datados entre 1246 e 1277, encontrados na Catedral da Casale Monferrato, detalham acordos relacionados a vinhedos plantados com “de bonis vitibus barbexinis”, a uva Barbera. Contudo, um ampelógrafo chamado Pierre Viala especula que ela se originou em Oltrepò Pavese, na região da Lombardia. Nos séculos 19 e 20, ondas de imigrantes italianos trouxeram esta cepa para a Califórnia, Argentina e outros lugares nas Américas. Em 1985, um evento trágico relacionado à uva Barbera envolveu produtores adicionando ilegalmente metanol aos vinhos. Esta ação causou declínio no plantio e vendas da uva. Isto levou a Montepulciano tomar o posto da uva Barbera no meio da década de 90. Anteriormente considerada uva de vinhos inferiores, até o escândalo de Relações Públicas nas décadas de 80 e 90, a uva Barbera tomou um rumo de superação muito interessante.

Frutado, ele tem gosto de cerejas, morangos e framboesas. Quando jovem, o vinho Barbera pode ter aroma de mirtilos também. Com pouco tanino e alta acidez natural, a uva Barbera é uma boa pedida para harmonizar vinhos com alimentos ricos e reconfortantes, como queijos, carnes e cogumelos. Além de Piemonte, a uva Barbera é cultivada em outras regiões da Itália, como Campania, Emilia-Romagna, Puglia, Sardenha e Sicília, somando 52.600 acres de plantação. O vinho Pomorosso 2008, do produtor Coppo, é famoso por transformar a Barbera em uma casta nobre - elegante, também é reconhecido como um dos melhores tintos italianos. Fora do país, a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos e até mesmo o Brasil são outros produtores conhecidos de vinhos de qualidade com a Barbera. Em regiões quentes, como a Califórnia, nos EUA, destacam-se toques de ameixa, além do sabor frutado de cereja.

Barbera e o Cantine Castelvecchio 

E agora finalmente falemos do vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, porém com brilhosos e reluzentes entornos violáceos, diria em tons granadas. Lágrimas finas, abundantes e que desenham lindamente as paredes do copo.

No nariz explode em complexidade aromática, as frutas em evidência, frutas vermelhas maduras, trazendo cereja e groselha na lembrança, com sutis notas de baunilha.

Na boca é seco, estruturado, forte, mas harmônico e equilibrado, certamente pelo tempo de safra, com taninos pronunciados, mas domados com uma vibrante acidez que remete algum frescor, com discreto amadeirado, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho. Final persistente e de retrogosto frutado.

Um vinho que expressa definitivamente e com dignidade as essências do Piemonte, enaltecendo o que há de melhor naquelas terras, da cultura do seu povo e do saber fazer no que tange aos seus rótulos, dos mais simples aos mais complexos. O Cantine Caltelvecchio traz à tona todas essas características, com muita tipicidade revelando, em todas as suas nuances, o que há de melhor do Piemonte, da Itália. Um vinho encorpado, de personalidade marcante e complexidade aromática é mesclado às características do aporte pela passagem pela barrica de carvalho, deixando-o também mais macio, mais equilibrado, portanto também um vinho versátil e fácil de degustar, tendo uma vocação gastronômica muito grande, como todo vinho italiano. Um prazer grande degustar, pela primeira vez, um varietal da casta mais popular da Itália, a Barbera. Teor alcoólico de 13%.

Sobre a Cantine Manfredi:

O vinho é uma paixão para a família Manfredi há mais de cem anos. Tudo começou Nicolao Manfredi no início do século XX. Porém, foi como filho Giuseppe, conhecido como Pin, que, no final da década de 30 do século passado, a tradição familiar dos enólogos se transforma em atividade, quando o amor pela terra do Langhe o convence de que esta no caminho certo. Nos anos 60, ainda muito jovem, o filho de Giuseppe, Aldo, começou a trabalhar com o pai, lado a lado, ajudando-o no trabalho da adega e a cuidar dos partos, criando relações de trabalho e de amizade que perduram até hoje. Na década de oitenta novas colaborações se estabeleceram e os vinhos também conquistaram o mercado externo, dos Estados Unidos ao Japão, do Canadá à China e muitos países da Europa. Hoje Aldo, a esposa Gianfranca e as suas filhas Luisa e Paola, apoiadas por uma equipe muito unida, continuam nesta atividade com paixão, com vista a uma atenção comum à qualidade do produto e à proteção do território para continuar a história de uma família que começou há muitos anos.

Mais informações acesse:

https://www.manfredicantine.it/it/homepage

Referências de pesquisa:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/piemonte-grandiosa-regiao-italiana_8360.html

“Vem da Uva”: https://www.vemdauva.com.br/vinho-barbera-conheca-suas-caracteristicas/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/256-uva-barbera-conheca-o-vinho-do-povo

“Blog Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/uva-barbera-mais-plantadas-na-italia

 




quarta-feira, 10 de março de 2021

Garibaldi Prosecco Rosé (Glera)

 

Nada mais festivo e solar do que grandes novidades! Aquelas novidades que revolucionam, que mudam a sua vida, que traz impactos positivos a ela, nem que seja por um curto espaço de tempo ou o famoso “que seja eterno enquanto dure”! E não falo de resiliência ou coisas do tipo que parecem ser mais algo institucionalizado, imposto do que espontâneo ou natural a nossas vidas. E no universo do vinho não é diferente: grandes novidades de regiões, aquelas castas diferentes, raras, pouco conhecidas, tudo isso estimula seu interesse pelo mundo do vinho, pois nos possibilita a exercitar, inclusive, as nossas experiências sensoriais.

E nada melhor do que “edificar” essa máxima no mundo do vinho com os nossos dignos espumantes! Sim, os nossos espumantes que, sem sombra de dúvida, são os melhores do mundo no estilo das borbulhas. O espumante brasileiro rivaliza, em iguais condições, com os cavas espanhóis, os proseccos italianos e por que não com os champanhes franceses, sem nenhuma espécie de demagogia ou narcisismo.

E já que falamos nos nossos borbulhas tupiniquins falemos um pouco da emblemática região de Garibaldi, na região da Serra Gaúcha e da vinícola que leva o nome da cidade, orgulhando-a com os seus grandes rótulos: A vinícola Garibaldi. Cada enófilo que se preza já degustou um rótulo desse tradicional produtor ou se não o fez tem de fazer de forma imediata! São vinhos especiais, de excelente custo X benefício, vinhos que despontam com prêmios que ganham no Brasil e ao redor do mundo, em todos os cantos do globo atestando a sua qualidade, levando a tipicidade da Serra Gaúcha, da cidade de Garibaldi às alturas.

E hoje é um dia especial, aqueles dias que nos enche de orgulho por ser brasileiro, degustar o que há de melhor no Brasil, pois degustarei o primeiro Prosecco Rosé do Brasil, quiçá do mundo: O vinho que degustei e gostei veio como disse, da Serra Gaúcha, da cidade de Garibaldi, e é o Garibaldi Rosé Prosecco que leva também a casta Pinot Noir. O primeiro Prosecco Rosé do Brasil!

E na avaliação do presidente da Cooperativa Vinícola Garibaldi, Oscar Ló, o lançamento segue a perspectiva de inovação e atrelar a qualidade aos rótulos da vinícola: “Além de ser o primeiro Prosecco Rosé do Brasil, é possivelmente o primeiro do mundo, ou seja, largamos na frente de países tradicionais na produção de espumantes, como Itália, França e Espanha. Isso significa que a marca tende a ganhar cada vez mais holofotes por sua qualidade, inovação e excelência na elaboração de bebidas derivadas da uva”.

O segredo, de acordo com o enólogo Ricardo Morari, está na adição de uma pequena porcentagem de uvas tintas Pinot Noir à elaboração do Garibaldi Prosecco Rosé Brut. “Um espumante varietal (ou seja, que apresenta o nome da variedade de uva no rótulo), precisa ter no mínimo 75% dessa uva destacada na composição do produto. Como nosso objetivo era que a bebida permanecesse leve e fresca, prevalecendo características da Prosecco, utilizamos um percentual de Pinot Noir em torno de 3 a 5%, somente para dar o toque necessário de cor”, explica. E já que mencionamos a Vinícola Garibaldi e os “artistas” que criaram o Garibaldi Prosecco Rosé, falemos da cidade que acolhe os grandes espumantes: Garibaldi. 

A terra dos espumantes: Garibaldi

O núcleo surge por ato de 24 de maio de 1870. Na data o presidente, Dr. João Sertório, cria as colônias Conde D'Eu e Dona Isabel, inaugurando um novo momento no processo de colonização e economia no estado do Rio Grande do Sul. Garibaldi intitula-se, inicialmente, Colônia Conde D'Eu, denominada assim em homenagem ao genro do imperador, casado com a Princesa Isabel. A colonização aconteceu em 9 de julho de 1870 e eram todos prussianos (alemães), mas entre 1874 e 1875, começaram a chegar novas levas de imigrantes: suíços, italianos, franceses, austríacos e poloneses. Em 31 de outubro de 1900, o governo eleva Conde D'Eu à condição de município, que passa a chamar-se de Garibaldi, em homenagem ao italiano Giuseppe Garibaldi, que participou da Revolução Farroupilha e é considerado "herói dos dois mundos".

O município de Garibaldi (Brasil) localiza-se na Encosta Superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, a 110 quilômetros de Porto Alegre, com uma altitude de 640 metros. A população é de 34.684 habitantes. Garibaldi pertence à 1ª Colônia da Imigração Italiana, integrando a Região Uva e Vinho da Serra Gaúcha e o Vale dos Vinhedos. É reconhecida como a Capital Brasileira do Espumante devido ao pioneirismo e qualidade de seus vinhos e espumantes. A cidade, com um charme especial, guarda as características de um ambiente tranquilo, com uma paisagem bucólica que lhe dá um ar particularmente distinto do nosso tempo.

Garibaldi

Tudo é história e encantamento na Capital do Espumante. E é esta história e a experiência de viver no limite entre a paixão e a razão que será encontrado na Rota dos Espumantes, conhecido como a “Rota do Sabor”. O bouquet do espumante exalado pelas caves e pelos corredores que guardam o mosto da uva nos revigora, fazendo com que os sentidos nos transportem para uma dimensão, senão divina, mágica, como é próprio para apreciar esta bebida.

De 1913, ano em que foi elaborado o primeiro espumante brasileiro, aos dias de hoje, Garibaldi vem construindo a história dos vinhos e espumantes do país. Nas grandes empresas e nas cantinas familiares, o visitante poderá visitar e conhecer esta história, bem como acompanhar as técnicas de elaboração charmat e champenoise, participar do processo de engarrafamento e aprender a degustar a bebida.

Quando o monge beneditino Don Perignon, na experiência do prazer de sua descoberta exclamou de estar bebendo estrelas, inaugurou o charme na história da arte de degustar. E quando a cidade de Garibaldi inaugurou a Rota dos Espumantes, criou uma forma alegre e sofisticada de contar histórias sobre o finesse das bebidas nobres. Assim, foi composto um roteiro com 17 vinícolas, a mostrar que a relação íntima entre a alta tecnologia na elaboração de espumantes e os ecos culturais dos séculos são eno-compatíveis.

E agora finalmente o vinho!

Na taça conta com um lindo e delicado rosa claro, ao estilo cor de casca de cebola, mas muito brilhante, com perlages finos, abundantes e com alguma persistência.

No nariz apresenta uma explosão aromática de frutas cítricas e vermelhas, que se destacam framboesa, cereja e, sobretudo morango, além de notas florais que traz uma agradável sensação de frescor e leveza.

Na boca é elegante e muito delicado, com a confirmação das expressões frutadas, como identificado no aspecto olfativo, dotado de um frescor e jovialidade evidente, graças a sua acidez equilibrada, mas com alguma personalidade por conta de seu bom volume de boca e um final pouco persistente, mas agradável.

Os ventos da mudança, os ares das gratas novidades também devem chegar às taças dos enófilos que tem a mente aberta e que deseja fugir das armadilhas da zona de conforto. Um grande vinho, um Prosecco com a cara e coragem de desbravar dos brasileiros, bravos e de personalidade, com esse belíssimo rótulo inovador que deixou para trás grandes e tradicionais produtores do Velho Mundo. Um vinho delicado, elegante, frutado, fresco, mas de personalidade e que marca em definitivo a história de uma região emblemática e que catapulta para o mundo o saber fazer do Brasil no que tange aos espumantes. Excepcional espumante! Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Cooperativa Vinícola Garibaldi:

Situada em Garibaldi (120 Km de Porto Alegre) no coração da Serra Gaúcha, a maior região vitivinícola do Brasil, a  empresa nasceu como Cooperativa Agrícola Garibaldi na quinta-feira, 22 de janeiro de 1931, na sede do Club Borges de Medeiros. Naquele dia, Monteiro de Barros reuniu representantes de 73 famílias para criar uma das mais importantes cooperativas da região. O sucesso da empreitada foi tanto que, em 1935, o grupo já contava com 416 associados.

A prosperidade, contudo, estancou no começo dos anos 1970. Em 1973, a empresa sofreu uma intervenção que durou cinco anos. O processo, porém, deu resultado e, no começo dos anos 1980, a Garibaldi passou a se modernizar. No entanto, o grande passo só seria dado no início dos anos 2000. No passado, a cooperativa trabalhava muito com vinho de mesa e até a granel, e isso não rentabilizava o produto. Era uma commodity. Então, teve a necessidade de agregar valor. Desde 2004, investiu-se fortemente na elaboração de espumantes para dar essa guinada, rentabilizar os produtos e remunerar a uva dos associados. Foi feito um intenso trabalho no campo de reconversão, tecnologia em produto, para chegar a esse reconhecimento de mercado que a vinícola tem hoje, como referência na produção de espumante. A cooperativa tem hoje 400 famílias associadas, que juntas formam um total de 900 hectares em 12 municípios diferentes do Rio Grande do Sul. Gerenciar tudo isso é um trabalho complexo. O departamento técnico visita todas as propriedades pelo menos três vezes ao ano. Tem um contato direto como produtor tanto na orientação técnica quanto reconversões, conforme os interesses da cooperativa. As 380 famílias são responsáveis pela produção da uva. Elas elegem um conselho para cuidar do negócio e cada área tem um responsável, um profissional contratado para gerir. É cooperativa, mas tem que ser profissional no que faz. Em 2010, a Garibaldi adquiriu os direitos de produção e comercialização da marca Granja União, que estava sob domínio da Vinícola Cordelier. Mais recentemente, lançou a linha Acordes. A vinícola hoje apresenta índices de crescimento superiores aos da média nacional. Resultado de uma história de investimentos, de profissionalização, de união e de uma trajetória que carrega em sua bagagem o trabalho e a vida de milhares de pessoas. O investimento é permanente em manutenção e melhoria dos processos produtivos e na qualidade dos produtos. Com uma área de 32 mil metros quadrados de construção e capacidade de processamento que ultrapassa os 20 milhões de quilos, utilizando tecnologia e equipamentos europeus para a elaboração de nossos vinhos e espumantes. Uma identidade marcante, personalidade e características próprias, aliadas ao terroir da Serra Gaúcha, fez com que os seus espumantes acumulassem uma série de premiações em concursos no Brasil e no exterior.







domingo, 7 de março de 2021

Quinta do Casal Monteiro Rosé 2018

 

Ter referências de um vinho, de um produtor, de uma linha de rótulos é tudo! Mas pode ser um tiro no pé também! Eu explico: Você pode ter degustado toda a linha de rótulos de um determinado produtor e quando se depara com outro rótulo que ainda não havia degustado e decide, de forma imediata compra-lo, pelo fato de já ter degustado outros vinhos do produtor e apreciado, torna-se natural, é verdade, mas isso não é garantia de que você se identifique com aquele novo rótulo, porque não é só o histórico do produtor que conta, apesar de importante, mas a proposta do vinho também é preponderante.

Mas no caso desse vinho, admito, sou um réu confesso, me animei pelo fato de ter degustado a versão tinta e branca dessa linha de rótulos oriundo do Tejo. Já tendo como porta de entrada sendo da emblemática região lusitana do Tejo se torna válida a compra, mas foi o produtor que me chamou a atenção e claro o valor extremamente atrativo, em torno, pasmem, de R$24,90.

Primeiro foi o excepcional e surpreendente o Quinta do Casal Monteiro branco da safra 2016, depois o Quinta do Casal Monteiro tinto da safra 2018, agora o vinho que degustei e gostei foi a versão rosé da linha de rótulos Quinta do Casal Monteiro composto pelas castas Touriga Nacional (50%) e Tinta Roriz (50%) da safra 2018. A “trilogia” estava pronta, a degustação feita de todos e o resultado não poderia ser melhor. O Quinta do Casal Monteiro rosé me surpreendeu de tal forma que, diante de sua simplicidade, entregou o que um rosé deve entregar: leveza, muita fruta e frescor. Mas antes de tecer maiores comentários do rótulo de hoje, falemos um pouco do Tejo, região que venho descobrindo graças a cada rótulo tão especial.

Tejo

Nesta região vitivinícola, situada no Centro de Portugal, a arte de produzir vinho remonta a 2000 a.C., quando os Tartessos iniciaram a plantação da vinha junto às margens do rio que lhe dá o nome. Reza a História que já Afonso Henriques fez referência aos vinhos da região no Foral de Santarém, datado de 1170, e que o Cartaxo terá exportado 500 navios com tonéis de vinho que, em apenas um ano, terão atingido o valor de 12.000 reis. As histórias continuam pela cronologia fora, com o ano de 1765 a destacar-se pelo desaparecimento da vinha nos campos do Tejo, como consequência de uma ordem imposta por Marquês de Pombal.

Tejo

Em 1989, são fundadas seis Indicações de Proveniência Regulamentada para vinhos da região do Ribatejo e, em 1997, é criada a Comissão Vitivinícola Regional do Ribatejo, à qual se sucede a constituição por lei da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, em 2008, seguindo-se a Rota dos Vinhos do Tejo.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um rosa clarinho, translúcido, mas brilhantes, reluzentes, com uma discreta concentração de lágrimas finas e que logo se dissipavam.

No nariz entrega aromas intensos de frutas vermelhas como morango, framboesa e cereja, diria também notas de frutas brancas como melão e manga, talvez, além de um agradável toque floral.

Na boca confirma toda a fruta presente no olfato, com uma acidez na medida que confere ao vinho todo o frescor e leveza que é a tônica desse rótulo, com um final agradável e presistente com um retrogosto frutado.

Sabe aquele vinho que te remete a um dia de sol, na beira da piscina? Pode parecer meio clichê essas observações e sensações, mas é a pura realidade. Um vinho descomplicado, simples, mas que entrega, em todas as suas nuances, o que o vinho se propõe a entregar e diria até além, fazendo deste um rótulo de incrível custo X benefício. Um vinho do Tejo que tem tudo a ver com a cara de um país tropical como o Brasil. Tem teor alcoólico de 12,5%.

Sobre a Quinta do Casal Monteiro:

Fundada em 1979, a Quinta do Casal Monteiro engarrafa safras limitadas de produção exclusivamente a partir de sua propriedade de 80 hectares. Com idade média de 35 anos, as vinhas estão localizadas em solo arenoso aluvial fértil, enraizando-se em uma combinação incomum e resultando em uma produção de baixo rendimento de vinho de alta qualidade. Além disso, a característica do clima temperado sub-mediterrânico e a sua proximidade ao rio Tejo conferem aos vinhos uma identidade singular, revelada tanto nos aromas exuberantes como no paladar complexo, revestido por uma excelente acidez - são excelentes companheiros de comida. Em 2009, a nova geração / família assumiu a empresa e, desde então, uma reestruturação da vinícola e da vinha vem ocorrendo. Foram feitos investimentos consideráveis ​​em equipamentos modernos e a reabilitação das vinhas tem sido uma tarefa contínua. Como tal, todos os anos nossa qualidade tem aumentado e esperamos fazê-lo continuamente ao longo da década atual. O crescente número de prêmios internacionais e análises da imprensa internacional são uma prova da nossa qualidade contínua de produção.

Mais informações acesse:

http://www.casalmonteiro.pt/

 




El Misionero Crianza Tempranillo 2015

 

Sempre tive dificuldades para encontrar bons vinhos espanhóis. Não sei dizer exatamente o motivo, talvez pelo fato de que eu não tinha conhecimento dos lugares certos, ideais para compra-los ou desconhecia alguns fatores como região, castas autóctones ou coisas que o valham, confesso que o meu interesse por esses quesitos dos vinhos era praticamente nulo. O meu leque aumentou e consequentemente a minha adega com vinhos espanhóis se deram graças a incessante busca, de minha parte, por novas regiões, novas castas, novos pontos de compra. Claro! Era tudo isso que gerava a minha dificuldade para comprar bons rótulos espanhóis com preços mais convidativos e qualidade atestada para o meu humilde palato.

E graças a esse empenho descobri, muito tardiamente, que há uma legislação que regem alguns vinhos, ou melhor, os vinhos espanhóis nas suas mais diversas propostas. E no que tange a proposta, um termo que sempre faço questão de enfatizar, a Espanha delimita esse quesito com honra, com um requinte de detalhe simplesmente incrível! E são vinhos jovens, crianza, reserva, gran reserva, cada um com suas particularidades, seus terroirs na mais pura e evidente essência, regido por uma lei que foi sancionada recentemente, pasmem, no início dos anos 2000. Veja em classificação dos vinhos espanhóis.

E o melhor que essas nomenclaturas são as propostas dos vinhos: amadeirados, complexo nos aromas, no paladar, estruturados, elegantes.... Muitos deles com vocação para guarda, vinhos evoluídos, do jeito que eu gosto, sou um réu confesso dos vinhos evoluídos: penso que tem história para contar, são singulares, diferentes e interessantes. Vinhos espetaculares de um país que é um verdadeiro polo de produção de vinhos.

Hoje, com a cortesia de meu grande e estimado amigo Paulo, meu confrade amigo, teremos um contato imediato com um “crianza”, da casta emblemática da Espanha, Tempranillo, que escreverá uma humilde página em nossa humilde vida de enófilos. O vinho que degustei e gostei veio da região de Castilla La Mancha, um DO, da Espanha, um “crianza” chamado El Misionero, 100% Tempranillo, da safra 2015. Agora o que significa “crianza”? Não se enganem que tenha haver com algo relacionado a “criança”, em uma tradução literal. Então desvendemos.

Crianza

O termo “Crianza”, encontrado em alguns dos rótulos dos vinhos espanhóis, ainda causa muita confusão. Ao contrário do que muitos imaginam, a palavra não está relacionada à jovialidade do vinho (não tem nada a ver com criança). A questão principal ao falar sobre um vinho Crianza é a sua maturação. O termo Crianza em espanhol é aplicado para determinar que àquele vinho passou por um processo em barrica de carvalho, desse modo, entrando em contato com madeira, e com isso, adquirindo corpo.

Geralmente um crianza estagia, no mínimo, seis meses em barrica de carvalho. E o que isso representa? Que é um vinho mais elaborado e que, por ter amadurecido em contato com a madeira, ganhou mais complexidade de aromas e sabores quando comparado a vinhos que não passam por este estágio.

Como todos os vinhos que passam por madeira – e podemos incluir os vinhos Reserva e Gran Reserva – os vinhos Crianza são vinhos com maior volume de aromas, complexidade e sabores. São indicados para uma apreciação paciente e para acompanhar pratos que exijam uma presença de vinhos aromáticos.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

“Em um lugar em La Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.

“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C. A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.


Castilla La Mancha

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora o grande momento: Sobre o vinho!

Na taça goza de um intenso vermelho rubi, mas com entornos violáceos e uma grande concentração de lágrimas finas que teimavam em se dissipar das paredes da taça.

No nariz a predominância de frutas negras era latente, tais como ameixa, amora e cereja negra, com notas de tabaco, de couro e estrebaria. Não é tão aromático, mas um vinho perfumado, elegante ao olfato.

Na boca é redondo, equilibrado, seco e elegante. Percebe-se também as notas de especiarias, a percepção de pimentão e baunilha é notável, bem como discretas notas amadeiradas, graças aos 10 meses de passagem por barricas de carvalho e mais 15 meses evoluindo na garrafa antes de ser comercializado, conferindo-lhe taninos domados e uma boa acidez revelando um vinho fresco e vivo, além de uma marcante personalidade. Um final de média persistência e retrogosto frutado.

Estudos, cultura, conhecimento, degustações de vinho, novas experiências sensoriais, o vinho é uma múltipla celebração, celebração em todos os seus aspectos, em tudo que essa poesia líquida pode proporcionar, em todos os seus âmbitos. El Misionero Tempranillo, está no auge, vivo, pleno com seus 6 anos de safra, 6 anos de vida, característico desses grandes vinhos, especiais e singulares. A busca incessante pelos vinhos espanhóis me brindou com esses vinhos ricos em aromas, complexos no paladar e com marcante personalidade. Grandioso! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre as Bodegas Fernando Castro:

As Bodegas Fernando Castro foi fundada em 1850, é a vinícola mais antiga de Castilla La Mancha sob a direção da mesma família. A família Castro começou a produzir vinhos brancos e tintos a partir de uvas das suas próprias vinhas em Santa Cruz de Mudela, utilizando os métodos artesanais e tradicionais inerentes à região. Desde 1895, a Bodegas Fernando Castro está presente nos pontos mais importantes do território nacional, graças ao conhecido “Comboio do Vinho”, e posteriormente através da sua rede de transportes própria, conquistando a confiança dos grandes centros de compras. Com uma situação geográfica imbatível, estando no centro de Espanha e centro nevrálgico da Denominação de Origem Valdepeñas, os seus produtos chegam a qualquer ponto da geografia. Esta localização facilitou a expansão de seu mercado para mais de 70 países. Atualmente, duas gerações da família Castro trabalham em conjunto, contando com o inestimável apoio de profissionais de referência que têm contribuído na vinificação, envelhecimento e comercialização dos nossos vinhos, dispondo para o efeito de instalações modernas, sólidas e funcionais. Bodegas Fernando Castro está localizado no coração da Denominação de Origem Protegida Valdepeñas . Situada no extremo sul do planalto ibérico e claramente delimitada pelas planícies de La Mancha ao norte, os campos de Montiel a leste, os de Calatrava a oeste e a Serra Morena a sul, Santa Cruz de Mudela preserva a cultura patrimônio e as tradições culinárias de La Mancha. Nesta região, existem solos calcários abundantes, franco-arenoso e argiloso vermelho-amarelado. Essas terras de clima continental podem ultrapassar as temperaturas máximas de 40 ° C e as mínimas de -10 ° C, e ainda mais baixas, com uma média anual de 16 ° C. Viticultores de tradição familiar, Bodegas Fernando Castro possui 380 hectares de vinhedos, localizados no entorno da Finca Los Altos, supervisionados pessoalmente pela Família Castro. Os seus vinhos expressam a personalidade de uma região única. Localizados a 705 metros acima do nível do mar, os solos são pobres em matéria orgânica e baixa fertilidade, circunstância ideal para o cultivo da uva. Com mais de 2.500 horas de sol por ano, estas características climáticas potenciam o amadurecimento da uva, resultando numa produção de vinho com maior intensidade de cor, ótima estrutura e poder aromático.

Mais informações acesse:

https://bodegasfernandocastro.es/en/

Referências de pesquisa:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Blog Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/curiosidades/desvendando-vinhos-crianzas/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

“Blog Lovino”: https://blog.lovino.com.br/o-que-e-um-vinho-crianza/

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

Blog “VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/